Ecologia é cultura

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Como toda a crise, a crise ecológica da atualidade não tem uma origem única. Quando falamos em “ecologia” estamos nos referindo a um sistema, que envolve cadeias alimentares, diferentes Reinos (animal, vegetal, etc.), que, por sua vez podem ser ameaçados e “poluídos” de diversas formas: espécies ameaçadas; poluição do ar, sonora, da terra, das águas, etc. Somam-se a isso a crise da energia e a ameaça à própria espécie humana, no sentido de saúde, educação, cultura e qualidade de vida.

Atribuir essa crise a uma causa única, como por exemplo, à herança cristã do mundo ocidental, como argumentam alguns pensadores, seria, no mínimo ridículo e obviamente falso. Mas como hoje em dia a lógica cedeu ao “reality-show político”, com direito a cenas dos próximos capítulos, pode-se esperar de tudo. Então, é bom que os cristãos se conscientizem da postura do cristianismo em relação à natureza.

Em primeiro lugar, se analisarmos o Gênesis, o homem é criado “à imagem e semelhança do Criador” (Gênesis 2.2). Portanto, se Deus ama a natureza como um artista ama sua obra, o homem também é convidado a amá-la e não a “dominá-la”.

Além disso, ele deve ser o seu “mordomo”, ou seja, alguém que saiba gerenciar a natureza no sentido de cultivo (ou se quisermos até mesmo de cultura ) e proteção: “Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar.” (Gênesis 2.15).

Embora associemos esse versículo mais à agricultura do que à cultura propriamente dita, a palavra origina-se etimologicamente do cultivo e cuidado dispensado à terra e aos animais. Dizem que o homem começou a produzir cultura quando se fixou à terra e passou a cultivá-la. Como Leonardo Boff tanto o frisa, a própria palavra “ecologia” não significa nada mais do que “cuidado”, particularmente com o meio, o oikos , o que significa, em outras palavras, amor . Então, a visão cristã é perfeitamente coerente e não representa nenhuma ameaça contra a luta pela ecologia.

Outra acusação freqüente, a do dualismo entre corpo e alma, que faria os cristãos desprezarem o mundo físico e material, fechando-se nos seus sonhos escatológicos com o novo mundo, é igualmente infundada se levarmos em conta, por exemplo, que a contradição entre mente e corpo de que Paulo nos fala (Romanos 7) é uma condição limitada e não permanente do ser humano. Enquanto não alcançamos o alvo da perfeição, somos participantes da natureza do Criador, chamados para refleti-lo em tudo, inclusive no amor à natureza e no desejo de restaurá-la em amor (2 Pedro 1).

Na verdade, como diria Lewis em Cristianismo Puro e Simples e The Abolition of Men (“A Extinção do Homem”), o que está por trás da crise ecológica não são as profecias e conceitos sobrenaturais do cristianismo, mas sim a falsa compreensão do que é realmente “natural” e o que é o “ser humano”, ou seja, o projeto criatural que Deus tinha originalmente para o mundo. E esse plano será restaurado (Apocalipse 5.9, 7.9, 21-22). É quando limitamos o pano de fundo sobrenatural mais amplo a um sistema fechado e passamos a reduzir o homem a um autômato, desprovido de tronco (“without chests”) – onde vai inclusive o coração –,acabaremos extingüindo a natureza e, com ela, toda a humanidade.

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