O templo — sua história e seu futuro

1
60210

Introdução

O templo da época de Jesus era aquele que Herodes construiu. Na realidade, ele havia remodelado o templo de Zorobabel, construído no período persa, mas a obra foi de tal tamanho que praticamente consistiu de uma nova construção.
A respeito deste imenso projeto, o Talmude[1] diz: “Quem não viu o templo de Herodes, nunca viu um belo prédio.” A beleza deste prédio foi considerada uma das sete maravilhas do mundo antigo e levou os discípulos de Jesus a comentarem sobre o tamanho das pedras e a beleza da sua construção (Mc 13.1; Lc 21.5).

O papel do templo nas Escrituras e na vida de Israel tem tanta importância que será falho qualquer estudo da Bíblia que não o considere. O assunto tem suas raízes no tempo de Moisés e na ordem de construção do tabernáculo, e sua conclusão só virá com a Nova Jerusalém, que não terá um templo, “porque o seu santuário é o Senhor, o Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro” (Ap 21.22). Neste artigo, faremos um breve resumo do templo e uma consideração de como e quando ele será reconstruído.

O Tabernáculo

O Tabernáculo (mishkan) foi construído sob direção divina por Moisés, logo após o Êxodo do Egito.[2] Este santuário portátil foi utilizado durante os quarenta anos da peregrinação no deserto, mas também depois da conquista, por um período de mais de 400 anos. Foi localizado em Silo no período dos juízes (Js 18.1). Durante o reinado de Saul foi transferido para Nobe (1Sm 21) e posteriormente para Gibeom (1Cr 16.39).

Esta tenda, feita de peles de animais e linho, era retangular, medindo 10 x 30 côvados (c. 4,3 x 12,8 metros), e situava-se dentro de um átrio de 50 x 100 côvados (c. 21,4 x 42,8 metros). No santuário (ohel ha-moéd) havia um candelabro de sete braços, uma mesa para os pães da proposição e um altar para incenso. O Santo dos Santos (kodesh ha-kodashim) continha apenas a Arca da Aliança, onde se encontravam as tábuas de pedra com os Dez Mandamentos (posteriormente foram incluídos também a vara de Arão e um vaso com maná; ver Êx 16.33, Nm 17.10 e Hb 9.4). O tabernáculo era mantido e transportado pelos levitas, sendo sustentado por uma taxa anual. Os sacrifícios eram feitos pelos sacerdotes (cohanim) descendentes de Arão, o primeiro sumo sacerdote.

Davi trouxe a Arca da Aliança para Jerusalém (2Cr 1.4) e preparou uma tenda para ela. Aparentemente, a tenda original não mais existia, pois a Bíblia não a menciona e não temos informações do que lhe aconteceu. Com a construção do templo feita por Salomão ela não era mais necessária.

O primeiro templo

O sonho de Davi foi realizado no décimo século a.C.,[3] quando Salomão construiu o primeiro templo no Monte Moriá, no mesmo local do altar de Abraão (2 Cr 3.1; Gn 22.2, 9). O Senhor havia indicado o lugar exato por meio do profeta Gade, e Davi erigiu ali um altar, na ocasião da peste destruidora (2Sm 24.18-19). O monte servia na época como eira pertencente a Araúna, o jebuseu, e Davi o comprou para a futura construção do templo (1Cr 21.18—22.6, esp. 22.1).

Apesar das descrições detalhadas na Bíblia quanto aos preparativos e à própria construção (1Rs 6—7 e 2Cr 3—4), não dispomos de informações sobre as dimensões do primeiro templo. Salomão certamente usou o tabernáculo como padrão, e sabemos que dobrou as medidas do santuário e do Santo dos Santos (2Cr 3.3, 8 com Êx 26). Então, pode-se deduzir logicamente que ele também dobrou as medidas dos átrios. Isto resultaria numa área de 100 x 200 côvados ou c. 42,8 x 85,6 metros, dependendo do tamanho do côvado da época.[4]

Esta área total de 3.660 m2 foi coberta posteriormente pela construção da plataforma herodiana (de c. 165.000 m2). Apenas a “Pedra de Fundação” (even shetiyah) continuava exposta dentro do Santo dos Santos. Segundo o Tosefta,[5] a Arca da Aliança tinha de repousar diretamente numa superfície de pedra natural, mas havia uma parte da pedra elevada três dedos acima do restante, marcando a posição exata da arca.[6]

O sumo sacerdote era a única pessoa que tinha permissão para entrar no Santo dos Santos (devir), e isto só uma vez por ano, na ocasião do Dia da Expiação, quando ele entrava para aspergir a Arca da Aliança. Os demais sacerdotes ministravam no santuário (heichal), onde se encontravam os dez candelabros, o altar de incenso, e a mesa dos pães da apresentação.

O templo de Salomão teve uma existência de 410 anos, até sua destruição por Nabucodonosor, no nono dia do mês de Av (tisha beAv), no ano 586 a.C. A destruição da cidade de Jerusalém resultou na morte de milhares de judeus, e os sobreviventes foram levados à Babilônia em três deportações (Jr 52.28-30).

O segundo templo

Depois da conquista da Babilônia pelo rei Ciro da Pérsia, a política de deportações mudou. Num decreto de 539 a.C., ele autorizou a volta dos judeus à terra de Israel (Ed 1.2-5). Sob a liderança de Zorobabel e com o apoio dos profetas Ageu e Zacarias, o templo foi reconstruído. A dedicação foi em 516 a.C., setenta anos depois da sua destruição pelos babilônios.

O templo de Zorobabel era mais humilde (Ed 3.12) e faltavam muitos dos artigos originais. Por exemplo, Josefo e outras fontes rabínicas indicam que a Arca da Aliança não ocupava mais sua posição no Santo dos Santos. Existem quatro teorias quanto à história subsequente da Arca. Uma delas, baseada no fato de a Arca não ser mencionada na lista dos utensílios trazidos de volta da Babilônia (Ed 1.9-11), diz que ela foi destruída junto com o templo e que não foi levada à Babilônia. A segunda teoria diz que ela foi destruída ou mantida na Babilônia e, por isso, não consta das listas daquilo que voltou com Sesbazar. A terceira afirma que, se Apocalipse 11.19 for uma referência à Arca da Aliança (e não a outra arca), ela está agora no céu.

A quarta teoria, a mais popular, presume que a arca foi escondida pelos sacerdotes, antes da destruição do templo em 586 a.C., e só será trazida à luz quando o Messias restaurar o terceiro templo. Existem várias opiniões quanto a localização da arca hoje, mas a ideia predominante é de que permanece em algum esconderijo subterrâneo no próprio Monte do templo.[7]

O templo de Zorobabel foi saqueado pelos sírios em 169 a.C., e uma imagem de Zeus foi levantada no local. Dois anos depois, por ordem de Antíoco IV, porcos foram sacrificados no altar e o culto judaico foi suspenso até a revolta dos macabeus.[8]

Jerusalém foi conquistada pelos romanos em 63 a.C., mas o culto no templo não foi interrompido, devido ao respeito que Pompeu tinha pela religião judaica. Em 36 a.C, Herodes, o Grande, foi nomeado “rei da Judeia” e assassinou os últimos membros da dinastia hasmoneana. Querendo manter o apoio dos judeus, ele elaborou um imenso projeto de reconstrução do templo.

O templo de Herodes

Herodes, o Grande, foi proclamado “rei da Judeia” pelo senado romano em 40 a.C., mas só assumiu o poder em 37 a.C., após a derrota da família hasmoneana. Em pouco tempo, obteve a fama de ser o rei mais odiado da história dos judeus, conhecido por sua tirania e crueldade. Por causa do medo de ter um candidato rival ao trono, mandou matar sua esposa, três filhos, sua sogra, um cunhado, um tio e várias outras pessoas (e. g. os meninos de Belém, Mt 2.16). Isto levou o imperador Augusto a comentar que era mais seguro ser um porco (em grego, hus) do que filho (em grego, huios) de Herodes.

Por outro lado, Herodes tentou receber apoio dos judeus de duas maneiras: primeira, casando-se com Mariamne, da família hasmoneana, e, segunda, reconstruindo o templo. A arqueóloga Kathleen Kenyon denominou a construção de Herodes como o “terceiro templo”, mas esta terminologia nunca foi adotada e é usada hoje para indicar uma construção futura do templo. O termo “segundo templo” inclui tanto o templo de Zorobabel como o de Herodes, pelo fato de não ter cessado o culto no local.

O fato de que a construção de Herodes não foi uma simples reforma do templo de Zorobabel é evidente pelo tamanho da obra. Muralhas de arrimo foram construídas nos quatro lados do Monte Moriá, para criar uma plataforma

O monte do templo durante o período do Segundo Templo

Reconstrução baseada em evidências arqueológicas e históricas

1. Muralha ocidental
2. Arco de Wilson
3. Portão de Barelay
4. Rua herodiana
5. Restos de lojas
6. Arco de Robinson
7. Cidade alta
8. Pilastras
9. Portão Duplo
10. Portão Triplo

11. Escada monumental
12. Praça
13. Pórtico Real
14. Palácio (?)
15. Palácio (?)
16. Acesso à área do templo
17. Balneário (mikvaot)
18. Câmara do conselho
19. Escada para a rua
20. Torre herodiana
21. Fortaleza Amônia
22. Portão de Warren
23. Pedras de cantaria herodianas

Figura 2: Reproduzido com permissão do desenhista, Leen Ritmeyer.

Retangular, dobrando o espaço e criando uma área plana para novos átrios, pórticos, e outras construções. O santuário foi completamente demolido e reconstruído com o dobro do tamanho anterior. Toda esta construção foi supervisionada pelos sacerdotes, e a construção do templo propriamente dito foi realizada por eles. A construção foi iniciada em 20 a.C. e completada apenas em 64 d.C., num total de oitenta e quatro anos![9]

O tamanho e a beleza da obra são comentados por todos os que escrevem sobre Jerusalém — desde Josefo até Leen Ritmeyer. Este, um cristão holandês que hoje mora na Inglaterra, participou das escavações no Monte do Templo, chefiadas pelo Prof. Benjamin Mazar, da Universidade Hebraica. Este projeto começou em 1968, logo depois da Guerra de Seis Dias. Apesar de não terem acesso ao topo da plataforma herodiana, muito foi revelado sobre as construções herodianas em volta do templo. Leen Ritmeyer, com a ajuda da sua esposa irlandesa Kathleen, foi o desenhista da obra.[10]

A obra herodiana não só dobrou a área original (caberiam doze campos de futebol na plataforma!) como também modificou permanentemente a topografia da cidade. Hoje é difícil ao observador leigo identificar um monte embaixo da plataforma, e o vale central é apenas uma pequena depressão. A pedra virgem encontra-se vinte e um metros abaixo do nível da praça moderna, em frente à Muralha Ocidental. Quase 2000 anos depois da sua morte, Herodes continua a dominar o horizonte de Jerusalém.

No ano 66 d.C., os judeus se revoltaram contra a opressão romana. Em apenas quatro anos, no ano 70 d.C., foram derrotados, e Jerusalém foi destruída por ordem do Imperador Tito. Como no caso do primeiro templo, o templo de Herodes foi queimado e totalmente destruído, no dia nove de Av.

Na segunda revolta, liderada por Shimon Bar Kochbah, em 132-134 d.C., houve uma tentativa de se restaurar o templo. Foi construído um altar no Monte do templo e iniciou-se um novo alicerce. Mas tudo foi perdido na vitória dos romanos, em 135 d.C. Logo depois, o Imperador Hadriano construiu no local um templo ao deus Júpiter, e os judeus viveram dezenove séculos de exílio e dispersão.

O terceiro templo

Hoje, a reconstrução do templo é assunto de enorme interesse para judeus ortodoxos e muitos cristãos. Uma interpretação literal das Escrituras resultará na conclusão de que haverá novamente um templo em Jerusalém, durante o período da tribulação (Dn 9.26-27; Mt 24.15; 2Ts 2.4; Ap 11.1-2). Se ele virá a ser construído em nossos dias é uma pergunta que ainda não tem resposta. Para os judeus ortodoxos,[11] as dificuldades envolvidas apresentam uma série de obstáculos à construção:

a questão da autorização divina;
a seleção dos sacerdotes para liderar a construção e reiniciar o culto;
a ausência dos móveis e utensílios sagrados originais;
a falta de uma planta exata e completa das construções anteriores;
acesso ao local e permissão para construir, diante da oposição muçulmana;
a questão da idoneidade da presente geração; e
a questão da reinstituição ou não dos sacrifícios de animais.

1. A autorização divina

Não havendo qualquer proibição divina e baseado na ausência de uma autorização divina para o templo de Herodes (que não limitou o seu sucesso e popularidade dentre a liderança espiritual da época), a maioria concorda que não há necessidade de uma maior autorização além daquela existente em Êxodo 25.8: “E me farão um santuário para que eu possa habitar no meio deles.”

Os rabinos Rashi, Rashbam, Hezkuni e Maimónides são citados como
autoridades para esta interpretação.[12] De outro modo, não teria sentido a repetição da Amidá em todas as ocasiões em que judeus oram nas sinagogas:

Pousa a tua glória na tua cidade, Jerusalém, como prometeste, e o trono de David, teu servo, ali seja depressa restabelecido [sic]; e reconstrói-a, fazendo dela uma construção eterna, depressa em nossos dias […] Compraze-te, eterno, nosso Deus, com o teu povo de Israel e as suas orações recebe. Reconduz o serviço Divino do santuário da tua casa.[13]

A conclusão é de que “por mais desejável que seja a intervenção divina, não seria considerada um pré-requisito inalterável para se iniciar a restauração”.[14]

2. A seleção dos sacerdotes

É grande a falta de genealogias adequadas para se estabelecer a linhagem sacerdotal. Todavia, não há razão para se pensar que esta situação vá melhorar com o passar do tempo. Certamente, não há falta de candidatos (todos aqueles cujo sobrenome é Cohen, Cohn, ou algo semelhante), e todos os judeus que estudam o Talmude conhecem as obrigações e funções dos sacerdotes, segundo descritas nos tratados Zevachim, Tarnid e Middot.

Outro problema em relação aos sacerdotes é sua purificação cerimonial, que requer as cinzas do bezerro vermelho. Antes de purificar o local do templo, é necessário purificar os sacerdotes, e isto só poderá ser feito depois de se escolher um animal perfeito que deve ser sacrificado e queimado no Monte das Oliveiras para produzir as cinzas necessárias (Nm 19.10). Apesar de algumas tentativas de Wendell Jones[15] e muito interesse da parte da liderança do rabinato chefe de Israel, ainda não há solução para este problema.

3. A falta dos utensílios

Além da crença popular já citada de que a arca está preservada embaixo do Monte do Templo, existem outras soluções para a falta do equipamento necessário para o culto no templo. Na realidade, não são necessárias as peças originais, uma vez que em cada reconstrução do templo foram produzidos alguns novos utensílios (e.g. Saio mão só usou a Arca da Aliança do tabernáculo e o segundo templo sequer tinha arca). Existem na Bíblia, na Mishná, e no Talrnude descrições detalhadas de cada artigo necessário, embora nem sempre concordem entre si.

Desde 1973, o “Instituto do Templo” em Jerusalém tem feito pesquisas e já completou vários projetos relacionados com a mobília do templo e as roupas dos sacerdotes. O projeto mais recente foi o menorah (candelabro de sete braços), que será colocado no Santos dos Santos. Este projeto só espera um doador de 43 quilos de ouro para que seja completado![16]

4. As plantas originais

Sendo que nenhum dos templos seguiu a mesma planta, não são necessárias maiores informações, além das que já existem quanto às medidas. O problema maior é quanto à certeza da posição exata do templo no monte. Absolutamente nada pode ser feito, até que se resolva a questão de onde deve ser construído. Já na ocasião da primeira reconstrução do templo encontramos esta preocupação com a localização exata do altar.[17]

Até recentemente, esta questão teria tido uma resposta relativamente simples. É comum identificar a pedra[18] debaixo da Cúpula da Rocha como o lugar certo. Mas, lugar certo para quê? São oferecidas duas respostas:[19] a pedra é (1) o lugar do Santo dos Santos ou (2) do altar de ofertas queimadas. Mas não se pode permitir tanta incerteza. Outras dificuldades também surgem quando se tenta relacionar todos os elementos do templo e seus átrios a esta posição.

Nos últimos quinze anos, o trabalho de Asher Kaufman[20] tem contribuído muito para a solução deste problema. Kaufman partiu do fato de que a Mishná[21] afirma que o átrio maior do Monte do templo estava ao sul do templo, o segundo a leste, o terceiro ao norte, e o menor a oeste. Simplesmente não é possível encaixar esta descrição com uma posição do templo no mesmo local da Cúpula da Rocha.[22] O fato é que a pedra virgem é visível em dois lugares no monte. Aproximadamente a 100 metros a norte-noroeste da Cúpula da Rocha, há uma pequena cúpula de pedra que tem como nome “Cúpula de Tabletes”, situada sobre pequena área de pedra virgem exposta. Este é o lugar identificado por Kaufman como a “Pedra de Fundação” no Santo de Santos.

Um argumento forte na sua teoria é o alinhamento desta pedra com o Portão Dourado.[23] Uma referência na Mishná[24] indica que, quando o sumo sacerdote sacrificava o bezerro vermelho num ponto elevado no Monte da Oliveiras, ele podia olhar sobre o Portão Dourado para dentro do santuário do templo.[25]

Hoje, apesar da impossibilidade de escavações no local,[26] Kaufman tem mais de cinquenta evidências arqueológicas, além das evidências literárias de Josefo e da Mishná, para apoiar a sua teoria.[27] Não devem existir muitas dúvidas quanto ao lugar certo para a reconstrução do templo.

5. Acesso e permissão para construir

Devido à situação política de hoje, é duvidoso que haja uma solução pacífica para esta dificuldade. Por outro lado, se a posição correta do templo está 100 metros ao norte da Cúpula da Rocha, há espaço suficiente para sua construção, sem que o edifício muçulmano seja demolido.

É evidente que esta solução não será do agrado nem dos judeus nem dos muçulmanos, mas, sem tentar proferir uma profecia (como Amós, “não sou profeta, nem filho de profeta”!), quero sugerir que é exatamente o tipo de solução que o anticristo poderá dar para firmar um pacto com Israel e “resolver” o conflito árabe/israelense (Dn 9.27). Simplesmente não podemos saber como Deus preparará o caminho para a reconstrução do templo, mas se for uma coisa dos anos vindouros, a remoção da Cúpula da Rocha não é essencial.

6. A idoneidade da presente geração

É um tanto difícil argumentar sobre este ponto, uma vez que só Deus é juiz destas coisas. No tempo do tabernáculo, só duas pessoas de toda a congregação de Israel foram consideradas idôneas para entrarem na Terra Prometida. O profeta Zacarias foi informado de que o pecador Josué foi “um tição tirado do fogo”, escolhido para ser o sumo sacerdote durante a construção do templo de Zorobabel (Zc 3). Se a presente geração é digna desta honra ou não, só Deus pode dizer. A profecia de Ezequiel (caps. 36 e 37, esp. 36.25) indica que Israel será restaurado à terra na incredulidade (“ossos secos”) e só então será restaurado espiritualmente por um ato divino (“e o espírito entrou neles”; 37.10). Depois disto, Deus promete: “… e porei o meu santuário no meio deles para sempre” (37.26).

7. A reinstituição de sacrifícios

A resistência da parte de muitos evangélicos à ideia da restauração dos sacrifícios no futuro (baseado em Ez 43.18—46.24; esp. 45.22) é resultado ele uma concepção errada do seu papel no passado. Nunca os sacrifícios tiraram o pecado de alguém (Hb 10.4-14); apenas serviram como cobertura, até que fosse revelado “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29).

Assim, a reinstituição dos sacrifícios também não terá eficácia na remoção dos pecados. Somente o sangue derramado de Jesus, o Messias, pode fazer isto. Todavia, da mesma forma como nossa celebração da Ceia do Senhor é um memorial da morte de Cristo (e não uma nova oferta dele cada vez que a celebramos, como ensinam os católicos), assim também os sacrifícios futuros terão o mesmo valor como memorial da morte do Supremo Sacrifício no passado.[28]

Entre judeus há debates semelhantes:

Judeus conservadores e “esclarecidos” [ficam] embaraçados com a ideia de sangue e incenso como parte do culto religioso e estão ainda debatendo se devem manter a referência aos sacrifícios no Livro de Orações com as palavras ve´sham na áse (e lá faremos), algo que um dia queremos ver restaurado, ou com as palavras ve´sham asu (e lá faziam), como uma lembrança daquilo que se fazia no passado.[29]

Conclusão

Davi escreveu: “Uma causa peço ao Senhor, e a buscarei: que eu possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor, e meditar no seu templo” (Sl 27.4).

O famoso rabino Maimónides (1135-1204) determinou quatro eventos que deverão caracterizar os últimos dias: 1) a volta dos judeus para a terra de Israel, 2) o estabelecimento de um rei da casa de Davi (o NT diria “um Rei”), 3) o extermínio dos amalequitas (os inimigos de Israel), e 4) a reconstrução do templo. Hoje, provavelmente, a maioria dos judeus concordará com as palavras do Rabino Peli: “Mesmo que esta seja a ordem ideal dos eventos, os eventos em si não são necessariamente interdependentes, e nossa responsabilidade é cumprir aquele que for possível a qualquer momento.”[30]

Será isto em nossos dias?

Apêndice

Hoje, a escavação arqueológica é politicamente impossível, devido à situação do conflito árabe/israelense e à presença das mesquitas e outros monumentos muçulmanos no local. Por isso, a pesquisa está limitada à observação de vestígios na superfície e às fontes literárias. Em várias ocasiões este autor foi proibido de tirar fotos dos elementos aqui descritos e uma vez foi expulso pelo Waqf,[31] por tentar medir uma pedra visível na superfície.

O problema atual teve origem no decreto do General Moshe Dayan, logo após a vitória israelense na Guerra de Seis Dias, em junho de 1967. Presumivelmente para evitar uma “Guerra Santa” (jihad) com os árabes, ele reinstituiu a autoridade religiosa muçulmana sobre o Haram el Sharif (o antigo Monte do templo) e proibiu a oração pública de judeus no local. Judeus ortodoxos também são proibidos de entrar pelo rabinato, devido ao perigo de pisarem em alguma área santa, mas esta ordem não é aceita por todos.

Um destes grupos ortodoxos, “The temple mount faithful” [Os fiéis do monte do templo], abriu um processo judicial no Supremo Tribunal de Israel, em junho de 1991. Citando inúmeros casos documentados[32] e uma destruição progressiva das antiguidades pelas autoridades muçulmanas, este grupo está tentando forçar o governo de Israel a assumir a responsabilidade de proteger este patrimônio nacional. Está exigindo uma pesquisa científica de toda a área, para identificar e medir todas as antiguidades. Um dos advogados preparou um excelente resumo das leis que regem o caso.[33]

____________________

Referências bibliográficas

[1] O Talmude é uma compilação de literatura judaica composta de comentários e opiniões legais dos rabinos até o quinto século d.C. Esta tradição oral foi reduzida à escrita em c. 450 d.C. e tem como núcleo outra coleção de opiniões rabínicas [citada pelo rabino Judá ha-Nasi, em c. 200 d.C., conhecida como a Mishná. O conteúdo rege praticamente todas as áreas da vida e é dividido em 6 ordens (sidurim): 1. Sementes (zeraim), 2. Festas (moed), 3. Mulheres (nashim), 4. Danos (nezikin), 5. Coisas Sagradas (kodashim) e 6. Pureza (tohorot). Os 63 tratados (massektot) que compõem o total são divididos em seções (perakim). Os comentários (midrashim) são de dois tipos: halakha (“caminho” ou regras de vida) e haggadah (“narração” ou aplicações homiléticas). A língua da Mishná é o hebraico, enquanto a maior parte do Talmude é o aramaico.

[2] Conforme 1Reis 6.1 e Juízes 11.23, isto aconteceu em 1446 a.C. Apesar da quase total rejeição da data bíblica, nenhuma descoberta arqueológica tem contrariado esta datação e há boa base arqueológica para sua confirmação. Veja os argumentos do artigo recente (e muito comentado até na imprensa secular) de Bryant G. Wood, “Did the Israelites Conquer Jericho? A New Look at the Archaeological Evidence”, Biblical Archaelogy Review (março/abril de 1990): 44-59.

[3] A construção começou na primavera do ano 966 a.C., no “segundo dia do segundo mês do quarto ano” do reinado de Salomão (2Cr 3.2 e 1Rs 6.1), e o templo foi dedicado vinte anos depois (ver os sete anos de 1Rs 6.37, 38 e os treze anos de 1Rs 7.1 com 1Rs 9.10).

[4] Sendo que a medida original foi determinada pela anatomia humana (24 dedos = 6 palmos = 1 braço ou côvado), havia grande variedade na sua exatidão. Pelo menos quatro “côvados” foram estabelecidos na antiguidade e podem ser identificados na Bíblia:
Côvado de Moisés = 42,8 cm. (o “côvado de um homem”, em Dt 3.11)
Côvado de Esdras = 43,7 cm. (o côvado “do primitivo padrão”, em 2 Cr 3.3)
Côvado comum = 44,6 cm. (o “côvado nobre”, em Ez 41.8)
Côvado Real ou Egípcio = 52,5 cm (o côvado “de um côvado comum e um palmo”, em Ez 40.5 e 43.13)

Ver artigos de:

A. Ben-David, “The Hebrew-Phoenician Cubit”, Palestine Exploration Quarterly (janeiro-junho de 1978): 27-28.

Asher S. Kaufman, “Determining the Length of the Medium Cubit”, Palestine Exploration Quarterly (julho-dezembro de 1984) 120-132.

R. B. Y. Scott, “The Hebrew Cubit”, Journal of Biblical Literature (setembro de 1958) 205-214.

[5] O Tosefta (“acréscimos”) é uma coleção semelhante de comentários, opiniões e decisões com aproximadamente a mesma idade da Mishná.

[6] Yom Ha-Kippurim 3.6 (ver também Mishná Yoma 5.2).

[7] Certamente não está num depósito esquecido em Washington, D.C., aguardando um futuro episódio de Indiana Jones!

[8] Macabeu (“martelo”) era o apelido de Judas, filho de Matatias, chefe da insurreição dos judeus contra Antíoco Epifânio. O apelido veio a incluir tanto seus irmãos que o sucederam na liderança como o período inteiro da história judaica. Também é usado o termo “dinastia hasmoneana” para indicar o período macabeu (165-63 a.C). Este nome é derivado do pai de Matatias.

[9] João 2.20 diz que levou “46 anos para construir”, mas isto foi só até aquele dia, provavelmente no ano 26 d.C. A construção do prédio do templo propriamente dito levou apenas dezoito meses, em 20-19 a.C.

[10] Uma coleção de artigos no Biblical Arcliaeology Review de novembro/dezembro de 1989 revela os resultados do trabalho dos Ritmeyers. O artigo “Reconstructing Herod’s Temple Mount in Jerusalem” (p. 23-42) traz muitos dos desenhos do casal, incluindo o que é reproduzido com permissão neste artigo. Detalhes do templo propriamente dito foram publicados por Joseph Patrich, “Reconstructing the Magnificent Temple Herod Built”, Bible Review (outubro de 1988).

[11] O material que segue é adaptado de três fontes principais: (1) uma entrevista com Gershom Salomon, líder dos “Fiéis do Monte do Templo”, publicada no Jerusalem Post International Edition (13 de abril de 1991): 10-11, (2) o artigo publicado na coluna “Torah Today” pelo Rabino Pinchas H. Peli, “A. Place for the Lord”, Jerusalem Post (10 de fevereiro de 1989): 11 e (3) o artigo de J. Jay Wolf, “It’s Time to Plan our Next Temple”, Forum (primavera de 1985): 107-117.

[12] Peli, op. cit.

[13] Wolf, op. cit., 112.

[14] Meir Matzliah Melumed, Sidur Tefitlat Matzlioh (Rio: Congregação Religiosa Israelita Beth-EI, 1978): 80.

[15] Jones é do estado norte-americano de Indiana e foi a inspiração para a figura de “Indiana Jones”!

[16] Jerusalem Post Internationol Edition (24 de agosto de 1991): 13.

[17] Esdras 3.3 diz que eles “firmaram o altar sobre suas bases” (mechonotav). O léxico de Brown-Driver-Briggs (p. 467d) dá como significado da raiz deste termo “lugar fixo ou estabelecido”. O seu uso em outros contextos (Êx 15.17; 1Rs 8.39,43,49; Sl 104.5) pode ser interpretado como um ponto determinado, não apenas uma base sólida (ver tb. o uso do termo em relação ao templo, em Esdras 2.68).

[18] Esta pedra chamada “as Sakhra”, na língua árabe, é venerada pelos muçulmanos como o lugar de onde Maomé ascendeu aos céus. Eles podem até mostrar a pegada que seu cavalo el-Buraq deixou na pedra antes de subir.

[19] Veja, por exemplo, o Novo Dicionário da Bíblia (São Paulo: Vida Nova, 1966) 1569, que dá as duas sugestões. A identificação desta pedra como o lugar certo pode ser remontado apenas ao oitavo século d.C. ao Wahb ibn Manabbih, um judeu convertido ao islã.

[20] Ele tem contribuído com artigos aos anuários da Encyclopaedia Judaica sobre o assunto e os resultados das suas pesquisas já apareceram cm muitas publicações arqueológicas, notavelmente o “best-seller” que popularizou a sua hipótese, “Where the Ancient Temple of Jerusalem Stood”, Biblical Archaeology Review (março/abril de 1983) 40-59. Por não ser arqueólogo (ele é professor de física na Universidade Hebraica em Jerusalém), o seu trabalho não foi levado a sério pela comunidade arqueológica de início, mas hoje tem recebido maior aceitação. Sua conclusão quanto a localização do templo já é publicada como “Local Alternativo” nos mapas oficiais do Estado de Israel, nos mapas publicados pela Carta e no atlas do Pictorial Archive.

[21] Middot 2.1.

[22] Apoio para a não-identificação desta pedra como o lugar do templo é o fato de que dificilmente haveria uma eira no pico de uma montanha. Se não for a base do altar nem do Santo dos Santos, como identificamos então esta pedra? Uma possibilidade surge da Mishná (Taánit 3.8 com Baba Metzia 2.1·6) que fala de uma “Pedra dos Requerentes” ao sul do templo que funcionava como uma espécie de “Achados e Perdidos”.

[23] Em 1981, o presente autor estava no Jardim do Getsêmani, tirando uma foto do Portão Dourado, quando observou que a Cúpula da Rocha estava a mais de 100 metros ao sul daquele ponto! Após reflexão, concluiu que 1) ou o Portão não era o portão original que dava entrada à área do templo ou 2) o templo não estava localizado na posição da Cúpula da Rocha. Posteriormente descobriu que a identificação do Portão Dourado com a posição (a estrutura atual é de um tempo mais recente) do portão original foi confirmada por uma descoberta da parte de Jumes Fleming, em 1969, e publicada por ele no artigo “The Undiscovered Cate Bencath Jerusalem’s Golden Gate”, Biblical Archaecology Review (janeiro/fevereiro de 1(83): 24-37.

[24] Middot 2.4 (com 1.3).

[25] O presente autor descobriu que este alinhamento inclui não somente o Portão Dourado e o lugar aqui identificado para o Santo dos Santos como também o lugar (tradicional) da ascensão de Cristo no Monte das Oliveiras, o Jardim do Getsêmani no Vale Kidron (Cedrom) e o Gólgota na Igreja do Santo Sepulcro. Numa foto aérea de Jerusalém uma régua ligaria perfeitamente os cinco pontos!

[26] Veja o apêndice no final deste artigo.

[27] Asher S. Kaufman, “New Light upon Zion: The Plan and Precise Location of the Second Temple”, Ariel (Nº 43, 1977): 62-99.

[28] Veja, p. ex., a explicação de Charles C. Ryrie, A Bíblia Anotada (São Paulo: Mundo Cristão, 1991) 1066.

[29] Peli, op. cit.

[30] Idem.

[31] O Concílio Religioso Muçulmano.

[32] Ver, p. ex., o editorial “Ancient Remains on the Temple Mount Must Not Be Destroyed”, Biblical Archaeology Review (março/abril de 1983): 60, 61.

[33] Stephen J. Adler, “The Temple Mount in Court”, Biblical Archaeology Review (setembro/outubro de 1991): 60-68, 72.

 

1 COMENTÁRIO

  1. esse templo de apocalipse 11:1,2 foi o templo do ano 70 que foi destruido, se cumprindo a profecia de Jesus; Mateus 24:2 Vês estas grandes construções? Não ficará pedra sobre pedra, que não seja derribada.

DEIXE UM COMENTÁRIO

Please enter your comment!
Please enter your name here