O melhor discípulo – Estamos todos no mesmo barco?

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“Os discípulos começaram a conversar sobre qual deles era o mais importante” (Lc 9.46). Olhando para trás, parece ridículo que grandes homens da fé cometeram erro tão grosseiro. Talvez seja um erro infantil, mas isso não faz com que a Igreja se livre tão facilmente dele. Curioso é notar que hoje também são líderes (pregadores, missionários e pastores) que incorrem no mesmo erro.

Há uma percepção geral de que “as coisas estão erradas com a Igreja”. Alguns acham que é a teologia, outros a corrupção, a preguiça, falta de ética, de paixão por Deus ou ação pelas almas. Talvez tudo isso constitua fatos. Com eles, surgem interpretações para esse cenário. Alguns são acusados de vilões, outros se colocam como profetas.

A Igreja Universal do Reino de Deus é um dos alvos preferidos. Discordo de uma série de doutrinas e práticas da Universal, mas isso não me faz ignorar as suas virtudes. Edir Macedo pregou um dos melhores sermões que ouvi no ano passado. Simples e cheio de paixão, ele falou que a vida cristã não é um mar de rosas. Que nesse mundo teremos aflições, mas que devemos perseverar. Além disso, quando converso com pessoas marginalizadas do Centro de São Paulo (travestis, prostitutas, drogados) e elas desejam ir a uma igreja, boa parte delas prefere ir à Universal. Lá elas se sentem à vontade. Na minha opinião, isso acontece porque lá elas não são tratadas como beneficiárias do ministério de ação social da igreja. Lá, elas são a igreja.

Ao mesmo tempo, percebo que alguns profetas avessos às doutrinas da Universal adotam práticas semelhantes dos líderes dessa igreja. Eles condenam a teologia da prosperidade, mas usufruem a prosperidade de seus ministérios. Alguns andam de carro importado, outros cobram milhares de reais por palestra. Já ouvi alguns deles criticando o envolvimento dos bispos com a política, mas aparecendo na propaganda impressa do seu candidato favorito.

Trabalhando em uma agência missionária, tenho observado que muitos amantes de missões estão caminhando por uma estrada semelhantemente hipócrita. Não é raro encontrar alguém que diga: “A Igreja não quer saber de evangelizar. Eles só querem benefício próprio.” Como assim, “eles”? A Igreja somos nós. Se há um desinteresse pela causa do Evangelho, parte da culpa é dos que amam esta causa. Esses freqüentemente hostilizam e julgam os outros irmãos, ao invés de contagiá-los com paixão.

Jesus nos conta uma história interessante “para os que achavam que eram muito bons e desprezavam os outros” (Lc 18.9). A minha versão desse causo é a seguinte: dois homens foram à igreja para orar. Um era um teólogo respeitado, o outro deputado federal e pastor. O primeiro dava aulas em um seminário e era conhecido por ser a voz da ética e representante da pureza cristã. O segundo estava sendo investigado por uma CPI pela terceira vez. O primeiro ficou de pé, olhou para o alto e orou em silêncio: “Senhor, obrigado pela sua graça de fazer de mim um homem justo e santo. Obrigado porque sou um líder ético, equilibrado em sua Palavra e não sou corrupto como este homem.” Mas o segundo ficou de cabeça baixa, batendo no peito e clamando: “Ó Deus, tem pena de mim, pois sou pecador!” Jesus diz que o segundo voltou para casa em paz com Deus, mas não o primeiro.

Não estou querendo defender um lado e atacar o outro. Quero mostrar que estamos todos do mesmo lado – mesmo que não queiramos. Todos vivemos nessa carne corrupta. A maioria das igrejas está cheia de defeitos, mas também de pessoas sinceras que estão, em suas limitações, buscando a melhor maneira de servir Cristo. Perdemos tempo disputando quem é o melhor ou menos pior. Achar que nós – ou nosso grupo – somos a minoria sincera é cair no erro de Elias, justificar nossa inatividade e promover outro discurso vazio. Mas podemos nos unir em arrependimento. Reconhecer que somos farinha do mesmo saco, pecadores e, assim, estar unidos naquilo que temos em comum: a necessidade que Deus nos perdoe e nos transforme.

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