O mundo ocidental deve muito de sua cultura à Razão Grega; isto é, aquilo que se denomina Ciência grega. Platão e ristóteles talvez sejam o que melhor representem a presença grega em nossa cosmovisão (quer cristã ou secular). A questão é que, se por um lado o ocidente tem nos gregos o ‘logos’, tem-se de outro o problema do ataque ao Logos cristão. Não é sem muita dificuldade que a Teologia Cristã, acerca da Trindade, teve de se manifestar frente à noção do Uno e do múltiplo e da Substância e da lógica.1
Contudo, as questões da filosofia não era um desafio apenas à fé cristã. O período medieval, juntamente com a redescoberta dos escritos Aristotélicos, descobre três grandes Teólogos-Filosofantes preocupados em defender a perspectiva fé de sua religião contra pontos que se opunham a esta. Os árabes tiveram em Averroes o seu interprete; o cristianismo, Tomás de Aquino e, o judaísmo por sua vez, Moisés Maimônides. Estes procuraram através da interpretação aristotélica associar à Ciência o lugar da Fé.
Embora Maimônides aproxime as concepções filosóficas de Aristóteles à revelação da Escritura vétero-testamentária, ele resiste a metafísica de Aristóteles no que tange à questão da criação ex nihilo. O filósofo deverá valer-se do próprio viés aristotélico a fim de provar que não é i-razoável que o mundo pode ter surgido sem necessidade de matéria alguma, a não ser da vontade divina.2
Buscar uma referência filosófica na defesa das Escrituras além de Tomás de Aquino3 é importante não apenas por situar um período histórico da fé e da ciência Greco/medieval, mas também porque a questão permanece hodierna quando o assunto é a substância e existência dos entes. Já acerca da fé monoteísta, sobretudo cristã, o filósofo judeu corrobora a discussão das causas como originária de uma causa primeira, objetivando a prioridade da Essência no lugar da existência.4
Maimônides considera que para Aristóteles o mundo existe como uma ‘necessidade’ existente no próprio ser divino. Este é a causa e o mundo o seu efeito, e disso resulta que esse é necessário. Além disso, tal ‘necessidade’ não demonstra como é possível a existência do Criador e do mundo como eternos, porém firma ainda mais a união entre os dois. Assim como não se pode explicar como Deus pode ser uno e incorpóreo ou porque existe, o mesmo se pode dizer acerca do mundo.
Além do mais, a teoria da existência do mundo, como necessidade, insere a idéia de que na natureza não há elemento algum sujeito à alteração.Um ser não pode mudar sua natureza, mas conserva o seu estado e, conseqüentemente, como necessário, não poderia ser originado por desígnio, vontade ou intenção de um Ser, haja vista já existir anteriormente a qualquer projeto.6
Destarte, Rambam, quanto a idéia de que é a necessidade que ordena todas as coisas existente, alega que isso se chama desígnio e não necessidade. Quem designou o universo ser como tal é um criador intencional e esse universo poderia ser modificado ou sê-lo de outro modo “ainda que não absolutamente conforme um desígnio qualquer, pois há uma impossibilidade constante por natureza e iniludível”.7
Inserida tal posição, Maimônides revela que o seu propósito é:
declarar mediante argumentos mui próximos à demonstração, que este universo nos revela claramente sua existência por desígnio de um intencionado criador, sem que eu pretenda o que os mutacalimes pretenderam, à saber, aniquilar a natureza do ser proclamando o atomismo (…), e quanto te hei declarado sobre seus princípios, encaminhados unicamente a estabelecer a determinação. 8
O filósofo justifica-se que ao abordar o assunto da determinação, não o fará como o partido citado, haja vista que estes, ao apoiarem-se na teoria atomista, creditaram haver acidentes, isto é, “não há diferença entre plantas individualizadas como vermelhas ou branca, nem como doces ou amargas (…). Tem estabelecido a determinação mediante as proposições”.9
Assim, a determinação que é dada no mundo em todas as suas partes, seja até mesmo a cor de uma flor, não pode ser concebida como necessária. Poderiam ser diferentes do que de fato são. “Caso possuam uma determinada qualidade, esta só pode ser obra de uma Livre Vontade, que escolheu justamente esta entre todas as possibilidades”.10
Fica claro que para o Rambam (Maimônides) a determinação dos objetos particulares não é algo acidental simplesmente porque poderíamos imaginar determinações alternativas; ao contrário o mundo como um todo é interligado, conjugado por leis. É, pois, necessário que atrás da matéria comum às substâncias, haja uma única causa capaz de dar características (ou acidentes?) à todas as coisas diferentes. E, é precisamente a partir de tal necessidade que Maimônides procura expor a contingência do mundo em relação a Deus. Desde então, o filósofo procura refutar as teorias de Aristóteles acerca da eternidade do mundo com duas objeções e, da segunda diz-se desdobrar mais duas. São elas:
1) Aristóteles demonstra que a totalidade dos entes sub-lunares há uma e idêntica matéria, comum a todos: como, pois, se explica a diferença entre os indivíduos de cada espécie? A esta pergunta, o estagirita (Aristóteles) responderia que tal diversidade obedece às modificações nas misturas de tais componentes.11
O movimento das esferas mistura esses elementos e, depois de constituído a mistura temperada, recebe a diversidade nessas, sendo compostas dos acidentes (calor, frio e etc.). Segundo Aristóteles, depois de recebido essas diferentes misturas “a matéria adquire disposições diversas para receber formas variadas” e, estas por sua vez, as preparam para receberem outras e, assim, sucessivamente (p. 294).
2) Se é a mistura de elementos a causa determinante das matérias receberem as diversas formas,
que agente tem preparado essa matéria-prima para que uma parte recebera a forma de fogo, outra a de terra (…) Se tudo tem uma matéria comum, o que é que fez com que a matéria terrena mais apropriada para a forma de terra e a ígnea para a de fogo?
Em outras palavras, Maimônides busca por uma Causa Primeira para que se possa provar a secundária. Se há uma única matéria ou substrato, como do uno surge o múltiplo? A tal questionamento o estagirita responderia que a diferença de lugar é a causa das diversas disposições da matéria única. Cada elemento recebeu forma, qualidade e características típicas de sua aproximação do centro da matéria.
Contudo, o filósofo judeu continua a pergunta: “A matéria da circunferência, quer dizer, do céu, é idêntica a dos elementos?” Tal pergunta recebe como resposta que uma é distinta da outra.12
Maimônides nota que Aristóteles consegue explicar a ordem dada do mundo sub-lunar por sua dependência do mundo das esferas celestes. Que a matéria que é comum a todos os corpos no mundo terrestre deveria assumir uma série de variadas formas, e que os corpos assim constituídos deveriam seguir um ao outro em determinada ordem é explicável, junto com todas as complicações conseqüentes, pela influência das esferas celestes, Mas uma multiplicidade análoga reina dentro destas esferas. Embora sejam compostas da mesma matéria básica, apresentam grande variedade, tanto no que diz respeito à direção e velocidade de seus movimentos (p. 295).
Mas é justamente neste ínterim que Rambam direciona suas perguntas: 1) parece haver uma determinação acerca da matéria das esferas, mas não uma ordem racional, pois há diferença entre elas (quer direção, quer movimento e velocidade); 2) parece não se explicar aqui como uma essência simples pode produzir uma variedade na estrutura das esferas celestes, ou seja, como explicar as diferenças no particular de cada substrato? Aristóteles não dá conta de explicar o porquê das diferenças nas esferas. Conforme Mamônides:
Ainda quando não a menciona explicitamente, se depreende de suas palavras que deseja apresentar-nos sistematicamente a existência das esferas ao igual do subjacente baixo à esfera celeste, de maneira que tudo se origina por necessidade física e, não pela determinação de quem predispõe as coisas absolutamente como Le place. Porém, sem lográ-lo, nem ele é exeqüível, empenhado em pensar o fato de por quê o movimento parte do leste e não do oeste […]. Esforça-se por indicar as causas de tudo isso com o fim de apresentar-nos conforme a uma ordem física devido a necessidade. ‘Entretanto, nada disso tem conseguido’…13
Logo, Maimônides infere que o estagirita percebeu a inconsistência de seu pensamento e confessa a sua incapacidade intelectual para assuntos tão elevados. Assim ratifica a inferência: “Queremos agora investigar detidamente duas questões (…) conforme a capacidade de nosso intelecto, nosso conhecimento e nossa opinião; porém, ninguém deverá acusar-nos de presunção (…) quando examinamos questões elevadas e transcendentais, propondo uma solução…”.
Segundo o filósofo, Aristóteles não arrogou certeza em sua ‘opinião’ ainda mais que a própria matemática era na ocasião ainda imperfeita e a astronomia ainda não tinha atingido o avanço do período medieval (p. 196).
O problema esboçado por Maimônides acerca das diferenças existentes nas esferas, segundo o próprio filósofo, o estagirita procura suprir com a suposição de uma Inteligência separada para cada uma dessas esferas, capaz de mover a cada uma de modo particular.15 Contudo, Aristóteles parece não lograr êxito.
O filósofo judeu procura agora demonstrar que, nas próprias palavras de Aristóteles, não há nenhuma afirmação fiel de que o mundo é eterno. Os comentaristas da obra do estagirita não explicam que o estagirita assevera que essa é a sua ‘opinião’, que é de acordo com a sua ‘capacidade intelectual’ e segundo o seu ‘conhecimento’.
Para o filósofo judeu, essas palavras têm que ser observadas:
nossa opinião, se refere à necessidade, isto é, a eternidade do mundo. A expressão ‘nosso conhecimento’ indica que cada uma dessas entidades celestes, necessariamente tem sua causa e não é obra do azar. Por nosso intelecto entende nossa incapacidade para apreender tais coisas, de modo exato.16
Aliás, Maimônides demonstra como Aristóteles falou de sua própria opinião e capacidade de seu intelecto quando alega que acerca dos diferentes movimentos das esferas celestes, umas esferas hão de ser mais rápidas do que outras quanto mais distantes essas estiverem da oitava esfera. Entretanto, parece não ser isso o que se observou, já que o próprio Maimônides justifica o estagirita ao dizer que, como já advertira, a ciência astronômica não havia alcançado no tempo de Aristóteles o auge de hoje (p. 297).
Maimônides considera que, muito embora, Aristóteles tenha dado explicações acerca das esferas, da matéria-prima e seus substratos de diferentes formas, não conseguiu remontar o caminho inverso do mundo dos sensíveis ao supra-sensíveis.
Na realidade, Aristóteles não dá conta de explicar a passagem dos corpos da potência ao ato, pois a passagem postularia a existência de um princípio atualizador externo à coisa assim modificada. E, ao que parece, Maimônides, quando questiona acerca das diferenças dos particulares das esferas, procura levar a teoria do estagirita até tal postulado. Talvez, disto resultaria que, assim como a impossibilidade de uma regressão infinita de causas levou na primeira prova a um primeiro motor, sirva agora para estabelecer a existência de um primeiro princípio atualizador, livre de toda potencialidade e, portanto, também imaterial em sua natureza.17
Diante de tal “opinião” do estagirita, Maimônides julga mais fácil e mais consistente (a todos quanto professam a criação temporal do mundo) afirmar a existência de um Ser Determinante que prefixou para cada esfera o seu movimento e aceleração.18
Maimônides considera que, se o estagirita estivesse certo em seu argumento acerca da diversidade de movimentos das esferas, ele teria sido estupendo. Se ele estivera correto, poderia de fato que “a particularização havia consistido nas diferenças entre movimentos, como a causa da diversidade dos elementos radica em suas respectivas posições entre a circunferência e o centro do universo”. Mas, conforme já fora observado, não há tal ordem recíproca nem quanto ao movimento nem quanto a reciprocidade das posições das esferas, conclui Rambam.19
Para o filósofo, a idéia da particularização das esferas terrestres sempre em movimento tendo como contrapartida a fixidez dos astros demonstra que a matéria de um é distinta do outro. Daí a conclusão de que há três matérias e três formas. E assim, elenca-os Rambam: 1) corpos em repouso de por si (são os dos astros); 2) corpos sempre em movimento (os das estrelas); 3) corpos ora em movimento, ora em repouso (os elementos). Maimônides vê claramente que tais matérias evocam a idéia de que o mundo não é eterno, mas que, movimento e matéria, diferenças e repouso e etc., emitem-lhe o juízo de que há um agente intencional, e que esses elementos na gozam de tais posições, acidentes e movimentos por necessidade, mas por determinação desse agente. Diz Rambam:
Eu queria saber o que é que juntou essas duas matérias, entre as quais se dá uma extrema diversidade, em minha opinião (…), e quem preparou tal união? Em suma, dois corpos distintos, um dos quais está fixo no outro sem misturar-se e, este, ao contrário, circunscrito e um lugar particular daquele e aderido ao mesmo, sem a ação de um agente intencional, seria algo surpreendente. E, todavia, mais a existência de numerosas estrelas na oitava esfera, todas elas esféricas, umas grandes, pequenas outras, uma aqui, outra ali, à distância aparente de um côvado, aqui dez aglomeradas, ali, uma grande banda vazia.20
Na realidade, Maimônides busca, daqueles que admitem a eternidade do mundo, uma explicação do por que cada esfera e cada astro ocupam lugares diferentes, ora repletos, ora vazios? Por qual motivo parte do algumas partes das esferas convêm ao astro que ali se encontra?
Novamente, vê-se aqui negada pelo filósofo a noção de que o mundo emana obrigatória e necessariamente de Deus. Este é o ponto em que Maimônides entra em desacordo fundamental com o ensino de Aristóteles. Segundo Guttmann, Rambam, “na sua crítica à doutrina aristotélica sobre a eternidade do mundo, ele insiste que sua posição básica à doutrina judaica da criação não se relaciona à questão de saber se o mundo é eterno ou teve inicio no tempo, mas se emanou de Deus por necessidade ou se foi criado livremente por Ele”. 21
Maimônides parece demonstrar com a refutação da emanação do mundo, bem como também, com a implicação da matéria básica composta apresentar grande variedade (entre as estrelas pertencentes às diferentes esferas, suas diferentes velocidades e posições e etc.), que essa variedade não se explica por retrocessão, na série de emanações dos aristotélicos, à essência material precedente. E, conforme Guttmann:
Se, como ensina a doutrina da emanação, uma essência simples só pode produzir outra essência simples, então o ultimo elo de semelhante série de emanações terá de ser simples também. A emanação de objetos corporais, (…) a emanação a partir das idéias simples não apenas das esferas, inclusive das estrelas nelas fixadas, são em si inexplicáveis.22
Se ao inexplicável admite-se que tudo se deve a um ser ou agente intencional com determinado desígnio, já não há mais nada a se investigar, segundo Rambam. Mas, Maimônides expõe algo diretamente ligado à noção de desígnio, isto é, com que finalidade então, as coisas são e estão como estão? Percebe-se que, ao explicar que as esferas movem-se por um desígnio e não por questão de posição, o filósofo se vê abrigado a salientar a questão teleológica. Pois, a ação divina exige não só que a estrutura do mundo deva ser ordenada segundo um propósito, mas também, deva ter uma finalidade. Aliás, o filósofo mesmo é quem suscita a questão: “… a menos que perguntes: qual é a causa de tal desígnio?” E ele mesmo responde: “A única coisa que se sabe pode resumir-se em que tudo sucede por uma razão que se nos escapa e não é uma obra inútil nem fortuita”.23
Logo, se as coisas criadas são necessárias, as são por um desígnio de um agente. E, naquilo que para Aristóteles era prova de que na existência de Deus, o mundo era necessário, isto é, o mundo era tão eterno quanto Deus (já que o movimento é eterno), para Maimônides é prova de que o mundo não é eterno, mas que Deus é necessário para que o mundo exista. A isto diz o Rambam: “Não há duvidas de que todas essas coisas são necessárias conforme o desígnio de quem as planejou e, de todo inconcebível que tal ordem de realidades seja efeito de pura necessidade e não de um desígnio”. Deus é necessário para se explicar a necessidade do mundo por um desígnio, ante a limitação do homem, face “ao todo inconcebível que tal ordem de realidades seja efeito da pura necessidade. Não há prova maior disto, ao meu ver, que a variedade de movimento das esferas e os astros fixos nas esferas… ”.24
O filósofo não esconde que o estagirita explicou corretamente que da matéria pode-se inferir que tenha sido em virtude dos poderes das esferas e suas diferentes posições, contudo, entre os astros e as esferas não se tem explicação, se não que Deus os têm particularizado. Quer sejam os astros ou esferas celestes, quer sejam as coisas do mundo sub-lunar, todos esses não possuem um estado que pertence à suas respectivas essências, porém radicam de um único substrato material, sem que, contudo, tenham movimentos e características racionalmente explicáveis. Isso é exposto por Rambam, a fim de comprovar que Aristóteles, realmente, não explica como do uno se chega a muitos particulares, ou seja, como se dá as diferenças ‘racionalmente inexplicáveis entre substâncias:
Posto que, todas as esferas estão constituídas por uma só e idêntica matéria, o que é que as distingue por determinada natureza com exclusão de outra e, o que possuem tal possessão originária de tal movimento contraposto ao de outras, que compele uma a mover-se em tal direção e a outra em direção contrária?25
Maimônides procura por algo que leve à explicação dos particulares desses elementos diferenciais nas esferas; algo que as levem a ser como são mesmo tendo como iguais a matéria. O filósofo não vê uma necessidade extrínseca no funcionamento do mundo supra-sensível, mas vê as características particulares de cada elemento desse mundo como uma necessidade determinada por algo que as particulariza. Segundo o filósofo, é tal consideração que o leva a investigar duas questões:
1ª é ou não peremptória a necessidade, atendendo à realidade de tais diferenças, de que são devidas ao desígnio de um ser intencionado e, não obra da necessidade? 2ª Supondo que tudo isso seja devido ao desígnio de um ser intencionado que assim particularizou as coisas, pode concluir-se que tudo foi criado depois de sua existência, ou tal particularização sempre existiu?26
Porém, quanto a tais objeções, Maimônides as enseja nos capítulos seguintes.
Enfim, o que se conclui no presente ensaio é que, para o filósofo, não há provas concretas de que o mundo seja eterno, haja vista o próprio Aristóteles ter declarado que tudo era esforço de seu conhecimento e opinião e, não explica o porquê das particularidades existentes entre esferas e astros, e considera-as como necessidade, ao passo que Rambam especificou que não é questão de necessidade, mas determinação. Além do mais, aqueles que defendem a teoria da eternidade do mundo, não conseguem explicar como de uma essência simples torna-se impossível explicar as esferas. Não seria porventura algo simples de explicação?27
REFERÊNCIAS
MAIMÓNIDES, Guia de Perplejos. Trad. de David Gonzalo Maeso. Madrid: Editora Nacional, 1983.
GUTTMANN, J. A filosofia do judaísmo: a história judaica desde os tempos bíblicos até Franz Rosenzweig. Trad. de J. Guinsburg. Editora Perspectiva; s/d.
REALE, G. História da filosofia: Antiguidade e Idade Média, São Paulo: Paulus, 1990.
TILLICH, P. História do pensamento cristão, São Paulo: Aste, 2007, pp.26-111.
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1TILLICH, P. História do pensamento cristão, São Paulo: Aste, 2007, pp.26-111, 186-204.
2 REALE, G. História da filosofia: Antiguidade e Idade Média, São Paulo: Paulus, 1990, p.542: “O livro, Guia dos Perplexos, se dirige a todos aqueles que se encontram sufocados pela perplexidade derivada dos aparentes contrastes entre razão e fé. […] precisamente para demonstrar que a filosofia e a Bíblia, na realidade são conciliáveis. […] pode-se demonstrar que Deus existe e pode-se inclusive chegar a compreender que ele é um ser incorpóreo. As coisas existentes são contingentes, não tendo em si mesmas razões de sua própria existência e, consequentemente, remetendo a um ser necessário.”
3 Idem: “As teses de Moisés Maimônides foram frequentemente retomadas pelos filósofos escolásticos e, “não por acaso o próprio Tomás de Aquino retomou temas e motivos bem próximos aos do teólogo hebraico quando quis fixar os limites da teologia e a filosofia e, ao mesmo tempo, a sua continuidade de âmbito de uma convergência absoluta entre fé e razão.”
4 Este trabalho tem como objetivo demonstrar como Maimônides, no capítulo 19 do livro Guia de Perplejos, expõe a teoria da criação do mundo ex nihilo e, consequentemente algumas falhas na teoria aristotélica de que o mundo existe como necessário, por isso, eterno. Para tal, será utilizada uma metodologia de análise estrutural e terá como fonte primária a referida obra do filósofo, bem como para auxílio em notas, a obra A filosofia do judaísmo de J. Guttmann.
5 MAIMÓNIDES Guia de Perplejos. Trad. de David Gonzalo Maeso. Madrid: Editora Nacional, 1983,Cap. 19, p. 293: “Assim como não cabe dizer Dele, porque nem como existe assim, é dizer, Uno e incorpóreo, de igual modo sobre o mundo e o seu conjunto porque razão e assim existe, pois tudo isso, a causa e o efeito, necessariamente existe assim, nem cabe em um e outro a absoluta inexistência, nem mudança de como são”.
6 Maimônides procura demonstrar que, Deus ao criar o mundo do nada, concedeu a este a eternidade. Contudo, esta não está fora de Sua Vontade soberana, que não estabelece uma lei fixa para si próprio. Podendo assim fazer que o mundo volte à sua inexistência quando Ela bem quiser.
7Idem.
8Ibidem.
9Ibidem, p. 293-294.
10GUTTMANN, Julius. A filosofia do judaísmo: a historia da filosofia judaica desde os tempos bíblicos até Fraz Rosenzweig.Ed. Perspectiva.
11“Essa matéria comum recebeu quatro formas, acompanhada cada uma de duas qualidades e, mediante essas quatro, se transforma nos elementos daquilo que se integram […]. O substrato de uma só forma específica possui uma grande extensão em quantidade e qualidade, a qual originou a variedade de indivíduos de uma mesma espécie […]”.
12MAIMÓNIDES. Guia de Perplejos, Trad. de David Gonzalo Maeso. Madrid: Editora Nacional, 1983, p. 294-295.
13Idem, p. 295, 296.
GUTTMANN, Julius. A filosofia do judaísmo: a história judaica desde os tempos bíblicos até Franz Rozweing. p. 221, 222: “ […] A segunda prova que se assemelha a uma das demonstrações do Kalam para a criação do mundo, mencionada pelo Rambam, baseia-se nas diferenças racionalmente inexplicáveis entre substâncias. Os quatro elementos, dos quais são compostos todos os corpos terrenos, radicam num substrato material. Por que motivo uma parte dessa matéria assume a forma de um elemento e outra, a forma de um elemento diferente? Isto permanece um mistério para nós, do mesmo modo que não podemos explicar como substâncias compostas, inteiramente diferentes, são derivadas de tais elementos . As substâncias celestiais também compartem de uma matéria, no entanto as esferas celestes diferem uma da outra na direção e velocidade de seus movimentos, e no número de estrela que contêm. Tal variedade de características específicas só pode dever-se à ação de uma vontade livre. A racionalmente inexplicável variedade de forma das substâncias mostra que o mundo é obra de um Deus, o qual cria por meio de Sua livre Vontade. (…) Maimônides (…) reconhece claramente que a diferença entre as substâncias não estabelece o fato de terem sido criadas, mas apenas fornece uma prova negativa contra a teoria da emanação”.
14ARISTÓTELES apud MAIMÓNIDES, Guia de Perplejos, Trad. de David Gonzalo Maeso. Madrid: Editora Nacional, 1983 p. 296
15MAIMÓNIDES, Guia de Perplejos. Trad. de David Gonzalo Maeso. Madrid: Editora Nacional, 1983,p, 296. Talvez fosse uma tentativa de Aristóteles para explicar as diferenças nos particulares, ou talvez, Maimônides ressaltou tal assuntou aqui para relevar a sua teoria de que esta ordem dos céus só pode ser explicada como obra da vontade divina.
16 Idem. p. 296: “Se Aristóteles tivesse sido capaz, como pensava de dar-nos a razão da diversidade dos movimentos nas esferas, de maneira que diligentes estivessem de acordo com sua posição recíproca, teria sido estupendo”
17GUTTMANN, Julius. A filosofia do judaísmo: história da filosofia judaica desde os tempos bíblicos até Franz Rosenzweig. Editora Perspectiva. p. 187- 188: “[…] Maimônides só pode provar a origem do mundo como um todo a partir de Deus, por dedução a partir da existência contingente das coisas. Nesta prova, portanto, o movedor do mundo no primeiro argumento torna-se a causa do ser de todas as coisas. Como no mundo da corporeidade, os moventes imateriais das esferas celestes também têm sua origem em Deus, uma vez que só pode haver um ser necessariamente existente, e porque em geral uma pluralidade de seres imateriais só em geral possível se um deles for a causa da multiplicidade. … Maimônides não infere a existência de uma causa do mundo, essencialmente necessária, a partir da impossibilidade de uma série de causas infinitas, mas demonstra que o mundo não poderia existir ao menos que houvesse um ser cuja essência excluísse a não-existência”.
18MAIMÓNIDES, Guia de Perplejos. Trad. de David Gonzalo Maeso. Madrid: Editora Nacional, 1983, p. 297: “[…] ainda que ignoramos de que modo essa Sabedoria procedeu para que tais existam de tal maneira”.
19Idem, p. 297.
20Idem. p. 297-298.
21GUTTMANN, Julius. A filosofia do judaísmo: a história da filosofia judaica desde os tempos bíblicos até Franz Rosenzweig. Editora Perspectiva. p. 194: “[…]Maimônides liga, porém, o conceito de livre ação com ao começo temporal do mundo; a tentativa de explicar a eterna processão do mundo a partir de Deus em termo de um eterno atuar de vontade divina é vista com algo que disfarça a oposição entre conseqüência necessária e livre criação. Terá Deus plasmado o mundo como Seu soberano senhor conforme sua vontade ou terá Ele obrigado a obedecer às eternas leis do universo? A discussão desse problema é guiada, em Maimônides, pelo desejo de substituir o sistema aristotélico da necessidade por um sistema de liberdade compatível com a soberania divina, e de acordo com o caráter voluntarista da idéia judaica de Deus”.
22Idem. p.297.
23MAIMÓNIDES. Guia de Perplejos. Trad. de David Gonzalo Maeso. Madrid: Editora Nacional, 1983.p.298.
24 Idem. Para o filósofo, os profetas da Tora tomaram os astros e as esferas como prova da necessária existência de Deus. O filósofo enumera passagens bíblicas onde se menciona que os céus são determinados e feitos por Deus.
25Ibidem. p. 299.
26Ibidem.
27GUTTMANN, Julius. A filosofia do judaísmo: a história da filosofia judaica desde os tempos bíblicos até Franz Rosenzweig. Editora Perspectiva: “[…] A emanação de objetos corporais, como as esferas celestes e, a fortiori, a emanação a partir das inteligências simples são em si inexplicáveis. Mas é tanto menos compreensível como uma tal emanação haveria de produzir essa racionalmente inexplicável variedade na estrutura das esferas celestes. Esta dada ordem dos céus só pode ser explicada como obra da vontade divina”.