Os batistas e sua herança reformada

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Assim diz o Senhor: Ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele.[1]

O presente ensaio tem como propósito apresentar um panorama sobre a história dos batistas e sua herança reformada. Faremos uma análise acerca das origens, as influências e o legado dos batistas. Onde e como surgiram? Existe um fundador? Quais são as tradições teológicas que influenciaram os primeiros batistas? Os batistas têm uma herança calvinista? Em primeiro lugar, mostraremos as raízes históricas dos batistas no contexto puritano, sob a influência do movimento separatista inglês. Em seguida, apresentaremos uma visão panorâmica dos primeiros batistas, seus principais nomes e as tradições teológicas herdadas, bem como suas contribuições e seu legado.

A história dos batistas é muito interessante e instrutiva. Um pequeno grupo de cristãos, sob circunstâncias adversas, cresceu e tornou-se um movimento global com milhões de membros em todo o mundo. O começo foi difícil e confuso, mas, sob a direção da Providência, os batistas cresceram e frutificaram. O pequeno grão de mostarda é hoje uma árvore frondosa. Os batistas, tal como outras denominações cristãs, surgiram a partir da Reforma Protestante do século XVI. A gênese dos batistas está vinculada aos desdobramentos históricos do protestantismo na Inglaterra.

Os batistas nasceram na Inglaterra do século XVII, no contexto do Puritanismo e do subsequente movimento Separatista inglês[2]. Existe uma estreita relação entre os acontecimentos na Inglaterra, sobretudo durante o reinado de Elizabete I, e o início do movimento batista. Os primeiros batistas eram ingleses que saíram da Igreja Anglicana e, tal como outros grupos dissidentes, deram início a novas denominações protestantes. Os puritanos e o movimento separatista inglês são o pano de fundo para entender o surgimento dos batistas, suas influências e algumas de suas marcas distintivas.

1. Os puritanos e o movimento separatista

 A Reforma Protestante do século XVI foi um movimento de renovação espiritual que propôs um retorno às Sagradas Escrituras como uma espécie de prumo da graça, a partir do qual a igreja deveria alinhar suas doutrinas e práticas. Martinho Lutero, um dos principais líderes do protestantismo do século XVI, redescobriu o evangelho da graça como o verdadeiro tesouro da igreja. A Reforma foi um dos principais acontecimentos do milênio passado. Houve uma profunda e ampla mudança ética e espiritual na vida da Igreja. Não obstante ter sido primariamente um movimento de natureza religiosa, a Reforma Protestante teve implicações nas esferas políticas, econômicas, sociais e culturais. As reformas promoveram um poderoso impacto, capaz de reconfigurar a Europa e lançar as bases da sociedade moderna no mundo Ocidental.

A Reforma começou na Alemanha, mas em pouco tempo espalhou-se pela Europa. O rei Henrique VIII decretou o Ato de Supremacia (1534) e revogou a autoridade do Papa sobre a Igreja na Inglaterra. Havia motivações políticas e interesses pessoais na decisão do monarca inglês que passou a ser o “cabeça da Igreja” e a principal autoridade em matéria de fé. A Igreja Anglicana, com seus desdobramentos, seria o útero de muitas igrejas, inclusive das igrejas batistas. Com a morte de Henrique VIII, reinaram os seus filhos, Eduardo VI[3] (protestante) e, depois, Maria I[4] (católica). Nesse período houve intenso conflito entre católicos e protestantes e a Inglaterra ficou dividida. Sob o reinado de Elizabete I, foi feito um pacto nacional que buscou reconciliar a nação e promover a paz e a estabilidade política e religiosa. Na prática, o acordo elisabetano criou uma igreja híbrida, “calvinista em sua teologia, mas erastiniana em sua ordem e governo”.[5]

O movimento Puritano foi formado por ministros anglicanos que desejavam uma reforma mais profunda e ampla tanto na teologia quanto na vida da Igreja da Inglaterra. Muitos deles haviam buscado refúgio no continente e foram influenciados pelo movimento reformado na Suíça, especialmente em Genebra e Zurique. Alguns reformadores ingleses foram diretamente influenciados por João Calvino e outros reformadores. Os puritanos cresceram em número e em força e o desejo de purificar a igreja dos resíduos papistas era inamovível. “O interesse principal do puritano é por uma Igreja pura, uma Igreja verdadeiramente Reformada. O puritanismo começou com este interesse por uma Reforma completa, e isso levou a toda doutrina da Igreja.”[6]

No início do século XVII, a Inglaterra experimentou grandes mudanças. Com a morte de Elizabete I, chegou ao fim a dinastia Tudor. Tiago I, da família Stuart, passou a reinar. Ele era escocês e presbiteriano, o que ascendeu as esperanças dos puritanos quanto aos anseios de ter uma igreja mais amplamente reformada, sobretudo na liturgia e na forma de governo. No entanto, ao contrário do que se esperava, o rei Tiago I não promoveu as reformas desejadas pelos puritanos e, sob o reinado de seu filho, Charles I, houve uma intensa resistência ao movimento Puritano. Com a influência puritana no Parlamento Inglês, o conflito aumentou e a “Revolução Puritana” eclodiu. As tensões entre o rei, o Parlamento e a sociedade civil, envolveram a Inglaterra em uma guerra civil durante a década de 1640. O conflito foi intenso, com muitas implicações no campo religioso, mas também nas esferas políticas e sociais. Com a vitória do Parlamento, o rei foi julgado e condenado à morte. A Inglaterra passou a ser governada por Oliver Cromwell, sob o “Protetorado de Cromwell”.

Com a restauração da monarquia e ascensão de Charles II ao trono, houve uma nova tentativa de uniformizar a Igreja na Inglaterra. O Ato de Uniformidade (1662) foi um golpe terrível para a causa protestante na Inglaterra. O decreto determinou uma forma mais católica de orações públicas, o sacerdócio, os sacramentos, e outros ritos na Igreja da Inglaterra. Centenas de pastores puritanos foram obrigados a abandonar suas ordenações originais e serem reordenados sob essa nova forma da igreja do estado. As igrejas protestantes que não aceitaram o ato de uniformidade, por isso chamadas não conformistas, foram consideradas “dissidentes” e ilegais.

Os conflitos continuaram, pois, muitos ingleses já estavam, de corpo e alma, alinhados com a tradição reformada. Mesmo sob perigo, muitos ministros protestantes continuaram na Inglaterra, atuando clandestinamente e aderindo ao movimento separatista que daria origens às igrejas independentes. Outros não conformistas deixaram a Inglaterra e buscaram refúgio em alguns países do continente, onde a Reforma estava consolidada. Nesse período começou uma escalada migratória para as treze colônias inglesas do outro lado do Atlântico. Essas colônias formariam os Estados Unidos da América. A jovem nação, independente da Inglaterra, seria um solo fértil para o florescimento de muitas igrejas e um celeiro missionário para o mundo.

 2. O surgimento dos batistas

 “Quem são os batistas?” Ou, mais apropriadamente, “o que são os batistas?” Qualquer uma dessas perguntas acende um intenso debate tanto entre batistas quanto entre não batistas. Alguns sustentam que os batistas seguem um padrão neotestamentário da vida da igreja e, assim, as igrejas “batistas” têm suas origens na era apostólica (a teoria sucessionista). Contudo, outros argumentam que os batistas eram essencialmente um desdobramento do movimento separatista não-conformista da Inglaterra pós-Elizabeth, e que os batistas pertencem, portanto, à vertente congregacional do protestantismo. Uma terceira escola de pensamento modificou o argumento das origens inglesas e oferece evidências de que os primeiros batistas foram influenciados pelo movimento anabatista por meio do contato com menonitas holandeses no início do século XVII.[7]

A origem dos batistas não é consensual e tem sido objeto de debate entre os historiadores. “Os batistas existem como uma mistura complexa de muitos elementos, práticas e ideologias essenciais e opcionais.”[8] Há muitas controvérsias quanto às origens e até no que diz respeito ao nome batista.

A origem do nome é um dos pontos controversos dessa questão. Afirma-se que antes de John Smith não existiam batistas ou essa denominação, portanto o nome batista constar em “anabatista” é tão somente coincidência. Muitos também afirmam não haver uma origem “orgânica” do termo, isto é, anabatistas não tem relação com a origem dos batistas porque os “batistas gerais” originaram-se com John Smith e Thomas Hewlys, enquanto os “batistas particulares” teriam se originado com Henry Jacob, não tendo, portanto, qualquer ligação orgânica (formação de igreja ou membros anabatistas) com os anabatistas”[9]

Em linhas gerais, existem três teorias quanto à origem dos batistas. Apresentaremos um panorama das duas primeiras correntes, embora a primeira não tenha respaldo histórico nem apoio acadêmico e a segunda também seja contestável. Mais adiante, a terceira teoria será apresentada de um modo mais abrangente.

A teoria do sucessionismo, a despeito de ser historicamente infundada e inconsistente, é muito popular. Esta teoria tomou força a partir do movimento conhecido como “landmarkismo”[10]. Esse movimento surgiu no Sul dos Estados Unidos, em meados do século XIX, e partir do pressuposto de que existiria uma continuidade visível na história dos batistas, desde João Batista. Os principais proponentes dessa “teoria” foram os batistas norte-americanos, G.H.Orchard, J.M. Cramp e J.M. Carroll. Este último popularizou a ideia através do livro Rastro de Sangue, popularizou essa ideia, ainda hoje muito forte no ideário popular batista. Curioso notar que, para sustentar essa tese, foi preciso relacionar os batistas a diversos grupos no decurso da história, inclusive com movimentos heréticos como os Montanistas do quarto século! A teoria do sucessionismo é uma lenda landmarkista a partir da qual acredita-se cegamente em uma suposta linha sucessória e ininterrupta desde o tempo de João Batista até os dias atuais.

A segunda teoria defende que os batistas teriam sua origem nos anabatistas, supostos “parentes espirituais” dos batistas. O movimento anabatista é complexo e multifacetado. A reforma radical[11], postulada por grupos que pretendiam avançar mais na obra de reforma da Igreja, é um movimento que também teve grande impacto no século XVI e XVII. “Anabatista” era um termo pejorativo, aplicado de forma ofensiva aos protestantes que acreditavam e defendiam que o batismo só deveria ser administrado as pessoas regeneradas. Os anabatistas rejeitavam o batismo infantil e pregavam a necessidade de um novo batismo, tendo em vista que o primeiro não tinha validade. O movimento anabatista, embora heterógeno, passou a ter um significado genérico para qualquer grupo que defendesse o novo batismo. O radicalismo anabatista era pendular, movendo-se do pacifismo de Menno Simons ao anarquismo de Thomas Münster. Houve muitas injustiças, associações caluniosas e preconceituosas que estigmatizaram os anabatistas, criando uma permanente suspeição sobre eles. À guisa de exemplo, circulou na Inglaterra um documento anônimo que alertava o povo inglês sobre o espírito revolucionário dos anabatistas: “Um aviso para a Inglaterra, especialmente para Londres, na famosa história dos Anabatistas, suas pregações e práticas selvagens na Alemanha”[12]. Havia, portanto, um grande temor de que os acontecimentos perturbadores que ainda estavam vívidos na memória dos alemães se se repetisse na Inglaterra.

Curioso notar, como veremos mais adiante, que os batistas particulares, ao escreverem sua primeira confissão de fé, expressaram não terem vínculos com os anabatistas. Alguns batistas particulares temiam serem vinculados ao movimento anabatista, via de regra, desprezados por seu espírito anárquico e sectário. O documento conhecido como Confissão de Londres de 1644 considera uma injustiça vincular os Batistas aos Anabatistas.

A Confissão de Fé de sete congregações ou igrejas de Cristo em Londres, que comumente, mas injustamente, são chamadas de Anabatistas; publicada para a reivindicação da verdade e da informação dos ignorantes; Da mesma forma, para a remoção dessas aspersões que são frequentemente, tanto no púlpito quanto na imprensa, lançadas injustamente sobre elas.[13]

Diferentemente da teoria sucessionista, a origem anabatista dos batistas é defendida por muita gente séria, inclusive no meio acadêmico.

Aqui temos duas posições: uma de sucessão espiritual e outra de sucessão orgânica. Os defensores da teoria anabatistas são: Thomas Crosby, William R. Estep, Michael Yarnel III, L. Paige Patterson, David Benedict, Richard Cook, etc. Esta proposta teve origem no século XVIII, com Thomas Crosby (considerado o primeiro historiador batista) e parece ser o equilíbrio entre a primeira e a segunda.[14]

Do ponto de vista documental, existe um marco histórico seguro a partir do qual se pode se identificar a origem dos batistas. “A documentação da tradição batista surge quando as primeiras congregações “batizadoras”, assim chamadas, começam a aparecer por volta de 1608”[15]. A terceira teoria, defendida neste artigo, sustenta que os batistas surgiram do movimento separatista inglês no contexto do século XVII. Nos EUA, desde o século passado, esta é a teoria mais aceita e defendida. Estudiosos da envergadura de Kennet Lautorreth, August Strong, H. Leon McBeth, Chris Traffandest, Henry C. Vedder, Robert G. Torbet, B.R.White, bem como os atuais historiadores Timothy George, Thomas Nettles e Michael Haykin estão entre os que advogam essa teoria.

3. Os batistas gerais e os batistas particulares

A origem dos batistas na Inglaterra está associada a dois grupos distintos, comumente chamados de batistas gerais e batistas particulares. Esses termos denotam a distinção quanto a perspectiva soteriológica, em especial quanto à extensão da expiação de Cristo. Os batistas gerais (arminianos)[16] defendiam a morte de Cristo como uma expiação ilimitada e indefinida, suficiente para salvação de todos, mas incerta quanto ao número de redimidos. Os batistas particulares (calvinistas[17]) pregavam que o sacrifício de Cristo havia sido definido, exclusivo e eficaz somente em favor dos eleitos de Deus.

Os batistas gerais

Entre os batistas gerais, os dois nomes mais importantes são John Smith e Thomas Helwys. Desde o início do século XVII, ambos foram as duas personalidades que mais influenciaram os passos dos primeiros batistas no contexto do movimento separatista inglês. Refugiados na Holanda por conta da perseguição, Smith e Helwys receberam forte influencia dos anabatistas holandeses da escola de Menno Simons.

John Smith (1570-1612) foi ordenado ministro da Igreja da Inglaterra em 1594. Fruto do seu tempo, Smith também foi influenciado pelo movimento puritano e rejeitou a liturgia da Igreja Anglicana. O Dr. Michael Haykin afirma que no outono de 1607, Smith assumiu sua posição Separatista e se uniu a uma congregação na “cidade de Gainnsboroough, em Lincolshire, na divisa de Nottinghamshire”.[18]

A ruptura definitiva de John Smith com o anglicanismo aconteceu em 1609. Em seu tratado The Character of the Beast (O Caráter da Besta), ele contesta a validade do batismo de infantes e reconhece apenas o batismo de pessoas capazes de fazer pública profissão de fé. Estas convicções o levaram a batizar a si mesmo e, em seguida, batizar aos membros de sua congregação. Tal atitude gerou um grande desconforto entre os separatistas ingleses, na sua maioria, à época, pedobatistas[19].

Inconstante e inconsistente em sua teologia, Smith entendeu que, uma vez que seu batismo na Igreja da Inglaterra tinha sido falso, ele deveria ser novamente batizado. Ele o fez, batizando a si mesmo, tendo logo em seguida, batizado a todos os membros de sua igreja. Além das críticas separatistas, Smith e seu grupo foram curiosamente criticados por um grupo holandês chamado de Waterlanders, ligado aos menonitas. [20]

Os Waterlanders[21] criticaram a prática de Smith, o qual não apenas acatou a crítica como também se dispôs a compreender melhor a teologia deles. Smith e sua congregação mudaram-se para a Holanda. Nesse tempo, sob influencia dos Waterlanders, Smith tornou-se arminiano e rompeu com o calvinismo predominante entre os separatistas ingleses. Ele e mais quarenta e duas pessoas submeteram-se ao batismo administrado pelos Waterlanders. Smith foi um personagem controverso[22].

No ano de 1609, Smith elaborou uma Breve Confissão de Fé com 20 artigos. Esse documento é fonte primária para conhecer seu pensamento e crenças. No artigo 14, ele nega a validade do batismo de infantes, rompendo com a visão dos Anglicanos e dos Separatistas “[Nós cremos com o coração e com a boca confessamos:] que o batismo é um sinal externo da remissão de pecados, de morte e ressurreição e, portanto, não pertence aos infantes”[23]. A posição defendida por Smith é a do credobatismo, que viria a ser adotada pelos batistas gerais e particulares. No entanto, outros posicionamentos teológicos de Smith foram os rejeitados pelos batistas. A clássica doutrina do pecado original foi negada em favor de uma posição pelagiana: “[Nós cremos com o coração e com a boca confessamos:] que não há pecado original (lit., nenhum pecado de origem ou descendência), mas todo pecado é real e voluntário, isto é, uma palavra, uma ação ou um plano contra a lei de Deus; e, portanto, infantes estão sem pecado”[24]. Como se não bastasse, Smith também negou as doutrinas da doutrina da eleição (art. 2) e da justificação somente pela fé (art. 10):

“[Nós cremos com o coração e com a boca confessamos:] que a justificação do homem perante o tribunal divino (que é o trono da justiça e da misericórdia) consiste, em parte, na imputação da justiça de Cristo apreendida pela fé, e em parte da justiça inerente, nos próprios santos, pela operação do Espírito Santo, que é chamada de regeneração ou santificação; uma vez que alguém é justo, ele pratica a justiça”.[25]

Thomas Helwys (1575-1616), um dos que acompanharam Smith à Holanda, tornou-se o principal líder dos Batistas Gerais. A despeito de abraçar a soteriologia arminiana herdada dos Waterlanders, Helwys era ortodoxo em suas convicções teológicas basilares. Em 1611, ainda na Holanda, ele publicou uma Confissão de Fé[26]. Helwys, desconfortável com os sinais de inconsistência teológica de Smith, liderou o regresso de alguns membros da congregação à Inglaterra (1612). De volta à terra natal, eles fundaram em Spitalfields, nos arredores de Londres, a primeira igreja Batista em solo inglês, uma pequena congregação com aproximadamente dez membros. A política de perseguição aos não conformistas estava em pleno vigor. Logo depois de seu retorno à Inglaterra, Thomas Helwys foi preso e veio a falecer entre os anos de 1615 e 1616. O Dr. Michael Haykin afirma que, nos anos seguintes, os Batistas Gerais experimentaram um relativo crescimento. Por volta de 1626, somavam aproximadamente 150 membros espalhados em pequenas congregações na Inglaterra. No entanto, foram quase extintos no final século XVIII. Duas razões principais são apontadas para explicar esse declínio: a estranha resistência em construir edifícios eclesiásticos e a política sectária de endogamia (casamento exclusivo entre membros da própria igreja). Portanto, embora os Batistas Gerais sejam mais antigos do que os Batistas Particulares, sua influência e seu legado foram menores. “Os Batistas Gerais sempre representaram uma parte pequena da vida Batista na Inglaterra, e uma parte ainda menor na América. Sua influencia sobre as principais correntes do movimento Batista nesses países parece ter sido mínima”. [27]

Os batistas particulares

Até cerca de 1640 tínhamos aquele tipo de original de puritano que era essencialmente anglicano e que, naturalmente, não era separatista; depois tínhamos o tipo puritano presbiteriano, também não separatista; depois, exatamente no outro extremo, tínhamos os separatistas muito francos, claros e abertos. Mas então veio à existência esse novo grupo, parece-me, por volta de 1605, muito definidamente como resultado do entendimento deste homem, Henry Jacob.[28]

O doutor Martyn Lloyd Jones, respeitado estudioso do movimento puritano e seus sucessores, atribui a Henry Jacob (1563-1624) a organização da primeira Igreja Congregacional moderna. Jacob foi um clérigo inglês que buscou reformar a Igreja da Inglaterra. Decepcionado com os rumos do anglicanismo, aderiu ao separatismo e refugiou-se na Holanda (1593). Em 1616, de volta à Inglaterra, iniciou uma congregação que seria conhecida pelo nome de seus três primeiros pastores: Henry Jacob, John Lathrop, e Henry Jessey (JLJ). Esta igreja pode ter sido a semente da primeira igreja batista particular. Em 1637, Henry Jessey assumiu o pastorado desta igreja e foi muito habilidoso na condução da igreja que cresceu exponencialmente. Aquele era um tempo difícil. O século XVII foi marcado por muitas controvérsias e existiam vários grupos dissidentes que debatiam sobre o conceito bíblico de batismo e a natureza da igreja. Jessey e outros separatistas, como Thomas Goodwin e Philip Nye, defenderam que não deveriam ser excomungados nem admoestados aqueles que, por questão de consciência, fossem rebatizados. Jessey era um homem piedoso, sábio e moderado. Depois de examinar a questão, ele adotou o credobatismo, em 1638. Três anos depois, em 1641, defendeu o batismo por imersão. Até então, o batismo era administrado por afusão ou aspersão em todas as igrejas batistas.

“Jessey se convenceu que devia tornar-se batista; não obstante, a princípio ele não foi batizado. Contudo, dentro de muito pouco tempo ele foi rebatizado, mas continuou sendo o pastor daquela igreja congregacional. Finalmente, alguns dos batistas mais zelosos foram-se e formaram uma igreja deles próprios – uma igreja batista independente, separada”.[29]

A igreja cresceu a ponto de o espaço físico ficar pequeno para atender os congregados. Por volta do ano de 1640, afirma o doutor Michael Haykin, a igreja se dividiu em duas a fim de poder continuar crescendo. Um grupo saiu em paz e fundou uma nova congregação, sob a liderança de Praise-God Barebone (1598-1676). De fato, “os Batistas Particulares surgiram no contexto de uma congregação separatista, depois conhecida pelo nome de três pastores: Jacob, Lathrop e Jessy. Tendo adotado o batismo dos crentes em 1638, eles afirmaram o batismo por imersão em 1641 e em 1644 produziram uma Confissão de Fé”.[30]

John Spilsbury se destaca como um nome de peso na tradição batista reformada. Muito provavelmente ele também foi membro da igreja JLJ e esteve sob o pastorado de Henry Jessey. Spilspbury organizou uma igreja em Londres, na região de Wapping, que seria a “primeira a abraçar definitivamente a causa Batista Calvinista”.[31] Sua igreja cresceu e, por volta de 1670, reunia aproximadamente trezentas pessoas nos cultos dominicais. John Spilsbury é considerado o primeiro pastor de uma igreja batista particular, claramente identificado. Ele exerceu grande influência sobre outros pastores e ajudou a fortalecer o movimento batista calvinista inglês. “Como expressão da teologia de Spilsbury e de outros pastores batistas particulares de Londres, a Primeira Confissão de Londres foi decidida e claramente calvinista”[32], afirma Netlles.

Hanserd Knollys (1599-1691), William Kiffin (1616-1701), Benjamin Keach (1640-1704), Henry Jessey (1601-1663) e John Bunyan (1628-1688), entre outros, permanecem como representantes da convicção firme, da piedade fervorosa, da pregação poderosa e da ortodoxia teológica dos batistas particulares do século 17. Embora algumas diferenças quanto à ceia e à membresia eclesiástica tenham existido naqueles dias de egressão do separatismo, havia unidade na soteriologia.[33]

Os batistas particulares cresceram exponencialmente a partir da segunda metade do século XVII. Somavam-se sete igrejas em Londres e 47 espalhadas em toda Inglaterra. Os batistas seguiram crescendo e alguns nomes foram consolidados como os pioneiros do movimento batista calvinista na Inglaterra. O crescimento nesse período não foi maior por conta da intensa, cruel e injusta perseguição sofrida. A restauração da monarquia na Inglaterra, sob o reinado de Carlos II, implicou em um período de grandes provações para os batistas e outras igrejas independentes.  Houve inúmeras prisões e mortes por questões de natureza política e religiosa. Muitos buscaram refúgio na Alemanha, Holanda, e em outros países da Europa, até mesmo na América (onde os batistas seriam a maior denominação evangélica). A promulgação do Ato de Tolerância (1689) foi decisiva para ajudar os batistas a continuarem crescendo na Inglaterra e se espalharem por outras partes do mundo.

4. As confissões de fé dos batistas calvinistas

Os batistas estavam preocupados em demonstrar a todos que suas convicções doutrinárias eram, desde o início, ortodoxas e em grande parte idênticas às convicções dos puritanos ao redor deles. Para fazer isso, procuraram os melhores meios disponíveis para provar que o entendimento deles estava realmente de acordo com as convicções das outras igrejas ao seu redor. Eles fizeram isso emitindo uma confissão de fé. Esta Primeira Confissão de Londres de 1644, publicada antes da Confissão de Fé de Westminster, dependia fortemente de documentos mais antigos e conhecidos. O objetivo era provar que eles não tinham ideias novas e loucas, mas que compartilhavam as mesmas perspectivas teológicas básicas das melhores igrejas e dos renomados ministros ao seu redor.[34]

Na metade do século XVII já havia mais de cinquenta igrejas batistas espalhadas na Inglaterra. Ainda não formavam uma associação oficial, mas havia comunhão entre elas. Na capital, sete igrejas se uniram a fim de publicar a primeira confissão de fé. Denominada de Confissão das Sete Igrejas de Londres, o documento foi publicado em 1644. Ortodoxa e calvinista, a Confissão de Fé de Londres reúne o corpo doutrinal central dos batistas. São 51 artigos contendo as principais proposições teológicas defendidas pelos batistas particulares. Curioso notar que esse histórico e precioso documento foi publicado três anos antes da Confissão de Fé de Westminster (1646). “Quando Stephen Marshall, membro da Assembleia de Westminster, atacou os batistas em 1645, John Tombes respondeu a ele apontando para essa Confissão como um meio de estabelecer a ortodoxia dos batistas particulares”. [35] O doutor Daniel Featley, membro da Assembleia de Westminster, deu um interessante testemunho sobre a Confissão de Fé Batista de 1644.

Se dermos crédito a esta Confissão e ao seu Prefácio, aqueles dentre nós conhecidos com o título [isto é, de anabatistas], não são nem heréticos, nem cismáticos, mas cristãos afetuosos: sobre quem, através de falsas sugestões, a mão da autoridade veio pesada, enquanto a Hierarquia permaneceu: pois eles nem ensinam o livre-arbítrio, nem decaem da graça com os arminianos, nem negam o pecado original com os pelagianos, nem rejeitam o magistrado com os jesuítas, nem mantêm diversas esposas com os poligamistas, nem uma comunidade de bens com os “apostólicos”, nem andam nus com os adamitas, muitos menos afirmam a mortalidade da alma com os epicureus e psychophannichist, e com este propósito publicaram esta Confissão de Fé, subscrita por dezesseis pessoas, em nome de sete Igrejas de Londres.[36]

Graças a essa monumental confissão de fé, os batistas particulares passaram a ser identificados como um grupo distinto dos anabatistas e dos batistas gerais. A Primeira Confissão de Fé sofreu alguns ajustes e novas edições nos anos de 1646, 1651 e 1652. Leon McBeth, disse, acertadamente, que os Batistas “costumavam usar confissões não tanto para proclamar ‘distintivos batistas’, mas, em vez disso, para mostrar como os Batistas eram semelhantes aos outros cristãos ortodoxos”.[37]

A Primeira Confissão de Fé de Londres é um documento produzido como uma legítima expressão da teologia dos pastores batistas calvinistas e suas igrejas. À guisa de exemplo, seguem alguns artigos que indicam a teologia calvinista dos batistas ingleses.

XXII. A fé é o dom de Deus, produzida nos corações dos eleitos pelo Espírito de Deus; por meio de quem chegam a ver, conhecer e crer na verdade das Escrituras, e as excelências dela por cima de toda outra escritura e coisas do mundo, porque manifestam a glória de Deus em seus atributos, a excelência de Cristo em sua natureza e em seus ofícios, e o poder da plenitude do Espirito em suas obras e operações; e assim podem descansar suas almas sobre a verdade que têm crido.

XXIII. Os que têm a fé produzida neles, pelo Espirito, nunca podem totalmente cair; e ainda que muitas tormentas e inundações lhes fustiguem, não podem ser removidos daquele alicerce e rocha sobre o qual são estabelecidos; ou melhor, serão guardados pelo poder de Deus para a salvação; donde gozarão da possessão que para eles foi comprada, estando seus nomes gravados nas palmas das mãos do próprio Deus.

XXIV. Esta fé normalmente é engendrada pela pregação do Evangelho, a palavra de Cristo, sem considerar nenhum poder ou capacidade do ouvinte, o qual está totalmente passivo e morto em delitos e transgressões. Assim, ele crê e está convertido pelo mesmo poder que levantou a Cristo dentre os mortos.

XXIV. Esta fé normalmente é engendrada pela pregação do Evangelho, a palavra de Cristo, sem considerar nenhum poder ou capacidade do ouvinte, o qual está totalmente passivo e morto em delitos e transgressões. Assim, ele crê̂ e está convertido pelo mesmo poder que levantou a Cristo dentre os mortos. [38]

Os batistas produziram outra confissão de fé algumas décadas depois, a Segunda Confissão Batista de Londres, formulada por William Collins e Nehemiah Coxe. O documento foi redigido em 1677 e publicado por ocasião de um congresso de batistas que reuniu mais de cem igrejas entre os dias 3 a 11 de julho de 1689. A Confissão de Fé Batista de 1689, como ficou conhecida, passou a ser o principal documento doutrinal dos Batistas na Inglaterra e em outras partes do mundo. Os Batistas seguiram de perto a Confissão de Fé de Westminster (1646) e a Confissão de Savoy (1658), permanecendo em constante diálogo com as demais tradições reformadas e sendo por elas influenciados. Os Batistas queriam consolidar sua posição no espectro reformado inglês, de modo que as Confissões de Fé de 1644 e 1689 não nasceram em um vácuo nem foram fruto de percepções teológicas pessoais, mas foram o resultado de uma tradição confessional reformada que os Batistas adotaram e sobre a qual se firmaram teologicamente.  Em linhas gerais, os batistas calvinistas do século XVII e todos as gerações subsequentes que levaram adiante a herança que deles receberam, estavam em pleno acordo com as demais comunidades reformadas inglesas, excetuando os artigos sobre sacramentos e o governo da igreja. De fato, a marca distintiva e singular dos batistas é a sua eclesiologia.  O batismo é uma ordenança do Novo Testamento, instituída por Jesus Cristo, para ser, para a pessoa batizada, um sinal de sua comunhão com Cristo, na sua morte e ressurreição; de sua união com Ele; 1 da remissão dos pecados; 2 da consagração da pessoa a Deus, através de Jesus Cristo, para viver e andar em novidade de Vida.Somente pode ser submetidas a esta ordenança as pessoas que de fato professam arrependimento para com Deus, fé e obediência ao Senhor Jesus. O elemento externo a ser empregado nesta ordenança será a água, na qual a pessoa será batizada em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito SantoPara a devida administração desta ordenança é necessária a imersão, ou seja, a submersão da pessoa na água.[39]  Uma comparação entre a Confissão de Fé Batista de 1689 e a Confissão de Fé de Westminster, evidenciará que os batistas comungavam e professavam a mesma fé, pois eram herdeiros da mesma tradição reformada. À exemplo, pode-se observar que no capítulo sobre os Decretos de Deus, doutrina central no sistema doutrinal reformado, as duas confissões de fé estão em total e plena harmonia.

Decreto de Deus. Capítulo 3, artigos 1-6 (Confissão Batista de 1689)

1.Pelo decreto, e para manifestação da glória de Deus, alguns homens e alguns anjos são predestinados (ou preordenados) para a vida eterna através de Jesus Cristo, para louvor da sua graça gloriosa.  Os demais são deixados em seu pecado, agindo para sua própria e justa condenação; e isto para louvor da justiça gloriosa de Deus.

2. Embora Deus saiba tudo quanto pode ou poderá acontecer, 5 em todas as condições possíveis, Ele nada decretou por causa do seu conhecimento prévio do futuro ou daquilo que viria a acontecer em determinada situação.

3. Pelo decreto, e para manifestação da glória de Deus, alguns homens e alguns anjos são predestinados (ou preordenados) para a vida eterna através de Jesus Cristo, para louvor da sua graça gloriosa. Os demais são deixados em seu pecado, agindo para sua própria e justa condenação; e isto para louvor da justiça gloriosa de Deus.

4. Os anjos e homens predestinados (ou preordenados) estão designados de forma particular e imutável, e o seu número é tão certo e definido que não pode ser aumentado ou diminuído.

5. Dentre a humanidade, aqueles que são predestinados para a vida, Deus os escolheu em Cristo para glória eterna; e isto de acordo com o seu propósito eterno e imutável, pelo conselho secreto e pelo beneplácito da sua vontade, antes da fundação do mundo, apenas por sua livre graça e amor, nada havendo em suas criaturas que servisse como causa ou condição para essa escolha.

6. Deus não apenas designou os eleitos para glória, de acordo com o propósito eterno e espontâneo da sua vontade, mas também preordenou todos os meios pelos quais o seu propósito será efetivado. Por isso os eleitos, achando-se caídos em Adão, são redimidos em Cristo e chamados eficazmente para a fé nEle, pela ação do Espírito Santo, e no seu devido tempo; e são justificados, adotados, santificados e guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para salvação. Ninguém mais é redimido por Cristo, chamado eficazmente, justificado, adotado, santificado e salvo, senão unicamente os eleitos.[40]

Decreto de Deus. Capítulo 3, artigos 1-6 (Confissão de Fé de Westminster)

1. Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas.

2. Ainda que Deus sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas as circunstâncias imagináveis, ele não decreta coisa alguma por havê-la previsto como futura, ou como coisa que havia de acontecer em tais e tais condições.

3. Pelo decreto de Deus e para manifestação da sua glória, alguns homens e alguns anjos são predestinados para a vida eterna e outros preordenados para a morte eterna.

4. Esses homens e esses anjos, assim predestinados e preordenados, são particular e imutavelmente designados; o seu número é tão certo e definido, que não pode ser nem aumentado nem diminuído.

5. Segundo o seu eterno e imutável propósito e segundo o santo conselho e beneplácito da sua vontade, Deus antes que fosse o mundo criado, escolheu em Cristo para a glória eterna os homens que são predestinados para a vida; para o louvor da sua gloriosa graça, ele os escolheu de sua mera e livre graça e amor, e não por previsão de fé, ou de boas obras e perseverança nelas, ou de qualquer outra coisa na criatura que a isso o movesse, como condição ou causa.

6. Assim como Deus destinou os eleitos para a glória, assim também, pelo eterno e mui livre propósito da sua vontade, preordenou todos os meios conducentes a esse fim; os que, portanto, são eleitos, achando-se caídos em Adão, são remidos por Cristo, são eficazmente chamados para a fé em Cristo pelo seu Espírito, que opera no tempo devido, são justificados, adotados, santificados e guardados pelo seu poder por meio da fé salvadora. Além dos eleitos não há nenhum outro que seja remido por Cristo, eficazmente chamado, justificado, adotado, santificado e salvo.[41]

Considerações

Os batistas nasceram na Inglaterra, cresceram nos Estados Unidos da América e se espalharam pelo mundo. Algumas dezenas de pessoas se tornaram uma grande multidão. A despeito da denominação batista não ser uniforme em sua doutrina, sua origem tem estreita relação com a tradição reformada. No decurso de quatro séculos de história, os batistas têm a honra de ter no seu histórico uma plêiade de notáveis homens que serviram a igreja de Jesus Cristo, com excelência e exemplar integridade. Alguns nomes se destacaram, dentre os quais mencionamos os teólogos Benjamim Keach (1640-1704), John Gill (1697-1771), Andrew Fuller (1754-1815) John Dagg (1754-1884) e James P. Boyce (1827-1888), ingleses e americanos que produziram monumentais obras de teologia, comentários bíblicos e tratados eclesiológicos que continuam sendo publicados e lidos no mundo. Na contramão dos que pensam que o calvinismo arrefece a obra missionária, os batistas são conhecidos por seu zelo evangelístico. O evangelho foi levado aos quatro cantos do mundo, em grande parte, pela dedicação dos batistas. A primeira sociedade missionária batista foi fundada em 1792 por William Carey (missionário na Índia) e seus amigos, todos eles batistas calvinistas. Considerado o pai das missões modernas, o simples sapateiro inglês tornou-se uma referência global do trabalho de missões. Adoniram Judson na Birmânia, Lottie Moon na China, William Bagby no Brasil são alguns dos milhares de batistas calvinistas que deram a vida em favor da pregação do evangelho. Charles Haddon Spurgeon (1834-1892), o príncipe dos pregadores, é a maior referência de um legítimo pastor batista calvinista. No século XIX, Spurgeon se destacou com uma das maiores personalidades do seu tempo. Fiel pregador do evangelho e arauto das doutrinas da graça, o pregador do Tabernáculo Metropolitano de Londres resumiu bem a doutrina que pregava e que tantas vidas abençoou.

As antigas verdades que Calvino pregou, e que Agostinho pregou, são as mesmas verdades que eu prego hoje em dia, pois, doutra maneira, eu estaria sendo falso com a minha consciência e o meu Deus. Não posso alterar a forma de uma verdade; para mim não existe expediente de aparar as arestas difíceis de uma doutrina. O evangelho de John Knox é o meu evangelho. E esse evangelho que trovejou em toda Escócia, deve trovejar também por toda Inglaterra.[42]

Referências bibliográficas

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_______________________________________
[1] Jeremias 6.16 (Almeida Revista e Corrigida)

[2] “Defino o Puritanismo como movimento dos séculos XVI e XVII, na Inglaterra, que procurar reformar e renovar profundamente a igreja da Inglaterra, além do que era permitido pelo Acordo Elizabetano”. PACKER, J.I. Entre os Gigantes de Deus. Uma visão puritana da vida cristã. Editora Fiel: São José do Campos-SP, p. 33

[3] Eduardo VI assumiu o trono da Inglaterra e Irlanda em 1547. Educado sob os cuidados do Arcebispo  Thomas Cramner, o rei Eduardo VI favoreceu a causa Protestante, sendo chamado de “o Josias da Inglaterra”. Infelizmente seu reinado foi curto. Ele faleceu aos dezesseis anos de idade.

[4] Maria I, filha de Catarina de Aragão e Henrique VIII, reverteu o trabalho de reforma que seu irmão havia implementado e buscou restaurar o catolicismo na Inglaterra. Perseguiu, prendeu e matou protestantes. Entrou para a história com o epíteto de Maria, a sanguinária. Reinou por apenas 5 anos. Adoeceu e veio a falecer aos 42 anos de idade. Elizabete, assumiu o trono e reinou por 45 anos.

[5] HAYKIN, Michael. Kiffin, Knollys and Keach: rediscovery our English Baptist heritage. Leeds: Reformation Today Trust, 1996, p.18

[6] JONES, Martyn Lloyd. Os Puritanos e seus sucessores, p. 267

[7] BRACKNEY, William H. Baptist life and thought, p. 15

[8] NETTLES, Thomas J. By His grace for His glory: a historical, theological, and practical study of the doctrines of grace in Baptist life. Cape Coral, FL: Founders Press, 2006, p.x

[9] SIQUEIRA, S. Silas Batista Lobato. Os batistas gerais, particulares e os anabatistas. Disponível em: https://blogdoutrinabatista.weebly.com/blog/os-batistas-gerais-particulares-e-a-origem-anabatista. Acesso em: 01jul.2020

[10] Landmarkismo é um termo que começou a ser usado nos EUA em meados do século XIX. Cunhado por James M. Pendleton em seu texto An Old Landmark Re-Set e publicado no jornal The Tennessee Baptist. O Landmarkismo se tornou um forte movimento no Sul dos EUA e exerceu grande influência na igreja batista norte americana. Entre outras coisas, os landmarkistas defendiam a teoria de sucessão apostólica desde João Batista e negavam os vínculos com a Reforma Protestante.

[11] Convencionou-se falar Reforma Protestante, quando o correto seria dizer “reformas”. O protestantismo foi plural em suas origens, anseios, doutrinas, práticas e consequências. Via de regra, a reforma magistral, isto é, aquela que recebeu o apoio dos magistrados civis, é a mais conhecida. Martinho Lutero na Alemanha, Calvino e Zuínglio na Suíça, John Knox na Escócia, receberam apoio das autoridades na reforma das igrejas nestes respectivos países e são os principais nomes do protestantismo do século XVI. No entanto, existiram outros reformadores naquele período. Embora menos conhecidos, exerceram grande influencia sobre muitos grupos na Europa nos séculos XVI e XVII. Seus ensinos e práticas, em muitos aspectos, eram distintos dos reformadores magistrais. Félix Mantz, Conrad Grebel e Miguel Satler (Suíça); Baltazar Hubmeir, André Bodenstein e Thomas Muster (Alemanha); Menno Simons (Holanda) foram os principais nomes entres os reformadores radicais, grupo bem heterógeno, tanto nas doutrinas quanto nas práticas.

[12] RENIHAN, James M. Confessing The Faith in 1644 and 1689. Disponível em: http// reformedreader.org. Acesso em: 02 jul.2020

[13] A Confissão de Fé de Londres de 1644.Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/credos/confissao-londrina-1644.pdf. Acesso em: 02 jul.2020

[14] SIQUEIRA, S. Silas Batista Lobato. Os batistas gerais, particulares e os anabatistas. Disponível em: https://blogdoutrinabatista.weebly.com/blog/os-batistas-gerais-particulares-e-a-origem-anabatista. Acesso em: 01jul.2020

[15] BRACKNEY, William H. Baptist life and thought, p. 15

[16] O arminianismo está associado ao nome do teólogo holandês Jacobus Arminius (1560—1609), pastor da Igreja Reformada Holandesa que contestou alguns pontos da doutrina da salvação de acordo com o calvinismo.  Seus discípulos foram refutados no Sínodo de Dort (1618-1619), convocado para lidar com a controvérsia doutrinária no contexto da Igreja Reformada Holandesa. O arminianismo continua sendo uma corrente teológica muito influente nas igrejas no mundo.

[17] O calvinismo é um sistema doutrinal, vinculado ao teólogo francês João Calvino (1509-1564), que defende a soberania de Deus na salvação. Os herdeiros da fé reformada, inclusive os batistas particulares, creem que a salvação é fruto da graça, mediante a fé. Do início ao fim, salvação é um dom de Deus aos eleitos, amados desde a eternidade. “Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela” (Ef. 5.25).

[18] HAYKIN, Kiffin, Knollys and Keach, p.22

[19] O pedobatismo é a prática de aplicar o batismo às crianças. Em contraste com o batismo de adultos (credobatismo), prática restrita aos que podem fazer voluntária e pública profissão de fé em Jesus Cristo.

[20] PORTE, Wilson.  Um pregador da graça – A fé reformada na vida de Benjamin Keach, p. 23

[21] Anabatistas holandeses vinculados aos menonitas, herdeiros do ex-padre e reformador Menno Simons.

[22] “John Smith ensinou que o verdadeiro culto vinha do coração e, portanto, qualquer forma de leitura no culto era mera invenção do homem pecador. Por exemplo: orar, cantar e pregar deveriam ser atos completamente espontâneos. Smith foi tão longe que passou a não permitir a leitura da Bíblia durante o culto, uma vez que considerava as traduções em inglês das Escrituras algo muito aquém da palavra direta de Deus” (Leandro B. Peixoto). Sobre John Smith é importante ressaltar que há vários fatos dos quais os historiadores discordam. Alguns dizem que ele foi batizado por um anabatista na Inglaterra, outros na Holanda, outros dizem que foi batizado por Thomas Hewlys, enquanto outros afirmam que ele se autobatizou, ou seja, há uma confusão sobre os fatos acerca da vida de John Smith que não pode ser simplesmente ignorada.

[23] Short Confession of Faith in XX Articles by John Smyth. Disponível: http://www.reformedreader.org/ccc/scof.htm. Acesso em: 03 jul. 2020.

[24] Ibid.

[25] Ibid.

[26] Helwys Confession 1611. Disponível: http://www.reformedreader.org/ccc/helwysconfession.htm. Acesso em: 01 jul. 2020

[27] MCBETH, H. Leon. The Baptist Heritage. B&H Publishing: Nashville, 1987, p. 68

[28] JONES, Lloyd Jones. Os puritanos e seus sucessores, pp. 162-163

[29] Ibid., p.398

[30] NETTLES, Thomas J. By His grace for His glory: a historical, theological, and practical study of the doctrines of grace in Baptist life. Cape Coral, FL: Founders Press, 2006, p. 4

[31] HAYKIN, Michael. Kiffin, Knollys and Keach: rediscovery our English Baptist heritage. Leeds: Reformation Today Trust, 1996, p. 29

[32] Thomas Nettles, op. cit., p. 5

[33] Ibid., p. xxv

[34] RENIHAN, James M. Confessing The Faith in 1644 and 1689. Disponível em: http://www.reformedreader.org/ctf.htm. Acesso em: 02 jul.2020.

[35] Ibid.

[36] RENIHAN, James M. Confessing The Faith in 1644 and 1689. Disponível em: http://www.reformedreader.org/ctf.htm. Acesso em: 02 jul.2020.

[37] MCBETH, H. Leon. The Baptist Heritage, p. 92

[38] Confissão de Fé Batista de 1689. Monergismo. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/credos/confissao-londrina-1644.pdf. Acessado em 02.07.20

[39] BATISMO (Capítulo 29, artigos 1-4). Confissão de Fé Batista de 1689. Monergismo. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/credos/1689.htm Acessado em: 02 jul. 2020.

[40] Confissão de Fé Batista de 1689. Monergismo. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/credos/1689.htm Acessado em: 02 jul. 2020.

[41] Confissão de Fé de Westminster. Monergismo. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/credos/cfw.htm. Acessado em: 02 jul. 2020.

[42] Charles H. Spurgeon, apud Robert B. Selph, in: Os batistas e a doutrina da eleição. Fiel: São José dos Campos, 2005. 58-59

6 COMENTÁRIOS

  1. Ótimo texto. Só duas ressalvas:
    1- A igreja fundada por Henry Jacob em 1616 era uma igreja Congregacional, não batista na forma de batismo. Ela existe até hoje como igreja não batista. Um grupo que saiu na controvérsia batismal funda uma igreja batista.
    2- O Dr. Lloyd-jones se equivoca no seu livro. Está provado por Albert Pieel, George Puchard, R. W. Dale, Wiliston Walker, historiadores (o Dr. Lloyd-jones não o era), que a 1a Igreja Congregacional é de 1567 com Richard Fitz. Deus abençoe sempre.

  2. Um texto realmente esclarecedor! Infelizmente a impressão que tenho hoje, como um Cristão Batista crê nas Sagradas Escrituras, é que nos últimos 10 anos muitos ignoram propositadamente a história dos batistas. Confesso que é raro alguém contar com tanta precisão e cuidado, sobre a rica história dos batistas e sua herança reformada! Ainda bem que não é possível apagar a história. Pois se pudessem, os que se identificam com o arminianismo o fariam!
    Conforme citação: As antigas verdades que Calvino pregou, e que Agostinho pregou, são as mesmas verdades que eu prego hoje em dia, pois, doutra maneira, eu estaria sendo falso com a minha consciência e o meu Deus. Não posso alterar a forma de uma verdade; para mim não existe expediente de aparar as arestas difíceis de uma doutrina. O evangelho de John Knox é o meu evangelho. E esse evangelho que trovejou em toda Escócia, deve trovejar também por toda Inglaterra.(Charles H. Spurgeon, apud Robert B. Selph, in: Os batistas e a doutrina da eleição. Fiel: São José dos Campos, 2005. 58-59)
    DÁRIO ROBERTO VIEIRA

    Parabéns Reverendo Judiclay !

  3. Obrigado querido colega pelo artigo tão bem resumido e esclarecedor! Que Deus continue usando sua vida para resgatar a herança doutrinária de nossas igrejas batistas.

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