Introdução à Cosmovisão Reformada: Anotações quase aleatórias(4)

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Leia antes a parte 3 aqui

3. A REFORMA: TRABALHO E VOCAÇÃO

“Se seguirmos fielmente nosso chamamento divino, receberemos o consolo de saber que não há trabalho insignificante ou nojento que não seja verdadeiramente respeitado e importante ante os olhos de Deus” — João Calvino.1

“Esta mania de prazer pode tomar conta das pessoas de tal forma que elas passem a negligenciar seu trabalho, suas profissões e, até mesmo, sua reputação. O prazer se transforma num poder tão sufocante que elas se deixam controlar por ele. Já se levantam pela manhã decididas a ir atrás dele e continuam até à noite. A happy-hour é o que interessa, não o trabalho pesado honesto, o trabalho real, não a preocupação com viver uma vida plena” — David Martyn Lloyd-Jones.2

Introdução
A Palavra de Deus parte do princípio da soberania de Deus sobre todas as coisas. Deus é o Senhor! Na sua relação conosco, Deus estabelece sinais dessa soberania que servem para nós como indicativo do seu poder, mantendo-nos sempre atentos ao fato de que Deus é o Senhor a quem devemos amar, honrar e obedecer. Neste sentido, Deus concedeu o domínio aos nossos primeiros pais sobre todas as coisas criadas reservando exclusividade apenas sobre uma árvore (Gn 2.16-17). Deus, que nos dá todas as coisas, estabelece o dízimo como o sinal de que tudo que temos lhe pertence: Deus é o proprietário da terra e o originador de todas as bênçãos (Lv 25.23; Sl 24.1; 100.3/1Cr 29.11,14/Sl 50.9-13). Portanto, o melhor deve ser dado a ele (1Sm 2.29; Ml 1.6-14). Quanto ao tempo, Deus como Criador e Senhor do tempo nos concede o livre uso desse bem. Requer, no entanto, a guarda do sábado, o dia de santo descanso (Ex 20.8-11). Não pensemos com isso que Deus precise da árvore reservada, do nosso dízimo e do nosso tempo; Deus de nada precisa. Ele estabeleceu estes limites para o nosso bem, para a nossa educação e, o principal, para a nossa comunhão com ele, em quem há vida abundante.

Visando à formação da cultura, o nosso desenvolvimento pessoal e social, Deus concede habilidades ao ser humano a fim de que este, no legítimo uso destes dons, possa, entre outras coisas, se realizar como pessoa glorificando a Deus no progresso da sociedade, apresentando o fruto do seu trabalho como ato de culto, reconhecendo em Deus o doador e mantenedor de todas as coisas.

Adão e Eva que tinham todas as coisas diante de si, nem por isso foram privados de guardar e cultivar o jardim do Éden (Gn 2.15). Partindo desta perspectiva, a grandeza de nosso trabalho não está simplesmente no que fazemos — embora haja atividades que sejam em si mesmas repulsivas ou que não deveriam fazer parte de nossas expectativas por contribuírem para o prejuízo de nosso próximo3  —, mas em como o fazemos,4  implicando aí o seu objetivo último. Desta forma, a consagração5  às nossas vocações revela a seriedade com que olhamos o nosso Senhor e a nossa missão. Não há satisfação maior do que atender à vocação de Deus. Alegrar-nos em Deus significa ter o prazer da sua comunhão em alegre obediência.6

A. O sábado do Senhor
1) Terminologia

O substantivo hebraico shabbãth, “sábado”, ao que parece, é derivado do verbo shãbbath,7 que significa “cessar”, “desistir”, “descansar”, “deixar”, “desaparecer”, “chegar ao fim” (Gn 2.2,3; 8.22; Jó 32.1; Is 13.11; 17.3; Jr 31.36) e, conforme o contexto, “parar de trabalhar”.8 A ideia que a palavra sugere é a de uma obra concluída. A correspondência das palavras é extraída de Gn 2.2-3, quando diz que Deus depois de concluir a sua obra, no sétimo dia “descansou” (shebiy`iy). No entanto, deve ser enfatizado que Gn 2 de forma alguma trata do sábado como dia a ser guardado.9

Shabbãth ocorre pela primeira vez em Ex 16.23: “Respondeu-lhes ele: Isto é o que disse o SENHOR: Amanhã é repouso (shabbathon), o santo sábado (shabbãth) do SENHOR; o que quiserdes cozer no forno, cozei-o, e o que quiserdes cozer em água, cozei-o em água; e tudo o que sobrar separai, guardando para a manhã seguinte”. Groningen conclui que “o termo deve ser entendido como tendo um sentido geral de intervalo, um tempo entre outros, separado para propósitos religiosos específicos. Em suma, sábado significa “um dia santo”.10

No grego, a palavra é apenas transliterada do hebraico, sábbaton, preservando o mesmo sentido. Algumas vezes a palavra indica “semana” inteira (Mc 16.2; Lc 18.12; Jo 20.1,19; At 20.7; 1Co 16.2), visto que os demais dias não tinham nomes, sendo designados por números ordinais: 1º, 2º… O domingo era o primeiro dia da semana.11

No Novo Testamento, encontramos a expressão kyriakos (“do Senhor”, “pertencente ao Senhor”), que é derivada do kyrios, “Senhor”. Kyriakos só ocorre duas vezes no NT; em 1Co 11.20, “Ceia do Senhor”, indicando a sua instituição ou posse do Senhor; e em Ap 1.10 quando especificamente fala do “Dia do Senhor” (kyriakê hêmera).

Já o termo domingo é proveniente do latim, dies dominica, (dia do Senhor) que traduz o grego kyriakê hêmera. A expressão latina teve influência cristã visto que os romanos designavam originariamente esse dia de dies solis (dia do sol).12

2) A origem

As Escrituras registram que após ter criado todas as coisas nos céus e na terra, no sétimo dia Deus descansou da obra da criação;13 ele completou o que iniciou.14 Temos então, negativamente, a conclusão de sua obra criativa e, positivamente, a santificação do sétimo dia (Gn 2.2-3).15 A palavra “sábado” não ocorre na narrativa de Gênesis, contudo, é-nos dito posteriormente em linguagem antropomórfica: “Porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o SENHOR abençoou o dia de sábado (shabbãth) e o santificou” (Ex 20.11). Posteriormente, isto é reafirmado, dizendo que nesta ocasião Deus “descansou, e tomou alento” (Ex 31.17). “Deus não descansa da fadiga, mas em contentamento pela realização completada”.16 Do mesmo modo, o povo de Deus, juntamente com todos os seus, seguindo o seu Criador, deve tomar alento nesse dia (Ex 23.12).

A admoestação de Deus sobre o povo na tentativa de recolhimento do maná para o dia seguinte, ocorrendo isso antes da entrega da Lei, atesta a instrução anterior de Deus ao povo quanto à necessidade de guardar este dia. Ou seja: antes da prescrição dos Dez Mandamentos já havia o ensino de Deus quanto ao sábado. Na Lei, temos assim, a sua “codificação”.

4 Então, disse o SENHOR a Moisés: Eis que vos farei chover do céu pão, e o povo sairá e colherá diariamente a porção para cada dia, para que eu ponha à prova se anda na minha lei ou não. 5Dar-se-á que, ao sexto dia, prepararão o que colherem; e será o dobro do que colhem cada dia. (…) 16 Eis o que o SENHOR vos ordenou: Colhei disso cada um segundo o que pode comer, um gômer17 por cabeça, segundo o número de vossas pessoas; cada um tomará para os que se acharem na sua tenda. 17 Assim o fizeram os filhos de Israel; e colheram, uns, mais, outros, menos. 18 Porém, medindo-o com o gômer, não sobejava ao que colhera muito, nem faltava ao que colhera pouco, pois colheram cada um quanto podia comer. 19 Disse-lhes Moisés: Ninguém deixe dele para a manhã seguinte. 20 Eles, porém, não deram ouvidos a Moisés, e alguns deixaram do maná para a manhã seguinte; porém deu bichos e cheirava mal. E Moisés se indignou contra eles. 21 Colhiam-no, pois, manhã após manhã, cada um quanto podia comer; porque, em vindo o calor, se derretia. 22 Ao sexto dia, colheram pão em dobro, dois gômeres para cada um; e os principais da congregação vieram e contaram-no a Moisés. 23 Respondeu-lhes ele: Isto é o que disse o SENHOR: Amanhã é repouso, o santo sábado do SENHOR; o que quiserdes cozer no forno, cozei-o, e o que quiserdes cozer em água, cozei-o em água; e tudo o que sobrar separai, guardando para a manhã seguinte. 24 E guardaram-no até pela manhã seguinte, como Moisés ordenara; e não cheirou mal, nem deu bichos. 25 Então, disse Moisés: Comei-o hoje, porquanto o sábado é do SENHOR; hoje, não o achareis no campo. 26 Seis dias o colhereis, mas o sétimo dia é o sábado; nele, não haverá. 27 Ao sétimo dia, saíram alguns do povo para o colher, porém não o acharam. 28 Então, disse o SENHOR a Moisés: Até quando recusareis guardar os meus mandamentos e as minhas leis? 29 Considerai que o SENHOR vos deu o sábado; por isso, ele, no sexto dia, vos dá pão para dois dias; cada um fique onde está, ninguém saia do seu lugar no sétimo dia. 30 Assim, descansou o povo no sétimo dia” (Ex 16.4,5;16-30).18

3) O significado
O Antigo Testamento insiste no fato de que o sábado é do Senhor (Ex 16.23; 20.10; Lv 23.3), realçando, inclusive, a sua relevância para o povo. “Nenhum outro mandamento é tão fortemente enfatizado como este”.19

Devemos destacar que os preceitos divinos que têm origem circunstancial têm geralmente aplicação temporal; desaparecendo as circunstâncias, cessa a sua necessidade. Por outro lado, quando a razão da Lei é de ordem permanente, a Lei permanece.20 Portanto, devido a guarda do sábado estar contida no Decálogo — os princípios que devem nortear nossas relações com Deus e com nosso próximo —, o preceito divino permanece para todas as épocas.21 “Os ‘Dez Mandamentos’ retêm um caráter tão obrigatório com relação ao crente da nova aliança como o princípio da fé que formava a essência central da fase abraâmica da aliança da redenção”.22

A) SIGNIFICADO ESPIRITUAL
O sábado foi abençoado (Gn 2.3; Ex 20.11) e santificado por Deus (Gn 2.3; Ex 20.8,11; 31.14; Dt 5.12); ele tornou-se um dia especial para o seu povo, sendo também um sinal da Aliança perpétua entre Deus e nós23 (Ex 31.16-17).24 Um sinal de nossa santificação operada por Deus (Ez 20.12). O sábado é que confere sentido correto à nossa vida, trabalho e demais relações. É no descanso do Senhor que encontramos o real sentido de nossa existência.25

Quando comparamos o 4º mandamento — já conhecido e desobedecido, daí o “lembra-te” (Ex 20.8) — com os outros, vemos que este é o mais extenso (Ex 20.8-11), sendo detalhado e relacionado com o descanso de Deus (Gn 2.2-3). É digno de nota que Deus avaliou a sua criação como muito boa; no entanto, somente o sábado foi santificado, “dando talvez a entender que o clímax da criação não foi a criação do homem, mas o dia de descanso, o sétimo dia”26 ou, mais provavelmente, significando que o sábado foi abençoado não como fim em si mesmo, mas como um dia concedido por Deus para o homem; o homem foi criado primeiro. O sábado foi criado por causa do homem e para ele, atendendo às suas necessidades (inclusive metafísicas) dentro do propósito divino que inclui o homem em sua inteireza.

Jesus Cristo instrui: “O sábado foi estabelecido por causa (“veio a existir”, “foi feito”) do homem, e não o homem por causa do sábado” (Mc 2.27). “Deus criou o Sábado porque ele era para o bem do homem e de toda a criação”.27 O sábado como bênção de Deus para o homem mantém sempre viva nossa memória no fato de que Deus criou o mundo e tudo que nele há (Gn 2.2-3; Ex 20.11),28 descrevendo também uma situação histórica (a libertação do Egito) que prefigura a libertação por vir; a obra recriadora de Deus (Dt 5.15).29

Hendriksen comenta: “O sábado foi instituído para ser uma bênção para o homem: para mantê-lo saudável, útil, alegre e santo, dando-lhe condições de meditar calmamente nas obras do seu Criador, podendo deleitar-se em Jeová (Is 58.13,14) e olhar adiante, com grande expectativa, para o ‘repouso que resta para o povo de Deus’ (Hb 4.9)”.30

B) O SIGNIFICADO SOCIAL
O sábado faz uma conexão oportuna e ilustrativa de nossas obrigações para com Deus e para com o nosso próximo, daí a sua ênfase também social. Logo, longe de se tornar um fardo, deveria ser motivo de alegria.

Nele está embutido o conceito de igualdade entre os homens e a necessidade que todos têm de descanso. O sábado não é para alguns, mas para todos; ele tem um alcance mundial abrangendo homens, mulheres, crianças, cativos, animais e a própria terra. Para os servos e aqueles que estão sob o domínio dos outros, há a possibilidade de alívio de suas tarefas (Ex 20.8-11; Dt 5.12-15).31 O sábado, além de uma ampla função social, tem também um sentido ecológico; a terra deve descansar, além de semanalmente, em cada sete anos e, finalmente, no quinquagésimo ano. A terra deve também usufruir o ano sabático (Lv 25.1-12). Para o judeu a contagem sabática era mais relevante do que a década; boa parte de sua mensuração do tempo era feita por meio de sete dias, meses e anos (Gn 7.4,10; 8.10,12; 29.18,20,27).32 Quanto à questão humanitária, vemos a recordação ao povo de que eles foram escravos no passado; portanto, sabiam o quão explorados foram e como desejavam de forma mais imediata o descanso de suas pesadas cargas. O sábado servia para que todos tomassem alento (Ex 20.10; 23.12; Dt 5.13-15).33 Calvino comenta que “embora o sábado tenha sido ab-rogado, ainda tem vigência entre nós (…) para que servos e trabalhadores tenham um descanso de seu labor”.34

Dando um salto histórico, no Novo Testamento, parece razoável associar o recolhimento de oferta para as igrejas necessitadas de Jerusalém com o primeiro dia da semana, o “sábado cristão” (1Co 16.1-2).35

4) O sábado como resultado do trabalho
O sábado tem um sentido objetivo e outro subjetivo. Considerando o sábado de forma objetiva, vemos que Deus o criou para ser o dia santificado a si e também o nosso dia de descanso no qual tomamos alento na própria dedicação litúrgica ao Senhor. De modo subjetivo, contudo, o sábado tem sentido de descanso. Portanto, dentro dessa perspectiva, o sábado só pode ser considerado por aquele que trabalhou arduamente durante os outros dias, não necessariamente os seis dias (nem que seja à procura de trabalho). O descanso segue naturalmente a ordem de trabalho extenuante (Ex 34.21; Lv 23.3; Dt 5.13-14).36 O descanso pressupõe uma obra completa, realizada dentro dos nossos recursos, inclusive considerando o tempo disponível (Gn 2.2; Dt 5.13).37

B. O trabalho como algo essencial ao homem

“O trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade” — Voltaire. 38
                    
“Melhor é sustentar do suor próprio, que do sangue alheio. (…) Não há maior maldição numa casa, nem numa família, que servir-se com suor e com sangue injusto” – Padre Antonio Vieira.39

1) O compartilhar de Deus
Mesmo não abrindo mão de sua soberania, Deus compartilha com as suas criaturas o seu poder. O nosso domínio está sob o domínio de Deus. O nosso domínio concedido é sobre as obras, todas elas de Deus. A criação é produto da vontade poderosa de Deus; foi ele quem a estabeleceu. Somente o Deus que é o proprietário de tudo pode legitimamente delegar poderes.

A Criação não é produto do acaso ou de uma enorme coincidência de mistura de gases, antes foi produzida pelas mãos de Deus. Ele pôde contemplar a sua Criação e se deleitar nas obras de suas mãos.40 No salmo 8, o salmista também contempla extasiado a Criação: “Quando contemplo os teus céus, obra (ma`aseh) dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste (…). Deste-lhe domínio sobre as obras (ma`aseh) da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste” (Sl 8.3,6). Em outro lugar: “Em tempos remotos, lançaste os fundamentos da terra; e os céus são obra (ma`aseh) das tuas mãos” (Sl 102.25).
 
O profeta reconhece que somos produto da vontade de Deus: “Mas agora, ó SENHOR, tu és nosso Pai, nós somos o barro, e tu, o nosso oleiro; e todos nós, obra (ma`aseh) das tuas mãos” (Is 64.8).

As obras de Deus são admiráveis revelando aspectos de sua maravilhosa grandeza: “Não há entre os deuses semelhante a ti, Senhor; e nada existe que se compare às tuas obras (ma`aseh)” (Sl 86.8). “Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras (ma`aseh) são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem” (Sl 139.14).

O contemplar as obras de Deus proporciona a nós um deleite espiritual e uma adoração sincera: “Grandes são as obras (ma`aseh) do SENHOR, consideradas por todos os que nelas se comprazem” (Sl 111.2). “4 Pois me alegraste, SENHOR, com os teus feitos; exultarei nas obras (ma`aseh) das tuas mãos. 5 Quão grandes, SENHOR, são as tuas obras (ma`aseh)! Os teus pensamentos, que profundos!” (Sl 92.4-5).

Na contemplação meditativa da Criação podemos perceber aspectos da bondade de Deus que nos aliviam em nossas dores e limitações, nos concedendo a visão da harmoniosa variedade e beleza daquilo que criou. Nesta visão, somos conduzidos a nos admirar e a glorificar a Deus por sua manifestação de sabedoria, bondade e graça para conosco. O salmista demonstra isso:

Que variedade, SENHOR, nas tuas obras (ma`aseh)! Todas com sabedoria as fizeste; cheia está a terra das tuas riquezas” (Sl 104.24).

O SENHOR é bom para todos, e as suas ternas misericórdias permeiam todas as suas obras (ma`aseh)” (Sl 145.9).

Justo é o SENHOR em todos os seus caminhos, benigno em todas as suas obras (ma`aseh)” (Sl 145.17).

Surpreendentemente, desde a Criação o homem foi colocado numa posição acima das outras criaturas, cabendo-lhe o domínio sobre os outros seres criados, sendo abençoado por Deus com a capacidade de procriar-se (Gn 1.22).41 

Charnock (1628-1680)42 observa que o fato da Criação de Deus ter em si a capacidade de se propagar conforme a ordem divina —“Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei as águas dos mares; e, na terra, se multipliquem as aves” (Gn 1.22) — revela o poder do Criador. Deus por sua Palavra cria o mundo e, segundo o exercício deste mesmo poder, capacita as suas criaturas a se propagarem, tornando “o ser humano como co-criador criado”. 43

Como indicativo da posição elevada em que o homem foi colocado, o Criador compartilha com ele — abençoando e capacitando-o44 — do poder de nomear os animais — envolvendo neste processo inteligência e não arbitrariedade45  —, e também de dar nome à sua mulher (Gn 2.19,20,23; 3.20).
 
E mais: Deus delega-lhes poderes para cultivar (‘abad) (lavrar, servir, trabalhar o solo) e guardar (shãmar) (proteger, vigiar, manter as coisas)46 o jardim do Éden (Gn 2.15/Gn 2.5; 3.23), demonstrando a sua relação de domínio, não de exploração e destruição, antes, um cuidado consciente, responsável e preservador da natureza (Sl 8.6-8).47

Todavia, todas estas atividades envolvem o trabalho compartilhado por Deus com o ser humano. O nomear, procriar, dominar, guardar e cultivar refletem a graça providente e capacitante de Deus. É neste particular — domínio —, que o homem foi bastante aproximado de Deus pelo poder que lhe foi outorgado.
 
Ao homem foi conferido o poder de ir além da matéria, podendo raciocinar, estabelecer conexão e visualizar o invisível. “O pensamento e o conhecimento do homem, apesar de serem extraídos de seu cérebro, são todavia em sua essência uma atividade inteiramente espiritual, pois transcendem aquilo que ele pode ver e tocar”.48

Ao homem, portanto, foi concedido o privilégio responsabilizador de pensar, analisar, escolher livremente o seu caminho de vida,49 verbalizar os seus pensamentos e emoções, podendo, assim, dialogar com o seu próximo (Gn 3.6) e com Deus (Gn 3.9-13), sendo entendido por ele e entendendo a sua vontade. Portanto, desde o início estava constituída uma comunidade, já que “comunicar é uma maneira de compreensão mútua”.50 (Trataremos deste ponto mais à frente.)

Quando usamos adequadamente os recursos que Deus nos confiou para dominar a terra, estamos cumprindo o propósito da criação glorificando a Deus. É necessário, portanto, que glorifiquemos a Deus em nosso trabalho pela forma legítima como o executamos. Devemos estar atentos ao fato de que o nosso domínio está sob o domínio de Deus. A Criação pertence a Deus por direito; a nós por delegação de Deus (Sl 24.1; 50.10-11; 115.16).51 Ele mesmo compartilhou conosco este poder, contudo, não abriu mão dele. Teremos de lhe prestar contas.
    
Por isso, ainda que o nosso domínio seja demonstrado, especialmente pelo avanço da ciência, novos desafios surgem. A plenitude deste domínio temos em Cristo Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

Algo admirável no salmo 8, é que o salmista em seu hino começa com Deus, glorificando o nome de Jeová (hwhy), e conclui tornando a Ele, testemunhando com júbilo a magnificência de Seu nome em toda a terra: “Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! Pois expuseste nos céus a tua majestade. (…) 9 Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico e,m toda a terra é o teu nome! (Sl 8.1,9). A Criação revela de forma majestosa o nome de Deus. No homem, de modo especial, tal majestade é vista de forma ainda mais eloquente.52

2) Definição de trabalho
Trabalho pode ser definido como o esforço físico ou intelectual, com vistas a um determinado fim. O verbo “trabalhar” é proveniente do latim vulgar tripaliar: torturar com o tripallium. Este é derivado de tripalis, cujo nome é proveniente da sua própria constituição gramatical: tres & palus (pau, madeira, lenho, estaca), que significava o instrumento de tortura de três paus e que também servia para “ferrar os animais rebeldes”.53  O tripallium também era um instrumento de três paus aguçados que, algumas vezes munidos de pontas de ferro, eram utilizados pelos agricultores para bater o trigo, as espigas de milho e o linho para rasgá-los e esfiapá-los.54 A ideia de tortura evoluiu, tomando o sentido de “esforçar-se”, “laborar”, “obrar”.55 Le Goff nos chama a atenção para uma conexão interessante: a condenação de Adão — que após a Queda obteria o alimento em “fadigas” — e Eva, que daria a luz “em meio de dores”, dizendo: “A origem etimológica da palavra ‘trabalho’ aparece com um sentido particular na locução ‘sala de trabalho’, designando ainda hoje a sala de parto em uma maternidade”.56

Etimologia à parte, devemos observar que o trabalho apresenta as seguintes características:57

a) Envolve o uso de energia, “força em ação”, destinada a vencer a resistência oferecida pelo objeto que se quer transformar — intencionalidade;

b) O trabalho se propõe sempre a uma transformação ainda que pequena;

c) Todo o trabalho está ligado a uma necessidade pessoal e social;

d) Todo trabalho traz como pressuposto fundamental o conceito de que o objeto sobre o qual trabalha é de algum modo aperfeiçoável, mediante o emprego de determinada energia contribuindo para o progresso da sociedade — esforço e perseverança.
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1João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, São Paulo: Novo Século, 2000, p. 77.
2David Martyn Lloyd-Jones, Uma Nação sob a Ira de Deus: estudos em Isaías 5, 2. ed. Rio de Janeiro: Textus, 2004, p. 64-65.
3Quanto a estas, veja-se: Klaas Runia, Vocação: In: Carl F.H. Henry, org. Dicionário de Ética Cristã, São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 604.
4“Todas as chamadas são de Deus, e tudo o que nós fazemos na vida cotidiana deve ser feito para louvor de Deus, seja estudo, ensino, pregação, negócios, indústria ou trabalho doméstico” (A.A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro, São Paulo: Cultura Cristã, 1999, p. 74).
5“Não há gente pequena e gente grande no verdadeiro sentido espiritual, mas só gente consagrada e gente não consagrada. O problema para cada um de nós é aplicar essa verdade a nós mesmos: será que Francis Schaeffer é o Francis Schaeffer de Deus? (…) O tamanho do lugar não é importante, mas sim a consagração naquele lugar” (Francis A. Schaeffer, Não Há Gente sem Importância, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 22,27).
6“Deus não é um sádico, dirigindo-nos a fazer o que não queremos, só para nos ver sofrer. Ele deseja que tenhamos alegria em tudo o que nos guia a fazer, mesmo naquelas coisas que a princípio recusamos, e que parecem desagradáveis” (J.I. Packer, O Plano de Deus para Você, 2. ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2005, p. 117).
7Cf. Victor P. Hamilton, Shãbat: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998 (reimpressão), p. 1521; W. Stott, Sábado: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1983, Vol. IV, p. 265; Harold H.P. Dressler, O Shabbath no Antigo Testamento: In: D.A. Carson, org., Do Shabbath para o dia do Senhor, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 23. Veja-se também: Hendrik L. Bosman, Sabbath: In: Willem A. VanGemeren, gen. editor. New International Dictionary of Old Testament Theology & Exegesis, Grand Rapids, Michigan: Zondervan, 1997, Vol. 4, p. 1157-1162.
8Cf. Victor P. Hamilton, Shãbat: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, p. 1520-1521.
9Cf. Harold H.P. Dressler, O Shabbath no Antigo Testamento: In: D.A. Carson, org., Do Shabbath para o dia do Senhor, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 28-29.
10Gerard Van Groningen, O Sábado no Antigo Testamento: Tempo para o Senhor, Tempo de Alegria nele: In: Fides Reformata, São Paulo: Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper, 3/2 (1998): 156.
11Cf. D.K. Lowery, Dia do Senhor: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, São Paulo: Vida Nova, 1988, Vol. I, p. 460.
12Cf. Cf. D.K. Lowery, Dia do Senhor: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Vol. I, p. 461; Dominar: In: Antônio Geraldo da Cunha, Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa, 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991, p. 276.
13Notemos que Deus cessou a obra da criação, não de preservação (Jo 5.17). “O termo em si (descansou) não significa ociosidade, inatividade completa. Significa parar de fazer alguma coisa, ficar livre da mesma. Humanamente falando, isso pode ser dito de Deus em relação à sua obra criadora” (Gerard Van Groningen, O Sábado no Antigo Testamento: Tempo para o Senhor, Tempo de Alegria nele (II): In: Fides Reformata, 4/1 (1999), p. 133). Ver também: Gerard Van Groningen, O Sábado no Antigo Testamento: Tempo para o Senhor, Tempo de Alegria nele: In: Fides Reformata, 3/2 (1998), p. 156).
Mas, o que significa preservação? Preservação (conservatio, sustentatio ou preservatio) é aquela contínua operação do poder de Deus, pela qual ele sustenta e preserva todas as coisas contingentes — a Criação —, a fim de que possam cumprir ordenadamente o propósito para o qual foram criadas. Isto significa que a Criação de Deus não tem poderes em si mesma para autoexistir; sem a sustentação de Deus o universo deixaria de existir. “Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu ser, sustentando todas as cousas pela palavra do seu poder…” (Hb 1.3). A natureza como a criação em geral não pode ser considerada separadamente de Deus, pois deste modo ou ela torna-se o centro de todas as coisas (idolatria) ou é menosprezada, tornando-se apenas um detalhe cósmico, o qual o homem pode usar a seu bel-prazer com objetivos egoístas e, portanto, destruidores. Por isso, partilho do conceito de que é impossível uma genuína ecologia divorciada da teologia bíblica. A questão “ecológica” é, antes de tudo, uma questão teológica.
Sem a preservação de Deus nada mais existiria; tudo teria voltado ao nada. Por isso, podemos afirmar sem nenhum constrangimento que até mesmo Satanás e os seus anjos são alvo da bondade preservativa de Deus; sem a sustentação divina, eles voltariam ao nada, que é a ausência do ser. (Dt 33.12, 25-28; 1Sm 2.9; Ne 9.6; Sl 145.14,15; At 17.28; Cl 1.17; Hb 1.3).
14“Deus está enfatizando nesta passagem que, sendo um Deus fiel, ele completa o que começa” (Gerard Van Groningen, O Sábado no Antigo Testamento: Tempo para o Senhor, Tempo de Alegria nele: In: Fides Reformata, 3/2 (1998), p. 163). Do mesmo modo: Geerhardus Vos, Teologia Bíblica do Antigo e Novo Testamentos, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 174.
15Cf. C.F. Keil; F. Delitzsch, Commentary on the Old Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, (s.d.), Vol. 1, (Gn 2.1-3), p. 68.
16Fred Van Dyke, et. al., A Criação Redimida, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999, p. 86. Do mesmo modo, Kidner: “É o repouso da realização cumprida, não da inatividade, pois ele nutre o que cria” (Derek Kidner, Gênesis: Introdução e Comentário, São Paulo: Vida Nova/Mundo Cristão, 1979, (Gn 2.1-3), p. 50).
17Equivalente aproximado à porção de uma xícara de chá, 200 ml.
18Veja-se: G.H. Waterman, Sábado: In: Merrill C. Tennet, org. ger., Enciclopédia da Bíblia, São Paulo: Cultura Cristã, 2008, Vol. 5, p. 269.
19W. Stott, Sábado: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, Vol. IV, p. 265.
20Vejam-se: Charles Hodge, Systematic Theology, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1986 (reprinted), Vol. III, p. 325; Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Comentada por A.A. Hodge, São Paulo: Editora Os Puritanos, 1999, p. 344-345, 381; Gerard Van Groningen, O Sábado no Antigo Testamento: Tempo para o Senhor, Tempo de Alegria nele: In: Fides Reformata, 3/2 (1998), p. 155.
21Veja-se: Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Comentada por A.A. Hodge, p. 382.
22O. Palmer Robertson, Cristo dos Pactos, Campinas: Luz para o Caminho, 1997, p. 67.
23Veja-se: Harold H.P. Dressler, O Shabbath no Antigo Testamento: In: D.A. Carson, org., Do Shabbath para o Dia do Senhor, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 26-27; 30ss.
24 16 Pelo que os filhos de Israel guardarão o sábado (tB’v;) (shabbãth), celebrando-o por aliança perpétua nas suas gerações. 17 Entre mim e os filhos de Israel é sinal para sempre; porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, e, ao sétimo dia, descansou (tabf$) (Shãbbath), e tomou alento (Ex 31.16-17).
25Veja-se: John W. R. Stott, O Discípulo Radical, Viçosa, MG.: Ultimato, 2011, p. 46-47.
26Cf. Victor P. Hamilton, Shãbat: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, p. 1522; W. Stott, Sábado: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, Vol. IV, p. 266.
27O. Palmer Robertson, Cristo dos Pactos, p. 63. Veja-se: D.A. Carson, Jesus e o Shabbath nos quatro evangelhos: In: D.A. Carson, org., Do Shabbath para o dia do Senhor, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 65-66; 91-92.
28Veja-se: Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Comentada por A.A. Hodge, p. 381.
29Veja-se: Gerard Van Groningen, O Sábado no Antigo Testamento: Tempo para o Senhor, Tempo de Alegria nele (II): In: Fides Reformata, 4/1 (1999), p. 136. “O sábado abre a criação para o seu verdadeiro futuro; no sábado festeja-se antecipatoriamente a redenção do mundo, o sábado é a presença da eternidade no tempo e uma prova do mundo vindouro” (J. Moltmann, Doutrina Ecológica da Criação, Petrópolis: Vozes, 1992, p. 394).
30William Hendriksen, Comentário do Novo Testamento: Exposição do Evangelho de Marcos, São Paulo: Cultura Cristã, 2003, (Mc 2.27), p. 144.
31Cf. João Calvino, As Institutas, II.8.28/II.8.32; Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Comentada por A.A. Hodge, São Paulo: Editora os Puritanos, 1999, p. 381-382; Catecismo de Genebra, Perg. 180: In: Catecismos de la Iglesia Reformada, Buenos Aires: La Aurora, 1962; G.H. Waterman, Sábado: In: Merrill C. Tennet, org. ger., Enciclopédia da Bíblia, São Paulo: Cultura Cristã, 2008, Vol. 5, p. 269-270; A.T. Lincoln, Do Shabbaath para o Dia do Senhor: uma perspectiva bíblica e teológica: In: : D.A. Carson, org., Do Shabbath para o dia do Senhor, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 419-420.
32Veja-se: Alfredo Edersheim, Festas de Israel, São Paulo: União Cultural Editora, (s.d.), p. 7ss.
33Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro (Ex 20.10).
34João Calvino, Instrução na Fé, Goiânia: Logos Editora, 2003, Cap. 8, p. 26.
35Cf. Victor P. Hamilton, Shãbat: In: R. Laird Harris, et. al. eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, p. 1522.
36Seis dias trabalharás, mas, ao sétimo dia, descansarás, quer na aradura, quer na sega” (Ex 34.21). “13 Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. 14 Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu boi, nem o teu jumento, nem animal algum teu, nem o estrangeiro das tuas portas para dentro, para que o teu servo e a tua serva descansem como tu (Dt 5.13-14).
37Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra (Dt 5.13).
38Voltaire, Cândido, São Paulo: Martins Fontes, 1990, XXX, p. 159.
39Padre Antonio Vieira, Sermão da Primeira Dominga de Quaresma (pregado na cidade de São Luís do Maranhão no ano de 1653). In: Sermões, Porto: Lello & Irmão, Editores, 1945, Vol. III, iv, p. 18 e v, p. 22.
40Veja-se: Gene Edward Veith, Jr., De Todo o teu entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 115-117.
41“Embora aos homens seja de natureza infundido o poder de procriar, Deus quer, entretanto, que seja reconhecido a sua graça especial que a uns deixa sem progênie, a outros agracia com descendência, pois que dádiva sua é o fruto do ventre” (Sl 127.3) (João Calvino, As Institutas, I.16.7).
42S. Charnock, Discourses Upon The Existence and Attributes of God, 9. ed. Michigan: Baker Book House, 1989, Vol. II, p. 47ss.
43Devo esta expressão ao teólogo luterano Philip J. Hefner. No entanto, deve ser observado que o autor emprega a expressão numa acepção distinta da minha (Veja-se: Philip J. Hefner, A Criação: In: Carl E. Braaten; Robert W. Jenson, editores, Dogmática Cristã, São Leopoldo: Sinodal, 1990, Vol. I, p. 327).
44Ver: Gerard Van Groningen, Revelação Messiânica no Velho Testamento, Campinas: Luz para o Caminho, 1995, p. 97.
45É muito interessante a abordagem deste exercício de Adão analisado pelo campo da semiótica. Veja-se: Umberto Eco, A Busca da Língua Perfeita na Cultura Europeia, 2. ed. Bauru: EDUSC, 2002, p. 25ss.
46Vejam-se: Gn 3.24; 30.31; 2Sm 15.16; Sl 12.7; Is 21.11-12.
47Veja-se: Francis A. Schaeffer, Poluição e a Morte do Homem, p. 48-50.
48Herman Bavinck, Teologia Sistemática, Santa Bárbara d’Oeste: SOCEP, 2001, p. 18.
49Veja-se: Confissão de Westminster, IX.1-2.
50Rollo May, Poder e Inocência, Rio de Janeiro: Artenova, 1974, p. 57-58.
51Veja-se: John W. R. Stott, O Discípulo Radical, Viçosa: Ultimato, 2011, p. 45.
52“O homem, por haver sido criado à imagem de Deus, nos revela muito sobre o ser do Criador” (H.H. Meeter, La Iglesia y Estado, 3. ed. Grand Rapids, Michigan: TELL., (s.d), p. 26).
53“O nome da máquina [tripalium) de três pés destinada a ferrar os animais indóceis, tornada a maneira corrente de designar um instrumento de tortura” (Jacques Le Goff; Nicolas Truong, Uma História do Corpo na Idade Média, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006, p. 65).
54Cf. Suzana Albornoz, O que É Trabalho, 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 2004 (6ª reimpressão), p. 10.
55Cf. Trabalho: In: José Pedro Machado, Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, Lisboa: Confluência, 1956, II, p. 2098; Trabalhar: In: Aurélio B.H. Ferreira, Novo Dicionário da Língua Portuguesa, 2. ed. rev. aum. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p. 1695; Antônio Geraldo da Cunha, Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa, 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991, p. 779; Trabajar: In: J. Corominas, Diccionário Crítico Etimológico de la lengua Castellana, Madrid: Editorial Gredos, (1954), Vol. 4, p. 520-521; Trabalho: In: Antonio Houaiss, ed. Enciclopédia Mirador Internacional, São Paulo: Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1987, Vol. 19, p. 10963-10964; Jacques Le Goff, Trabalho: In: Jacques Le Goff; Jean-Claude Schmitt, coords. Dicionário Temático do Ocidente Medieval, Bauru/São Paulo: Editora da Universidade Sagrado Coração/Imprensa Oficial do Estado, 2002, Vol. 2, p. 559-560.
56Jacques Le Goff, Trabalho: In: Jacques Le Goff; Jean-Claude Schmitt, coords. Dicionário Temático do Ocidente Medieval, Vol. 2, p. 560. Do mesmo modo: Jacques Le Goff; Nicolas Truong, Uma História do Corpo na Idade Média, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006, p. 66.
57Cf. Paul Schrecker, Work and History, Princeton, New Jersey: Princeton University Press, 1948, p. 12-18. Veja-se também: Trabalho: In: José Ferrater Mora, Dicionário de Filosofia, São Paulo: Loyola, 2001, Vol. 4, p. 2900-2903.

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