Globalização: uma visão bíblica e histórica do conceito

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Introdução

Globalização é um termo utilizado com muita frequência nos últimos anos. Na compreensão moderna, globalização poderia ser definida como a corrente econômica que defende a utilização máxima dos recursos mundiais (globais), no sentido de permitir o maior lucro possível aos investidores ou produtores. Nesse sentido, um produto, como por exemplo, o automóvel, deixa de ter características locais e passa a ser produzido com o mercado mundial como alvo. Para que seja competitivo, a produção pode ser realizada em partes, em diferentes países do globo, onde a fabricação seja mais barata e mais eficiente.

No conceito moderno de globalização o dinheiro necessário aos países produtores, ou o capital, perde igualmente sua movimentação regional, nacional ou continental. Passa a ser aplicado no país que conceder a maior rentabilidade, sendo este, quase sempre, o que apresenta maiores necessidades e está disposto a pagar mais juros do que os demais. Com essas aplicações de risco, ao primeiro sinal de instabilidade maior, os investimentos são rapidamente retirados e o país no qual estavam aplicados, já em dificuldades, despenca numa recessão ainda mais severa.

Num outro sentido mais amplo, a palavra globalização tem sido utilizada para se referir ao progresso dos meios de comunicação e aos avanços na área de transportes, aproximando as pessoas em escala mundial. Em todas essas utilizações está implícito o esforço humano, no sentido de abranger o globo terrestre com suas ações e esforços, muitas vezes sem medir as consequências para os demais. No passado a globalização das atividades humanas caracterizou os grandes impérios, construídos pela força e pelas conquistas. Hoje em dia, caracteriza a política de várias nações e o meio de operação de várias empresas ou corporações.

Mas o que teríamos nós com isso? Qual a necessidade de estudarmos esse tema? Como a globalização afeta nossas vidas e a de nossas igrejas?  Todas essas são perguntas pertinentes, pois atingem dois aspectos de nosso dia a dia. Primeiro, a palavra globalização tem sido empregada para caracterizar a fonte de vários problemas que temos enfrentado. Por exemplo, alguns anos atrás a Rússia experimentou graves problemas econômicos. Os investidores tiraram todas as aplicações de países que apresentassem qualquer risco, por mais remoto que estivesse. Dentro de algumas semanas o Brasil, no outro lado do globo, entrou em grande recessão. Sentimos na pele os efeitos da globalização econômica. O desemprego tem sido um dos problemas mais graves e que tem atingido inúmeras famílias. A globalização econômica favorece o aparecimento de vários produtos a custos bem abaixo do que custaria se fabricados em nosso país. O resultado é que com isso, fábricas que não diversificam a produção são fechadas e os desempregados, em nosso país, aumentam a cada dia. Levando ao questionamento se a visão correta deveria ser mesmo globalizada – Será que não deveríamos voltar os nossos olhos mais para a nossa comunidade? Será a globalização a razão dos nossos problemas?

Em segundo lugar,
a Bíblia tem bastante a dizer sobre globalização. Sobre os males da globalização econômica, ela aponta a ganância e o materialismo como motivações pecaminosas, dignas da condenação de Deus. Sobre a globalização, no seu sentido mais amplo, a Bíblia apresenta uma visão da criação e da redenção que explica os anseios e empreendimentos humanos em globalizar suas ações. Sobre o nosso papel e o papel da Igreja, em um mundo globalizado, ela é precisa ao traçar os nossos caminhos e destinos. Vamos ler, com atenção, cada texto colocado nas leituras da semana e vamos abordar o assunto, com a predisposição de estudarmos essa visão bíblica, da globalização, sem conceitos pré-formados, na expectativa de sermos alertados sobre os perigos e de sermos aguçados quanto às bênçãos que podem existir, na situação em que nos encontramos.

1. A globalização na criação sem pecado – O comando de Deus (Gn 1.26-31; 2.1-4)

A criação foi global. Deus fez o mundo uma diversidade subsistindo em unidade. A multiplicidade da fauna e flora dava beleza e retratava a complexidade da criação. Mas existiram muitos aspectos que caracterizavam a unidade impressa por Deus no que ele criou. A uniformidade climática, a alternância sistemática dos dias e das noites, a estabilidade física do universo. O homem foi colocado como coroa da criação. Nele convergia a unidade criada por Deus. A mulher foi gerada do seu lado, para com ele constituir, em unidade, a célula mãe de toda sociedade – a família. O mundo sem pecado era para ser povoado em unidade, na obediência ao Deus vivo – uma devoção religiosa em meio a uma uniformidade  de propósito. Ao homem foi dado o mandamento de dominar a criação (Gn 1.28). Em suas características e em seus afazeres, deveria ele refletir a unidade da própria trindade, em cuja imagem e semelhança foi criado (Gn 1.26-27).

O pecado perturbou a unidade da criação e, principalmente, a unidade da criatura com o Criador. O comando de Deus era para que o homem dominasse a terra. O homem, caído em pecado, distorce as diretrizes divinas. O seu instinto, procedente da própria criação, clama por unidade, por globalização, mas ele passa a inverter os papéis. Procura dominar não apenas a criação, mas o seu semelhante também. Procura usurpar o lugar de Deus e decidir sobre a vida e sobre a morte. Esquece os princípios de justiça e santidade de Deus e os substitui por violência e ganância. Os exemplos de Caim (Gn 4.8; 1 Jo 3.12; Jd 1.11) e Lamech (Gn 4.23) retratam bem os efeitos do pecado na visão de vida das pessoas – ausência de fé, ausência do temor ao Senhor, arrogância, violência. Essas manifestações de pecado na vida das pessoas e da sociedade iriam resultar no julgamento divino, por intermédio do dilúvio (Gn 6.5-13), que resultou em um reinício da sociedade, com a família de Noé.

Esse é, portanto, o paradoxo em que vivemos – fomos criados para a unidade, para globalizadamente glorificarmos ao nosso criador, mas, fora de Cristo, em pecado, caímos em dois extremos igualmente errados: o individualismo introvertidamente egoísta ou  o globalismo impelido por motivações impuras e injustas.

2. A globalização distorcida em Babel – O orgulho do homem desafia a Deus (Gn 11.1-9)

No incidente da Torre de Babel, vemos a raça humana vivendo esse dilema (Gn 11.1). Por um lado, trabalham em equipe, formando uma corporação, com objetivos definidos (Gn 11.3). Isso reflete unidade de propósito proveniente da criação. Por outro lado, fecham-se na contradição de um “individualismo corporativo”, contrário aos desígnios divinos de que povoassem a terra, criada para ser ocupada (Gn 11.4). Por trás de tudo isso está o pecado. O trabalho global, em grupo, unificado é motivado pelo orgulho de erguer algo que os aproxime de Deus – na realidade, que os coloque acima da divindade (“…cujo topo chegue até aos céus…”; e “…tornemos célebre o nosso nome…” – v. 4). O isolamento é fruto do desrespeito ás diretrizes de Deus; da tentativa de angariar forças pelo ajuntamento; de mostrarem-se mais poderosos que Deus; de demonstrarem autonomia do governo soberano divino.

Deus vem e contraria esses esforços do homem. A globalização da criação está invertida. O homem quer se isolar, mas precisa povoar a terra e dar curso à história. Um fator primordial de unificação – a língua comum, compartilhada em uma sociedade, é modificada por Deus. Ele quebra a unidade de comunicação e promove a divisão da raça humana nas diferentes nações e raças  (Gn 11.9), entre as quais ele escolherá uma para ser a guardiã de sua revelação, até o tempo indicado para o advento do Redentor.

3. A globalização pela força – Impérios antigos na providência de Deus (Dn 2.30-45)

Após a dispersão de Babel, a história, e a própria Palavra de Deus, registra as conquistas de várias nações sobre outras, sempre na tentativa de estabelecer impérios abrangentes, na forma mais globalizada possível. Os grandes impérios antigos foram o Egípcio, o Babilônico, o Persa, o Grego e o Romano. Todos se dedicaram a conquistar e absorver outras nações, exaurindo os seus recursos e reorientando as suas populações às características religiosas, sociais e linguísticas da nação mãe de cada império. Todos retrataram a avidez humana pelo poder, pelo lucro fácil, pela ganância, pela utilização da violência. As nações conquistadas eram quebrantadas e as populações movimentadas em cativeiro com o propósito de eliminar os laços nacionais.

Deus, na sua providência e soberania, não estava impassível e distanciado. A história se movimenta linearmente de acordo com o plano divino. Cada império desse, cada fase dessa globalização, cumpriu os propósitos de Deus na história e fez parte do seu plano de redenção. Em paralelo aos aspectos despóticos e cruéis desses, Deus operava maravilhas na preservação do Seu povo. O império Egípcio abrigou o povo de Deus e, quando começou a maltratá-lo e oprimi-lo, Deus providenciou livramento pelo seu servo Moisés. Quando o império parecia mais forte, Deus resgatou  o seu povo, levando-o até a terra prometida.

O império Babilônico foi utilizado por Deus como braço vingador e de castigo contra o seu próprio povo: rebelde e negligente, que continuadamente se esquecia dos princípios de justiça e retidão de Deus, bem como de sua missão e chamado. Em sua marcha de globalização, o império Babilônico destruiu Jerusalém e levou todo o povo em cativeiro. É nessa ocasião que temos a interpretação de Daniel para o sonho do rei Nabucodonozor, registrado em Daniel 2.30-45. O sonho era sobre uma estátua e, na interpretação de Daniel, temos a identificação das partes dessa estátua com esses grandes impérios do mundo antigo. Um era o próprio império babilônico (a cabeça de ouro). Os demais vem na seqüência do corpo da estátua. O império Persa, o peito e os braços de prata. O império grego, o ventre e os quadris de bronze. O império romano, as pernas de ferro e os pés, parte de ferro, parte de barro. Toda essa estátua colossal, representativa do esforço humano – de subjugar e dominar o mundo – constituída de metais nobres, nas partes superiores e de metais menos nobres nas partes inferiores, está erguida e apoiada em pés fracos, nos quais o barro se mistura com o metal. Toda a glória humana é efêmera e passageira e se reduz a um monte de palha que se espalha pelo vento (1 Pe 1.24). Todas essas grandes tentativas de globalização passaram deixando poucos rastros permanentes.

Contrastando com a estátua, uma pequena pedra representa o reino de Deus (Gn 49.24; Sl 118.22; Is 28.16). Esse atinge a estátua no quarto império mencionado – o romano e reduz todo aquele esforço humano a um monturo. Nenhum desses impérios, entretanto, existiu fora dos planos ou propósitos de Deus (“Tu, ó rei, rei de reis, a quem o Deus do céu conferiu o reino, o poder, a força e a glória; a cujas mãos foram entregues os filhos dos homens, onde quer que eles habitem, e os animais do campo e as aves do céu, para que dominasses sobre todos eles, tu és a cabeça de ouro…” Dn 2.37-38)

4. A globalização romana – Preparo para a vinda de Cristo (Lu 2.1-7; Gl 4.4-6)

Os romanos dominavam o mundo na época de Cristo. Como os impérios que os precederam, exercitavam a sua visão de globalização, conquistando nação após nação com um exército profissional extremamente bem organizado e treinado e com um sistema administrativo e judicial incrivelmente avançado. Sendo um povo sem Deus, não tinham escrúpulos em suas conquistas, mas Deus, em sua providência, fez com que o império romano colocasse apenas os detalhes finais no contexto dentro do qual viria o Messias prometido, o Redentor da humanidade – Cristo Jesus.

Cristo representa o ponto de convergência de toda a história, a interação suprema da Divindade com o homem, do Criador com a criação. Efésios 1.8-10 registra “… que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência, desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra”. Deus vinha preparando a história da humanidade no sentido de realizar a transição de uma igreja identificada com uma Nação – o povo de judeu, para uma igreja globalizada, que alcançaria povos de todas as raças tribos e nações. A mensagem de salvação, abrigada e acolhida na nação de Israel, agora deveria ser proclamada a todas as partes do mundo. A redenção, que era profetizada, agora seria concretizada na pessoa de Cristo.

Deus não estava distanciado ou passivo ao desenrolar da história. Ele a direcionava, como o faz até hoje. O império Babilônico tinha sido utilizado como o braço vingador de Deus, contra a impiedade do seu povo – no sentido de realizar o que estava determinado na história, até em sua ânsia de globalização, Nabucodonozor era servo de Deus (Jr 43.10). O império persa também foi utilizado como braço da justiça divina, castigando os babilônios por sua impiedade e idolatria e desrespeito às coisas de Deus, bem como permitindo o retorno à palestina do povo judeu exilado. O império grego seguiu cumprindo os propósitos divinos. Uma das características desses conquistadores era forçarem os subjugados a utilizarem somente a língua grega em suas comunicações, especialmente na sua escrita. Essa globalização da língua fica bem patente no fato dos judeus, na metade do terceiro século antes de Cristo, já terem providenciado uma tradução das Escrituras (do Antigo Testamento) do hebraico para o grego – a Septuaginta. A abundância de literatura nessa língua e a sua utilização globalizada, preparava o campo para o Messias e para a sua mensagem aos povos. O Novo Testamento foi também escrito na língua grega.

O propósito do império romano era a globalização pela força, como os que o precederam, mas ele teve uma característica toda especial – permitiu aos povos conquistados uma certa autonomia governamental, a preservação das peculiaridades religiosas de cada nação e não confundiu o mundo, obrigando a todos que utilizassem o latim,  mas permitiu a continuidade da língua grega, em sua utilização globalizada. Além disso, garantiu uma certa liberdade de ir e vir, mantendo a lei e a ordem nas rotas comerciais, e fez valer o seu sistema legislativo, com julgamentos e cortes de apelo. Todos esses detalhes davam maior uniformidade a vida do mundo civilizado e preparavam, na providência divina, as condições para a era neo-testamentária, para a vinda de Cristo.

Nada, portanto, aconteceu por acidente. Essa globalização estava não somente prevista por Deus, mas prescrita por ele. Por isso lemos o registro de Gl 4.4: “…vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei…”. A plenitude do tempo – quando as condições estavam prontas, em todos os sentidos: a vinda do precursor – João Batista; os 400 anos de silêncio; mas não somente os aspectos judaicos e religiosos – a própria globalização romana preparava o caminho do Messias. Até no cumprimento da profecia de que Jesus nasceria na obscura cidade de Belém (Mq 5.2) temos a mão dos romanos. Lucas 2.1-7 registra o decreto de César Augusto para o recenseamento de todo o império, forçando José e Maria a se deslocarem até Belém, à cidade de seus ancestrais. Ali Jesus nasceu.

5. A globalização do evangelho – Ide por todo o mundo (Mt 28.18-20)

O mandamento de Cristo aos seus discípulos e, por inferência, à toda a igreja, é global: “Ide por todo o mundo…”. Aqui começa a fazer sentido toda a preparação prévia que examinamos acima: A igreja perde a sua identidade nacional, a sua identificação com o povo Judeu, e ganha, como igreja neo-testamentária, características internacionais, multinacionais, globalizadas. Começava a globalização do evangelho que se estenderá até o final dos tempos, como nos diz Marcos 13.10: “…Mas é necessário que primeiro o evangelho seja pregado a todas as nações”.

Não cabe a nós, seus seguidores, a especulação do término do nosso comissionamento. Em Atos 1.7 Jesus disse: “Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade”. Ele reforça a sua visão mundial e globalizada da pregação do evangelho. Suas últimas palavras, antes da ascenção foram: “…sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra”. Essa globalização real e verdadeira seria realizada no poder do Espírito Santo. Assim se cumprirá em sua plenitude a promessa e profecia feita a Abraão, repetida em Atos 3.25: “Na tua descendência, serão abençoadas todas as nações da terra”.

Essa abrangência da mensagem, a inclusão das demais nações, não era totalmente entendida pelo povo de Deus, no Antigo Testamento, apesar de estar amplamente profetizada. Como cristãos, temos de reconhecer essa responsabilidade global e utilizar as oportunidades concedidas por Deus para o encaminhamento dessa missão. Paulo, em Romanos 16.26, fala do evangelho “… que, agora, se tornou manifesto e foi dado a conhecer por meio das Escrituras proféticas, segundo o mandamento do Deus eterno, para a obediência por fé, entre todas as nações”.

6. A globalização moderna – Bênçãos e maldições (2 Pe 2.10-15)

Nos nossos dias, temos experimentado a globalização econômica, como já a descrevemos na introdução. Não estamos mais sob impérios que saíram conquistando à força as demais nações. Até as tentativas de realizar tais conquistas pela força e de expandir impérios políticos, nesse século vinte, foram frustradas pela providência divina. Mas o ímpeto humano de globalizar suas ações e personalidades, a sensação de poder e de autonomia dos preceitos divinos – sob a força motriz do pecado, continua a impelir os líderes governamentais e hoje, até com mais poder, os empresariais. Não resta dúvida que o poder de Satanás age em harmonia com os poderosos da terra e, mais especificamente, com os homens de negócio também, com os mercadores, como registra o trecho profético e descritivo de Ap 18.3  “… pois todas as nações têm bebido do vinho do furor da sua prostituição. Com ela se prostituíram os reis da terra. Também os mercadores da terra se enriqueceram à custa da sua luxúria”.

A ganância desenfreada, a falta de submissão a princípios de justiça, são atitudes condenada pela Palavra de Deus. 2 Pe 2.10-14 alerta sobre “… aqueles que, seguindo a carne, andam em imundas paixões e menosprezam qualquer governo. Atrevidos, arrogantes, não temem difamar autoridades superiores, ao passo que anjos, embora maiores em força e poder, não proferem contra elas juízo infamante na presença do Senhor. Esses, todavia, como brutos irracionais, naturalmente feitos para presa e destruição, falando mal daquilo em que são ignorantes, na sua destruição também hão de ser destruídos, recebendo injustiça por salário da injustiça que praticam. Considerando como prazer a sua luxúria carnal em pleno dia, quais nódoas e deformidades, eles se regalam nas suas próprias mistificações, enquanto banqueteiam junto convosco; tendo os olhos cheios de adultério e insaciáveis no pecado, engodando almas inconstantes, tendo coração exercitado na avareza, filhos malditos; abandonando o reto caminho, se extraviaram, seguindo pelo caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça”. A referência a Balaão engloba todos os que agem sem respeito aos princípios e diretrizes divinas por terem a ganância como motivo.

Essas são as maldições da globalização econômica. Se ganância e cobiça, e não o esforço por um lucro justo, for a motivação das ações; se o desrespeito às normas de decência e aos princípios de justiça de Deus estiverem sempre presentes; se a avidez por segurança econômica tiver precedência sobre as obrigações individuais para com o criador e para com o nosso semelhante; se o fator pecado for ignorado como se fosse um entulho religioso de fanáticos, e não uma verdade bíblica crucial ao entendimento de nossa própria natureza; de nada adiantarão os avanços econômicos – eles beneficiarão poucos e jogarão muitos na ruína. A chamada “nova ordem mundial”, num mundo onde impera o pecado, não passa de uma miragem, de uma realidade virtual. A situação que permanecerá conosco será aquela já descrita por Tiago (4.1-4): “De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne? Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres. Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus”.

Por outro lado, não podemos ignorar as bênçãos da globalização, no seu sentido mais amplo, quando nos lembramos de como fomos criados por Deus, da forma como ele tem trabalhado na história, e de como ele é soberano sobre tudo e sobre todos. Principalmente, temos de reconhecer as bênçãos da globalização quando nos lembramos de qual é a nossa missão.  Da mesma forma como Deus preparou uma globalização linguística, legislativa e de viagens, no advento de Cristo e no início da era cristã, ele aparenta estar trabalhando de uma forma toda especial, no mesmo sentido, em nossa era. As telecomunicações e a internet tornam cada vez mais sensata a expressão de um filósofo do campo das comunicações, proferida algumas décadas atrás: vivemos em uma “aldeia global”. Pense nisso em relação à nossa missão como cristãos. Pense na facilidade de contato com o missionário da sua igreja, que está em um campo distante. Pense na rapidez e na facilidade de locomoção – horas em vez de meses – para atingir os locais mais remotos do planeta. Pense nas oportunidades que Deus está abrindo e nas portas que estão à sua frente para serem atravessadas. Podemos ficar nos lamentando pelos malefícios sofridos em função da ganância e cobiça de alguns, ou podemos nos concentrar no Senhor da história e dar graças a ele porque ele cumpre o que determina e “todas as coisas” contribuem para o bem daqueles que o amam, dos que são chamados pelo seu decreto. Podemos deixar que essa globalização das comunicações seja uma maldição no nosso lar e permitir que ele seja invadido pela sujeira do mundo, ou podemos cerrar a guarda e tornar esses recursos poderosas ferramentas na comunicação das verdades de Deus.

7. A globalização da redenção – Povos de todas as raças e nações (Ap 5.6-14)

No cômputo final, Deus cumprirá o seu propósito. O mundo, criado globalizado, em uniformidade e harmonia, restaurado pelo poder do Filho, será o palco dos redimidos. Suas identidades nacionais convergirão à glória de Cristo Jesus exaltado, como nos diz Mt 25.32: “…e todas as nações serão reunidas em sua presença …”.

Cristo, o Senhor da história, reúne ao seu redor não uns poucos, mas uma grande multidão que não pode ser enumerada (Ap 7.9) “…de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos …”. Essa é a verdadeira globalização, a união dos remidos, convictos do poder salvador de Cristo, com a motivação santa de glorificar ao Pai através do Filho, pelo Espírito, como Ap. 15.4 nos ensina: “Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor? Pois só tu és santo; por isso, todas as nações virão e adorarão diante de ti, porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos”. Assim, “…as nações andarão mediante a sua luz, e os reis da terra lhe trazem a sua glória”.

Numa era de globalização, com as suas incertezas e pressões que parecem nos sufocar, devemos nos jogar com fé e ousadia nos braços de Cristo, daquele que pode nos salvar e nos confortar, na segurança de que somos servos do Deus vivo, que operará o que é de melhor para nós, no tempo que ele mesmo já determinou.

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