Uma devocional em 1Coríntios 3.1-17

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Gostaria de meditar em duas perguntas que surgem desse texto.

A primeira pergunta é a seguinte: “Será que eu sou espiritual?”.

Mesmo cinco anos depois de os coríntios terem ouvido o evangelho e a igreja ter crescido como cresceu — havia muitos convertidos, além de líderes como Paulo e Apolo, os quais estavam entre os melhores que podiam ser encontrados —, a pergunta de Paulo é justamente a mesma que fizemos acima: “Vocês são o que a gente poderia denominar ‘espirituais’?”. E a resposta é: “Não”. Pelo menos, essa talvez fosse a resposta dele em relação à maioria das pessoas ali naquela igreja, pois não sabemos se Paulo identificava alguém que fosse espiritual. Minha pergunta, porém, estende-se a todos nós: “Quantos anos como crentes são necessários para mostrar que somos espirituais?”.

Além disso, é importante também perguntar: “O que significa ‘espiritual’ em oposição a ‘carnal’ ou ‘criança’?”. Para Paulo, está bem claro que ser criança significa ser mundano, agir como mundano. Trata-se daquele que age ao contrário de como Cristo agiria, ou de como o próprio apóstolo Paulo agiria, já que ele pede que os coríntios sejam imitadores dele. Assim, volto a perguntar: “Será que Deus ou Paulo, se estivesse aqui, poderia nos categorizar de espirituais e não mundanos ou crianças?”. Qual é a qualidade principal de quem é espiritual?

A resposta está no capítulo anterior, pois Paulo está falando sobre esse mesmo tema, ou seja, sobre os mundanos, os carnais: “Nenhum dos governantes desta era compreendeu essa sabedoria, pois se a tivessem compreendido, não teriam crucificado o Senhor da glória. Mas, como está escrito: As coisas que olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem penetraram o coração humano, são as que Deus preparou para os que o amam. Deus, porém, revelou-as a nós pelo seu Espírito…’” (1Co 2.8-10).

De acordo com o capítulo 2, espiritual é aquele que recebe uma visão real do futuro que está sendo aguardado, o qual nenhum olho viu, nenhum ouvido ouviu e nenhuma mente recebeu. Então nos perguntamos: “Como estaremos vivendo daqui a cem anos?”. Estaremos vivendo como espirituais. Não haverá mais inveja, não haverá conflitos, não haverá competições. O que haverá é o mais puro amor de Deus enchendo o coração dos salvos que estão em sua presença. É isso que temos como grande alvo nesta vida:  começar a viver já no presente a vida futura, tendo aqui mesmo esse Jesus Cristo, que é Senhor de todas as coisas, a nos abençoar com sua qualidade de vida — em nossa família, junto com esposa e filhos, no trabalho e em toda situação que nos encontramos.

No entanto, ainda temos de lidar com a nossa natureza caída, a nossa carnalidade. Ser carnal diz respeito, entre outras coisas, ao orgulho e à inveja, que são características daquele que é fundamentalmente mundano, aquele que vive para si, voltado para si mesmo. Essa é a tendência de todos nós, não é mesmo? Por isso, nesta vida devemos buscar extirpar esse orgulho e essa inveja.

O que mais que Paulo nos diz? Diz que somos cooperadores de Deus na plantação, regando a igreja de Deus. Mais tarde, nesse mesmo texto, ele diz que, como cooperadores de Deus, estamos construindo junto com ele a sua igreja, o templo, o santuário de Deus. Há crentes, porém, que, em vez de construir, destroem, como vemos em 1Coríntios 3.17. É um absurdo que, ao construirmos, estejamos também destruindo. A qualidade dessa construção depende do fundamento. “Como sábio construtor”, diria o apóstolo Paulo, “tenho construído lá em Corinto a base para uma igreja sólida, uma igreja evangélica, espiritual, uma igreja em que Cristo é central. Agora outro está construído sobre esse alicerce. Mas o resultado não é tão bom como gostaríamos que fosse”.

Isso nos leva à nossa segunda pergunta: “Que tipo de construção está acontecendo em nossa igreja?”. Que fator leva uma pessoa como Paulo a descrever uma construção com pedras preciosíssimas, com ouro e prata, e não madeira, palha e feno, os quais, por se consumirem rapidamente, sem que reste nada além de cinzas, no Dia de Juízo vão demonstrar que tipo de construção é a nossa? Construímos sobre o quê? Sobre o alicerce. Com que tipo de material? Com pessoas. Todos somos pedras, e o que caracteriza a pedra é o fato de ser fundamental na edificação do templo de Deus. E o cristão era chamado não apenas pedra, mas também santuário (1Co 3.16), e somos mesmo, cada um de nós, esse santuário. Mas é interessante notar que “santuário” é a mesma palavra que ele usa em 1Coríntios 6.19: “vocês não sabem que são santuário de Deus” (NVI). Em outras palavras, não apenas eu sou santuário, mas todos juntos o somos.

Daí a importância do amor, de encorajar uns aos outros, de não deixar ninguém escapar, de impedir que alguém fique desinteressado de por qualquer motivo participar de momentos de convívio, seja na igreja, no culto e na escola dominical, seja em outros encontros que nos encorajam a realmente ser como aquela pequena construção ao lado dos irmãos.

Percebem que, se todas as pedras estiverem juntinhas — mesmo numa lareira que está ali por mais de cinquenta anos —, nada cairá? E espero mesmo que nenhum de nós caia em toda a nossa vida. Todas essas pedras ficam juntas de maneira impressionante. E, desse modo, todos nós, com diferentes personalidades, estamos envolvidos como pedras que glorificam a Deus com seu valor. Até o mundo reconhece isso: pessoas honestas que não participam da Lava-Jato, pessoas que são encorajadoras, pessoas que atraem outros para Cristo, e não pessoas que afastam os outros de Cristo. Pessoas que realmente vivem para um futuro que ainda não conhecemos. Mesmo sem conhecer, no entanto, podemos, por meio das Escrituras, ter uma compreensão parcial, como por espelho (1Co 13), um espelho meio obscuro. O espelho daquela época era feito de bronze e não era plano como os espelhos de hoje, que são perfeitos e nos dão uma imagem perfeita.

Nossa ideia do futuro, então, é realmente um pouco deturpada. Como diz o apóstolo Paulo, talvez não seja como pensamos, ou talvez não sejamos galardoados do jeito que gostaríamos. Diferentemente do sucesso desta vida, o que importa mesmo é a vida que temos diante de nós — mais breve para mim do que para vocês, se Deus não enviar seu Filho antes. Estamos esperando algo que é inesperado e esperado ao mesmo tempo. Glorioso!

O espiritual é aquele que vive para essa realidade futura e está construindo sabendo que o fogo virá. O fogo é o Dia de Juízo, em que todos compareceremos, diz 2Coríntios 5.10, diante do tribunal de Cristo, e ele repartirá os galardões conforme desejar. E os galardões estão relacionados com a maneira que construímos. Obviamente, se construímos mal, com madeira, feno e palha, que sobrará para galardoar? Cinzas!

Mas, se escolhermos bem e vivermos realmente a vida cristã da maneira que Cristo nos mostrou enquanto viveu aqui nesta terra, ao menos receberemos o galardão traduzido nestas palavras: “Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel sobre pouco; sobre muito te colocarei” (Mt 25.21). E, dessa maneira, o futuro será muito melhor do que o presente.

Acaba de falecer Elben Lenz César. Não sei quantos aqui sabem quem ele era. Foi o fundador da Editora Ultimato e também editor da revista Ultimato. Faleceu apenas dois dias atrás. Esse irmão com certeza vai ser bem galardoado. Eu o conheci um pouco, e era um irmão precioso com uma visão elevada. Construiu bem. Foi pastor de uma igreja em Viçosa durante anos e Deus usou essa vida para sua glória.

Assim como Elben já está na glória, também aguardamos essa glória em nome do Senhor Jesus.

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