Resumo
Eventos reais ou fictícios são contados e recontados por meio de diferentes produtos comerciais, um deles são os filmes. O cinema americano por exemplo produziu grandes clássicos como Superman, Star Wars e Matrix. Nesse artigo observamos as similaridades do enredo e dos protagonistas dessas obras com Jesus Cristo, que é a história e o principal personagem de todos os tempos.
PALAVRAS-CHAVE: Cinema; Filmes; Cosmovisão Cristã; História Bíblica; Jesus Cristo.
“A maioria das culturas deste mundo ensina lições por meio de histórias”.[1] Todos nós como pessoas, somos frutos de uma história. Quando estamos juntos gostamos de compartilhar nossos “causos”, é da nossa natureza. Esse gosto é tão presente na narrativa humana que se tornou inclusive um mercado. Afinal, não é de hoje que eventos reais ou fictícios são contados e recontados por meio de diferentes produtos comerciais como filmes, novelas, séries, livros, revistas, jornais, podcasts e vídeos. Parte desses produtos são também conhecidos como conteúdos. É curioso notar também, que algumas pessoas afirmam só se interessar por histórias que tenham “conteúdo” ou acontecimentos “interessantes”. Adjetivos esses que são inerentes às histórias bíblicas, título de um livro[2] que ganhei e li entre os meus 10 e 12 anos. Apesar da pouca idade e maturidade espiritual, fui diligente com a leitura e percebi que ali realmente havia grandes acontecimentos.
Por outro lado, falando especialmente sobre as obras cinematográficas, algumas em parte fizeram relevante sucesso dada à combinação de vários atributos com elevada qualidade como um bom roteiro, grandes atores e diretores experientes. Não à toa esses elementos são avaliados como categorias na premiação do Oscar. Porém, em algumas delas, o que também nos chama a atenção são as características do protagonista e o enredo. Em 1978, por exemplo, Richard Donner teve o desafio de realizar a primeira adaptação dos quadrinhos para o cinema, Superman: O filme. Donner abordou a ideia da verossimilhança, preocupando-se em contar a origem do personagem Kal-Lel,[3] um dos habitantes superdotados do planeta Kripton que, por causas naturais, está prestes a explodir. Seu pai, Jor-El, o envia como um presente para o planeta Terra, com instruções de que apesar de seus poderes sobrenaturais, ele deveria viver como um simples terráqueo e ajudar o povo da Terra no que precisassem.
Em 1999, vinte e seis anos depois de ter lançado Star Wars: O retorno de Jedi (terceiro filme da trilogia original), George Lucas se propõe a contar a origem daquele que é considerado o maior vilão do cinema, Darth Vader. No quarto filme da série, primeiro da nova trilogia, cujo título em português é A ameaça Fantasma, Shmi Skywalker Lars é uma escrava que, sem ter relações íntimas, fica grávida e carrega em seu ventre Anakin Skywalker. No filme, esse milagre se dá em virtude das Midi-chlorias, sendo também o cumprimento de uma Profecia, que afirma que o menino é o escolhido e responsável por trazer o equilíbrio da “força”.[4]
Provavelmente por uma coincidência, também em 1999 é lançado Matrix, outra ficção científica que revolucionou o cinema com seus novos efeitos especiais. Nessa produção dos irmãos Wachowski, os habitantes da Terra vivem uma vida ilusória. Seu dia a dia e lembranças são apenas ilusões criadas pela Matrix, uma espécie de inteligência artificial que controla os seres humanos e os usa como fonte de energia para alimentar as máquinas e seu complexo sistema computacional. Porém, existe uma Profecia de que um dia haverá um homem que mesmo conectado à Matrix poderá agir sobre ela, realizando milagres e vencendo suas regras, colocando fim à guerra entre o homem e as máquinas. Esse homem é tido como o escolhido, que no desenrolar do filme, descobrimos ser o jovem Thomas A. Anderson ou Neo.[5] Como cinéfilo tendemos a ver e rever os filmes que gostamos várias vezes. Além é claro de conteúdos relacionados a eles como os extras, documentários e filmagens de bastidores. Isso nos impele a enxergar detalhes que não havíamos percebidos ou ver os mesmos detalhes de outra perspectiva.
Assim, como cristão, quando reflito sobre as características tanto do enredo quanto dos protagonistas desses clássicos, percebo que já conhecemos a essência dessas ficções e personagens. O apóstolo Paulo, por exemplo, preocupado, mas também contente com as notícias dos primeiros passos da Igreja em Tessalônica, escreveu a primeira Carta àquele grupo prezando pela manutenção de uma vida santa dos recém-convertidos.[6] Talvez por terem vivenciado alguma situação negativa no que diz respeito às profecias,[7] Paulo encoraja os irmãos de Tessalônica “a examinarem tudo e reterem o que é bom” (1Ts 5.21). Isto é, ainda que haja desvios, independente do assunto, não devemos descartar tudo, devemos analisar e tirar proveito daquilo que nos edifica.[8] Portanto, à luz da Palavra de Deus e refletindo sobre as características dos protagonistas desses clássicos, percebemos que já conhecemos a essência desses enredos e personagens. Afinal, 1) Quem com habilidades superiores nos foi dado pelo Pai e, mesmo tendo sido tentado pelo mal, cumpriu sua missão de viver no mundo como se fosse um de nós e ainda nos compartilhou o seu evangelho? (Mt 4.3-10; 8.23-27; 14.22-33; Is 9.6-7). 2) Da mesma forma, Quem foi concebido de forma sobrenatural no ventre da judia Maria para cumprir uma profecia? (Mt 1.18-25; Lc 1.26-38; Is 2.1-5). E, por último, 3) Quem realizou milagres, venceu as regras deste mundo e ainda colocou fim às mazelas criadas pelo homem? (Mt 15.1-20; 25.31-46).[9]
Nós como seres semelhantes ao Pai, nascemos da vontade Dele, com o objetivo de adorá-lo por tudo o que ele é e criou. Dentre os muitos feitos do Pai, há o envio do próprio Filho como Sacrifício para a nossa justificação e salvação. Afinal, Cristo é, ao mesmo tempo, o protagonista e a história. Talvez por isso gostamos tanto desses filmes, porque neles está contida a cosmovisão cristã. Cosmovisão é um conceito complexo. Podemos dizer que ela é a forma como enxergamos o mundo e a vida. É a estrutura de entendimento que usamos para que a existência humana e o mundo façam sentido. Por fim, reflete a nossa interpretação do universo e da realidade em que vivemos. Assim, podemos dizer que quando esse entendimento e interpretação são direcionados para a glória de Deus, temos então uma Cosmovisão Cristã da nossa realidade.[10] Curiosamente, mesmo aqueles que não se renderam ao Evangelho de Cristo são atraídos por esses clássicos cinematográficos, provavelmente pelo fato de que há dentro de nós um desejo de admirar e adorar aquilo que é Santo e Grandioso. Isto é, adorar as características do Pai e do Filho que estão adaptadas nesses personagens e enredos.
Entretanto, como a nossa natureza é pecaminosa, não queremos adorar “no escuro”. Queremos ver aquilo que adoramos. Esse prazer, ao menos em parte, os filmes nos dão. A capa vermelha, o poder de voar, o sabre de luz, as conversas filosóficas, o vestuário preto e vencer o adversário são atributos que nos atraem. Porém, nada disso pode nos salvar do mundo e de nós mesmos. Como diria Salomão, “é tudo vaidade” (Ec 1.2). Precisamos sentir, mais do que simplesmente ver, além, é claro, de ver e adorar aquilo que realmente deve ser visto e adorado. Assim, da mesma forma que conseguimos observar a essência de Cristo nos heróis e filmes mencionados, também podemos perceber a Glória do Senhor, nos primeiros passos e palavras de uma criança (Lc 2.52). Igualmente, depois de um dia difícil de trabalho, ao olharmos para o céu e contemplarmos o pôr do Sol, nos regozijamos nas maravilhas que o Senhor criou (Gn 1.16). Há também aqueles momentos em que o Senhor envia pessoas para nos dar um abraço, que nos enche de alegria e nos dão a certeza de que ele cuida de nós (2Co 7.6). Consolo esse, que também pode vir ao entoarmos louvores como “é meu, somente meu, todo o trabalho, e o teu trabalho é descansar em mim”[11]. Podemos também perceber o Poder do Senhor sobre as nossas vidas entre um simples dormir e acordar (Sl 3.5). E porque não sair da dúvida, e acreditar com mais fé, naquelas palavras, pensamentos e ideias que vêm às nossas mentes de repente (At 9.4-5), de forma “aleatória” ou como respostas às orações recentes (Pv 15.29). Aleluia! Nosso Deus e sua Glória se manifestam de formas diferentes. Por fim, entendo que para adorar a Deus com excelência, precisamos nos entregar à Presença Empoderadora do Espírito Santo[12]. Só assim, estaremos sensíveis ao agir tanto ordinário quanto extraordinário do Espírito Consolador. Um caminho inicial e contínuo para sentirmos e cultivarmos essa Presença é ver, ou melhor, ler a sua Palavra. Nela está contida a maior história de todos os tempos, o melhor conteúdo, em meio a tantas possibilidades digitais. É um clássico atemporal repleto de acontecimentos interessantes e transformadores, que tanto chamam a nossa atenção. Portanto, acredito que por meio da leitura das Sagradas Escrituras, da oração e do viver no Espírito podemos ver, sentir e adorar a Presença do maior personagem de todos os tempos em nosso cotidiano, inclusive em coisas que não estão diretamente ligadas à fé. E aí? Vamos analisar e reter o que é bom? Afinal, como Denzel Washington afirmou ao receber o Oscar de melhor ator em 2002, “Deus é bom! Deus é grande![13]”
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Referência bibliográficas:
[1]Keener, Craig S. O Espírito na Igreja: o que a bíblia ensina sobre os dons (São Paulo: Vida Nova, 2018).
[2]Meu livro de histórias bíblicas. Sociedade Torre de vigias de Bíblias (1978).
[3]Superman Motion Picture Anthology 1978-2006 (2012). Warner Bros. Entertainment Inc. (8 Discos). Blu-ray.
[4]Star Wars: A saga completa. (2011). Lucasfilm Ltd. (9 discos). Blu-ray.
[5]The Matrix Trilogy (2009). Warner Bros. Entertainment Inc. (5 Discos). DVD.
[6]Hendriksen, W. Comentário do novo testamento – 1 e 2 Tessalonicenses, Colossenses e Filemon (São Paulo: Cultura Cristã, 2019).
[7]Carson et al. Comentário bíblico Vida Nova (São Paulo: Vida Nova, 2009).
[8]Turner, S. Engolidos pela cultura pop (Viçosa: Ultimato, 2014). Um livro que talvez possa ajudar nesse desafio de análise.
[9]Bíblia de Estudo Scofield (2007). Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.
[10]Ryken, Philip (2015) Cosmovisão cristã (São Paulo: Cultura Cristã, 2015).
[11]Não tenhas sobre ti. Composição de Jefferson Ferreira França Junior e Josué Rodrigues de Oliveira. Gravação da banda Milad em 1986.
[12]Fee, Gordon. Paulo, o Espírito e o povo de Deus (São Paulo: Vida Nova, 2020).
[13]Tradução nossa para o agradecimento original realizado em língua inglesa: Oh, God is good, God is great! God is great! From the bottom of my heart; I thank you all. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=wLKDfyFjQtc&t=74s>.
Parabéns pelo artigo, e a contextualização, em tempos dificeis para pregação do evangelho diferentes visões alcançam diferentes pessoas mas sempre mantendo a essência do evangelho.