Por uma ética cristã em um mundo líquido

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Introdução

O que é ética? Segundo o Dicionário Oxford, ética é o conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade. O ser humano, por mais que reconheça em si sua intrínseca individualidade decorrente de sua dignidade, a qual emana do imago Dei, é um ser social que se relaciona com os outros e vive em comunidade. Nessa perspectiva, sua ordem valorativa e moral é fundamental para a qualidade desses relacionamentos e, consequentemente, da própria comunidade na qual está inserido.

Por outro lado, há um movimento valorativo de um individualismo isento de qualquer valor moral. O que é valorizado (por esse movimento) é a ação humana intuitiva, divorciada de qualquer racionalidade ou moralidade que de alguma forma sirva de freio aos instintos. Destaca-se a aparência de um conhecimento libertador, também denominado progressismo, que alcança apenas os “iluminados”. Estes têm o papel de difundir essa iluminação aos demais. Logo, não se trata simplesmente de uma bestialidade em que o ser humano é conduzido pelos seus impulsos naturais mais primitivos. A concepção é outra: a intuição não se origina desses impulsos. O ser intuitivo acessa um conhecimento esotérico, visto que não é comprovado pela razão e pela ciência, mas possui uma aura que o torna verdade por si só. É a nova alquimia em contraste com a química, ou a astrologia em contraste com a astronomia. A astronomia (razão) apenas vislumbra a sombra do universo, pois está confinada em seus métodos racionais. Da mesma forma, a ação humana precisa ser liberada de qualquer valor moral para que possa acessar a iluminação e, assim, alcançar esse tal “progresso”.

É possível perceber isso em todos os aspectos do século atual: desde o “politicamente correto”, que critica qualquer ato ou ação humana que não se ajuste ao espírito intuitivo iluminado, até os movimentos de grupos minoritários que utilizam todos os recursos possíveis, inclusive a ordem jurídica estabelecida, para “libertar” o ser humano de suas restrições morais, em todas as suas dimensões. Um olhar mais atento nos remete ao Éden, quando Satanás ofereceu a iluminação e a elevação ao homem, por meio do acesso ao conhecimento do bem e do mal. Ou ainda ao próprio gnosticismo, agora com uma roupagem moderna. Por isso, é tão importante falar sobre ética, especialmente a ética cristã, que moldou o Ocidente.

Nesse sentido, é necessário refletir sobre os aspectos práticos da ética cristã e, assim, compreender que seu elemento moral formativo alcança todas as áreas de nossa vida, seja ela particular ou social. O dualismo sagrado/secular é próprio do gnosticismo e é utilizado como ferramenta para o novo gnosticismo. Ou seja: “viva sua vida moral e religiosa em casa (no privado); fora dela, seja um cidadão do mundo, um cidadão iluminado”. Essa divisão visa destruir a ética, que é o elo que une a sociedade. Sem a ética cristã, o ser humano perde o contato com o outro e, por fim, torna-se um mero autômato, controlado pelos “iluminados”, detentores de um conhecimento secreto e progressista no qual o indivíduo, no final das contas, perde sua identidade nacional, cultural, vocacional e/ou de gênero.

No entanto, todas as ações humanas realizadas ao longo da vida estarão de acordo ou em desacordo com a vontade de Deus, revelada pessoalmente nas Escrituras e testada ao longo dos últimos três mil anos, como a matéria-prima que moldou a atual estrutura social, de forma direta ou indireta. A ética cristã não é dualista e compreende a importância do sagrado e do material, pois o homem é um cidadão de duas cidades, nas palavras de Agostinho de Hipona. A separação entre o sagrado e o secular, além de essencialmente gnóstica e “progressista” no sentido gnóstico do termo, se traduz em uma afirmação clara de que existem áreas sobre as quais os valores morais cristãos não exercem impacto ou relevância, ou seja, que a ética a ser seguida é intuitiva, irracional e fundamentada em um conhecimento iluminado, para não dizer esotérico.

O objetivo geral deste texto é destacar o mundo fluido em que vivemos, contrastando-o com uma ética sólida que nos trouxe até aqui: a ética do cristianismo. Como objetivos específicos, abordaremos questões específicas, como música e sexualidade, com base nos insights de Walter C. Kaiser Júnior em sua obra O cristão e as questões éticas da atualidade, considerando-os como fatores que promovem a liquidez da sociedade atual e, consequentemente, o enfraquecimento de qualquer tipo de ética. Aqui, vale ressaltar o termo “liquidez” utilizado no título deste texto: seguindo a linha do clássico de Zygmunt Bauman, podemos dizer que estamos descrevendo uma sociedade marcada pela liquidez, volatilidade e fluidez em suas relações.[1] Essa volatilidade e fluidez têm o poder de fazer desaparecer entre nossos dedos tudo aquilo que construiu o Ocidente e está diretamente relacionado aos valores e à ética cristã.

O problema que se apresenta é: “como recuperar os valores que nos trouxeram até aqui em um mundo cada vez mais volátil ou líquido?” Nossa resposta é cristã. É possível viver o cristianismo em um mundo plural e até mesmo usá-lo como base para este mundo. Em poucas palavras, tentaremos desenvolver este argumento.

  1. A (falta da) Bíblia na vida humana

Kaiser demonstra como a Bíblia responde a cada área da vida humana e dos relacionamentos, selecionando questões importantes da sociedade contemporânea: “A ética bíblica começa com a iluminação das Escrituras: ‘Tua palavra é lâmpada para os meus pés e luz para o meu caminho’ (Sl 119.105). Desse modo, para os cristãos, a ética bíblica é uma reflexão sobre a conduta e as ações humanas com base na perspectiva do nosso Senhor apresentada nas Escrituras Sagradas”.[2] Os valores constantes da Bíblia orientam a vida em comunidade a partir da liberdade individual exercida com solidariedade ao próximo, afastando-se de um pragmatismo utilitarista ou do individualismo exacerbado, conforme afirmado por Alexis de Tocqueville em A democracia na América.

Ao tratar dos meios de comunicação, entretenimento e pornografia,[3] Kaiser disserta sobre uma geração que nasce com as tecnologias desenvolvidas e com um pensamento filosófico muitas vezes adverso à cosmovisão cristã e aos valores morais que moldaram o ethos em que vivem. Esse ethos foi cultivado ao longo dos últimos três mil anos e pode ser facilmente verificado como condição essencial para o florescimento humano, como muito bem desenvolvido por Christopher Dawson em suas obras: Dinâmicas da história do mundo, Progresso e religião: uma investigação histórica e Criação do Ocidente: a religião e a civilização medieval: “Foi essa consciência sobre seu caráter único e sua missão que o cristianismo deveu seus poderes extraordinários de expansão e conquista que revolucionaram todo o desenvolvimento da civilização ocidental”.[4]

Em contrapartida, quando a influência cristã é refreada ou rechaçada, os efeitos são percebidos em larga escala: nas escolhas, comportamentos, saúde mental, relacionamentos, taxas de suicídio, qualidade de governos e no crédito atribuído às instituições.

Retornando ao tema da tecnologia, percebe-se que a plataforma digital é parte integrante do cotidiano das crianças desde os primeiros anos de vida. Na maioria dos casos, essa exposição aos eletrônicos é desenfreada, ausente de qualquer filtragem e supervisão por parte dos pais, que preferem a tranquilidade de uma criança hipnotizada à responsabilidade de ensinar valores morais aos filhos. Além disso, temos crianças e adolescentes submetidos a uma cultura de revolução afetiva, na qual os sentimentos são mais valorizados do que a razão. Destaca-se também a imensidão de conteúdo preparado para diminuir a capacidade intelectual dos telespectadores, além de afastá-los da ética cristã.

Diferentemente do legado luterano, por exemplo, presente nas músicas de Bach (fruto da redefinição que Lutero promoveu no cântico congregacional), as músicas mais tocadas nas rádios são carentes de variações, com um volume altíssimo produzido artificialmente e que exaltam a sensualidade, promovendo nada mais, nada menos que a degradação intelectual dos ouvintes, com melodias e letras permeadas de gemidos, ruídos e outras cacofonias. Sendo a música um elemento fundamental para a formação do imaginário, percebe-se que grande parte da música pop, por exemplo, promove uma descambação na mente dos ouvintes, tornando-os incapazes de contemplar aquilo que é verdadeiramente belo, insensíveis à primazia da criação e conformados com músicas de quatro frases e dois gemidos que são repetidos “trocentas” vezes ao longo da playlist.

Na Bíblia Sagrada, a principal menção que encontramos sobre música está nos louvores como demonstração de gratidão a Deus pela salvação. Conforme Efésios 5.19, os louvores e cânticos são um fruto da luz, que não se confunde com as obras das trevas. Portanto, é possível assimilar que o conteúdo da música será bom de fato apenas quando refletir um bom desenvolvimento aos que escutam. No entanto, a música é apenas um dos componentes do deleite humano que está em decadência. Outro ponto destacado por Kaiser em sua obra — e com o qual concordamos — é o declínio do jornalismo.[5] Muitas vezes, o jornalismo tem sido utilizado como meio de manipulação das massas, empregado como estratagema pelas elites de poder, que também são adeptas do humanismo deísta (a crença de que o homem é Deus sobre si mesmo) ou da iluminação esotérica mencionada na introdução.

Nesse sentido, o objetivo das fake news é moldar a opinião pública contra qualquer valor moral que remeta à ética cristã. A perseguição religiosa é omitida, a influência cristã — na política, educação e alcance dos Direitos Humanos — é tratada como algo prejudicial, sempre acompanhada de alguma notícia que induza o leitor a compartilhar da mesma aversão, anticristã e anticulto em sua natureza. A exposição excessiva a esse tipo de noticiário influencia a opinião dos telespectadores e leitores de tal forma que consolidem, em suas mentes e corações, a mesma aversão que a mídia destila sobre conteúdo digital e impresso.

Em Provérbios 12.22, encontramos a afirmação do amor de Deus sobre aqueles que falam a verdade e, inversamente, sua ira sobre aqueles que cultivam a mentira, a manipulação e, claro, as notícias falsas. A ética cristã abrange toda nossa maneira de viver, portanto, possui diretrizes específicas quanto à propagação de notícias: a verdade dos fatos é um compromisso ético que devemos buscar e ensinar aos nossos filhos. Além disso, é importante lembrar do ensinamento sobre o discernimento, conforme registrado no Evangelho de Mateus 10.16: devemos saber distinguir a verdade da mentira, buscar informações confiáveis e, então, emitir um juízo de valor, com equilíbrio e mansidão.

Além das crianças e adolescentes em desenvolvimento, os adultos também estão sujeitos à influência de notícias tendenciosas e músicas degradantes. Dessa forma, é crucial estabelecer um paradoxo entre: a) as práticas que corrompem a sociedade, com b) as virtudes que estão sendo continuamente perdidas diante de costumes que não apenas contradizem a noção básica de dignidade da pessoa humana, mas também a perspectiva cristã da vida humana.

Se não formos capazes de definir o que é bom para nós mesmos, não poderemos oferecer algo bom para os outros; é por isso que, ao nos expormos a certos vícios, prejudicamos não apenas a nós mesmos, mas também aos outros, sejam eles nossos próximos ou aqueles que não conhecemos. Podemos tratar as pessoas como se fossem objetos e alimentar uma sede pecaminosa.[6] Nessa linha de pensamento, além da música e do jornalismo, a pornografia (e tudo relacionado a ela e influenciado por ela) traz consigo os perigos da violência sexual. Esses são elementos de mercado que promovem a objetificação do corpo e são fontes de uma indústria perversa que afeta mulheres, crianças e homens, desestabilizando ou até mesmo derrubando os pilares de uma sociedade.

Quando falamos em ética cristã, naturalmente entramos no campo da ética sexual. Evidentemente, por se tratar de algo relacionado ao nosso corpo, a ética sexual cristã visa a dignidade da pessoa humana. Além disso, essa ética reflete os padrões benevolentes de Deus e, portanto, deve ser observada e nunca mitigada. Como ensina P. Andrew Sandlin:

Rescindir a ética sexual cristã equivale a rescindir a Bíblia e sua cosmovisão […]. Se um dos nossos princípios hermenêuticos é que só a Bíblia pode rescindir seus ensinos específicos (p. ex., o sistema sacrificial da antiga aliança), então a resposta à pergunta “A ética sexual cristã é obsoleta?” consiste em um sonoro não — essa ética, que nunca foi rescindida, não é antiquada, e devemos encarar o incontestável e claro ensino bíblico.[7]

Em Hebreus 13.14 encontramos a lição bíblica preliminar acerca da ética sexual, limitando o intercurso sexual ao casamento exclusivamente, sem exceção. Além dos benefícios sociais que a postura monogâmica promove — como civilizações mais fortes, redução no número de divórcios e melhor qualidade de vida para as crianças e adolescentes, conforme visto em Efésios 6.1-3 —, as Escrituras Sagradas demonstram que a relação familiar é essencial para orientar nossas escolhas ao longo da adolescência e juventude.

O padrão bíblico para a sexualidade condena a imoralidade sexual, que ocorre de várias maneiras, tanto no âmbito privado — através do consumo de material pornográfico, práticas sexuais fora do casamento e casos extraconjugais — quanto no âmbito público, quando somos negligentes na pregação do Evangelho, especialmente quando permitimos que a revolução sexual influencie o ensino bíblico e resulte em uma subsequente negligência ou subversão das determinações bíblicas. A resposta cristã ainda é a melhor alternativa para a construção de um mundo melhor, e devemos nos apegar a ela.

  1. A resposta cristã

Deus nos oferece um modelo de comportamento que é objetivamente bom por duas razões: em primeiro lugar, por atender a determinação; e em segundo, por promover a valorização da pessoa humana. Ao condenar a sensualidade em 1Coríntios 6 através da escrita do apóstolo Paulo, percebemos um conjunto de padrões que compõem o arcabouço da santificação do corpo. Ali está a chave da ética sexual cristã, ou seja, qual a vontade de Deus na pauta da sexualidade para homens e mulheres.

Deus intervém nas relações humanas, condenando as práticas e ações que violem a dignidade sexual. A passagem da primeira carta paulina aos Coríntios é tão completa que ensina até sobre a reciprocidade no ato sexual, mostrando que quando o ato sexual está de acordo com o padrão bíblico, é um presente de Deus para homens e mulheres. Trata-se da doutrina da união do cristão com Cristo, mostrando que tal união se estende para o nosso corpo físico, e que nossas práticas sexuais são um reflexo da nossa comunhão com Deus, não sendo um assunto que pode ser tratado separadamente da doutrina primária da santificação.

No mesmo sentido, a passagem de Efésios 6.1-3 trata sobre a necessidade dos filhos honrarem seus pais. As primeiras figuras de autoridade com as quais lidamos são nossos pais. Bons pais saberão orientar corretamente seus filhos sobre as músicas que escutam, o cônjuge com o qual vão se casar e o afastamento de práticas imorais. A Bíblia aponta responsabilidades para duas gerações: aos ascendentes, na correta orientação de seus filhos, e aos descendentes, na observância dos mandamentos de Deus sobre a cosmovisão sexual cristã. Aqui percebemos que as questões sexuais e comportamentais são uma pauta comunitária, que deve ser mediada por todos na comunidade de sangue — a família — e na comunidade de fé, a Igreja.

A Bíblia Sagrada não é negligente quanto às lutas sexuais que o homem pós-queda enfrenta, e por isso lista as principais dificuldades que enfrentamos, a fim de nos dar uma resposta. A Bíblia trata de problemas reais e oferece soluções. Nesse contexto, a lei e o evangelho de Cristo são essenciais. A lei para demonstrar aquilo que não devemos fazer, e o evangelho para promover o perdão dos pecados, inclusive dos sexuais, por meio do sacrifício salvífico de Jesus Cristo.

Além disso, o casamento, como a única forma válida do ato sexual, é o meio pelo qual a intimidade entre homem e mulher foi restaurada. As determinações presentes em Levítico 18 mostram qual é a essência das práticas sexuais proibidas pela vontade de Deus: são de corrupção, confusão e promoção de desordem. Deus preserva o seu povo por meio de seus desígnios consolidados nas Escrituras, que oferecem orientação e sabedoria para vivermos uma vida de acordo com a sua vontade.

Conclusão

A ética cristã tem como ponto de partida a lei moral de Deus, entregue a Moisés no Monte Sinai. Conhecida também como a lei das duas tábuas, possui na segunda tábua os mandamentos que guardam vinculação com o relacionamento entre as pessoas, ou seja, o relacionamento horizontal entre os seres humanos. Já a primeira tábua trata do relacionamento vertical do homem com Deus. Assim, a ética cristã alerta que esse deve ser o norte para todas as outras pautas de nossa vida: o relacionamento vertical com o criador do universo, pai das luzes, redentor e santificador, e o relacionamento horizontal, de forma solidária (amor ao próximo) com os outros, visando sempre o bem comum, ou como diria Aristóteles: a eudaimonia.

O bom exemplo de cada um em ajudar o próximo é o que podemos chamar de melhor da ética cristã, que construiu o mundo em que vivemos. Lembrando sempre que apenas o esforço humano não é capaz de nos conduzir para uma vida sólida. Assim, retornamos para os conceitos base, na pregação da lei e do evangelho: uma prática que deve ser mantida e estruturada para descrentes e para os convertidos, já que a natureza humana decaída sempre buscará o desvio da vontade de Deus. Lembrando daquilo que está disposto no artigo 5 da Fórmula de Concórdia: “a distinção entre lei e evangelho, como luz especialmente gloriosa, deve ser mantida com grande diligência na igreja”.

A tentativa de muitos grupos de alienar a sociedade de qualquer valor moral e da ética construída a partir daí promoverá o caos e uma sociedade de zumbis. Lembrando do famoso seriado The Walking Dead, os zumbis viviam apenas pelo seu instinto primitivo e básico de se alimentar, em detrimento até mesmo de seu corpo. Uma pessoa totalmente alienada de uma ética mínima tende a dar vazão apenas aos seus impulsos do momento, em detrimento dos outros e de si mesma. Infelizmente, ela se aproxima dos zumbis de The Walking Dead.

Quando a sociedade perde qualquer senso ético fundamentado em valores mínimos, seguindo cegamente teorias esotéricas sem qualquer comprovação científica, mas construídas por processos de iluminação que não se sustentam socialmente em uma análise de duas ou três gerações, está à beira de ruir. Os sinais são claros: violência em níveis alarmantes, individualismo exacerbado, níveis de traição, corrupção e engano na família, nos negócios e na política cada vez maiores. A cultura acaba por se deteriorar: músicas sem criatividade e sem poesia, fundamentadas apenas no ritmo, e ainda um ritmo descompassado e repetitivo. A arte de maneira geral não retrata mais o belo e a verdade, mas sentimentos egoístas ou ideologias de grupos que buscam o poder. Um jornalismo dirigido pelo lucro, poder e pautas iluminadas, e, por fim, uma total corrupção do corpo e do sexo. O sexo deixa de ser uma parte integrante do ser humano para ser objeto de deificação, o que acaba resultando em traições, ódio, corrupção e individualismo, completando o ciclo da falência humana.

Apenas uma ética amarrada em valores morais mínimos de certo e errado pode trazer e manter o vínculo de solidariedade que une os diferentes em uma sociedade política. Como diria Jacques Maritain, apenas o fermento do evangelho[8] pode fazer uma sociedade política crescer em direção ao bem comum. Se quisermos que os fundamentos da República brasileira não se percam (I — a soberania; II — a cidadania; III — a dignidade da pessoa humana; V — os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e V — o pluralismo político), precisamos lembrar de nossas origens.

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Referências Bibliográficas:

Agostinho de Hipona. A cidade de Deus (Petrópolis: Vozes, São Paulo: Federação Agostiniana Brasileira, Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2014).

Bauman, Zygmunt. Modernidade Líquida (Rio de Janeiro: Zahar, 2000).

Dawson, Christopher. Criação do Ocidente: a religião e a civilização medieval (São Paulo: É Realizações, 2016).

________. Dinâmicas da história do mundo ( São Paulo: É realizações, 2010).

________. Progresso e religião: uma investigação histórica (São Paulo: É realizações, 2012).

Kaiser, Walter C. O cristão e as questões éticas da atualidade: um guia bíblico para pregação e ensino (São Paulo: Vida Nova, 2016).

Maritain, Jacques. O cristianismo e a democracia (Rio de Janeiro: Editora Agir, 1945).

Rushdoony, Rousas John. A política da pornografia (Brasília: Editora Monergismo, 2018).

Sandlin, P. Andrew. A cosmovisão sexual cristã: a ordem de Deus na era do caos sexual [Brasília: Editora Monergismo, 2017].

Tocqueville, Alexis de. A democracia na América (São Paulo: Folha de São Paulo, 2010).

Vieira, Thiago Rafael; Regina, Jean Marques. A contribuição do cristianismo para a liberdade (São Paulo: Zelo Editora, 2023).

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[1]Zygmunt Bauman, Modernidade líquida [publicado por Zahar].

[2]Walter C. Kaiser, O cristão e as questões éticas da atualidade: um guia bíblico para pregação e ensino [publicado por Vida Nova], p. 10.

[3]Ibidem, p. 71-86.

[4]DAWSON, Christopher Dawson, Progresso e religião: uma investigação histórica [publicado por É realizações], p. 195.

[5]Walter Kaiser, op. cit., p. 74-6.

[6]Um exemplo dessa sede pecaminosa é explicado por Rushdoony, por meio do sadomasoquismo. Ele explica como o pensamento sadomasoquista ganhou influência direta e indireta nos hábitos sexuais das pessoas, mesmo se tratando de uma tese absurda, que envolve defesas como a validade da violência sexual. Para mais detalhes: Rousas John Rushdoony, A política da pornografia [publicado por Monergismo], p. 104-5.

[7]Andrew Sandlin, A cosmovisão sexual cristã: a ordem de Deus na era do caos sexual [publicado por Monergismo], p. 32-3.

[8]Jacques Maritain, O cristianismo e a democracia [publicado por Agir].

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