O livro de Rute: uma leitura cultural com auxílio de Orgulho e Preconceito

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Recentemente estreou na Rede Globo uma novela de nome Orgulho e Paixão, inspirada no livro da autora britânica, Jane Austen, Orgulho e Preconceito. De igual maneira, o livro já recebeu releituras em forma de peças, séries, filmes, e até livros de outros autores como tentativas de dar algum prosseguimento a história. Assim é uma história relativamente conhecida e de um caráter muito especial.

A sensação que tive quando pela primeira vez entrei em contato com a obra (o que no caso se deu assistindo ao filme de 2005) foi de que assistia a uma releitura inebriante do livro de Rute, e diante disso fico com a sensação de que o livro, ou mesmo o filme são uma oportunidade imensa de demonstrar na cultura alguns dos conceitos tratados por esse maravilhoso livro bíblico.

Os livros contêm, é claro, observações de suas próprias épocas, porém talvez isso seja o que torne os dois tão similares. É que tanto um quanto o outro tratam de quem os seres humanos são, e como se relacionam, principalmente nos seus relacionamentos amorosos, e no fim mudam costumes, meios de produção, formas de viver, mas as pessoas permanecem tendo falhas de caráter, preocupações mundanas, e principalmente a oportunidade de serem transformadas pelo amor de Deus.

Esta análise pretende provar, portanto, que Orgulho e Preconceito é uma releitura de Rute. Dessa forma poderá ajudar o leitor a perceber a beleza do livro e um possível novo significado ao notar como Rute é uma verdadeira cristã veterotestamentária que inspira-nos e nos faz ver o amor de Deus pelos seus.

Para tanto utilizaremos o enredo do livro de Rute, a comparação dos personagens, e alguns dos temas que perpassam ambos os livros, esperamos com isso, ajudar pastores na elaboração de sermões e cristãos a perceberem e quem sabe dar a perceber conceitos eternos e graciosos que Jane Austen abordou em sua obra.

Resumos

Para facilitar a compreensão do leitor aqui daremos um breve resumo do livro que será comparado. Neste ponto começaremos a necessitar de usar de spoilers (revelações da trama), portanto aconselhamos que antes de prosseguir leia o livro de Rute bem como leia o livro ou assista uma das adaptações mais fieis de Orgulho e Preconceito, pois facilitará o entendimento.

Por ser o livro muito longo, este resumo se interessará apenas pelos trechos mais importantes. Um homem tem 5 filhas, e por consequência disso nenhum herdeiro para sua propriedade que passará a um parente homem mais próximo. Sua esposa busca como maior preocupação na vida casar as filhas para quem sabe garantir seus futuros. Em meio a isso, a chegada de um forasteiro rico gera alvoroço e expectativa tanto dela quanto das filhas. A filha mais velha aproximasse dele, e ambos se apaixonam, mas por uma infeliz interpretação dos sentimentos da moça, o homem não a pede em casamento. Enquanto isso, a segunda filha, Elizabeth, torna-se objeto da paixão de Darcy, um homem muito orgulhoso, e que por isso gera antipatia. Por meio das mentiras de um homem inescrupuloso, de nome Wickham, Darcy é ainda mais mal visto por Elizabeth. Apesar disso, seu orgulho não lhe permitia ter dúvidas de que seria aceito quando pedisse a moça em casamento. Ela o nega. A partir daí muitas mentiras são reveladas e o caráter de ambos é tratado em algumas falhas que remetem ao título, tanto quanto a seus orgulhos, quanto preconceitos. Um dos grandes acontecimentos da história é a fuga da irmã mais moça, Lídia, ela acreditava que Wickham a estava levando para casar-se. Se tal casamento não ocorresse, a família estaria arruinada, pois todas as filhas tornar-se-iam mal vistas na sociedade, de modo a dificultar casarem-se. É nesse ponto que Darcy resgata a irmã mais moça pagando fortuna a Wickham bem como suas dívidas para que ele cumpra a promessa de casar. Através desse resgate, Darcy salva a família inteira, mas deixa claro que seu maior interesse era o carinho que tinha por Elizabeth. Eles por fim se casam e constroem uma vida juntos.

1.  Comparação através do enredo de Rute

2.

Vamos usar o livro de Rute como parâmetro e fazer as devidas comparações ao longo dos eventos entre um capítulo e outro para observar onde os livros se assemelham.

1.1 – O capítulo 1 e quando os velhos não são sábios
1.2-

Jane Austen inicia seu livro não com aqueles que serão seus personagens principais, mas com o casal que gera a trama, afinal são os pais das duas Rute’s que citaremos abaixo. Assim também o livro de Rute se inicia com a apresentação de Elimeleque e sua família. Na verdade ambos os livros tem inícios bem interessantes, um dando-nos o período de tempo em que se passa, e o outro nos apresentando o que a senhora Bennet concordaria em dizer que é uma “verdade universalmente conhecida”: “um homem solteiro precisa de esposa”. O interessante nisso é que o livro de Rute inicia-se tentando ser o mais histórico possível dando-nos a ideia de seu período de tempo, enquanto a obra de Jane Austen ganha tom quase profético ao compartilhar essa “verdade” que terminaria por ser tão importante ao longo da trama.

A proposta de Jane Austen nos parece é mostrar os pais nessa história como pessoas tolas. É fato que são tipos diferentes de tolice, então podemos observar inicialmente a tolice de Elimeleque que se assemelha a do senhor Bennet. Há uma situação de dificuldade e a resposta deles é buscar a solução momentânea que não é a melhor a longo prazo. Para Elimeleque levar a família para Moabe poderia representar a perda de identidade de sua família como parte do povo de Deus. De igual maneira, o senhor Bennet percebe o caminho ruim pelo qual sua família está seguindo e nada faz para corrigir a esposa ou as filhas. Ele apenas se diverte com a tolice delas. Ele se considera sábio, mas é um tolo. E talvez tenha notado isso quando Lídia fugiu, pois percebeu a situação de perigo na qual sua forma de agir colocou sua família. Assim como ele viu o resultado de seus erros quando da fuga da filha, talvez Elimeleque começava a deixar a esposa em apuros ao morrer, ainda que nesse caso as obras difiram, já que a morte do Elimeleque em questão não é vista em Orgulho e Preconceito.

A morte dos filhos e a ruína da família que vem através disso apresenta o mesmo problema que encontramos na conclusão do livro de Austen. Inclusive o morgado que impede que as filhas herdem as terras do pai dão-nos a dimensão da comparação, pois em ambos os casos a circunstância da herança traz a desesperança das famílias, pois só restando mulheres, elas ficarão arruinadas, pois apenas um homem da família pode herdar essas terras. Com isso Noemi fica sozinha com as noras. Quando desses acontecimentos, podemos ver duas atitudes de Noemi que exemplificam as tolices dessa personagem.

Algumas vezes afirmamos que Jonas é o pior missionário da história. Pela forma como notamos que ele nem deseja que os seus ouvintes se convertam, e a graça de Deus age de maneira tão maravilhosa que atinge os ninivitas apesar do missionário. Noemi também é uma missionária terrível. A ordem para que as noras voltem a casa de seus pais pode até ter a intenção de protege-las, mas traz consigo a ordem de que elas voltem aos seus antigos deuses. Tristemente Orfa não demonstra uma conversão real, e termina por aceitar os conselhos da sogra, mas Rute não o aceita de maneira nenhuma e faz uma das mais belas declarações de fidelidade da Bíblia.

Na bela obra britânica, vemos a mãe disposta a cortar relações com a própria filha por ela ter negado o pedido de casamento do senhor Collins. Ela ignora que a filha não poderia ser feliz com o senhor Collins, e deseja apenas preservar a família do morgado. Sua forma de agir para com as duas mostra o jeito como a mãe age com as filhas, pensando apenas em seus casamentos, e nem sempre em seu bem estar. A fidelidade de Elizabeth e a bondade de Jane terminam por demonstrar a sabedoria de Rute em meio aos erros da sogra, tal qual as filhas agem melhor que a mãe no livro analisado.

Finalmente, a forma como Noemi fala ao término do capítulo mostra-se base para a da senhora Bennet que ao perceber as terríveis circunstâncias dos atos da filha se coloca de cama em completa amargura. O jeito como ela fala a todos sobre a sua tristeza e compartilhando da sua queda também lembra a forma como a senhora Bennet conta a quem quiser sobre as suas preocupações, tornando ainda pior aquilo que já está ruim. Assim vemos nesse primeiro capítulo as atitudes temerárias daqueles que deveriam trazer sensatez, e a sabedoria dos que deveriam aprender, algo que também encontramos no livro de Rute.

1.3 – O capítulo 2, a introdução do resgatador e suas ações iniciais

1.4-

No livro que estamos estudando o primeiro encontro entre Elizabeth e Darcy é um desastre. Não a toa alguns defendem que é uma história de “amor a segunda vista”. O texto inicia nos mostrando o quão notável Boaz era, assim também a autora não poupa elogios ao seu principal Boaz, contudo ela completa nos fazendo saber que ele não se fez amável para as pessoas daquele lugar por causa de seu jeito orgulhoso. O texto bíblico não nos dá esse tipo de descrição de Boaz.

Apesar disso, podemos nos perguntar se a bondade de Boaz para com Rute tem como motivações apenas aquilo que ele alega, com base na bondade dela, ou se aí já existe algum nível de interesse. Tristemente não está em meu poder responder esta pergunta. Contudo vale observar que quando nos aproximamos da conclusão da leitura percebemos que em muitas situações o senhor Darcy forçou encontros com Elizabeth. Em muitos deles ele não fez muitos movimentos, mas gostava de estar perto dela. Podemos concluir que Austen deu a Darcy uma personalidade em alguns níveis tímida, ele mesmo admite não ser muito bom em desenvolver conversas. Temos a partir desse ponto a impressão de que a autora entendia que Boaz agiu sim por alguma forma de interesse em Rute, mas não sabendo como responder. Isso não desmerece sua bondade. Como vimos, Boaz ofereceu a Rute tudo o que pôde, e com uma boa chance de não receber nada em troca. Atitude que Darcy tem de maneira similar para com Elizabeth, e de maneira similar ele não tem muito o que lograr com isso, pois seu pedido de casamento foi recusado, e ele não tem esperanças, ainda, para fazer outro.

Assim talvez esse amor tardio que a autora oferece em sua história seja sua maneira de observar a forma como o relacionamento de Rute e Boaz se desenvolve. Nesse ponto deve-se observar com especial atenção os elogios e bênçãos que Boaz faz a Rute. Elogios que evidenciam o seu caráter, como muitos dos elogios feitos por Darcy a Elizabeth. Ainda se dirá que por duas vezes (em outras Bíblias verifiquei até quatro vezes, mas considerei a King James que provavelmente foi a versão em que Austen leu este texto) o texto utiliza a expressão “achar graça aos olhos de alguém” justo no momento em que Boaz e Rute conversam. Isso é interessante por colocar em cena um dos grandes atributos de Elizabeth frente a Darcy. Não entenda mal, o texto Bíblico aqui não nos parece ter a intenção de dar a entender que os olhos de Rute eram belos (talvez fossem, mas não foi dito), contudo parece-nos que de alguma forma fica aí mais uma pista da ligação desse texto bíblico com a obra de Jane Austen. Ora a primeira coisa em que Darcy reparou em sua amada foram seus lindos olhos.

O carinho de Boaz para com Rute nos lembra em alguns aspectos a carta de Darcy, principalmente a conclusão com uma rápida benção comum a conclusões de cartas, mas que não passa despercebida a chateação que devia estar sentindo em revelar o que lhe revelava. Ou seja, as motivações são diferentes, mas em ambos os textos há o costume de se desejar bênçãos a pessoa amada. E no caso da obra de Jane Austen, a benção vem após uma briga. Vale como uma observação de conduta que poderíamos ter. Não se deseja bênçãos apenas porque tudo está bem, Boaz e Rute nada tinham um com o outro, e Darcy estava com o orgulho ferido, porém o ato de abençoar é natural. Desejamos bênçãos a outros porque amamos, e não apenas para parecer bem diante deste ou daquela.

O texto prossegue para a reação de Noemi ao saber do acaso (falaremos disso mais tarde) que levou Rute a encontrar Boaz. A forma como Noemi responde a essa circunstância na comparação com a autora britânica nos leva a uma nova Noemi. Se por um lado, Elizabeth tem na mãe a visão menos agradável de Noemi, sua tia, a senhora Gardner mostra-se uma Noemi muito mais interessante na comparação com este ponto da história. Note como seus conselhos salvam-na de qualquer coisa com Wickham, ainda que ela não saiba o mal caráter que ele tem, tão somente o bom senso lhe revela o que dizer. De igual maneira, ela também observa e vê o amor que pode surgir ou que já surgiu entre a sobrinha e o rico proprietário de Pemberley assim como Noemi já percebe que o contato entre Rute e Boaz pode se revelar promissor, e já fica grata a Deus pela forma como as coisas estão caminhando.

1.3- O capítulo 3, o cuidado e o descanso

O cuidado de Noemi neste capítulo mais uma vez não se assemelha a mãe de Elizabeth, mas a sua tia. Tanto o início do capítulo quanto o final são a respeito do cuidado dela para com a Rute dessa versão inglesa. Apesar disso, o conselho de Noemi é um daqueles trechos da Bíblia que os pastores fazem tudo o que podem para não precisar pregar, e se necessário for, para não precisar opinar quanto ao que aconteceu.

Talvez porque seja lógico não opinar. Houve ali algum tipo de eufemismo para o que Rute e Boaz tiveram ali? Achamos provável que tenha sido o caso (e aqui afirmamos isso unicamente para não deixar sem resposta a pergunta que logo viria). Contudo o livro de Jane Austen traz a ideia de personagens muito virtuosos, e diante disso vale a pena perceber que tanto Boaz quanto Rute são referidos dessa forma também. Portanto a maneira como interpretaremos é que se houve algum tipo de eufemismo aquela conduta não seria completamente mal vista naquela sociedade, embora a necessidade de sair sem que ninguém notasse mostre que não era também algo completamente aceitável.

Acho que a maneira de Austen de resolver essa dúvida e ainda coloca-la no seu romance foi transferir o ato não mais para Rute, mas para Orfa. Por essa razão quem tem uma atitude viciosa e má é a irmã de Elizabeth, Lídia Bennet. A fuga que já citamos no capítulo 1, é o estopim que exige o resgate, tal qual a atitude de Rute exige uma atitude da parte de Boaz. Então todas as dúvidas que a cena possa gerar na leitura de Rute são resolvidas colocando-se esse “pecado” na conta de uma personagem que já é má desde o princípio.

O diálogo entre Rute e Boaz mais uma vez nos lembra o de Darcy e Elizabeth. Agora além de louvar seu bom caráter, a forma como apresenta seu problema também é especial nessa análise. No caso da história Bíblica, Rute tem direitos a exigir de Boaz, o que ela pede não é como um favor, mas sim algo que ela merece pela circunstância de parentesco entre seu futuro marido e o antigo. Já no caso de Elizabeth, compartilhar a sua situação com Darcy não faz sentido, uma vez que ele nada tem a ver com o problema, e isso só diminuiria Elizabeth diante dele. Austen, porém, nos faz ver semelhanças nos dois momentos gerando o acaso da visita de Darcy ter se dado próximo ao momento do recebimento da carta de Jane apresentando a situação da fuga da irmã que pode vir a desgraçar sua família.

Assim os dois momentos ainda que com motivações diferentes tornam-se muito próximos por revelarem o mesmo destino. O de permitir ao Boaz que está em cena a oportunidade de corrigir o rumo da história. De fato, as personagens que nos lembram Rute agem da melhor maneira que podem tentando corrigir a situação, o que é próprio dos atos de Rute nessa cena, mas aqui também encontramos a força de Boaz que recebendo a missão tem de agir por Rute.

A resposta desses personagens, por sinal, ajuda-nos a compreender a boa índole de Boaz. Ele vai fazer tudo o que puder por rute, mas não com jeitinhos. Ele deseja falar com o tal fulano que é um parente mais próximo e com mais direito do que ele. E caso esse homem esteja disposto a ficar com ela, ele abrirá mão, pois não pode ir contra o que é justo. Assim também a disposição de Darcy se torna muito interessante, pois ele age não como se entendendo que precisa agir para casar-se, pois ela já o recusou, ele precisa agir porque ela precisa de ajuda. Talvez isso signifique abrir mão de considerável soma em dinheiro, talvez abrir mão de uma mulher muito especial, mas ele faz o que se espera dele, pois o dever é maior do que a vontade.

As observações finais de Noemi mais uma vez nos recordam a sra. Gardner. A frase dela fica um tom um tanto quanto ambíguo. Não sabemos se diz que Boaz agirá rápido por sua fibra moral, ou se pelo amor que já sente por Rute, ou se pelos dois (consideraríamos essa última a mais provável). Esse trecho se assemelha muito as insinuações da tia tanto em conversas quanto na carta escrita a sobrinha e mostram mais uma vez a obra fazendo clara alusão ao livro bíblico.

1.4-O capítulo 4, negociação e felicidade

O texto começa com a procura de Boaz ao Fulano (usaremos aqui esse termo para nos referir a esse personagem, pois ele não possui um nome e muitas bíblias o traduzem assim). Ela se assemelha bastante a busca de Darcy por Wickham que ele precisa encontrar para redimir a família de Elizabeth. A sua procura e cuidado em reunir os anciãos da cidade dá certeza que tudo o que fará ele fará as claras, de maneira legal.

Por outro lado, a pronta aceitação do fulano a possibilidade de obter as terras de Elimeleque mostra a forma como encara essa situação. Ele não tem a intenção de fazer qualquer benefício, não é por gentileza que age. Ele age por ambição. Quer enriquecer, os meios pelos quais obtenha isso são indiferentes. Na verdade, mais de um personagem como demonstraremos abaixo, trata o casamento não como um mandamento, ou uma condição honrosa, mas sim como um meio de enriquecimento. Aqui o Fulano percebe que o casamento o empobrecerá. Ele não o deseja em tais condições. Aqui, portanto, vemos a similaridade entre as duas obras pelo caminho oposto. Wickham queria usar o casamento para enriquecer, e diante disso estava pronto para desgraçar a vida de Lídia em busca de uma mulher rica. Já o Fulano não quer gerar um filho para o parente, perdendo a oportunidade de ficar com a terra deste, assim nos dois casos temos homens que tem o dinheiro como um deus, Austen apenas alterou a ordem natural, tornando o casamento o meio que o seu personagem usa para enriquecer. Ainda assim os atos de Wickham e de Fulano são para sua vergonha e não a toa eles saem como vilões de cena.

De igual maneira, o fato de Boaz agir diante dos anciãos para que ninguém o acuse de engano é aqui trocado por Austen que faz com que Darcy aja as escondidas, não para se aproveitar de qualquer personagem, no entanto porque assim fica clara a sua boa intenção, nunca visando algo além do bem de sua amada. O que mais uma vez confirma a similaridade das duas obras.

O louvor feito dele e de Rute ao término da história nos lembram o bom final feliz que a história assume. E até o jeito como Noemi responde aos acontecimentos mostra um pouco da reação da senhora Bennet alegre com o casamento das filhas, e aparentemente já tendo esquecido as agruras que antes a faziam pensar que morreria.

Por fim a forma como Elizabeth acaba por tornar-se um exemplo para Giorgiana Darcy fala um pouco sobre adoção, tema importantíssimo na Bíblia e de alguma forma ocorrido com a chegada de Obede para a família de Rute e Noemi. Assim até a genealogia feita no texto Bíblico é de alguma forma aproveitada por Austen em sua própria versão dessa história.


2. Personagens

Neste ponto, precisamos perceber que o livro de Rute é um livro de poucos personagens. O romance de Jane Austen tem bem mais. Igualmente a forma como os personagens são retratados na obra bíblica não permite maiores desenvolvimentos, pois é um texto curto, enquanto a obra de Austen nos dá muito mais sobre quem eles são, portanto é notável que em muitos momentos personagens bíblicos são divididos em dois, bem como características de uns são reposicionadas em outros, nossa compreensão necessitará de certo arranjo para entender, tentaremos ser o mais explicativo possível.

Elizabeth Bennet: Sem dúvida é a maior Rute da história, mas em alguns momentos pode-se dizer que seja o Boaz também. Ela é Rute por precisar ser resgatada, por ser a personagem sob a perspectiva de quem a história é narrada, por sua fidelidade a mãe e ao pai (que aqui tem muito da sogra de Rute, Noemi), e por toda a nobreza de caráter que apresenta ao longo dos eventos. Mas ela também é Boaz, o resgatador, pois a esse personagem ligamos Cristo, e em que ela resgata¿ Ela salva Darcy de seguir em reta de colisão com seu orgulho, e o resgate se dá pela maior arma divina em resgatar, ele se dá pelo amor, sendo Darcy apaixonado por ela, teve de reavaliar seu orgulho e descobrir-se não só culpado, mas incapaz de ser o que pensava ser. O amor quebra o orgulho, mas pode salvar o orgulhoso, salvou Darcy por meio de Elizabeth, e demonstra como Cristo salva a cada um em nossos orgulhos. Vale ainda observar que ela tem muitas características que a desqualificam para casar-se com um homem como Darcy, a pobreza da família, carências morais demonstradas por quase todos os membros, além de outras características que a época seriam piores. Por outro lado Rute também tem muitas características que a desqualificam, e por isso torna-se ainda mais especial perceber o desenrolar da história.

Fitzwilliam Darcy: O protagonista masculino, naturalmente se enquadra no papel de Boaz. Ele resgata Elizabeth, ele se importa com a segurança e sobrevivência dela, e tem uma quase ilibada força moral, contra a qual para se encontrar defeitos que não sejam mentiras, deve-se examinar no título do livro, o que são defeitos bem difíceis de se reconhecer e portanto difíceis de se estabelecer num personagem assim como o personagem bíblico.

Jane Bennet: A irmã de Elizabeth também pode ser vista como uma Ruth de Jane Austen, se na primeira ela demonstra alguns dos acontecimentos mais valiosos do livro, em Jane, ela demonstra o caráter de Rute, é difícil fazer críticas a essa personagem, não é orgulhosa nem preconceituosa, tem um forte senso de dever, é obediente, em muito, ela é como Rute, talvez a única diferença seja a falta de sabedoria demonstrada na forma como está disposta a ser enganada, por esperar o melhor das pessoas, mas talvez aqui reverbere a incapacidade de Rute (por sua bondade) em reconhecer em Boaz seu resgatador, isso é tão forte que ela não o reconhece nem mesmo quando Noemi o revela, já que entende que ele deve se casar com Noemi. Dessa forma, ela só pode ser traída pelo julgamento que muitas vezes não compreende o mundo em que está. Mas não olhe para a personagem como um pico inatingível de santidade, pois ela também precisou de resgate, todos nós necessitamos.

Charles Bingley: Outro Boaz, assim como no caso anterior, este personagem é tudo o que o seu equivalente é, mas sem as críticas que se poderiam fazer ao mesmo. Também demonstra um caráter irrefutável, mas em compensação não tem tanta sabedoria, e isso termina por impedi-lo de agir de forma salvadora, diferente de Darcy, pois ele acreditou num conselho falho e não continuou a observar, o que impediu-o de notar.

Senhor Bennet: Esse personagem se assemelha muito a Elimeleque. Talvez não percebamos nada de mal nesse personagem ao ler o livro, pois a arte dele na história se dá muito rápido. Porém devemos lembrar que é Elimeleque o líder da família. Ele decide tirar os seus da terra em que o senhor os colocou para tentar sobreviver. É a forma relapsa como agiu, pensando numa circunstância de momento que iniciou as agruras de sua família (o amor de Deus usa até mesmo esses erros para criar uma correção de rumo, inclusive salvando Rute, porém isso não o exime). No livro, vemos em dado momento, nas reflexões de Elizabeth, alguns dos porquês de seu pai também ser relapso com a própria família. Ele percebe que suas filhas mais novas e esposa são pessoas muito inconsequentes e tolas, mas não luta contra isso, e tira a situação para se divertir e assim escapar da frustração pelo casamento e família que não o agradam. Na prática, ambos os personagens decidem por uma solução fácil que trará consequências terríveis para suas famílias. É pela ação dele que a desgraça se abateu sobre a vida da filha mais nova, visto que da esposa já se podia esperar esses erros.

Senhora Bennet: Ela se assemelha a Noemi em tudo de ruim que se poderia identificar na personagem bíblica. Se entrega a auto piedade e a depressão (o que não significa que no caso de Noemi e num dos casos da sra. Bennet, ela não tenha razões para isso). Ela é um verdadeiro obstáculo para a boa atitude de suas duas filhas mais velhas. Ela usa de estratagemas para obter o que deseja em relação a casamento para Jane, sem se preocupar muitas vezes com sua saúde. A sua desculpa para escapar de qualquer censura é a sua saúde ruim e idade, como também fará Noemi ao pedir que a chamem de Mara. Apesar disso, deve-se dizer que Noemi é uma mulher sábia, característica que não compartilha com a colega.

Sr. e Sra. Gardner: Um outro caso de Noemi. As ações desses personagens são aquilo de bom que podemos encontrar em Noemi. O jeito abnegado como agem e sua capacidade de ler situações ajudam-nos a demonstrar certa sabedoria que está também em Noemi. Tanto por perceber o caráter e bondade de Boaz, como por conseguir perceber a gravidade de sua situação e tentar liberar as noras de qualquer obrigação para com ela na tentativa de dar uma chance as moças.

Lídia BennetWickham: Essa personagem quase que sozinha apresenta-nos Orfa. A outra nora de Noemi que não pensou nem em Rute nem em sua sogra ao decidir partir. É verdade que Orfa tem mais escrúpulos que a personagem de Jane Austen, pois pelo menos hesitou em ir embora, mas no fim ambas apresentam-nos pessoas que se importam mais consigo mesmas do que com qualquer outra coisa. Lídia é tanto o centro de seu mundo que não ouve os conselhos da tia, ela não tem consideração pelo sofrimento de seus parentes, e está pronta a desgraçar sua família pelo que entende ser uma paixão irrefreável. O antagonismo com Elizabeth e com Rute é gritante, enquanto estas são louvadas por sua obediência, ou inteligência, ela só consegue pensar na própria beleza e status social. A verdade é que seu senso de dever não existe a não ser para consigo mesma. E como é próprio do pecado, ela ainda se considera justa e boa em sua maldade. Assim como Lídia, o argumento que venceu Orfa foi a percepção que nada tinha a lucrar com a permanência junto a sua sogra. A característica que demonstra as duas personagens é, portanto, o ser interesseira.

Charlotte LucasCollins: O perfil interesseiro também se aplica a esta personagem. Ela se casa não por amor, nem com a pretensão de fazer o marido feliz, mas tão somente porque precisa proteger os próprios interesses. Decidiu-se por coloca-la aqui por tratar-se de uma personagem que sabe ser lisonjeira e ignorar aquilo que não lhe é favorável para encontrar o que lhe pareça felicidade. Ora de uma maneira diferente da de Lídia, muito mais calculista, ela também se preocupa muito mais com os próprios interesses do que com o dos que estão a sua volta.

George Wickham: Ele se assemelha a Voldemort. Ou seja, aquele que não deve ser nomeado. O homem obscuro que surge no capítulo 4, e que o autor não tem a intenção de revelar seu nome para facilitar o entendimento, chamaremos de Fulano. Até a escolha de não revelar o nome é de alguma forma proposta por Austen, já que alguns personagens tomam o deliberado cuidado de não mencionar seu nome na frente de Darcy, e mesmo quando é feito o contrário, nota-se como esse nome incomoda. Além disso, esse personagem é semelhante a fulano por ver no casamento uma oportunidade de ganho financeiro. Ele não se importa com a mulher. Ele, na verdade, é capaz de destruir uma jovem tão somente para obter alguma vantagem, em outros casos, para obter mero prazer, sem nunca se importar com a vida que está a desgraçar. A semelhança é notória também quando ele alega um direito que Darcy não lhe cedeu, embora isso não ocorra no livro de Rute, pode-se perceber a semelhança pelo fato de ele ter direito a um benefício, e não recebe-lo apenas porque ele mesmo abriu mão. Assim como o Fulano abriu mão de seu casamento com Rute. Ganho financeiro é tudo o que interessa ao personagem, o bíblico abriu mão da mulher por dinheiro, o de Austen aceitou uma mulher que não queria por dinheiro. O jeito correto de Darcy em lidar com ele também se assemelha ao de Boaz.

William Collins: Outro fulano, embora por causa do caráter parecido também uma Orfa. Ele é lisonjeiro com palavras e pede muitas desculpas. Tem uma atitude farisaica de pastor, e por outro lado não consegue compreender a extensão do perdão. O ponto em que ele demonstra isso é quando censura o pai de Elizabeth por ter aceitado a visita da filha, e recebe então a crítica do mesmo por não entender o perdão cristão. Perceba que o termo usado no livro de Rute é redentor. Ele deveria redimir, mas ao invés disso, ele tem um tipo de perdão que corta relações como solução. Ele também é o parente mais próximo do nosso Elimeleque, e tenta casar-se com uma das filhas dele como meio de justificar o fato de que tomará o seu terreno quando Bennet morrer. Porém com a recusa de Elizabeth, ele desiste de qualquer casamento redentor, pois precisa casar-se logo para satisfazer sua patroa. No final, ele precisa “cuidar de sua herança”

Giorgiana Darcy: Se lembrarmos, o livro de Rute termina com a adoção de Obede por parte de Noemi. Nossa proposta é que Giorgiana Darcy é, de alguma forma, adotada por Elizabeth, ela é o Obede da trama. Perceba a inversão feita por Austen aqui, no original Rute gera um filho com Boaz e ele torna-se um herdeiro para as terras de Elimeleque. Já na obra de Austen, Darcy cuida da irmã que vive com tutoras (que a julgar pelo exemplo da sra. Younge não são, necessariamente, muito maternais nem boa influência). Com o casamento, ela passa a morar com o irmão e a cunhada, e o texto nos conta que ela teve o que aprender com Elizabeth, principalmente no âmbito de seu futuro casamento. Elizabeth, portanto, adota a srta. Darcy de maneira a preparar seu caráter em algo que suas tutoras nem seu irmão poderiam, ela a prepara não para ser feliz no casamento (sendo que ela quase teve um casamento infeliz, como notamos quando Darcy revela sua quase fuga com Wickham). Essa é a mesma felicidade que encontramos na boca das mulheres no final do livro de Rute, o Senhor veio redimir e transformar uma vida que já estava conquistada pela infelicidade. Tudo porque nos tomou para si, assim como essa personagem foi tomada por Elizabeth, e como Boaz pôde tomar Rute e Obede por consequência.

Lady Catherine: Essa será a personagem mais difícil de explicar, ela é o acaso. O capítulo 2 de Rute nos conta que por acaso, Rute foi parar justo no campo de um homem que deveria resgatá-la. Assim também é uma sequencia de acasos que leva Elizabeth a encontrar-se com Darcy. Mas nenhum deles pode ser comparável ao acaso que levou Lady Catherine a na ânsia de falar mal de Elizabeth a Darcy acabar dando a ele as informações que necessitava para renovar seu pedido de casamento. Realmente não há acaso em Rute, Deus está no controle de tudo. Também sabemos que não há acaso real no livro, a autora cuida para que aconteçam. Deus move até as más intenções dos homens transformando-as em bem. E também Lady Catherine viu sua maldade tornar-se um meio de graça. O que percebemos é que onde abundou o pecado superabundou a graça de Deus.

2. Temas Comuns

Após analisar os personagens isoladamente gostaríamos de nesse ponto desenvolver algumas comparações de enredo. Aqui não procuramos apenas similaridades diretas, mas também questões amplas que ambos os livros abordam, alguns pontos sobre relacionamento e graça que perpassam a linguagem direta e se encontram muitas vezes nos eventos da trama.

3.1- O poder do Acaso e a mão cuidadora de Deus
Já citamos um pouco desta questão na personagem de Lady Catherine. Mas vale a pena perceber o valor do acaso neste livro. São muitos os encontros de Elizabeth e Darcy que são meras obras do acaso. Realmente um leitor mais realista e talvez mais crítico poderia questionar o porquê de tantos acasos, e mesmo observar que tamanho número de acasos seria impossível.
O texto de Rute faz questão de nos contar que foi o acaso que levou Rute até o campo de Boaz dentre todos os fazendeiros que ela poderia ter visitado. A julgar pela atitude do fulano citado no último capítulo vale dizer que não devia ser todo o morador de Belem que poderia ser elogiado como Boaz o é logo que aparece no livro. Se ainda restarem dúvidas quanto a essa matéria, basta que confiramos o seu cuidado para que Rute não vá a outros campos, afinal ele deu ordem aos seus servos para que não “a molestassem”. O acaso não é só pela boa índole de Boaz, mas também porque, como sabemos, ele é um dos possíveis resgatadores de Rute. Logo o acaso foi profundamente gentil com Rute, não é mesmo?

Realmente o desenvolvimento do livro nos dá a entender que houve muitos acasos. Mesmo Darcy ter conhecido Elizabeth foi um acaso. Ter sido forçado a reparar nela foi um acaso (a preocupação dela com a irmã não estava entre os planos da mãe ao fazer com que ela adoecesse e ficasse aos cuidados dos Bingley). Elizabeth nem mesmo queria ir encontrar a amiga recém casada Charlote Collins, mas se viu quase que obrigada a ir. Ela aceitou o convite da tia para visitar Pemberley, mas o tempo todo se certificando de que o acaso não permitiria que ela encontrasse Darcy (felizmente o acaso enganou a ambos). Mesmo a fuga de Lídia enquanto ela ainda estava em Pemberley e a visita de Darcy justo no momento em que soube, foram o acaso que permitiu que ele encontrasse aí uma oportunidade de resgatar sua amada.

Ora como um leitor mais exigente não criticaria tudo isso? É a vida real, por acaso um conjunto de acasos? Há uma cena no filme O Curioso caso de Benjamin Button quando uma personagem sofre um acidente que a incapacita em algumas áreas que mostra os vários acasos que levam certos eventos a ocorrerem em nossas vidas. A Bíblia, por sinal é cheia de acasos. A vida é cheia de acasos. Assim sendo a questão é por que o acaso acontece exatamente da maneira como aconteceu, e não o porquê de tantos acasos, pois eles compõem a vida.

Mas estamos falando de um livro, e dentre vários acasos possíveis, uma situação específica teimou em acontecer várias vezes, Pois Elizabeth e Darcy, por acaso, se encontraram demais. Como justificamos isso? É simples. Era necessário. Tais encontros atendiam as necessidades da autora em levar a história para a conclusão que já conhecemos. Ou seja, a mão da escritora é que força tais acasos, como alguém poderia reclamar, tudo para levar a história para o final que ela deseja.

Assim também há alguém por trás do acaso em nossas vidas. Não poderíamos ser tolos de pensar que há acasos reais, mas temos de ver que Rute foi parar no campo certo pela mesma razão pela qual Darcy voltou a Pemberley um dia antes. Porque o maior dos escritores escreve não livro, mas a vida de Rute. Ele é quem controla a história e sua ação é notável em cada evento que poderia ter sido diferente, mas foi exatamente do jeito que deveria ter sido. Experimente analisar sua vida pela ótica de que há um autor maior no controle. Talvez você não goste de algumas circunstâncias (Elizabeth a princípio também não gostou de vários de seus encontros), mas descobrirá que elas tem uma razão de ser. E principalmente você que já foi encontrado por Jesus, descobrirá que o autor dessa história te ama profundamente e há de cuidar de cada detalhe no decorrer do caminho.

3.2- Submissão e escolha (as observações sobre como Elizabeth deveria escolher)

O livro de Rute é famoso como um livro de relacionamentos, e muitas vezes um exemplo para maridos e esposas. Assim vale a pena perceber a forma como Austen também fala a esse respeito e em alguns aspectos a luz de Rute. Em vários momentos os diálogos dos personagens exprimem opiniões bem interessantes sobre a conduta ideal de homens e mulheres.

Chama-nos a atenção, por exemplo, a quantidade de personagens que colocam no casamento a oportunidade da felicidade. Tanto nos pedidos de casamento do senhor Collins, quanto nos comentários de Elizabeth e Jane quanto a seus possíveis casamentos vale a pena notar que os diálogos sempre envolvem a ideia de encontrar no outro uma felicidade que vá dar-lhes a felicidade. É fato que muitas vezes o termo usado é “felicidade doméstica”, mas vale questionar o porquê destes personagens olharem o casamento como um meio para a felicidade numa sociedade cristã. O meio da felicidade é Cristo, tanto para um casamento saudável quanto para uma solteirice alegre.

Apesar disso, as consequências de olhar o casamento como um meio de felicidade são expostas por Austen. Ora como já citamos, isso é que gerou a postura do senhor Benet quanto a sua esposa e família. Ele, ao perceber que havia escolhido uma mulher que não conseguia satisfazer tudo o que desejava, passou a divertir-se com suas loucuras. Ele passou a ter uma postura bem pouco amorosa, visto que não tinha o desejo de corrigi-la, contudo se sentia compensado em seu infortúnio por poder rir das tolices da família. Talvez isso seja fruto de casar visando no casamento uma solução para a felicidade. O mesmo se pode dizer do vislumbre que temos do casamento de Lídia, em que a paixão inicial morreu rapidamente e apenas a aparência, pelo que se pode observar, segurou o casamento.

Esse tipo de atitude egoísta é a que tanto Rute quanto Boaz não tem ao longo do livro de Rute. É o tipo de atitude que Cristo coloca nos corações dos seus quando ficamos diante do que Ele fez por nós, e isso nos leva a ser companheiros melhores, pais melhores. Assim a tendência natural de um casamento entre pessoas que não são capazes de se dar pela outra é destrutiva. A autodoação que encontra em Cristo sua motivação é sem dúvida uma necessidade no casamento. As palavras da autora ficam como um aviso a todos nós: “Mas era fácil calcular quão breve seria a felicidade de um casal que só se unira porque a paixão era maior do que a virtude”. (AUSTEN, p.421)

É diante desse tipo de visão que a firmeza de Elizabeth que recusa dois pedidos de casamento passa a ter interessante significado. Ela disse não uma vez a Collins por notar que não seria feliz, e disse não a Darcy pelo orgulho com o qual este fala. É observado que ela está numa idade própria a casar, dali a algum tempo ultrapassará o que é visto como um limite. Também sabemos que ela precisa do casamento, já que não pode herdar nada do que pertence ao pai. É em meio a essas dificuldades que a virtuosa personagem não se entrega a uma solução fácil, vendo o casamento como um atalho para a felicidade. Contudo, ela é capaz de perdoar e de notar quando deve dizer sim. E Isso também é virtuoso. O ponto que queremos salientar com tudo isso é que saber observar a pessoa com quem se deseja casar, não apenas como um meio de sobrevivência ou realização, porém perceber prós e contras de como tal relacionamento pode evoluir e ser um meio de transformação de ambas as partes. Se compararmos com o livro de Rute, de fato Boaz é um meio de sobrevivência para Rute, assim como Darcy é um resgatador para Elizabeth, todavia a postura desinteressada de Rute que só vê a possibilidade do casamento quanto levantada por Noemi é uma forma de notarmos a forma como ela confia que Deus lhe dará o que tiver de dar quando for dar. Ela espera o que Cristo tem para ela em todas as áreas, inclusive quanto a sua sobrevivência, ou um novo casamento. A felicidade dela não está nas circunstâncias, a felicidade dela está em Cristo.

Finalmente, a submissão e o respeito também são muito bem tratados no diálogo em que Elizabeth conversa com o pai a respeito do pedido de sua mão feito por Darcy aqui reproduziremos apenas o trecho em que o pai exprime de maneira mais clara suas objeções: “Sei que não poderia ser realmente feliz nem respeitável, a não ser que realmente estime o marido; a menos que o considere superior. A vivacidade dos seus talentos a faria correr os maiores perigos num casamento desigual. Dificilmente você escaparia do descrédito e da infelicidade. Minha filha, não deixe que eu tenha a tristeza de ver você incapaz de respeitar o seu companheiro na vida. Você não sabe o que tem pela frente”.  (AUSTEN, p.461)

Repare que essas objeções tem muito a nos ensinar. Eu aconselharia qualquer mulher a tê-las anotadas em algum lugar para saber se está disposta não só a casar como a namorar alguém que se enquadre nisso tudo. Ele fala sobre estimar o marido, não é apenas uma paixão como Lídia sentiu, trata-se de uma percepção de que você não finge não ver os defeitos do outro em virtude da paixão, entretanto decide que vale a pena tentar transformar essa pessoa apesar disso, você a estima. O considerar superior é na verdade ver nele alguém que tem algo a oferecer. Moças que buscam um namorado apenas porque não veem ninguém mais, muitas vezes encontrarão no rapaz defeitos que os farão parecer pequenos diante delas. Como ser submissa em circunstâncias em que você acha que seu marido é menor do que em você em inteligência, experiência ou a habilidade de liderar? Ver num homem características que atendam a tais expectativas, de maneira que ele não se torne mais um filho do que um marido é essencial. E isso vem do fato que ela é forte. Aqui não é um comentário de que a mulher deve se fazer menor ou tola para ser uma boa esposa, mas pelo contrário deve desenvolver-se o máximo que pode para encontrar num homem alguém que seja capaz de cuidar dessa pessoa que é muito capaz.

Anos atrás havia uma propaganda em que uma mulher abria um pote. Depois de abrir o pote, ela parecia ter uma ideia. Ela o fechava novamente, e levava até o marido pedindo-lhe que abrisse. Ele o abria, e sentia-se forte para ela, enquanto ela saía orgulhosa do que fez. A verdade é que a “vivacidade dos talentos” dessa mulher a fazem ter orgulho de enganar o marido. De fazer com que ele se sinta forte sem ser. O que é preciso é que a mulher encontre no marido uma força muito maior do que essa, necessita encontrar nele um companheiro que faça tudo aquilo que a Bíblia ordena aos homens que façam, como ser um bom líder no lar, e um protetor da esposa. Ela não pode apenas enganá-lo para que ele sinta que é essas coisas sem ser, pois mesmo que ele se sinta forte, ela se sentirá frustrada. Ela precisa que ele seja realmente alguém em quem encontra força.

E por que tudo isso? Porque se ela não ver o seu marido assim, logo não o respeitará, e quando não o respeitar, seu casamento cairá no descrédito de ambas as partes, e até da sociedade. O pai sabe, até por experiência, que se o companheiro não é respeitado, a felicidade se torna muito difícil, pois o próprio sentido do casamento morre, pois talvez para tais pessoas fosse melhor estar só do que acompanhado.

As observações finais, já citadas sobre os ensinamentos quanto a vida conjugal que Elizabeth cedeu a irmã de Darcy provam mais ainda sua força sem perder de vista aquilo que ela deve ser num bom casamento. O texto observa como Giorgiana fica surpresa com a postura de Elizabeth para com Darcy, chegando a ficar alarmada, mas por fim viu que eram liberdades naturais que a esposa pode ter com o marido. O ponto é Elizabeth não é fraca, mas Elizabeth encontra no marido força.

Vale então vermos isso no exemplo de Rute. Que não é uma mulher fraca. Ela sabe o que precisa fazer e faz. Ela cuida de Noemi, ela sai de sua terra com Noemi, ela pega espigas como uma mulher pobre para dividir com Noemi. Mas quando ela recebe a ajuda de um homem de verdade, ela também aceita, pois não é como se regozijasse-se do que faz, ela faz, pois precisa. Quando Boaz apresenta as objeções ao seu casamento por causa do Fulano, ela não se oferece para negociar, sabe que isso é trabalho para ele. Esse casamento tem grandes chances de ser feliz, pois Rute pode dizer de Boaz tudo o que o pai de Elizabeth perguntou a ela. Ela não é fraca, nem finge que é, mas sabe ser ajudada, bem como ajudar. Ela entende como se dar pelo outro, e como receber amor. Nossos casamentos seriam muito mais felizes se fôssemos mais como Rute e Boaz, e porque não dizer, se fôssemos mais como a Elizabeth e Darcy transformados pelo amor no fim do livro.

3.3- Bondade desinteressada ou muito interessada (Darcy ajudando Elizabeth)

A forma como Darcy age pode ser considerada desinteressada? Certamente não. Então o leitor perguntará o porquê do título deste trecho. É que se por um lado ele agiu de maneira a viabilizar o casamento com ela, bem como a posição social de sua família. Não podemos nos enganar e deixar de notar que o personagem é sincero em não querer que ela saiba o que ele fez. E isso exige certo exame.

No momento em que li o incômodo dele com o fato de ela ter tido ciência do que ele fez, percebi que ele fazia isso com sinceridade. Ele entende que aquilo que a mão direita faz é melhor que a esquerda não saiba. Ele não quer ser amado por ter realizado algo bom por ela. Assim como Cristo não gera em nós amor pelas bênçãos que nos deu, ele gera em nós amor porque nos amou primeiro.

Em que isso nos afeta? Podemos aprender com esses personagens que num casamento não se conta vantagem do que se faz, você apenas faz por amor. Não se lava a louça e se diz: já lavei a louça, agora tenho direito de que você limpe o banheiro. Fiz a comida, portanto quero que você me arranje uma sobremesa saborosa. Se o casamento dele com Elizabeth dependesse do que ele fez por ela, no sentido de gerar amor nela, então ele não teria uma esposa, ele teria uma escrava. Uma serva que ali está, pois tem uma dívida para pagar. Perceba quão maravilhoso é ter alguém que esta com você tão somente porque te ama. Valeria observar que o carinho que há entre Boaz e Rute, nesse aspecto faz com que os dois, ainda que de maneira legal e sem jeitinhos tão próprios aos brasileiros, faz com que eles superem o resgatador que poderia resgatá-la antes dele.

Assim a questão é que os atos de Boaz, ou os de Darcy não são uma forma de barganha pela qual estes podem receber algo em troca de suas esposas, nem tão pouco isso poderia ocorrer na situação contrária. A pergunta passa a ser o que move então? Ora, já respondemos acima com o exemplo de Cristo.

Quando Elizabeth mostrou a Darcy que conhecia seus atos e lhe agradeceu, ele deixou claro que a principal consideração que teve em tudo o que fez não foi em momento algum a família de sua amada, mas acima de tudo pensava em Elizabeth. O ponto aqui é que ou o amor nos move a entregar até nossas vidas se preciso for, ou ainda não entendemos o tipo de amor que Cristo nos deu, e nos ensina a oferecer. Novamente, nosso conselho é que sejamos capazes de nos doar uns aos outros, como estes personagens fizeram não por dívidas de gratidão, mas porque o amor floresceu entre eles.

3.4- Transformação de Caráter (Orgulho e Preconceitos dos dois)

O decorrer da trama é uma sequência de segundos olhares, novos exames. Talvez o primeiro caso seja o comentário de Darcy a respeito de Elizabeth que num primeiro momento não vê nada de especial nela. Porém é depois que ele se vê forçado a reparar que os olhos dela lhe dão aquele prazer da beleza da criação de Deus é que ele começa a reparar na beleza de sua futura esposa. Não obstante, são as conversas que lhe permitem ver que a índole de Elizabeth está muito acima de seus familiares, assim como sua percepção é superior a que se esperaria de alguém de sua posição social e com sua educação. Em resumo os preconceitos de Darcy são quebrados pelo conhecer de Elizabeth.

Não muito diferente do que acontece com Elizabeth. Sua leitura de Darcy se mostra completamente equivocada. Num primeiro momento, ela o vê como um homem sovina, porém depois descobre-o generoso. Em outro caso, imagina-o como um invejoso que prejudicou a vida de um pobre Wickham, quando na verdade ele fez mais por Wickham do que este merecia.

Ambos os personagens são orgulhosos, eles inclusive admitem isso ao término da trama. Examinando novamente Darcy, ele nos mostra seu orgulho com um dos piores pedidos de casamento de todos os tempos. Tudo porque queria demonstrar o favor que estava fazendo ao pedir Elizabeth em casamento (perceba aqui a diferença de atitude para com a já citada forma como não desejava créditos pelo auxílio prestado na ocasião do casamento de Lídia). Igualmente, Elizabeth é dita ao longo da trama como uma brilhante julgadora de personalidade, e assim tem de ver toda essa habilidade (que ela realmente tem, e notamos com suas observações ao longo da leitura) se mostrando falha com relação a Darcy, e fazendo com que notasse não só que havia julgado mal, como também que se apaixonara por quem pensava ser impossível.

A questão é que ambos os personagens já não são mais assim ao término da trama. O exemplo claro é Darcy que ao encontrar-se com os tios de Elizabeth tenta mostrar-se o mais amável possível com dois desconhecidos, o que para ele é certamente muito difícil, dados seus modos tímidos. Ele realmente se importa com o bem estar dessas pessoas e isso é fruto de Elizabeth em sua vida. Ela também vê muito do seu agir transformado, os dois comentam disso no fim do livro. E a questão que fica é o porquê de tamanha mudança em características tão difíceis de mudar como o Orgulho e o Preconceito.

Seria fácil afirmar, e certamente não estaria errado, que o evangelho é que é poderoso o suficiente para destruir os nossos preconceitos e orgulhos, mas vamos levar essa discussão com outros termos e mais próprios ao livro. O que quebrou essas falhas nesses personagens foi o amor. E é assim que ele funciona mesmo. O amor demonstrou sua força quando Darcy se humilhou para pedir Elizabeth em casamento. Mas isso ainda não era o suficiente. Ele não podia apenas ter seu orgulho ferido, ele precisava cortar os preconceitos, do contrário essa união jamais seria bem sucedida. Ora, Darcy se casaria com Elizabeth, e esta seria forçada a abandonar sua família, pois ele nunca se rebaixaria a recebê-los, não estariam a sua altura. Igualmente, Elizabeth seria infeliz, pois mesmo que vencidos os preconceitos, ainda seria orgulhosa de ser muito melhor que Darcy em sua dignidade. Ela precisava ter seu orgulho quebrado pela percepção de que não era melhor do que Darcy como pensava. Ele precisava ter seus preconceitos quebrados para ver a esposa como uma igual para então poder dar a ela amor que realmente a pudesse fazer feliz, e só assim ele mesmo poderia ser feliz, como diz um ditado americano: Esposa feliz, vida feliz”.

O tempo passou e Darcy entregou a carta a Elizabeth. Ao lê-la ela teve melhor percepção de quem ele era. Ao ser recusado ele descobriu que não era o ser supremo que poderia julgar ser em relação a ela. E o amor por ela queimou de maneira que ele não guardou mágoa por muito tempo pela recusa, e se sentiu compelido a mudar em tudo que a desagradava. O amor que enfim Elizabeth foi descobrindo por Darcy se revelou aos poucos, mas quando se revelou forçou-a a agir diferente de sua natureza.

Não é assim que o evangelho nos transforma? Primeiro conhecemos o amor de Deus, e em nosso orgulho e preconceito, a nossa natureza é recusar. As razões variam, porque somos espertos demais para acreditar em algo assim (orgulho), porque é tudo uma grande bobagem (preconceito), porque somos bons e podemos salvar a nós mesmos (os dois). Porém quanto mais conhecemos deste amor, mais somos forçados a perceber que não é bem assim, não somos quem pensávamos que éramos, e o amor de Deus é nossa única alternativa que parecia ainda muito distante (assim como Darcy resgatando a família de Elizabeth). Quando isso acontece o amor d’Ele passa a fazer sentido como antes nunca fez. Só então desejamos agradá-lo não pelo medo de ir ao inferno de maneira interesseira como Orfa ou Fulano, contudo queremos agradá-los porque amamos quem nos dedicou tamanho amor. Assim a transformação que ocorreu em Darcy e Elizabeth como relação a esses dois pecados é de alguma forma uma boa analogia daquilo que o evangelho faz conosco.

3.5- Perdão em algum nível

A conclusão do livro nos faz saber que Elizabeth destinava uma parte de suas finanças quando possível a irmã, pois tinha ciência de que esta tinha gastos muito extravagantes e o marido era igual. Elizabeth já não guarda ressentimentos do mal que a irmã quase a fez passar, e realiza o que pode para trata-la bem, mesmo que seja fácil perceber que ela não consegue ser nem agradecida nem afetada pelo bem que lhe é dado apesar do mal que ela praticou.

A mudança, porém mais espantosa é em Darcy, ainda que seja muito inferior a de Elizabeth. Ele continua ajudando Wickham. Lembremo-nos que só a presença de Wickham gerava em Darcy uma conduta de asco. Ou ainda que esse é o homem que quase desgraçou a irmã de Darcy, claramente pela fortuna dela. Ou que desgraçou a sua cunhada, e nem se casaria com ela, se não tivesse sido subornado para tanto. Também é Wickham a pessoa que espalhou mentiras quanto a natureza de Darcy tentando parecer inocente numa historia em que era completamente culpado, de maneira a gerar grande antipatia da mulher que ele amava, quase impedindo seu casamento.

A mudança já é notável pela presença dele no casamento. Ele participa do casamento para garantir que Wickham cumprirá com a palavra. Ele se submete a estar com o homem que lhe gerou tanto prejuízo para gerar um bem que como vimos acima, ele nem pretende que Elizabeth saiba. Ele tolera esse homem porque tem algo de bom a fazer pela amada. Posteriormente, ele também ajuda-o em mais de uma ocasião nas questões financeiras e de trabalho. Apesar disso, pode-se observar que ele não era bem vindo em sua residência, diferentemente de Lídia que podia visitar a irmã.

Compreenderemos o porquê de tais auxílios ao lembrarmo-nos da frase já citada dita a Elizabeth quanto ao porquê de ter ajudado Lídia, ele agiu em consideração a Elizabeth. E mesmo agora já casado, ele pratica o bem por essa pessoa que nada merece, por causa da esposa que talvez ignore suas boas ações. Mesmo que ela não saiba, o que ele faz de bom, ele faz por ela.

É certo que Deus nos perdoou de coisas que nem nos lembramos. É mais certo ainda que não merecemos nada de todo o amor do qual fomos alvos. Também sabemos que muitas vezes ignoramos muito do que Deus faz por nós sendo protegidos de coisas que nem descobriremos que escapamos. O amor do Pai por seu Filho Jesus é tão grande que Ele vê puros aqueles que Ele mesmo comprou através d’Ele. Ele é capaz de nos proteger e perdoar apesar de tudo o que somos.

Darcy só consegue lidar com alguém tão nefasto quanto Wickham porque ama profundamente aquela que está aparentada com ele. E mesmo que a pior coisa pudesse ser aparentar-se em algum nível a Wickham, ele aceita isso por amor dela. A lição que nos é passada ainda que de forma cuidadosa e com todos os códigos de honra de uma Inglaterra do final do século 18 ou início do 19 é que perdão não é algo que se dá porque o outro merece, ele se dá porque amamos. Ele também se dá pela perspectiva. Se Deus nos amou apesar de tudo o que somos, então podemos amar apesar de tudo o que nos fizeram.

No fim do livro de Rute, Noemi consegue ver, em parte a perspectiva de Deus. Ela descobre que o amor d’Ele continua em ação mesmo com todos os erros cometidos por ela e sua família, ele ainda pode perdoar e transformar em benção o que parecia uma perdição imutável (e realmente era, o problema é que para Deus nada é impossível). Tomara o amor d’Ele te transforme de maneira muito mais profunda do que o amor transformou Darcy. Que Deus leve todos nós a perdoar, como tem nos perdoado, e a amar como tem nos amado.

3.    Conclusão

Escrevemos esta análise com o objetivo de apontar as similaridades entre as duas obras que, para nós, confirmam certa ligação entre elas. Acreditamos ter tido êxito nessa demonstração. E esperamos que esse estudo tenha sido útil a você.

Aqui fica uma sugestão. O livro de Rute é uma maravilhosa oportunidade de edificação em diferentes frentes, como pudemos visualizar nessa análise. Então é necessário oferecer aos irmãos a oportunidade de conhecer mais do livro. Se você apreciou esta análise, o conselho é convide pessoas a assistirem o filme, e compartilhar com você a leitura do livro de Rute, quem sabe não se pode ver aí tantas áreas em que se possa crescer. Deus o abençoe!

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