O que você sente quando entra em uma grande livraria, em um sebo ou vai a uma feira de livros? Alegria de criança, excitação, desânimo, desespero, indiferença? Entre um extremo e outro, qual poderia ser a verdadeira contribuição da literatura em nossas vidas?
Para o escritor inglês protestante C.S. Lewis, grande literato e também crítico literário, o que importa não é desenvolver teorias puras sobre a literatura ou sobre o saber que ela veicula, mas atentar para o superávit de experiência humana que ela proporciona.
Não se trata meramente de entender o pensamento do autor ou, como nas versões mais contemporâneas e pós-modernas, de dar a sua interpretação subjetiva do momento, sem levar em conta a intenção do autor. Trata-se na realidade de, por meio da literatura do cotidiano – particularmente da literatura imaginativa e por por mais fantástica que ela possa parecer – apelar para o que Trasncende o aqui e o agora. Todo poeta remete a mais do que a sua própria subjetividade, mesmo que ao olhar uma pedra, veja pedra mesmo, como já expressou a poeta Adélia Prado.
Outro dia, enquanto tentava retomar minha linha de pesquisa, pedia um conselho a uma sumidade em História e leitor assíduo da grande literatura universal. Durante a conversa, aquele intelectual, um agnóstico de carteirinha, surpreendentemente me pediu para lhe ensinar melhor maneira de ler as Escrituras. Minha resposta foi o silêncio, pois não sei nem ao menos se sei como fazer isso. Mas logo em seguida me surgiram várias contra-perguntas: “Como você lê um Shakespeare, um Milton ou um Cervantes? Ao ler a Bíblia, você estará lendo as memórias de quem os inventou.”