Os mineiros do Chile – Um caso contra o naturalismo filosófico do Darwinismo

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2011

Recentemente, em 13 de outubro, o mundo se emocionou com o resgate de 33 mineiros no Deserto do Atacama, no norte do Chile. No dia 5 de agosto, a mina de ouro e cobre desabou e os soterrou a uma profundidade de quase 700 metros. Lá ficaram por 69 dias. O custo da operação de resgate ficou em aproximadamente 22 milhões de dólares!
Diante de todo esse esforço — até a NASA, Agência Espacial Americana, esteve envolvida, cedendo a cápsula Phoenix 2, decorada com as cores pátrias chilenas — fica a pergunta: se o Darwinismo fosse verdadeiro em sua base filosófica, qual o motivo básico, dentro de sua cosmovisão, para envidar esses esforços no resgate de 33 pessoas?

A pergunta pode não aparentar as razões contraditórias subjacentes à Teoria da Evolução em sua modalidade naturalista-ateísta (isso porque existem alguns que defendem uma espécie de evolucionismo teísta).

Desde 1874, o Dr. Charles Hodges de Princenton em seu livro What Is Darwinism? já havia percebido que Darwinismo é Ateísmo. Veja suas palavras (p. 176, 177):

Se Mr. Darwin acredita que os eventos que ele supõe terem ocorrido e os resultados que vemos ao nosso redor não são dirigidos e não são projetados; ou se o físico acredita que as forças naturais que ele se refere como fenômeno são não causadas e não dirigidas, nenhum argumento é necessário para mostrar que tais crenças são ateístas. Então, temos chegado à resposta de nossa pergunta, O Que é Darwinismo? É Ateísmo. Isso não quer dizer que o próprio Mr. Darwin e todos que adotam essa visão sejam ateístas; mas quer dizer que sua teoria é ateísta. 

Porém, é exatamente no teste da experiência prática, ou seja, na aplicação prática da cosmovisão darwinista, que ele se mostra autocontraditório. Vejamos.

Darwinismo é, assumidamente, naturalista e/ou materialista. Ao admitir processos naturais de seleção natural não guiados e cegos, seja no surgimento da primeira vida, seja na formação atual do Ser Humano, percebe-se que o que há por trás dessa teoria é a causalidade determinista para o que somos hoje.

Aqui reside o problema: num universo de causas materiais e leis físico-químicas, não guiadas, nem orientadas, antes forçosamente deterministas, como pode haver espaço para o valor da vida?

Tentativas naturalistas não faltam para encontrar esse valor em “leis cegas”. A última foi o livro de Sam Harris: “The Moral Landscape: How Science Can Determine Human Values” (Free Press, 2010, 304p). Na introdução do livro o autor afirma que:

Os valores [morais], portanto, traduzem-se em fatos que podem ser cientificamente compreendido: a respeito das emoções positivas e negativas sociais, os impulsos retributivos, os efeitos de legislações específicas e as instituições sociais sobre as relações humanas, a neurofisiologia da felicidade e sofrimento etc.

E se houver diferenças entre as culturas e os níveis dessas moralidades, essas

diferenças são fatos que devem depender da organização do cérebro humano. Em princípio, portanto, podemos explicar as maneiras pelas quais a cultura que nos define dentro do contexto da neurociência e da psicologia. Quanto mais nos entendemos no nível cerebral, mais vamos vendo que há respostas certas e erradas para as questões dos valores [morais] humanos (grifos meus).

 Entre os dias 20 e 22 de Junho de 2010, a Edge Foudation, Inc. promoveu uma Conferência em Washington sobre  “The New Science of Morality”. A Conferência afirma em sua declaração n.º 1:

Como a linguagem, sexualidade ou música, a moralidade emerge a partir da interação das várias bases de construção psicológica dentro de cada pessoa e a partir da interação de muitas pessoas dentro de uma sociedade. Essas bases são produtos da evolução, com a seleção natural desempenhando um papel crítico. O estudo científico da moralidade, portanto, exige o esforço combinado das ciências naturais, das ciências sociais e das ciências humanas (grifos meus).

Em entrevista ao site Amazon, Sam Harris transparece a tensão “racional-irracional” daqueles que tentam uma explicação puramente materialista para valores transcendentes. Ao ser perguntado se existem respostas “certa ou erradas para as questões morais”, Harris disse que

a moralidade deve incidir, em algum nível, para o bem-estar dos seres conscientes. Se houver formas mais ou menos eficazes para buscarmos a felicidade e para evitar a miséria do mundo — e claramente existem — então não há respostas certas e erradas para as questões de moralidade

O entrevistador então perguntou se isso não conduziria a um relativismo sobre a felicidade: “não há muitas situações nas quais a felicidade de uma pessoa pode significar o sofrimento de outra?” Harris sai com a pérola retórica:

Geralmente falando, as ocasiões morais mais importantes não são assim. Se eliminássemos a guerra, a proliferação nuclear, a malária, a fome crônica, o abuso infantil etc., essas coisas seriam boas, em geral, para todos. Há certamente razões neurobiológicas, psicológicas e sociológicas por que isso é assim — o que quer dizer que a ciência poderia nos dizer exatamente por que um fenômeno como o abuso infantil diminui o bem-estar humano.

A fraude da moral naturalista está na mesma proporção de explicar a unidade das coisas. A ciência pode explicar um cachorro, mas não pode explicar o que faz de um cachorro, um cachorro. O darwinismo não pode explicar a bondade, a justiça, o belo ou por que “essas coisas seriam boas”. Assim, Harris não explica o que é felicidade, mas ele arvora-se em definir que existem “ocasiões morais mais importantes” que outras! Certamente Hitler ficou feliz com a matança de 6 milhões de judeus e considerou que aquela ocasião era moralmente “mais importante” do que outras. Falta ao naturalista o fator que una os universais dos Valores Morais (bondade, maldade, justiça, beleza etc) aos particulares dos atos morais.

Gosto de uma analogia feita pelo filósofo John Frame:

Os valores morais, afinal, são bastante estranhos. Nós não podemos vê-los, ouvi-los ou senti-los, mas não podemos duvidar que eles existam. Uma testemunha de um roubo de banco pode ver o ladrão caminhando para o banco, sacar a arma, falar ao atendente-caixa, pegar o dinheiro e ir embora. Mas a testemunha não vê o que talvez é o fato mais importante — o mal moral da ação de roubar” (Apologetic to the Glory of God, 1994, p. 93, 94).

Harris e os demais naturalistas querem nos convencer que isso está no cérebro!

 Pois bem, no nível cerebral não somos mais do que processos físico-químicos que ocorrem numa massa cinzenta dos nossos neurônios impulsionados por propriedades elétricas. Nesse caso, o problema mente-corpo, tão debatido na filosofia de nossos dias, entraria no campo da metafísica — coisa que os naturalistas não pretendem—, bem como num determinismo desse desconhecido elemento; estariam anuladas as responsabilidades. Assim, surge a pergunta: se todo valor moral se fundamenta num fenômeno cerebral ou sócio-político-econômico desenvolvido a partir da evolução e da seleção natural, o que obriga a prática dos valores morais que promovam o bem-estar do Ser Humano? O que obrigou, dentro do arcabouço darwinista-naturalista, o resgate de 33 homens que, na visão darwinista-naturalista, não passam de “animais melhorados”, visto que “pessoalidade” ou “hombridade” não são resultados de fenômenos aleatórios de leis impessoais, mas, certamente, de um Deus Único (Universal) e Triúno (Particulares), Pessoal (pessoalidade) e Infinito (valores infinitos).

Os darwinistas-materialistas-ateístas não são coerentes com sua base pressuposicional. Para serem coerentes, deveriam ver o ocorrido com os 33 mineiros como fatalismo; que eles não estavam aptos para próxima geração; que os cérebros de todos estavam, simultaneamente!, trabalhando para resgate de nada mais, nada menos, que um “conjunto de átomos, de químicas e células”. Podemos afirmar que, nisso, reside o “autoengano” dessa visão de mundo.

É possível agir moralmente correto se Deus não existisse?
Alguém talvez venha a perguntar: “Se Deus não existisse, você não seria moralmente correto?” Ora, SÓ há moralidade porque existe um Deus Pessoal. Nem mesmo o “imperativo categórico” kantiano resiste ao teste da subjetividade da moral da “regra áurea (Golden Rule)” (faça aos outros o que você gostaria que fosse feito a você), visto que o que falta é uma base objetiva para tal imperativo e isso não ocorre, a não ser numa visão teísta. Como aponta o filósofo Paul Copan (The Rationality of Theism, 2003, p. 150):

Em vez de ser produto da cultura, de preferências individuais ou da evolução sócio-biológica, valores morais existem de fato: a bondade é uma virtude e não um vício; torturar bebês por diversão é imoral; o estupro é moralmente repreensível. Muito de nós encontramos verdades óbvias — tal como nós encontramos 2 + 2 = 4  e o modus pones1  […].  Negá-los [os valores morais] é rejeitar algo fundamental sobre a nossa humanidade.

Portanto, para que haja o dever, é preciso haver o ser. Não há obrigação se não há Legislador. Num universo de estrutura impessoal não se cria obrigação, e o problema dever/ser acerca da lealdade e justificação deontológica está ausente numa estrutura impessoal.

Por fim, quando os naturalistas agem de acordo com os valores cristãos, eles “tomam emprestado” da cosmovisão cristã, não sendo coerente com sua estrutura de visão de mundo. Quando os cristãos agem em desacordo com as obrigações morais da Revelação de Deus, estão sendo incoerentes com seus pressupostos. Assim, é possível um incrédulo ser ético e um cristão não ser. Mas é impossível a ambos serem éticos sem as pré-condições estabelecidas por Deus (Rm 2.14,15).

 

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Notas:

1 A regra lógica em que, dado duas premissas P à Q e P, pode-se deduzir seguramente Q; p. ex.: Se está chovendo, então lá fora está molhado. Está chovendo, logo, lá fora está molhado.

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