Introdução crítica ao Molinismo – parte 1

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Introdução
Molinismo é o nome dado ao sistema de teologia e filosofia do jesuíta espanhol Luis de Molina (1535 – 1600) que procura reconciliar ou solucionar o problema da presciência de Deus e da liberdade humana.

Nas últimas décadas com o advento da filosofia analítica da religião, antigos temas que haviam sido deixados de lado após o ataque do positivismo lógico, voltam aos estudos com mais vigor pela mesma utilização da análise linguística.
Entre esses temas, o antigo dilema da presciência divina e da liberdade humana encontra-se redivivo pelas mãos do filósofo cristão Alvin Plantinga (1932 –). Depois de pouco mais de quatrocentos anos, o debate em torno do problema do mal e livre-arbítrio ressurgiu nas páginas de seu livro The Nature of Necessity (Clarendon Press, Oxford, 1974). No ano anterior, no Concílio para Estudos Filosóficos do Instituto Summer em Filosofia da Religião, Plantinga apresentou uma versão da Defesa do Livre-Arbítrio sobre o Problema do Mal.1 Naquela ocasião, Plantinga apresentou sua versão baseando-se na premissa da existência de contrafactuais de liberdade2 e que a onisciência de Deus inclui o conhecer os valores de verdade3 desses contrafactuais.

Plantinga reconhece que, ao apresentar sua palestra, fora advertido por Anthony Kenny que ele era um “Molinista”, ao que Plantinga respondeu: “Eu não estava certo se aquilo era uma aprovação ou condenação.”4  

Até então, o Molinismo, a despeito de sua sofisticação filosófica ou teológica, estava, para usar as palavras de Ken Perszyk,5 

relegado a um canto escuro e empoeirado de um museu na história da teologia filosófica, não fosse a ‘reinvenção’ de Plantinga no curso de seu desenvolvimento da Defesa do Livre-Arbítrio contra o Argumento Lógico do [problema do] Mal na década de 1970.

É importante recolocar essa história porque Plantinga é considerado “o principal filósofo de Deus”,6  responsável pelo reavivamento da filosofia cristã nos últimos quarenta anos.

Embora criado na tradição reformada holandesa – no Calvinismo histórico – Plantinga, aos oito ou nove anos de idade, começou “a entender e pensar seriamente sobre o assim chamado Cinco Pontos do Calvinismo”, o que o levou a pensar, especificamente a partir da doutrina da Depravação Total, “que todo mundo era completamente ímpio, completamente mau, não melhor que Hitler ou Judas” e isso parecia-lhe confuso e difícil de acreditar.7 Aliado a isso, um dos principais interesses de Plantinga que, como ele diz, o “tem me perturbado e tem sido fonte de genuína perplexidade” é a “existência de certos tipos de mal” e isso continuou “profundamente desconcertante” mantendo seu foco mesmo quando mudara para Notre Dame em 1982, depois de quase vinte anos ensinando no Calvin College.8

É nesse contexto de perplexidade que devemos entender o ressurgimento do Molinismo e isso da parte de um cristão criado na tradição reformada, e também uma vez que Plantinga entende que o problema do mal, talvez “constitua a objeção mais formidável às crenças teístas”.9

O objetivo do presente artigo é apresentar os contornos críticos do Molinismo. Embora seja primariamente histórico, não será menos crítico em avaliar alguns aspectos do Molinismo, especialmente aquele relacionado ao Conhecimento de Deus. Esperamos, para em breve, novos artigos, aprofundando as críticas das perspectivas teológicas, exegéticas e filosóficas ao Molinismo.

Se eu estiver certo em minhas pesquisas, o Molinismo não é uma opção protestante, nem para Calvinistas, nem para Arminianos, e com sérias inconsistências internas.
   
Breve Resumo Biográfico de Luis de Molina

Luis de Molina nasceu em Cuenca, Espanha, em 1535. Ele é considerado personagem expressivo no renascimento do Escolasticismo na península Ibérica de onde também vinham, entre outros, o Dominicano Domingo Bañez e Jesuíta Francisco Suárez. De fato, Molina estudou latim (Cuenca), Direito (Salamanca), lógica (Alcala), filosofia e teologia (Coimbra e Évora, Portugal).10 Foi em Alcala que Molina tomou contato com a Sociedade de Jesus. “Parece ter sido amor à primeira vista”.11 Em 1561 foi ordenado sacerdote.

Após aposentar-se como docente em 1583, Molina devotou-se a escrever. Além de um tratado completo de filosofia, mais em forma de comentário sobre lógica, física, psicologia, metafísica e filosofia natural de Aristóteles12 e outras obras, Molina é mais conhecido por duas que se destacam em seu pensamento: A Concordia liberi arbitrii cum gratiae donis, divina praescientia, providentia, praedestinatione et reprobatione ad nonnullos primae partis D. Thomae articulos  (Harmonia do Livre-Arbítrio com o Dom da Graça, Presciência Divina, Providência, Predestinação e Reprovação segundo diversos artigos da Primeira Parte [da Suma] de São Tomás [de Aquino]), sua primeira obra publicada em sua primeira edição Lisboa em 158813 e; De Iustitia et Iure tomi sex, de caráter jurídico, e que Molina só viu publicada apenas os três primeiros volumes. Os demais volumes foram publicados após a sua morte, em Madrid em 12 de outubro de 1600.

A Controvérsia De Auxiliis: 1582 – 1607
Com a publicação do Concordia (Harmonia), uma polêmica se instalou entre Dominicanos e Jesuítas acerca da relação entre a graça divina, a predestinação, providência e o livre-arbítrio. Por um lado, os Dominicanos, liderado por Domingo Bañez (1538 – 1604), acusavam a obra de Molina de cair no erro do pelagianismo, condenado no Concílio de Trento (Secção VI, Cânones I – IV). Trento também havia condenado dois outros jesuítas, Diego Laínez e Alfonso Salmerón, que defendiam ideias pré-molinistas. Por outro lado, os Jesuítas acusavam os Dominicanos de fatalistas e defensores da doutrina de Lutero.

Bañez estava ciente das ideias pré-molinistas e manteve polêmica, mesmo pública, opondo-se a tais ideias já em 1567.14 Quando as ideias pré-molinistas foram publicamente defendidas em 1582 na Escola de Salamanca, Bañez as censurou em sua Apologia dos Irmãos Dominicanos, denunciando seus proponentes, pe. Prudêncio Montemayor e frade Luis de Leon, como doutrinas perigosas e pelagianismo ao Conselho da Inquisicão. Acatada a denúncia, ambos foram condenados: o Pe. Prudencio deixou de ensinar teologia, e frade Luis ficou proibido de defender aquela doutrina.15
   
Enquanto as ideias pré-molinistas eram proibidas na Espanha, a obra de Luis de Molina era publicada em Portugal.
Mas, desta vez, as ideias estavam sistematizadas. No entanto, a Inquisição portuguesa não havia condenado aquelas ideias e, por isso, o apelo de Bañez e dos Dominicanos através de outra apologia publicada em 1895, acusando a obra de Molina dos mesmos ensinos já condenados em 1582, fora em vão.16 Mesmo assim, os Jesuítas, precavendo-se de qualquer possível condenação, apelam para Roma.

O resultado, depois de intensos debates entre os litigantes dominicanos e jesuítas na sede pontifícia, é que o sumo pontífice Paulo V,  que assumiu após o infarto de Clemente VIII, declarou que dominicanos e jesuítas eram livres para defender suas doutrinas e proibiu que qualificassem de heresia uma ou outra. Isso se deu em 1607, após a morte de Molina, que fora declarado vitorioso pelos jesuítas.17

Molinismo e o Conhecimento de Deus

Molinismo é mais conhecido por sua doutrina acerca do Conhecimento que Deus sobre dos futuros contingentes,18  conhecimento este chamado de Conhecimento Médio (Scientia Media).

Molina apresenta sua teoria do conhecimento médio divino como a chave para resolver o mistério tradicional acerca da presciência divina e futuros contingentes: (1) como Deus pode conhecer infalivelmente os eventos futuros de causa indeterminada e; (2) uma vez que a presciência de um evento futuro é posta, como o fatalismo teológico é evitado?19

Molina expõe sua compreensão dessa relação na Parte IV de sua Concordia. Segundo Freddoso,20 ali ele discorre sobre duas questões distintas a respeito do Conhecimento de Deus: (1) Como é que Deus conhece futuros contingentes com certeza, isto é, qual é a fonte de explicação para o fato de que Deus conhece futuros contingentes com certeza? (2) Como é que esta presciência divina pode ser conciliada com a contingência que é conhecida por ele?21
   
Na Disputa 52.9, Molina declara que Deus tem três tipos de Conhecimento: “Devemos distinguir em Deus um conhecimento tríplice, se não quisermos alucinar ao tratarmos de conciliar a liberdade de nosso arbítrio e a contingência das coisas com a presciência divina”.22 

(1) Um conhecimento puramente natural, que “nenhum modo pode sofrer variação em Deus [e] por meio dela ele conhece todas as coisas que o poder divino pode fazer – seja sem meios, seja com a intervenção das causas secundárias”.23 Este conhecimento também é chamado de conhecimento natural (scientia naturalis), conhecimento necessário(scientia necessaria) ou conhecimento de intelecto (scientia intelligentiae).

(2) Um Conhecimento puramente livre, “por meio do qual, sem hipótese ou condição alguma, Deus conhece de forma absoluta e determinada a partir de todas as articulações contingentes e após o ato livre de sua vontade, quais coisas vão ou não acontecer realmente”.24 A este conhecimento também chama-se conhecimento livre (scientia libera), conhecimento de visão (scientia visionis).

(3) Um Conhecimento Médio, ou Scientia Media, “através do qual Deus vê em sua essência, em virtude da altíssima compreensão e inescrutabilidade de todo livre-arbítrio, o que este faria em razão de sua liberdade inata, se fosse posto neste ou naquele ou incluído em qualquer das ordens infinitas de coisas, apesar de que, de fato também poderia se assim o quisera fazer oposto”.25

A questão gira em torno do conhecimento médio de Deus. Se uma pessoa em dada circunstância em que uma escolha ou escolhas reais devem ser feitas, diante do conhecimento presciente e onisciente de Deus, Deus conhece a decisão daquela pessoa antes de a pessoa agir?26 Ou mais, Deus a conhece antes de criar este mundo?  Para usar o gracejo do molinista Thomas P. Flint, “Se Alvin Plantinga não tivesse, sem conhecimento, exumado o Molinismo nos anos 1970, alguém aqui estaria discutindo (livremente) isto hoje? Deus é o único quem sabe. Ou, ao menos nós molinistas somos inclinados a dizer”.27

Perceba, também, que esses tipos de conhecimento divino são “momentos lógicos” anteriores à Criação deste mundo ante as incontáveis opções que Deus tinha em trazê-lo à existência. E outras palavras,

Logicamente antes do decreto divino de criar um mundo, Deus possuía não apenas conhecimento de tudo o que poderia acontecer (conhecimento natural), mas também de tudo o que iria acontecer em qualquer conjunto apropriadamente específico de circunstâncias (conhecimento médio)[…] Deus, então decretar criar certas criaturas livres em certas circunstâncias e, assim, baseado em seu conhecimento médio e no conhecimento de seu próprio decreto – ou seja, se decreto de criar o mundo –, Deus tem presciência de tudo o que acontecerá (conhecimento livre).28

    

Avaliação Preliminar do Conhecimento Médio
Como nesse primeiro artigo nosso foco é mais introdutório, mesmo assim, alguma análise precisa ser apontada no momento.29 O Molinismo é uma tentativa de solucionar o problema que percorre a história do pensamento cristão e filosófico. O problema da presciência divina, do determinismo,30 do indeterminismo31 e dos futuros contingentes.32 

Porém, o Molinismo está fortemente comprometido com o libertarianismo libertário como suposição. Há algumas premissas ocultas que precisam ser trazidas à luz. Nesse momento quero destacar que, para essa concepção, os atos futuros, ou seja, os atos ainda não existentes, exceto no conhecimento de Deus, são livres se, somente se, eles forem indeterminados quanto a sua realização. De fato, nessa concepção, esses atos são tão livres que eles antecedem mesmo o conhecimento natural e livre de Deus. Eles são eventos condicionais que independem do decreto de Deus.33 
Eles simplesmente, em todas as suas infinitas possibilidades, estavam “lá” no futuro sendo visto de “longe” por Deus. Eles têm, portanto, um estatuto ontológico co-término com Deus. Franklin Ferreira e Alan Myatt perceberam que a questão dos mundos possíveis de atos livres não causados é de “problema da independência ontológica”.34  E, se Deus tinha que esperar pelas ações futuras contingentes viessem a acontecer independente ou antes de si mesmo, segue-se que seria finito e dependente. Como destacou Cornelius Van Til, o conhecimento de tal deus seria inferencial.35 Isso contraria completamente o ensino Escriturístico. O Senhor perguntou a Jó: “Quem primeiro me deu, para que eu haja de retribuir-lhe? Pois o que está debaixo de todos os céus é meu”(Jó 41. 11). Pelo profeta Isaías o Senhor perguntou: “Quem guiou o Espírito do SENHOR, ou como seu conselheiro o ensinou ?36 Com quem tomou ele conselho, que lhe desse entendimento, e lhe ensinasse ; o caminho do juízo, e lhe ensinasse conhecimento, e lhe mostrasse o caminho do entendimento?”(Is 40.13, 14)

 Ao mesmo tempo, o Molinismo ainda assim, tem um leve toque de determinismo. Na verdade, essa é a razão para a maioria dos arminianos clássicos ser “cautelosa com esta abordagem”.37 Porque o conhecimento médio está “entre” o natural e livre, segue-se que no conhecimento médio deve haver algum conhecimento que seja necessário e algum outro que deva ser contingente. Então, como Deus governa o mundo que ele criou tendo o conhecimento médio? Ora, por criar um mundo atual que Deus mesmo quis.
 
Jerry Walls, um arminiano, acredita que o Molinismo “é semelhante ao calvinismo ao defender que Deus sabe precisamente o que acontecerá antes que mesmo ocorra(sic)”.38 Olson admite que o Arminianismo clássico distancia-se de qualquer determinismo, e o molinismo, pelo menos em tese, utiliza-se do conhecimento médio para explicar como Deus criou este mundo e não outro. As palavras de Olson revelam muito: “o uso do conhecimento médio é para explicar como o mundo real é determinado por Deus, utilizando conhecimento do que as criaturas livres fariam em qualquer dado mundo, incluindo o mundo que Deus, por fim, decidiu criar – este mundo […] o molinismo leva ao determinismo e é, portanto, incompatível com o arminianismo”.39 Então, Molinismo não é Arminianismo, embora seja também libertário. Molinismo não Calvinismo, embora pretenda ser determinista. Mesmo assim, o conhecimento médio é adotado por alguns de ambas as tradições.40

E isso aponta para uma inconsistência no Molinismo. Em alguma instância será preciso priorizar um aspecto de sua ideia. E o aspecto que tem sido priorizado, pelo menos na tradição recente na resolução do problema do mal, é a liberdade libertária. Ou seja, as ações futuras contingentes devem ser indeterminadas e, portanto, Deus não pode saber infalivelmente seu valor de verdade. Como resultado, atribui-se a Deus, por conta da liberdade indeterminada, um conhecimento incerto.

Conclusão
Nesse primeiro artigo procurei apresentar uma introdução ao Molinismo.  Parece-me que o crescimento do molinismo é uma tendência, especialmente entre os estudantes de filosofia da religião e defensores das tradições arminianas e calvinistas. Não chego a considerá-lo uma heresia, mas um erro. Nem mesmo sua própria tradição católico-romana o fez. Minha pesquisa com o molinismo não é o problema de se Deus conhece ou não as contingências. Admito que sim, que ele as conhece. A questão é do real objeto de conhecimento de Deus e que implicações o Molinismo tem para a Natureza de Deus.

Espero no próximo artigo, numa avaliação teológica mais detalhada, pois alguns que têm adotado o Molinismo, especialmente o “molinismo analítico”, têm transigido, suspeito, com conceitos estranhos à Teologia histórica e conservadora no tocante à natureza de Deus – simplicidade divina e temporalidade, por exemplo. Mas, isso fica para a próxima ocasião, querendo Deus.41    

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Veja também PLANTINGA, Alvin. Deus, a Liberdade e o Mal. São Paulo: Vida Nova, 2012, p. 17 – 84. PLANTINGA, Alvin. The Nature of Necessity. Clarendon Press: Oxford, 1974, p. 164 – 195 (cap. IX)
2Um contrafactual é uma proposição condicional expressa na forma “se p, então q” onde p e q, antecedente e consequente, são falsos em relação ao mundo atual.  “Se um sujeito S fosse colocado em uma Circunstância C, circunstância na qual deixa S livre, S livremente escolheria fazer A”. “Contrafactuais são assim chamados porque o antecedente e o consequente do condicional são contrário ao fato”(CRAIG, William Lane; MORELAND, J. P. Filosofia e Cosmovisão Cristã. São Paulo: Vida Nova, 2005, p. 76). David Lewis (Counterfactuals. Oxford: Blackwell Plubishers, 1973) afirma que contrafactuais são modos de falar que, “embora vergonhosamente vagos”(p. 1), eles ainda podem dar uma descrição de valores de verdade – quando um enunciado pode ser considerado verdadeiro ou falso -, porém contrário aos fatos atuais, mas possíveis em algum outro mundo. Nesse caso, o antecedente p seria falso e não se realizaria.
3Dada uma proposição p, p é verdadeiro ou falso.
4TOMBERLIN, James E.; INWAGEN, Peter van(ed). Alvin Plantinga – Profile. vol. 5. Dordrecht/Boston/Lancaster: D. Reidel Publishing Company, 1985, p. 50.
5PERSZYK, Ken. Molinism – The Contemporary Debate. Oxford: Oxford University Press, 2011, [Epub], posição 13 [p. 6, 7].
6BALMER, Randall. Encyclopedia of Evangelicalism – revised and expanded edition. Waco, TX: Baylor University Press. p. 546 [verbete Plantinga, Alvin (Carl)]
7PLANTINGA, Alvin. A Christian life partly lived. In: CLARK, Kelly James(ed). Philophers who Believe – the spiritual journeys of eleven thinkers. Downers Grove, Ill. IVP, 1993, p. 48.
8Idem, p. 68ss
9PLANTINGA, 1974, p. 164.
10Segundo Kaufmann (A Companion to Luis de Molina. Leiden – Boston: Brill, 2014, p. xv), o “curso completo de filosofia” feito por Molina, era na verdade “um curso completo em Aristóteles, cujas obras eram comentadas pelos mestres”. Desse modo, Molina destacou-se, sobretudo em lógica e metafísica.
11KAUFMANN, Matthias; AICHELE, Alexander(ed). A Companion to Luis de Molina. Leiden – Boston: Brill, 2014, p. xv
12ECHEVARRIA, Juan Antonio Hevia. Introducción. In: MOLINA, Luis de: Concordia de libre arbitrio com loso dones de la gracia y com la presciencia, providencia, predestinacion y reprobacion divinas. Biblioteca Filosofía em español – Fundacion Gustavo Bueno. Oviedo, Espanha: Pentalfa Ediciones, 2007, p. 10.
13Publicada com a permissão do Prepósito Geral  e submetida ao exame do Conselho da Inquisição. A obra foi considerada “conforme a fé católica e muito útil para toda a Igreja”(Echevarria, p.11).
14Domingo Bañez pode ser classificado como um determinista. Defendia a certeza do conhecimento divino com base “primeira causa”. Deus, a Primeira Causa, em seu Decreto eterno de sua vontade, predeterminou as causas secundárias completamente e, por isso, ele pode conhecer com certeza os futuros contingentes em suas próprias causas. Cf. GORIS, Harm J.M.J. Free Creature of an Eternal God: Thomas Aquinas on God’s infallible foreknowledge and irrestible will. (Thomas Institute te Ultrecht New Series 4). Leuven: Peeters, 1996, p. 69.
15LA POLÊMICA DE AUXILIIS 1582 – 1607. Disponível em: < http://www.filosofia.org/ave/001/a152.htm>
16Apologia fratrum praedicatorum in provincia Hispaniae sacrae theologiae professorum, adversus novas quasdam assertiones cuiusdam doctoris Ludovici Molinae nuncupati (Apologia dos Frades Pregadores na Província da Espanha, professores de Teologia Sagrada, contra as Certas Novas Afirmações do Doutor Luis de Molina). Existe uma tradução espanhola, feita por Juan Antonio Hevia Echevarría, de nome Apologia de los hermanos dominicos contra la Concorida de Luis de Molina (Pentalfa, Oviedo, 2002).
17LA POLÊMICA, idem.
18Futuros continguentes são eventos singulares ou estados  de coisas que podem ou não ocorrrer no futuro. Cf. AUDI, Robert. The Cambridge Dictionary of Philosophy. 2nd ed. Cambridge: Cambridge University Press, p. 334.
19CRAIG, William Lane. The problem of Divine foreknowledge and future contingents from Aristotles to Suarez. Leinden: E.J. Brill, 1988, p. 170.
20FREDDOSO, Alfred J. Introduction. In: MOLINA, Luis de. On Divine Foreknowledge: Part IV of the Concordia. Ithaca and London: Cornell University Press, 198, p.1.
21Cf. tb. BEILBY, James K.; EDDY, Paul R. (ed). Divine Foreknowledge: four views. Downer Grove, Ill: IVP, 2001.(Itálicos meus)
22Molina, Concordia, Disputa 52.9.
23Idem.
24Idem.
25Idem. (Itálicos meus)
26Em termos proposicionais a questão é assim posta: Se um sujeito S estivesse em uma circunstância C, S livremente escolheria fazer X.
27FLINT, Thomas P. The Varieties of Accidental Necessity. In: CLARK, Kelly James; REA, Michael (ed.) Reason, Metaphisics, and Mind – New Essays on the Philosophy of Alvin Plantinga. Oxford: Oxford University Press, 2012, p.38.
28CRAIG, William L.; MORELAND, J. P. Filosofia e Cosmovisão Cristã. São Paulo: Vida Nova, 2005, p. 635. Crédito da imagem à mesma referência bibliográfica.
29Os próximos artigos que se seguirão, farão análises mais detalhadas do ponto de vista teológico, exegético e filosófico.
30Susan Haack (On a Theological Argument for Fatalism. In: THE PHILOSOFICAL QUARTELY, vol. 24, n. 95 [abr 1974], p. 156 – 159), diz que isso tem incomodado a “aqueles que desejam manter, por um lado, um Deus onisciente e, por outro lado, que o homem tem livre-arbítrio”(p. 156). Segundo a autora, a questão entrou no campo teológico baseado no princípio de ambivalência em Aristóteles (Da Interpretação, IX – “No que toca as coisas presentes ou passadas, as proposições, sejam afirmativas ou negativas, são necessariamente verdadeiras ou falsas[…] Se, ademais, uma coisa é agora branca, então teria sido verdadeiro no passado afirmar que essa coisa seria branca, de modo que foi sempre verdadeiro dizer de toda coisa (seja ela qual for) que ela é ou ela será […] a consequência disso é que os eventos futuros, como asseveramos, se produzem necessariamente. Nada é fortuito, contingente, pois se alguma coisa acontecesse por acaso, não aconteceria por necessidade”) [ARISTÓTELES. Órganon – texto integral. Bauru, SP: EDIPRO, 2005]. [Itálico meu]. Na atualidade, Richard Taylor e Nelson Pike são uns dos mais célebres defensores do Fatalismo com base no princípio da ambivalência (TAYLOR, Richard. Fatalism. In: In: THE PHILOSOPHICAL REVIEW, vol. 71, n. 1 (Jan, 1962), p. 56 – 66). Para uma crítica ao artigo de Taylor vide ABELSON, Raziel. Taylor’s Fatal Fallacy. In: THE PHILOSOPHICAL REVIEW, vol. 72, n. 1 (Jan, 1963), p. 93 – 96; e BROWN, Charles D. Fallacies in Taylor’s “Fatalims”. In: THE JOURNAL OF PHILOSOPHY, vol 62, n.13 (jun, 1965), p. 349 – 353, com exposição da afirmação do consequente e da necessidade da consequência. Porém, Taylor oferece resposta em A note of Fatalism. In: THE PHILOSOPHICAL REVIEW, vol. 72, n. 4 (Jan, 1963), p. 497 – 499.
31Na tradição filosófica recente, alguma medida de Indeterminismo – também chamada de Incompatibilismo ou Libertariranismo Libertário – é afirmado por Robert Kane, Timothy O’Connor, Randolph Clarke e Carl Ginet. Cf. KANE, Robert (ed). The Oxford handbook of Free Will. Oxford: Oxford University Press, 2002; FISCHER, John Martin; KANE, Robert; PEREBOOM, Robert; VARGAS, Manuel. Four Views about Free Will. Oxford: Blackwell Publishing, 2007; CAMPBELL, Joseph Keim; O’ROURKE, Michael; SHIER, David (ed). Freedom and Determinism. Cambridge: Bradford Book / The MIT Press, 2004. Os mais radicais defensores do Indeterminismo afirmariam uma versão não-causal dos agentes. Assim, as ações futuras dos agentes não seriam previstas por Deus, uma vez que nenhuma causa, nem histórica, nem providencial, nem mesmo auto-causada, haveria para ser prevista.
32FLECK, Fernando Pio de Almeida. O Problema dos futuros contingentes. Coleção Filosofia. Porto Alegre: Edipucrs, 1997.
33Francis Turrentin (Compêndio de Teologia Apologética. Vol. 1. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 290) acredita que isso não seja um problema em si, mas se torna um problema quando um decreto especial a respeito de “certa futurição dessa ou daquela coisa precede de modo que Deus pode ver aquela coisa antecedendo esse decreto(nela própria ou em suas causas)”. Mas é exatamente essa a minha questão.
34Franklin; Myatt. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 340.
35VAN TIL, Cornelius. An Introduction to Systematic Theology. 2nd. Ed. Edited by William Edgar. Phillipsburg, NJ: P & R Publishing, 2007, p. 374.
36Hiphil de [dy-  quem causou o conhecimento do Senhor?
37OLSON, Roger. Teologia Arminiana – mitos e realidade. São Paulo: Editora Reflexão, 2013, p. 254.
38WALLS, Jerry L; Dongell, Joseph R. Por que não sou calvinista. São Paulo: Editora Reflexão, 2014, p. 129.
39Olson, idem, p. 254, 255.
40Craig afirma, a doutrina do Conhecimento Médio é “surpreendente em sua sutileza e poder”. E essa sutileza levanta inclusive o debate se o Conhecimento Médio é compatível com a Teologia Reformada. Olson fala dos “defensores arminianos do conhecimento médio”(idem, p. 253). Clendenen e Waggoner (Calvinism – A Southern Baptist Dialogue. Nashville, Tennessee: B & H Academic, 2008, p.215) apontam Bruce Ware, John Frame e Terrance Tiessen – calvinistas de conhecimento médio – entre os teólogos reformados que tentam incorporar as ideias do Conhecimento Médio no Calvinismo. Claro, tais proponentes modificam a compreensão libertariana de Molina para o conceito de permissão a fim de ajustar à compreensão determinística ou compatibilista do Calvinismo. Todavia, “o conceito de conhecimento médio é surpéfluo em qualquer sistema que sustente o determinismo causal”. Os Teólogos Franklin Ferreira e Alan Myatt (Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 340) parecem entender que haja espaço para o conhecimento médio na tradição reformada. Dizem os autores: “Temos que confessar que existe respaldo bíblico em favor desta noção. Em Mateus 11.23, Jesus disse que se Sodoma tivesse visto os milagres feitos em Cafarnaum, ela não teria sido destruída, insinuando que ela se arrependeria dos seus pecados. Isto é um exemplo claro do chamado conhecimento médio da parte de Deus. Não negamos este fato”. Logo em seguida eles dizem que o conhecimento médio não resolve os problemas relacionados nem à Teodiceia, nem a relação entre a presciência divina e atos livres dos homens. Dizem: “Segundo Craig, o arminianismo e o calvinismo podem ser reconciliados [determinismo e liberdade], assim como o problema do mal ser resolvido. Mas a coisa é realmente assim tão fácil? Em nossa opinião, o conhecimento médio de Deus não resolve estes problemas”. Em seguida, os autores passam a apresentar críticas ao Molinismo. Penso, portanto, haver algum problema de redação. Talvez os autores queiram afirmar que Deus tem, de fato, conhecimento das necessidades e contingências, como eles afirmaram anteriormente, e que o problema com o conhecimento médio é de aplicação. Seja como for, penso haver na tradição reformada elementos suficientes acerca do Conhecimento de Deus que já envolvam coisas necessárias e contingentes em seu conhecimento natural e conhecimento livre, sem a necessidade de um conhecimento médio.
41Agradeço ao Prof. Gérson Gouveia Junior (UNICAP) e Prof. Franklin Ferreira pela cooperação na revisão do artigo. Nossos diálogos muito auxiliaram nos esclarecimentos de alguns pontos.

1 COMENTÁRIO

  1. Bom artigo, só possui alguns erros:

    “Depois de pouco mais de quatrocentos anos, o debate em torno do problema do mal e livre-arbítrio ressurgiu nas páginas de seu livro The Nature of Necessity”. Este debate, o qual o próprio Agostinho não conseguiu resolver, não voltou 400 anos depois. Há uma extensa bibliografia de autores que o discutem até o retorno do Molinismo como solução ao problema (de lógicos como Pascal, Leibniz, Descartes, passando pelos escritos de Dostoievski, Milton e Kierkegaard, até mesmo por teólogos como Edwars e o próprio Lewis).

    No trecho que cita uma certa “confusão teológica” a respeito das crenças calvinistas de Plantinga, talvez seja pelo fato da própria fé reformada estar adormecida em uma instituição chamada “Calvin College” – que Plantinga, repetidas vezes, tem que justificar como não sendo uma instituição católica…

    No geral, a apresentação está adequada. É um desafio encontrar críticas ponderadas ao molinismo, seja de arminianos ou de calvinistas atualmente. Fique na paz de Cristo!

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