E. Uma Compreensão Reformada das Escrituras
A Confissão de Westminster (1647)4 – que juntamente com os Catecismos Maior e Breve, normalmente constituem os Símbolos de Fé das Igrejas Presbiterianas –, segundo nos parece, tem como pressuposto fun-damental:
a) Que as Escrituras são inspiradas por Deus (CW., I.2,8) – Ele é o seu Autor (CW., I.4);
b) Tendo Deus as concedido “para serem a regra de fé e de prática” (CW., I.1-2); portanto,
c) Ela é “indispensável” para a vida cristã (CW., I.1), devendo ser lida e estudada “no temor de Deus” (CW., I.8). Por isso, a Igreja deve promover a sua tradução para todos os idiomas, a fim de que o homem possa, pela Palavra, conhecer a Deus, adorando-O de forma aceitável, bem como usufruir das bênçãos espi-rituais decorrentes da compreensão das Escrituras (CW., I.8). O objetivo do correto conhecimento de Deus não é a nossa satisfação pessoal e, também, não tem valor em si mesmo, a menos que nos conduza a honrar-Lhe.5
A) AUTORIDADE INTERNA
“A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu Autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a palavra de Deus” (CW. I.4).6
A autoridade da Bíblia é derivada do fato de ser Ela a Palavra de Deus; portanto o seu testemunho é interno e evidente, mesmo que os homens assim não creiam. Ela não depende do nosso testemunho para ter autori-dade; ela é o que é! (1Ts 2.13; 2Tm 3.16; 2Pe 1.20,21/1Jo 5.9).
“… A nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo, que pela palavra e com a palavra testifica em nossos corações” (I.5).
“… Reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das cousas reveladas na palavra….” (I.6).7
Anglada resume bem este ponto, do seguinte modo: “O testemunho do Espírito não é uma nova luz no cora-ção, mas a sua ação através da qual Ele abre os olhos de um pecador, permitindo-lhe reconhecer a verdade que lá estava, mas não podia ser vista por causa da sua cegueira espiritual”.8 Cabe a nós submeter o nosso juízo e entendimento à verdade de Deus conforme testemunhada pelo Espírito.9
A Palavra de Deus direcionada ao homem, revela a seriedade com que Deus nos trata: “Sempre que o Senhor se nos acerca com sua Palavra, Ele está tratando conosco da forma mais séria, com o fim de mover todos os nossos sentidos mais profundos. Portanto, não há parte de nossa alma que não receba sua influência”.10
B) AUTORIDADE HERMENÊUTICA
A Bíblia apresenta a melhor interpretação a respeito dos seus ensinamentos!
“A regra infalível de interpretação da Escritura é a mesma Escritura; portanto, quando houver questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura (sentido que não é múltiplo, mas único), esse texto pode ser estudado e compreendido por outros textos que falem mais claramente” (CW., I.9).
Nós não podemos criar uma suposta categoria científica a qual se torne a varinha de condão para a inter-pretação da Palavra. Os princípios hermenêuticos devem estar subordinados à esta verdade e, devem ser de-rivados, portanto, da própria Palavra: A harmonia do seu todo e das suas partes estabelecem uma unidade harmoniosa, por meio da qual, formulamos os princípios de interpretação, tendo como mestres, os profetas – que interpretaram os acontecimentos passados e a história dos seus dias –, Jesus Cristo e os apóstolos, os quais deram lições práticas de hermenêutica, interpretando o Antigo e o Novo Testamentos.11
Posteriormente li a advertência do Dr. David M. Lloyd-Jones (1899-1981): “Quão importante é dar-nos con-ta do perigo de começar com uma teoria e impô-la às Escrituras! (…). Temos que ser cuidadosos quando es-tudamos as Escrituras para não suceder que elaboremos um sistema de doutrina baseado num texto ou numa compreensão errônea de um texto”.12
F.F. Bruce (1910-1990), está correto, ao afirmar que:
“Os crentes possuem um padrão permanente e um modelo no uso que nosso Senhor fez do Antigo Testamento, e uma parte do atual trabalho do Espírito Santo no tocante aos crentes é abrir-lhes as Escrituras, conforme o Cristo ressurreto as abriu para os dois discípulos no caminho para Emaús (Lc 24.25ss)”.13
Quando nos aproximamos da Bíblia partimos do pressuposto de que ela é o registro fiel e inerrante da Reve-lação de Deus (Jo 10.35; 1Tm 1.15; 3.1; 4.9; 2Tm 3.16; 2Pe 1.20-21); por isso, podemos dizer como Paulo: “Fiel é a Palavra” (1Tm 3.1; 4.9). É por intermédio das Escrituras que aprendemos que o melhor intérprete da Palavra é “o Espírito falando na Escritura”14 (Mt 22.29,31; At 4.24-26; 28.25; 1Co 2.10-16). Antes de buscarmos aplicar o texto temos de descobrir no texto o seu sentido que nos foi dado pelo seu próprio Autor.15 O Senhor Jesus Cristo instrui aos seus discípulos: “Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunci-ará as cousas que hão de vir” (Jo 16.13). “Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as cousas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (Jo 14.26/Jo 5.30; 14.6; 17.17).
A oração do exegeta cristão, que usa os meios científicos disponíveis, deve ser como a do salmista: “Des-venda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei” (Sl 119.18/Lc 24.44-45; Ef 1.16-19).
C) AUTORIDADE NORTEADORA
“Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Tes-tamentos, todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e de prática….” (CW., I.2).
Como bem sabemos, a Escritura é infalível não a nossa interpretação, portanto, devemos buscar sempre nas Escrituras o sentido pleno da revelação. A Teologia é uma reflexão16 interpretativa e sistematizada da Palavra de Deus. Não existe teologia inspirada infalivelmente por Deus. A sua fidedignidade estará sempre no mesmo nível da sua fidelidade à Escritura. A relevância de nossa formulação não dependerá de sua “beleza”, “popularidade” ou “significado para o homem moderno”, mas sim na sua conformação às Escrituras.17 O mérito de toda teologia está no seu apego incondicional e irrestrito à Revelação; a melhor interpretação é a que expressa o sentido do texto à luz de toda a Escritura,18 ou seja, em conexão com toda a verdade revela-da. Não há nada mais edificante e prático do que a Verdade de Deus!19
A Teologia Reformada é uma reflexão baseada na Palavra em submissão ao Espírito, buscando sempre uma compreensão exata do que Deus revelou e inspirou pelo Espírito e, que agora, nos ilumina pelo mesmo Espí-rito (Ef 1.15-21/Sl 119.18).
É a partir desta compreensão que a Teologia Reformada passa a avaliar tudo o mais, como bem expressou J.I. Packer: “O calvinismo é uma maneira teocêntrica de pensar acerca da vida, sob a direção e controle da própria Palavra de Deus”.20 O Calvinismo envolve uma nova cosmovisão, que afeta obviamente todas as áreas de nossa existência, não havendo escaninhos do ser e do saber aonde a perspectiva teocêntrica não se faça presente de forma determinante em nossa epistemologia doutrinária e existencial.
A preocupação dos Reformadores era principalmente “a reforma da vida, da adoração e da doutrina à luz da Palavra de Deus”.21 Desta forma, a partir da Palavra, passaram a pensar acerca de Deus, do homem e do mundo!
Aqui parece-nos relevante destacar a observação de A. Kuyper (1837-1920),22 de que não devemos conside-rar a Revelação Especial ou a Escritura como fonte da Teologia (“fons theologiae”), tendo em vista que o termo “fonte” no estudo científico tem um significado mui definido. Em geral denota uma área de estudo so-bre a qual, o homem como agente ativo, faz uma triagem para a sua pesquisa, como na Botânica, Zoologia e História; neste caso, o objeto de estudo é passivo; o homem é quem é ativo, debruçando-se sobre o fenômeno para extrair do objeto o conhecimento desejado. Assim sendo, usando o termo neste sentido, tem-se a im-pressão, de que o homem como agente ativo, pode se colocar sobre as Escrituras, para descobrir ou tirar dela o conhecimento de Deus, que ali está passivamente esperando o seu descobridor… Sabemos que isto não é verdade! Deus Se revela ao homem e mais uma vez, ativamente fornece os meios para a compreensão desta revelação: O Espírito Santo. A Teologia sempre será o efeito da ação reveladora, inspiradora e iluminadora de Deus por intermédio do Espírito. Daí que, falar de Teologia Americana, Europeia ou da América Latina, se constitui, no mínimo, numa ignorância bíblica: Ou a Teologia é Bíblica ou não é Teologia; surja em que continente for, em que movimento for, em que regime político for.23
A Teologia nunca é a causa primeira; sempre é o efeito da ação primeira de Deus em revelar-se. “No princípio Deus…“, isto deve ser sempre considerado em todo e qualquer enfoque que dermos à realidade.24 Deus Se revela e Se interpreta por meio do Espírito; e é somente por intermédio dEle que poderemos ter um genuíno conhecimento de Deus. “O Espírito Santo é a chave para todo verdadeiro conhecimento”.25 “Só quando Deus irradia em nós a luz de seu Espírito é que a Palavra logra produzir algum efeito. Daí a vocação interna, que só é eficaz no eleito e apropriada para ele, distingue-se da voz externa dos homens”.26
A teologia sempre é relativa: “relativa à revelação de Deus. Deus precede e o homem acompanha. Este ato seguinte, este serviço, são pensamentos humanos concernentes ao conhecimento de Deus.”27
Deus não se deixa invadir pela razão humana ou mesmo pela fé; Ele se dá a conhecer livre, fidedigna e ex-plicitamente; Deus Se revela a Si mesmo como Senhor, e “Senhorio significa liberdade”.28
Sem a revelação, o homem passaria toda a sua vida e estaria na eternidade sem o menor conhecimento de Deus ou de sua negação (não existiria “teísmo” nem “ateísmo”); por mais engenhosos que fossem os seus métodos, por mais sistemáticos que fossem as suas pesquisas; por mais que evoluísse a ciência… O homem nunca conseguiria chegar a Deus ou mesmo à sua ideia: Ignoraria eternamente a própria ignorância!29 Entretanto, Deus continuaria sendo o que sempre foi: O Senhor! Todavia, graças a Deus porque Ele soberana-mente Se Revelou a Si mesmo, para que pudéssemos conhecer-Lhe e render-Lhe toda a glória que somente a Ele é devida.30 Em Cristo nós somos confrontados com o clímax e plenitude da revelação de Deus (Jo 14.9-11; 10.30; Cl 1.19; 2.9; Hb 1.1-4); “No Filho temos a revelação última de Deus. Da mesma forma como é verdade que quem viu o Filho viu o Pai, também é verdade que quem não viu o Filho, não viu o Pai”.31 Jesus Cristo é a medida da revelação!
Lembremo-nos mais uma vez das palavras de A. Kuyper, de que o homem não pode se colocar sobre a Bíblia para fazer uma investigação de Deus; Deus é Quem se comunica, Quem se dá; Ele é sempre o Sujeito, nunca o objeto na relação do conhecimento. Somos o que se chamaria de “positivistas teológicos“,32 isto porque, partimos sempre da revelação contida nas Escrituras, nunca da especulação filosófica ou metafísica; e é justamente isto que nos distingue de forma marcante de outros sistemas teológicos.33
A Teologia Reformada reconhece a centralidade real de Deus em todas as coisas, tendo como alvo principal, não o tão decantado bem-estar humano – que por certo tem a sua relevância34 –, mas a Glória de Deus, sa-bendo que as demais coisas serão acrescentadas (Mt 6.33; Ef 1.11-12).35
Para nós Reformados, é a Palavra de Deus que deve dirigir toda a nossa abordagem e interpretação teológica, bem como de toda a nossa compreensão do real; a epistemologia cristã é determinada pelas “lentes“ da Palavra. O Espírito por meio da Palavra é Quem deve nos guiar à correta interpretação da Revelação.
D) AUTORIDADE PARA NOS CONDUZIR A DEUS
“Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência manifestam de tal modo a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, todavia não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e de sua vontade, necessário à salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade (…) foi igualmente servido fazê-la escrever toda” (CW., I.1).
“A própria luz da natureza no homem, e as obras de Deus, claramente testificam que existe um Deus; porém, só a sua Palavra e o seu Espírito o revelam de um modo suficiente e eficaz, aos homens, para a sua salvação” (Catecismo Maior, Pergunta 2).
Nós Reformados entendemos que sem as Escrituras, não podemos ter um conhecimento correto e salvador de Jesus Cristo (Jo 5.39/Rm 10.17), como bem observou Calvino (1509-1564): “Ora, já que, em razão de sua obtusidade, de modo nenhum pode a mente humana chegar até Deus, salvo se assistida e sustentada por Sua Sagrada Palavra”.36
Todavia, também sabemos que este conhecimento não deve ter um fim em si mesmo; a revelação foi-nos dada a fim de que fossemos conduzidos ao Deus da revelação (Jo 5.39-40), adorando-O na liberdade do Es-pírito e nos parâmetros da Palavra.37 Sem as Escrituras, Cristo não pode ser conhecido salvadoramente. O conhecimento de Cristo deve implicar sempre na Sua adoração. “O culto é a essência e o coroamento da ati-vidade cristã”.38
E) AUTORIDADE PARA JULGAR A NOSSA TEOLOGIA
“O Velho Testamento em Hebraico (…) e o Novo Testamento em Grego (…) sendo inspirados imediatamente por Deus, e pelo seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, são, por isso, autênticos, e assim em todas as controvérsias religiosas a Igreja deve apelar para eles como para um supremo tribunal….” (CW., I.8).
“… O Juiz Supremo, em cuja sentença nos devemos firmar, não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura” (CW., I.10).
Para nós Reformados o valor da teologia estará sempre subordinado à sua fidelidade bíblica. Por isso é que reafirmamos que, a Teologia ou é Bíblica ou não é Teologia.39 Não julgamos a Bíblia; antes, é Ela que deve julgar a veracidade do nosso sistema: O Espírito falando por meio da Palavra, é o fogo depurador da genuína Teologia.40 A nossa doutrina estará de pé ou cairá à medida que for ou não bíblica. A vivacidade da Teologia Reformada está em sua preocupação em ser fiel às Escrituras.
F) AUTORIDADE COMPLETA
“Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do ho-mem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela” (CW., I.6).
A Escritura é a revelação completa de Deus; tudo o que Deus quer que saibamos a respeito da nossa salvação está registrado de forma explícita (CW. 1.7). As demais verdades reveladas, “que precisam ser obedecidas, cridas e observadas para a salvação” podem ser compreendidas por intermédio de uma interpretação lógica, amparada no conjunto dos ensinamentos bíblicos (CW., I.6).
G) AUTORIDADE ESCRITA FINAL
“…. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos ho-mens….” (CW., I.6).
Entendemos que nos 66 Livros canônicos encontra-se a Revelação Escrita de Deus, registrada de forma iner-rante. À Bíblia, não se fará nenhum acréscimo, correção ou eliminação (Dt 4.2;12.32; Mt 5.18; Ap 22.18,19). Ela é a palavra final de Deus, no que se refere à Sua vontade para nós: A Revelação é completa – atingindo tudo o que Deus deseja –, e final: permanece para sempre.
O que afirmamos, exclui obviamente, a aceitação dos apócrifos (CW. I.3), as supostas revelações complementares,41 as interpretações “oficiais” (CW., I.4) e a tradição verbal ou escrita (como no caso da igreja romana).42
Daqui concluímos que o nosso sistema doutrinário deve permanecer sempre aberto a uma volta, a um rees-tudo das Escrituras. O nosso sistema doutrinário, por melhor que seja – e eu estou convencido de que é –, não pode ser mais rico do que a Palavra de Deus, como bem observou Berkouwer (1903-1996): “Porventura a Escritura não é mais rica do que qualquer pronunciamento eclesiástico, por mais excelente e atento ao Verbo divino que este possa ser?”.43 Por isso, o critério último de análise, será sempre “O Espírito Santo falando na Escritura” (CW. 1.10).44
F. A Igreja sob as Escrituras
“É insustentável e ilícito introduzir no governo e no culto da igreja qualquer coisa que não tenha a sanção positiva das Es-crituras” – William Cunningham.45
“Além de promover a pregação clara do evangelho, a Reforma moldou a sociedade como um todo, inclusive o governo, a cosmovisão das pessoas e a cultura em todas as suas manifestações” – Francis A. Schaeffer.46
Calvino sempre manifestou um alto apreço pelas Escrituras; elas são “A Palavra pura de Deus”,47 a “Sagrada Palavra de Deus”,48 “Santa Palavra”,49 “Palavra da verdade”,50 “Palavra de Vida”,51 Infalível,52 que tem “segura credibilidade”:53 é íntegra.54 Por isso ela é a “Norma da fé”,55 “Infalível norma de Sua sacra vontade”.56
Esta Palavra, portanto, antecede à Igreja: “Se o fundamento da Igreja é a doutrina profética e apostólica, impõe-se a esta haver assistido certeza própria antes que aquela começasse a existir”.57 Portanto, como decorrência lógica, não é a Igreja que autentica a Palavra por sua interpretação,58 como a igreja romana sustentou em diversas ocasiões;59 “um testemunho humano falível (como o da igreja) não pode moldar o fundamento da divina fé”.60 É a Bíblia que se autentica a si mesma como Palavra autoritativa de Deus61 e é Ele mesmo Quem nos ilumina para que possamos interpretá-la corretamente (Sl 119.18). “A carne não é capaz de tão alta sabedoria como é compreender a Deus e o que a Deus pertence, sem ser iluminada pelo Espírito Santo”.62 Por isso, o Espírito não pode ser separado da Palavra.63 Somente pela operação divina poderemos reconhecer a Sua origem divina bem como compreendê-La salvadoramente. “A suprema prova da Escritura se estabelece reiteradamente da pessoa de Deus nela a falar”.64 Portanto, a pretensão da igreja de subordinar a autoridade da Bíblia ao seu arbítrio consiste numa “blasfêmia”: “É chocante blasfêmia afirmar que a Palavra de Deus é falível até que obtenha da parte dos homens uma certeza emprestada”.65 Em outro lugar: “…. a Palavra do Senhor é semente frutífera por sua própria natureza”.66
“Nós sabemos que esses livros [das Escrituras] são canônicos, e a regra segura de nossa fé (Sl 19.9; 12.7), não tanto pelo comum acordo e consentimento da Igreja quanto pelo testemunho e persuasão interior do Espírito Santo”.
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1
“Interpretação significa, exatamente, enxergar como elas se aplicam. Os comentários podem indicar-nos o que o texto significa como uma expressão da mente do escritor para a audiência original, mas apenas o Espírito Santo pode mostrar-nos o que ele significa como Palavra de Deus para a direção de nossas vidas, hoje. Somente através do Espírito a direção das Escrituras é uma realidade” (J.I. Packer, O Plano de Deus para Você, 2. ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2005, p. 113).2“…. O exemplo de Calvino precisa fazer-nos lembrar quais devem ser os nossos principais objetivos. É muito fácil nos impressi-onarmos com os problemas exegéticos ou com as necessidades devocionais que percebemos; em ambos os casos, acabamos permitindo que a mensagem central e simples do texto tome uma posição secundária. Se, porém, tivermos em mente que não há motivo mais importante do que a edificação da igreja – sendo a base para isso o próprio ensinamento de Deus e não a nossa imaginação – nossos esforços permanecerão concentrados no significado histórico intencionado pelo autor bíblico” (Moisés Silva, Em Favor da Hermenêutica de Calvino: In: Walter C. Kaiser Jr.; Moisés Silva, Introdução à Hermenêutica Bíblica, São Paulo, Cultura Cristã, 2002, p. 246).
3“O significado das Escrituras é as Escrituras. Se você não interpretar a passagem corretamente, então você não tem a Palavra de Deus, porque apenas o significado verdadeiro é a Palavra de Deus” (John F. MacArthur Jr., Princípios para uma Cosmovisão bíblica: Uma mensagem exclusivista para um mundo pluralista, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2003, p. 41).
4Doravante citada como CW.
5J. Calvino, Catecismo de la Iglesia de Ginebra: In: Catecismos de la Iglesia Reformada, Buenos Aires: La Aurora, 1962, Pergun-ta 6, p. 30; Karl Barth, The Faith of the Church: A Commentary on Apostle’s Creed According to Calvin’s Catechism, Great Bri-tain: Fontana Books, 1960, p. 24.
6Veja-se: Catecismo Maior de Westminster, Pergunta 4. Calvino, escrevera: “É chocante blasfêmia afirmar que a Palavra de Deus é falível até que obtenha da parte dos homens uma certeza emprestada” (João Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.15), p. 98). Em outro lugar: “…. a Palavra do Senhor é semente frutífera por sua própria natureza” (João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 3.6), p. 103).
7Do mesmo modo diz a Confissão Belga (1561), Art 5.
8Paulo Anglada, A Doutrina Reformada da Autoridade Suprema das Escrituras: In: Fides Reformata, São Paulo: Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, 2/2 (1997), p. 124-125.
9J. Calvino, As Institutas, I.7.5.
10João Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb 4.12), p. 108.
11Veja-se: Hermisten M.P. Costa, Teologia Sistemática: Prolegômena, São Paulo: 2007, passim.
12D. Martyn Lloyd-Jones, As Insondáveis Riquezas de Cristo, São Paulo: PES., 1992, p. 43.
13F.F. Bruce, Interpretação Bíblica: In: J.D. Douglas, ed. org. O Novo Dicionário da Bíblia, São Paulo: Junta Editorial Cristã, 1966, Vol. II, p. 753. Veja-se também, J. Calvino, As Institutas, I.9.3; II.8.7. “Muito embora todo cristão seja participante do Espírito e, portanto, por ele guiado à verdade, parece que a revelação dos mistérios de Deus contidos nas Escrituras do Antigo Testamento era um dom apostólico, consignado aos autores do Novo Testamento como parte da inspiração divina para registrar infalivelmente a verdade de Deus” (Augustus Nicodemus Lopes, A Bíblia e Seus Intérpretes, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 120).
14Confissão de Westminster, I.10.
15“O verdadeiro significado das Escrituras – ou de qualquer outra coisa – já foi determinado e fixado pela mente de Deus. A tare-fa do intérprete é discernir esse significado. E a interpretação apropriada precisa anteceder a aplicação” (John F. MacArthur, A Guerra pela Verdade: lutando por certeza numa época de engano, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2008, p. 21-22).
16O conceito da “Teologia” como “reflexão”, é comum entre teólogos, mesmo de quadro de referência diferentes. O teólogo católico alemão Heinrich Fries (1911- ), define a teologia como “scientia fidei” (“ciência da fé”) e “reflexão sistemática sobre a revelação” (H. Fries, Teologia: In: H. Fries, ed. Dicionário de Teologia, 2. ed. São Paulo: Loyola, 1987, Vol. 5, p. 300,302). O presbiteriano John H. Leith, conceitua: “Teologia cristã é reflexão crítica sobre Deus, sobre a existência humana, sobre a natureza do universo e sobre a própria fé à luz da revelação de Deus registradas nas Escrituras e, especialmente, personificada em Jesus Cristo, que é, para a comunidade cristã, a revelação final, isto é, a revelação definitiva, o critério para todas as outras revelações” (John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 140).
17Em outro lugar escrevemos: “A Teologia Sistemática não reivindica para si o ‘status’ de detentora da verdade ou de infalibilida-de; antes ela sabe que o seu vigor estará sempre na sua procura acadêmica e piedosa pela interpretação correta e fiel das Escritu-ras. A Teologia é uma reflexão interpretativa e sistematizada da Palavra, tendo como meta a compreensão e sistematização de toda a doutrina cristã, sendo portanto uma ciência ‘normativa’, cujo compromisso é com Deus e com a Sua verdade revelada. ‘A dogmática vai em busca da verdade absoluta’.” (Hermisten M.P. Costa, Teologia Sistemática: Prolegômena, São Paulo: 2008, p. 89).
18Damião Berge, um estudioso de Heráclito, descreveu a função do intérprete, que, pode nos ser útil aqui. Diz o autor: “Interpretar é apreender o sentido depositado nas palavras do autor; é retirá-lo de sua reclusão e pô-lo, gradativamente, ao alcance do leitor, processo esse que, em geral, culmina num ensaio de tradução tão verbal como acessível” (Damião Berge, O Logos Heraclítico: Introdução ao Estudo dos Fragmentos, Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1969, p. 63).
19Stott coloca a questão nestes termos: “… Nada coloca o coração em fogo como a verdade” (John R.W. Stott, Cristianismo Equilibrado, Rio de Janeiro: CPAD., 1982, p. 62).
20J.I. Packer, O “Antigo” Evangelho, São Paulo: Fiel, 1986, p. 8.
21Colin Brown, Filosofia e Fé Cristã, São Paulo: Vida Nova, 1989, p. 36.
22Abraham Kuyper, Principles of Sacred Theology, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1980, p. 341ss.
23Vejam-se: Hermisten M.P. Costa, Teologia Hoje: Bíblica ou Ideológica?: In: Brasil Presbiteriano, julho/1984 p. 3 e O Fascínio do Descompromisso: In: Brasil Presbiteriano, outubro/1985, p. 5 e novembro/1985, p. 6.
24Veja-se: Hermisten M.P. Costa, Teologia do Culto, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1987, p. 12-13.
25Edwin H. Palmer, El Espiritu Santo, Gran Bretaña, El Estandarte de la Verdad, (s.d.), p. 50.
26João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 10.16), p. 374. A vocação eficaz do eleito, “não consiste somente na pregação da Palavra, senão também na iluminação do Espírito Santo” (J. Calvino, As Institutas, III.24.2).
27Karl Barth, The Faith of the Church: A Commentary on Apostle’s Creed According to Calvin’s Catechism, Great Britain: Fon-tana Books, 1960, p. 27.
28K. Barth, Church Dogmatics, 3. ed. Edinburgh: T. & T. Clark Limited, 1975, I/1, p. 306.
29Veja-se: J. Calvino, As Institutas, I.3.2.
30Como temos insistido, Calvino acentuou que “O conhecimento de Deus não está posto em fria especulação, mas Lhe traz consigo o culto” (J. Calvino, As Institutas, I.12.1).
31William Hendriksen, O Evangelho de João, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, (Jo 14.9) p. 657. Vejam-se também: Willi-am Hendriksen, O Evangelho de João, (Jo 1.1-5), p. 99ss; (Jo 10.30), p. 481; (Jo 14.10), p. 657-658; Idem, Colosenses e Filemon, Grand Rapids, Michigan: SLC., 1982, p. 95ss; 130ss; J. Calvino, Exposição de Hebreus, p. 29ss.; John Owen, A Glória de Cristo, São Paulo: PES., 1989, p. 16ss.
32Foi esta acusação que D. Bonhoeffer (1906-1945) fez a Barth. Veja-se a sua carta datada de 05/05/1944, In: D. Bonhoeffer, Resistência e Submissão, 2. ed. Rio de Janeiro/Porto Alegre, RS.: Paz e Terra/Sinodal, 1980, p. 134. (Quanto à expressão “Positivista Teológico“, vejam-se Bernard Ramm, Diccionario de Teologia Contemporanea, 2. ed. Buenos Aires: Casa Bautista de Publicaciones, 1975. p. 109; Idem., Positivismo: In: E.F. Harrison, ed. Diccionario de Teologia, Grand Rapids, Michigan: T.E.L.L., 1985, p. 417).
33“A mente piedosa não sonha para si um Deus qualquer; ao contrário, contempla somente o Deus único e verdadeiro, nem lhe atribui o que quer que à imaginação haja acudido, mas se contenta com tê-Lo tal qual Ele próprio Se manifesta e, com a máxima diligência, precavém-se sempre, para que não venha, mercê de ousada temeridade, a vaguear errática, trespassados os limites de Sua vontade” (João Calvino, As Institutas, I.2.2).
34Calvino comentando a respeito desta vida e da futura, diz: “… Esta vida, por mais que esteja cheia de infinitas misérias, com toda razão se conta entre as bênçãos de Deus, que não é lícito menosprezar” (Institutas, III.9.3). À frente, acrescenta: “E muito maior é essa razão, se refletirmos que nesta vida nos está Deus de certo modo a preparar para a glória do Reino Celeste” (Institutas, III.9.3). “….nossos constantes esforços para diminuir a estima por este mundo presente, não devem nos levar a odiar a vida ou a sermos mal agradecidos para com Deus. Se bem que esta vida está cheia de incontáveis misérias, não obstante, merece ser contada entre aquelas bênçãos divinas que não devem ser desprezadas” (João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, São Paulo: Novo Século, 2000, p. 62). “Porém, à vida presente não se deve odiar, com exceção de tudo o que nela nos sujeira ao pecado, este ódio não deve aplicar-se à vida mesma” (João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 64). Do mesmo modo, ver Idem.,IbIdem., p. 69 e 7.
35J.I. Packer, O “Antigo” Evangelho, p. 1ss., traça uma boa distinção entre o “Antigo” e o “Novo” Evangelho, mostrando que o “antigo” , buscava a Glória de Deus, enquanto que o “novo” está preocupado em “ajudar” o homem. Em 1768, Abraham Booth (1734-1806) observara que a mensagem dos cristãos primitivos gerava a perseguição “porque a verdade que pregavam ofendia o orgulho humano (…) não dava lugar ao mérito humano” (A. Booth, Somente pela Graça, São Paulo: PES., 1986, p. 9,10).
36J. Calvino, As Institutas, I.6.4. “A comunicação divina é a base fundamental da fé cristã” (D. Martyn Lloyd-Jones, O Combate Cristão, São Paulo: PES., 1991, p. 24).
37Vejam-se: Hermisten M.P. Costa, Teologia do Culto, p. 27; J. Calvino, As Institutas, I.12.1. O filósofo Sócrates (469-399 a.C.), faz uma pergunta que permanece relevante em nossos dias: “Haverá culto mais sublime e piedoso que o que prescreve a própria divindade?” (Xenofonte, Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. II), 1972, IV.3.16. p. 149).
38C.F.D. Moule, As Origens do Novo Testamento, São Paulo: Paulinas, 1979, p. 45. (Vejam-se também, Boanerges Ribeiro, O Senhor que Se Fez Servo, São Paulo: O Semeador, 1989, p. 47; J. Calvino, Catecismo de la Iglesia de Ginebra, Pergunta 6).
39O. Michel, escreveu: “Toda teologia genuína é a batalha contra o teologismo, a teorização, e contra a tentativa de substituir o motivo genuinamente bíblico e histórico por uma transformação filosófica (…). Atualmente desejamos cada vez mais ouvir a nós mesmos, enquanto a Bíblia nos convidaria a ouvir a palavra pura” (Apud Johannes Blauw, A Natureza Missionária da Igreja, São Paulo: ASTE., 1966, p. 105).
A Teologia deve ser entendida como o estudo da Revelação Pessoal de Deus conforme registrada nas Escrituras Sagradas. “O tema e o conteúdo da teologia é a Revelação de Deus” (John Mackay, Prefacio a la Teologia Cristiana, México/Buenos Aires: Casa Unida de Publicaciones/La Aurora, 1946, p. 28). Desta concepção, subentende-se, seguindo a linha de Kuyper(*) (A. Ku-yper, Principles of Sacred Theology, § 60, p. 257ss.), que a Teologia nunca é “arquetípica” mas sim “éctipa“;(**) ela não é gerada pelo o esforço de nossa observação de Deus, mas sim o resultado da revelação soberana e pessoal de Deus. Uma “Teologia Arquetípica” – se é que podemos falar deste modo –, pertence somente a Deus, porque somente Ele Se conhece perfeitamente. Por isso, como temos insistido em outros trabalhos, a Teologia sempre será o efeito da ação reveladora, inspiradora e iluminadora de Deus por meio do Espírito; a Teologia é sempre o efeito da ação primeira de Deus em revelar-se.
(*) – Esta distinção, ao que parece, originou-se no teólogo Polanus (Cf. Richard A. Muller, Post-Reformation Reformed Dogmatics, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1987, Vol. 1, p. 126-127).
(**) – “Éctipo” é uma palavra de derivação grega (cópia de um modelo, ou reflexo de um arquetípico), passando pelo latim “ectypus” (feito em relevo, saliente).
“Éctipo” é o oposto a arquetípico (do grego, “original”, “modelo”). Na filosofia, G. Berkeley (1685-1753) estabeleceu esta distinção no campo das ideias:
“Pois acaso não admito eu um duplo estado de coisas, a saber: um etípico, ou natural, ao passo que o outro é arquetípico e eterno? Aquele primeiro foi criado no tempo; e este segundo desde todo o sempre existiu no espírito de Deus” (G. Berkeley, Três Diálogos entre Hilas e Filonous, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. XXII), 1973, 3º Diálogo, p. 119).
40Corretamente declarou Lloyd-Jones (1899-1981): “O Espírito Santo é o poder atuante na Igreja, e o Espírito Santo jamais honrará coisa alguma senão a Sua Palavra. Foi o Espírito Santo quem nos deu esta Palavra. Ele é o seu Autor. Não é dos homens! Tampouco a Bíblia é produto da ‘carne’ e do ‘sangue’ (…). O Espírito não honrará nada, senão Sua Palavra. Portanto, se não crermos e não aceitarmos sua Palavra, ou se de algum modo nos desviarmos dela, não teremos direito de esperar a bênção do Espírito Santo. O Espírito Santo honrará a verdade, e não honrará outra coisa. Seja o que for que fizermos, se não honrarmos esta verdade, Ele não nos honrará” (D.M. Lloyd-Jones, O Combate Cristão, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991, p. 103).
41O Mormonismo originou-se das supostas visões e revelações alegadas por Joseph Smith Jr. a partir de 1820. (Vejam-se: A. Hoekema, Mormonismo, Grand Rapids, Michigan: Subcomision Literatura Cristiana de la Iglesia Cristiana Reformada, 1977, p. 5ss.; 15ss.; J.K. Van Baalen, O Caos das Seitas, 3. ed. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1977, p. 121ss.; 128, 144).
42Vejam-se: L. Boettner, Catolicismo Romano, São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1985, p. 67-88 e L. Berkhof, Introduccion a la Teologia Sistematica, p. 186-189.
43G.C. Berkouwer, A Pessoa de Cristo, São Paulo: ASTE., 1964, p. 72. Dentro desta mesma linha de pensamento, escreveu Kui-per (1886-1966): “…. Todos juntos, os credos do cristianismo, de nenhuma maneira se aproximam de esgotar a verdade da Sagrada Escritura” (R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo, p. 99).
44Timothy George observa que, “Os reformadores eram grandes exegetas das Escrituras Sagradas. Suas obras teológicas mais in-cisivas encontram-se em seus sermões e comentários bíblicos. Eles estavam convencidos de que a proclamação da igreja cristã não poderia originar-se da filosofia ou de qualquer cosmovisão auto-elaborada. Não poderia ser nada menos que uma interpretação das Escrituras. Nenhuma outra proclamação possui direito ou esperança na igreja. Uma teologia que se baseia na doutrina reformada das Escrituras Sagradas não tem nada a temer com as descobertas precisas dos estudos bíblicos modernos” (Timothy George, Teologia dos Reformadores, p. 313).
45William Cunningham, The Reformers and the Theology of the Reformation, Carlisle, Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, 1979 (Reprinted), p. 27.
46Francis A. Schaeffer, O Grande Desastre Evangélico. In: Francis A. Schaeffer, A Igreja no Século 21, São Paulo: Cultura Cris-tã, 2010, p. 251.
47João Calvino, As Institutas, IV.4.1; IV.8.9; IV.10.26. Fala também da “mui pura Palavra de Deus” (J. Calvino, As Institutas, II.16.8).
48João Calvino, As Institutas, I.18.3.
49João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, Vol. IV, (IV.15), p. 116.
50João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 12.7), p. 432.
51João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, Vol. III, (III.7), p. 10. João Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb 4.12), p. 110.
52João Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.15), p. 98; As Institutas, IV.16.16; Exposição de Hebreus, Dedicatória, p. 14.
53João Calvino, As Institutas, I.8.1.
54João Calvino, As Pastorais, (1Tm 6.21), p. 187.
55João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 9.14), p. 330.
56João Calvino, Exposição de Hebreus, Dedicatória, p. 14.
57João Calvino, As Institutas, I.7.1.
58Antes, é da Palavra que nasce a Igreja e é justamente pela fidelidade à Palavra que a Igreja de Cristo é reconhecida. (Veja-se: J. Calvino, As Institutas, I.7.1-2).
59Como exemplo, citamos Stanilaus Hosius (1504-1579) que considerava a Bíblia como “propriedade da Igreja Católica” (Cf. Sudhoff, Hosius: In: Philip Schaff, ed. Religious Encyclopaedia: or Dictionary of Biblical, Historical, Doctrinal, and Practical Theology, Chicago: Funk & Wagnalls Publishers, (revised edition), 1887, Vol. II, p. 1024). Escrevendo contra Brentius (J. Brenz (1499-1570)?), Hosius disse que “As Escrituras têm tão-somente a mesma força que as fábulas do Esopo, se destituída da autori-dade da igreja” (Apud Francis Turretin, Institutes of Elenctic Theology, Phillipsburg, New Jersey: Presbyterian and Reformed Pub-lishing Company, 1992, Vol. I, I.6.2. p. 86). Segundo citação de Turretin, Hosius “não hesitou em blasfemar ao dizer”: “Melhor seria para os interesses da igreja se jamais houvesse existido a Bíblia” (Apud Francis Turretin, Institutes of Elenctic Theology, Vol. I, p. 57). Johann Maier von Eck (1486-1543), amigo e depois severo oponente de Lutero, escreveu em 1525 que, “As Escrituras não são autênticas, exceto pela autoridade da igreja” (Enchirdion of Commonplaces, 1, Apud Turretin, Institutes of Elenctic Theology, I.6.2. p. 86). (Francis Turretin (1623-1687) cita diversos outros pronunciamentos feitos por católicos a respeito deste assunto. Veja-se: Institutes of Elenctic Theology, I.6.2. p. 86). Notemos que aqui, nestas questões levantadas pelos católicos, não há uma negação da procedência das Escrituras, mas sim a afirmação da supremacia do subjetivo sobre o objetivo. Neste caso, a verdade não é o que é; ela é o que digo (no caso a Igreja Católica Romana) que ela seja…
60Francis Turretin, Institutes of Elenctic Theology, 1.6.10. p. 89.
61Ver: João Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb 4.12), p. 110.
62João Calvino. As Institutas, II.2.19.
63Zuínglio (1484-1531) dissera textualmente: “Entendo a Escritura somente na maneira em que ela interpreta a si mesma pelo Espírito Santo. Isso não requer nenhuma opinião humana” (Apud Timothy George, Teologia dos Reformadores, p. 129. Vejam-se as p. 126-130; Calvino: “A verdade de Deus não depende da verdade do homem” (João Calvino, Romanos, 2. ed. São Paulo: Parakletos, 2001, (Rm 3.4), p. 111). Paul Tillich, História do Pensamento Cristão, São Paulo: ASTE., 1988, p. 234ss). Vejam-se: Tomás de Aquino, Súmula Contra os Gentios, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. VIII), 1973, VI, p. 69; J. Calvino, As Institutas, I.9.3; D.M. Lloyd-Jones, Vida No Espírito, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991, p. 126ss.
64 J. Calvino, As Institutas, I.7.4. Veja-se: também, As Institutas, I.9.3.
65João Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.15), p. 98.
66João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 3.6), p. 103. Vejam-se dois estudos de Murray sobre a posição de Calvino a res-peito das Escrituras e de sua Autoridade. John Murray, Calvin’s Doctrine of Scripture e Calvin and the Authority of Scripture: In: John Murray, Calvin as Theologian and Expositor, Carlisle, Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, (Collected Writings of John Murray, Vol. IV), 1976, p. 158-175 e 176-190. Também: A.D.R. Polman, Calvino y la Inspiracion de la Escritura: In: Jacob T. Hoogstra, compilador, Juan Calvino, Profeta Contemporáneo, Barcelona: CLIE., 1973, p. 99-114.
Parte (2)
Como assim? O homem caído, do seu crit‚rio avaliativo, não pode fazer uma VERDADEIRA an lise de sua própria condição? E em qual analise senão falsificada ‚ feita? A consciência, então ‚ adquirida somente quando o Espirito Santo regenera nosso espírito morto? Nascemos e, sob processo gradativo de consciência, expressamos nossas razäes, desejos, sentimentos, relacionamentos e nos interagimos segundo o bem e mal distinguidos em nossa consciência. Por ventura j não ‚ tudo isso manifestação de crit‚rios adotados sob an lise de nossa consciência?
Parte (3)
O medicamento que ele emprega para sua salvação ‚ o rem‚dio errado justamente porque o diagnóstico que ele tem feito se sua própria doença ‚ feito pelo crit‚rio errado.
Entendo que Jo 3:18 “Quem crê nele não ‚ condenado mas quem não crê j est condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus”. É explicito a condição de escolha dada ao ser humano e o mesmo a faz mediante a exposição deste contexto. A manifestação de consciência não ‚ algo inativa nos que ainda não aceitaram o senhorio Salvífico em Cristo.
Parte (4)
Do ditado popular, “temos que dar nome aos bois” Que medicamento ‚ este e que rem‚dio ‚ este e que crit‚rio errado ‚ este?
O m‚dico est apto a prescrever o rem‚dio correto para um paciente justamente porque ele, ao inv‚s do paciente, tem dado um diagnóstico correto da doença do paciente. Em um sentido infinitamente mais profundo, apenas Cristo, o grande m‚dico, pode diagnosticar a doença do homem.
Sim, somente Cristo pode oferecer o exame de saúde ao fato da aceitação da pessoa dEle como bem assim j lhes prescreveu Jo 3:18-a. A pr tica sistem tica do pecado bem ‚ colocado no contexto de Jo 3:18-b, 19.
Havendo a possibilidade de instrução outra para a minha pessoa, ficaria agradecido.
Gostei muito