A necessidade de uma consciência ética-ecológica cristã – Parte 2

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Paulo Afirma: Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós. A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus (Rm 8.18,19 [ARA]).

O texto em questão deixa claro que o tempo presente faz parte de um gerúndio entre o passado e o futuro. Aponta para o movimento, em que a criação ficou sujeita à vaidade, está sofrendo no momento e será redimida quando chegar a hora. O sofrimento do tempo presente é compartilhado por toda a criação. Estamos diante de um processo que teve início com a desobediência da humanidade e terá seu fim na glorificação. Essa glorificação só será possível por causa da obediência do segundo Adão. Jesus nos deixou o exemplo a respeito da obediência à voz do criador.

Neste tempo presente em que vivemos, temos a responsabilidade de obedecer à Palavra de Deus. Assim, o foco nesse ponto é o processo. Paulo diz claramente que a criação aguarda que os filhos de Deus sejam revelados. O sentido do verbo aguardar (avpekde,comai – apekdechomai), é estar de cabeça erguida com olhar ansioso, para ver algo que está se aproximando. Segundo Stott (200, p. 287), o que a criação tem tentado ver é a revelação dos filhos de Deus, almejando o desvendar de sua identidade. Fica claro que é algo futuro. Contudo, até que seja consumado esse quadro, não podemos ficar inertes diante dessa situação.

Paulo segue afirmando: Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus (Rm 8.20,21 [ARA]).

É fato que a criação está passiva diante das atrocidades da humanidade, mas não por sua própria vontade. Já os cristãos, por vontade própria, não devem permanecer passivos diante desse quadro desolador. Todos sofrem com a situação alarmante que a natureza passa hoje. Essa é uma existência escravizada pela ausência de ética eficaz.

O texto aponta para os filhos de Deus e, nesse contexto, Romanos 8 trata acerca dos herdeiros de Deus. São os que receberam o espírito de adoção e por isso podem clamar: Abá, Pai! Cranfield (2005, p. 185) afirma que os crentes já são os filhos de Deus nesta vida. A partir da ressurreição de Jesus, temos a revelação dos eleitos de Deus, aqueles que foram adotados como filhos e, por isso, são herdeiros. Estão presentes no mundo e são guiados pelo espírito de Deus.

Calvino ressalta que a humanidade deve ser despertada para a realidade de que toda a criação inocente é punida por conta do pecado (2001, p. 293). Deve-se reconhecer que a culpa é do homem pela criação estar em sujeição à corrupção. Esse despertamento é tarefa do povo de Deus, que conhece a ética eficaz para a manutenção de um mínimo necessário para a vida, até que venha o fim.

Os filhos de Deus devem compreender que, como herdeiros, têm a responsabilidade de cuidar da herança do Senhor, que certamente não pode ser reduzida a alguma coisa, em algum lugar no céu. A herança do Senhor é toda a criação.

Problema: vida cristã polarizada
Boa parte dos cristãos esteve cativa de um sutil ensino gnóstico, que polariza a vida cristã. O dualismo gnóstico divide o ambiente do crente em duas esferas: de um lado, a boa igreja, e, do outro lado, o mundo mau. A implicação desse tipo de ensino está no entendimento de que o crente não pode estar no mundo, nem se envolver com as coisas do mundo, pois é mau. O envolvimento dos cristãos se dá através da ponte que liga a igreja ao mundo: o evangelismo. Fora disso, não pode haver envolvimento, pois o mundo jaz no maligno (1Jo 5.19), e os crentes devem fugir do envolvimento com ele. Isso pode ser apontado como um dos motivos da total alienação dos crentes em relação ao mundo e às questões relacionadas: política, economia, ecologia, botânica, sociologia, etc.

Devemos reconhecer que isso tem mudado. Porém, não é mudança apenas como fruto de uma responsabilidade social. Com uma pregação mais universalista, os crentes têm ido ao mundo para usufruir, com fins materialistas e hedonistas.

Há o que vai ao mundo e realiza uma missão social efetiva, porém abandonando a fé real que alimenta a alma. Deve haver equilíbrio. O povo de Deus deve compreender a respeito de sua posição em relação ao mundo, conservando uma ética cristã, como salvos em Cristo Jesus, e uma vida devocional constante.

Jesus nunca ensinou que os discípulos deveriam sair totalmente do mundo. Pelo contrário, ele os enviou do mesmo modo que o Pai o enviou (Jo 20.21). Jesus não pediu que os tirasse do mundo, mas que os livrasse do mal (Jo 17.4).

Horton diz que nenhuma parte da atividade humana deveria ser vista como fora do interesse e do desígnio providencial de Deus (1998, p. 90). Deus é o Senhor de todos os aspectos da vida e, nesse sentido, a Palavra de Deus deve governar todas as áreas da vida. É importante destacar esse ponto, uma vez que a proclamação dessa palavra deve seguir essa premissa. Se a mensagem visa apenas ao ser interior da humanidade, é parcial e relativa. Se ela visa somente ao exterior, também é relativa. A mensagem deve ser integral, ou seja, contemplar não somente o interior do ser, mas também sua totalidade e o ambiente em que se encontra.

Missão: do caos para a ordem
O livro de Gênesis mostra Deus criando os céus e a terra, os animais e as plantas, o homem e a mulher. À humanidade, Deus deu o domínio e os colocou para guardar o jardim com regras específicas (Gn 2.18-25).

O relacionamento entre homem e Deus qualificava o paraíso e mantinha a ordem nesse meio ambiente equilibrado. Porém, havia proibições. A quebra de uma ordem específica foi a causa da corrupção generalizada sobre a terra (Gn 6).

É interessante perceber o cuidado de Deus pela natureza e a ordem que estabeleceu.

Há leis naturais reguladoras que foram criadas por Deus, quando os fez “segundo a sua espécie”. Deus estabeleceu estações do ano (Sl 74.17), regras para os ventos (Jó 28.25), processo de evaporação (Gn 2.6; Jó 36.27-29), regras para a precipitação das chuvas (Jó 5.10; At 14.17), e descanso para a terra (Êx 23.10). Ele proibiu o abate de animais novos demais (Ex 34.26), proibiu a matança da ave-mãe quando com os filhotes no ninho ou sobre os ovos (Dt 22.6-7), evitando o extermínio em massa de animais (Jn 4.11b). Também estabeleceu o cuidado com as fezes (Dt 23.12-14), e assim por diante.

Deus fez determinados pactos com a criação, baseado no modo que fez as coisas. Deus não viola qualquer aliança, e a trata com integridade: cada coisa em sua própria ordem, cada coisa no modo em que ele a fez. Nesse sentido, deveria o homem tratar da mesma forma, tratar cada coisa com integridade em sua própria ordem, respeitando o equilíbrio de
seu meio.

O fato simples é que, se o homem não for capaz de resolver seus problemas ecológicos, então os recursos do homem irão perecer. É bastante concebível que o homem não poderá pescar nos oceanos como no passado e que, se o equilíbrio nos oceanos for muito modificado, o homem se encontrará até mesmo sem oxigênio suficiente para respirar (SCHAEFFER, 2003, p. 12).

Deus colocou ordem no caos. O homem foi da ordem para o caos. Agora a criação é passível de suas ações destruidoras. A proposta é o retorno à ordem. O respeito a todas as coisas criadas deve ser exercido de modo consciente e com honestidade. A questão da preservação do meio ambiente, ligada à responsabilidade social, está nas mãos desta geração.

O homem moderno tem trazido destruição sobre a boa criação de Deus e não lhe tem dado nenhum valor efetivo. Tudo o que ele tem é um valor pragmático da forma egoísta mais grosseira.

Schaeffer diz que ao homem foi determinado o domínio sobre a criação, mas que, depois da queda, ele tem exercido esse domínio de maneira incorreta (2003, p. 49). Ou seja, tornou-se um ser rebelde que se posicionou de modo autônomo no centro do universo e explora as coisas criadas como se fossem nada em si próprias, como se tivesse direito autônomo sobre elas.

Rega levanta uma questão importante quando declara que, ao estabelecer a indústria, a humanidade passou a produzir poluentes que destroem o meio ambiente (1992, p. 30). É certo que o homem moderno necessita da indústria, porém mais ainda de uma solução. O que as pessoas fazem a respeito de sua ecologia depende do que pensam sobre si mesmas.

A solução deve vir de dentro, pois esta é a causa real: o homem tem poder de dominar a natureza, porém a usa de modo errado. Vemos, portanto, que o homem polui porque ele pertence a uma raça rebelde, porque ele é por natureza filho da ira (Ef 2.3). Enquanto ele permanecer nesse estado de rebeldia — ativa ou passiva, consciente ou inconsciente — ele irá poluir a terra (REGA, 1992, p. 30).

O profeta Isaías já havia previsto a situação de caos relacionada com a ecologia: “Na verdade a terra está contaminada por causa dos moradores; porque transgridem as leis, mudam os estatutos, e quebram a aliança eterna” (24.5 [ARA]). O mundo morre porque o homem é desobediente. A Bíblia é clara quando afirma que o salário do pecado é a morte (Rm 6.23).

A natureza estará equilibrada quando as leis de Deus forem observadas e, para isso, faz-se necessária a reconciliação do homem com Deus. Essa reconciliação só pode ser feita quando o homem aceitar definitivamente a Jesus Cristo como Senhor e salvador de sua vida. Não somente isso, mas também se submeter à sua poderosa vontade e obedecer aos seus preceitos, que são bons e produzem saúde.

Sinergismo na obra da manutenção
As causas da corrupção e destruição da criação estão enraizadas na natureza decaída do homem. O pecado trouxe todo o transtorno à ordem criada e, por isso, essa criação está em cativeiro. Cristo, todavia, opera a obra de restauração, que não se limita apenas à nova vida dada ao indivíduo, mas abrange a restauração de todo o universo. A contribuição da humanidade no estado atual das coisas é o pecado. A contribuição de Jesus para a manutenção e restauração de todas as coisas é a vitória sobre esse pecado.

A única esperança para a criação, para o universo todo, bem como para o homem, está no caráter de Deus, e da seguinte maneira: a glória de Deus e a honra de Deus impedem-no de deixar que o mundo se perpetue como está. Se Deus é Deus, o grande criador, se Deus é todo-poderoso, tendo sob seu comando todo governo e autoridade, então o próprio caráter de Deus torna completamente impossível que ele deixe a criação como se encontra no tempo presente. Ele não pode deixá-la nessa condição de vaidade, nessa condição em que “geme” e “sofre dores de parto” (LLOYD-JONES, 2002, p. 81).

Deus tem interesse que sua criação saia do estado atual. É incoerente com o caráter de Deus imaginar que o kosmos deva permanecer nesse estado permanente. Quando olhamos para a criação, temos o discernimento daquilo que o apóstolo Paulo diz e podemos ver as imperfeições, a vaidade e a corrupção. Esses elementos estão presentes porque Deus amaldiçoou a terra, porém não a abandonou. Ao contrário, deu-lhe esperança de livramento, em que o ser humano teria um papel fundamental. Agora, o povo redimido deve compreender que está ativamente envolvido num sinergismo com o próprio criador.

O autor de Hebreus afirma: “O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da Majestade, nas alturas; feito tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que eles” (Hb 1.3 [ARA]).

De um lado, temos Deus sustentando todas as coisas pela palavra de seu poder; de outro, temos os cristãos agindo de maneira eficaz em obediência a essa palavra. Depois da queda, o homem passaria a ter uma função indicativa na relação com a natureza, não somente apanhando frutos para o consumo, mas agindo efetivamente. Ele deveria trabalhar e comer do suor do seu rosto e manter, constantemente sob controle, os espinhos e as ervas daninhas.

Como diz Lloyd-Jones, a criação está atada ao homem e o que acontece com o homem inevitavelmente é forçoso que aconteça com a criação (2002, p. 87). Deus tem agido, constituindo novas criaturas e capacitando-as para influir no meio em que estão inseridas. É certo que isso não significa o paraíso na terra, mas a possibilidade de manutenção até que todas as coisas recebam a glorificação. Até que isso ocorra, o povo de Deus também tem a responsabilidade de cuidar do meio ambiente para a preservação da vida.

Parte 4 – O papel da igreja no meio ambiente
Lopes, citando Calvino, afirma que, se Cristo é Senhor de toda a existência humana, se cremos assim, então é dever da igreja dar atenção às questões sociais e políticas. Ele segue dizendo que, para Calvino, a restauração inaugurada por Cristo ocorre inicialmente no seio da igreja. É na igreja que a ordem primitiva da sociedade, tal qual Deus havia estabelecido, tende a ser restaurada. É certo que se trata de restauração parcial, não pretendendo estabelecer ação plena. Porém, deve ser compreendida como ato inerente ao cristão, como ser responsável designado por Deus para tal função (s/data, p. 9).

A igreja tem um papel importante na propagação do evangelho integral. O evangelho é o poder de Deus para salvar o mundo. Contudo, diante de uma influência gnóstica e uma mensagem distorcida da escatologia, tende-se a empurrar para longe o problema da ecologia nas igrejas. Muitos têm vivido aguardando a vinda de Jesus, em constante fuga deste mundo tenebroso.

É certo que esse momento chegará, porém não podemos ficar simplesmente de braços cruzados, uma vez que temos responsabilidade social como todo mundo.

Despertando a consciência cristã
O escritor João A. de Souza Filho (1992, p.81) faz uma afirmação nesse sentido dizendo que não negamos o céu e sua existência, nem a questão da volta de Jesus, mas não podemos viver um escapismo escatológico que nos aliena das questões da terra.

Se a igreja andar em harmonia com seu Deus e observar seus preceitos, ela deverá promover mudanças profundas na sociedade. A igreja é comissionada pelo criador do planeta e tem em si a lei suprema do Senhor no coração, lei esta que tem o poder de libertar tudo e todos dessa destruição sem limites, a saber, o amor.

Nossas crenças são baseadas na redenção divina da terra, que acontecerá quando houver a manifestação do Filho de Deus, Jesus Cristo. A natureza ficará livre de seu cativeiro através dos filhos de Deus.

Para mudar o comportamento do homem, é necessário mudar o próprio homem; e a igreja tem a resposta, que é Cristo. Sabemos que o pecado do homem trouxe corrupção à terra. Também sabemos que onde abundou o pecado, superabundou a graça de Deus (Rm 5.20). É este o principal fundamento: Jesus Cristo, o Senhor dos senhores, rei do universo. Só Ele tem o poder de determinar o que deverá acontecer no planeta, sejam chuvas, sol, nascimento, morte, enfim, tudo está sob o controle do Senhor.

A igreja tem a resposta: os redimidos vivendo em santidade, em obediência ao Deus todo-poderoso, com a consciência de que têm a solução que a sociedade tanto necessita nestes dias atuais.

Porém, a igreja pode se tornar um sério problema quando se isola das questões sociais, quando se fecha nas quatro paredes em busca se seus próprios interesses. A igreja que toma esse caminho não faz de modo aberto, mas na sutileza da mensagem espiritualista, em que não importam as questões que não se relacionam com esse tema.

Na cruz do calvário, Deus traz libertação para que aconteça o retorno ao relacionamento harmonioso com o criador. Em Cristo, há libertação do homem. Como eleito de Deus, ele deve cumprir seu papel de vice-governador do planeta, como diz o texto de Gênesis 1.12: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra (grifo nosso, [ARA]).

Os eleitos de Deus devem ter a consciência de que, como novas criaturas, recebem capacitação especial para o governo, e sabedoria para o cuidado e recursos do criador para a manutenção. Entretanto, sem o propósito salvífico de Deus, não há qualquer esperança para o homem e para toda a criação.

O cristão não pode entrar em reclusão em seu meio eclesiástico, de modo a focar seus esforços apenas nas questões espirituais. Ele deve ter plena consciência de sua permanente interação com o meio onde vive. O Professor Rega (1992, p. 30) diz que, quando o homem polui o seu ambiente, ele está automaticamente se autodestruindo. A maneira de explicar esse comportamento suicida do homem está nas Escrituras Sagradas. Toda a terra ficou corrompida com a entrada do pecado, assim como o homem degenerado.

Por esse motivo, não podemos esperar que nossas instituições nos conduzam aos verdadeiros valores ecológicos e à verdadeira preservação da natureza. Nossos sistemas políticos poderão até ter uma participação nesse processo, mas será sempre condicionado à preservação de seus interesses próprios. Do mesmo modo, o homem, de modo geral, age contra seu próprio futuro, porque egoisticamente se apodera de tudo quanto atrai sua atenção de seu próprio habitat (NETO, 1992, p. 10).

A questão apresentada aqui está intimamente ligada ao interior do homem, e não somente às regras. É uma questão de conscientização profunda e negação do egoísmo. Para o ser degenerado, isso é impossível, pois visa sempre a seus interesses. Nesse ponto, destaca-se a responsabilidade do cristão.

Penã levanta a justa questão: Diante do quadro desolador atual, não seria demasiado tarde para alguma solução cabível? Será que não avançamos a ponto de não haver mais retorno? Precisamos realmente reconhecer que, nesse processo de submissão ilimitada ao meio ambiente natural, não é o homem vencedor. Refletir nas ideologias puramente humanas e achar que estas poderão resolver os problemas que levantam equivale a absolutizar suas potencialidades. Como diz Penã, é como queimar a madeira dos vagões para alimentar a caldeira da locomotiva (1989, p. 167).

Deus é o criador de todas as coisas. A Bíblia afirma isso em alto e bom som (Gn 1). O criador não realizou sua obra e a deixou ao acaso, permanecendo na transcendência, mas é Deus imanente e está agindo por meio de seus filhos. Há um dever e uma consciência em se buscar uma solução para o meio ambiente. Contudo, muito pouco se fala do Criador da natureza. Por isso, faz-se necessário um posicionamento cristão frente aos problemas éticos ecológicos, com estudos bíblicos em linguagem conceitual.

A catástrofe do meio ambiente pode ser detida a partir de um posicionamento ético que dirija e controle os programas técnico-científicos. Essa ética deve também mobilizar a população mundial e motivar uma tomada de decisão exigida pela situação. As autoridades estão conscientes dessa necessidade. O malogro da Conferência de Estocolmo sobre o meio ambiente (1972) colocou em evidência a necessidade de consenso sobre um quadro de valores morais universalmente aceitos para fazer frente à crise (PENÃ, 1989, p. 169).

Nós devemos ter o domínio sobre a natureza, mas não devemos usá-la de forma semelhante ao homem caído, agindo fora dos valores éticos. Dessa forma, o cristão tem condições de exercer domínio sem ser elemento de destruição.

O cristão deve ter consciência de sua posição importante na sociedade, pois, quando a igreja coloca suas crenças em prática, na relação do homem com a natureza, existe cura substancial. A comunidade cristã deve ser uma exibição viva na verdade de que, em nossa situação presente, é possível ter curas substanciais. Os cristãos devem tratar a natureza com um respeito gigantesco. O cristianismo verdadeiramente bíblico tem uma resposta real para a crise, pois oferece uma atitude equilibrada e saudável para com a natureza, que surge da verdade de Deus.

O cristianismo oferece a esperança, aqui e agora, diante dos resultados da queda. Isso é possível por causa da redenção de Cristo na cruz do calvário, e por isso esse destaque da ação redentiva na cura eficaz. Baseado no fato de que haverá uma redenção total no futuro, não somente do homem, mas de toda a criação, o cristão que acredita na Bíblia deve ser aquele que trata da natureza na direção da forma que ela será. Ele realiza essa obra com a ajuda de Deus e no poder do Espírito Santo (SCHAEFFER, 2003, p. 47).

Assim, o cristão deve ter a consciência sobre a compreensão renovada do domínio do homem sobre a natureza, um domínio sobre as ordens inferiores da natureza. Ele deve compreender que não é soberano sobre elas. A saber, o homem deve utilizar a natureza como Deus quer que ele a utilize, pois somente ele é o Senhor soberano.

Conclusão
A criação é a totalidade das coisas que Deus criou. O homem foi criado como a coroa dessa criação e posto como um mordomo do meio. Deus confiou ao ser humano toda a criação; e isso, como administradores. Isso implica dizer que ela não nos pertence. Nós devemos usá-la sabendo que não é nossa intrinsecamente. O domínio do homem está debaixo do domínio de Deus. Se nós temos uma real compreensão da visão cristã a respeito da mordomia em relação à criação, então teremos uma ação efetivamente ética na direção de sua vontade.

O texto de Romanos em questão nos ensina sobre a totalidade da ação de Deus na criação: no passado, foi sujeita à vaidade; no presente, geme; e no futuro, será de uma vez por todas liberta da escravidão do pecado.

Essas ações são assim compreendidas tendo em vista a ação do pecado, que deu início a todo o processo. Por isso, pode-se compreender o homem caído como o pivô da queda do cosmos, mas Deus como sujeito da ação da nulidade em relação à criação. A partir desse início trágico, o velho homem é caracterizado por atos que destroem a comunhão com Deus, com os demais homens e com a criação.

Uma vez que Cristo traz a salvação ao mundo, o novo homem é marcado por um novo conhecimento, que emana do conhecimento de Deus. Esse conhecimento permite que o novo homem se torne verdadeiramente uma imagem do seu Criador em atos de amor fraternal. A condição de esse novo homem ter sido “criado à semelhança de Deus” significa que ele é criado para combinar com Deus. O homem aceita o gracioso veredito divino pronunciado sobre ele: o cristão é separado para o serviço de Deus, em santidade e amor. Ele deve agora viver em dependência daquele que é a verdade.

Toda a criação está de olho nos filhos de Deus, em expectativa, aguardando a redenção final. Paulo deixa claro que, nessa escatologia em processo, a criação existe como todos nós, carente de cuidados.

Nesse sentido, muitos cristãos estão alienados das questões relativas à totalidade da criação. A implicação está na ausência de uma tomada de posição em relação à responsabilidade com ela. Um dos motivos pode ser por pura ignorância. Se essa é uma realidade vigente, então há uma lacuna a ser preenchida e trabalhada. Todos os seres humanos têm responsabilidades sociais iguais. Tomar uma postura bairrista só torna o cristão um escapista do mundo real.

O que temos visto, da parte de muitos crentes, é uma preocupação apenas com si mesmo, enquanto o planeta tem sido destruído pelo poder das ações irresponsáveis do próprio ser humano. A natureza tem sido assassinada aos poucos por puro anseio desenfreado de lucro rápido, ou, então, por puro descaso daqueles que não refletem sobre seus atos, com resultados irreversíveis para um futuro próximo. O destruidor se torna vítima de seus próprios atos.

A solução do problema está bem perto de todos. Porém, não tão perceptível assim, pois o pecado cegou o homem e corrompeu toda a terra no Gênesis, e até hoje temos recebido o seu efeito. Cremos que o mundo precisa ser redimido e o será por meio de Jesus Cristo. Contudo, temos uma vida em andamento.

A igreja tem a resposta, uma vez que Deus tem atuado por meio dela para redimir a humanidade. O homem precisa ser transformado para poder trazer transformação ao meio em que vive. Poderíamos sugerir um conjunto de leis que seria o paradigma e a solução de todos os problemas. Mas, na prática, temos visto que esse não é o caminho, pois o coração do homem é mau. Acima das regras, o poder transformador de todos os tempos vem do Deus eterno.

O que vemos hoje em dia é uma igreja fragmentada, em que a maior parte está passiva diante do gemido da criação.

A ação redentora não deve ser entendida apenas como ação futura, mas é objeto da experiência presente. É ação de Deus nos eleitos, e a ação dos eleitos na criação. A salvação não é apenas restauração consumada, mas também em andamento. Assim também se dá com o meio em que vivemos. A criação aguarda e, enquanto isso, pode ser mantida pela consciência de que sua destruição traz sofrimento a toda raça humana.

A igreja não deve furtar seus membros da relação e finalidade entre Filhos de Deus e criação. A ligação entre ambos não está apenas numa esperança escatológica, mas deve resultar num exercício concreto de cidadania humana, com base ética e exercício real no trato do meio em que está inserido. É trabalhoso refletir sobre isso, e mais ainda partir para ação. No entanto, é isto que a Palavra nos ensina, um pensar teológico responsável e coerente.

Estamos numa continuidade, num gerúndio constante em que a comunidade dos santos não é fictícia, mas real, com reais necessidades. Vivemos numa relação permanente com a criação e, quando ignoramos esse fato, falhamos em nossa missão como Filhos do Altíssimo.

A conscientização dos eleitos é de suma importância. Para isso, é necessário ter convicção sobre Deus como Criador e também sobre a importância e o valor da criação.

A igreja deve ensinar os cristãos a respeitar o meio ambiente. Ter tal atitude também faz parte do testemunho cristão. Por isso, a necessidade de passar adiante essa atitude. Temos que prestar atenção sobre a responsável utilização dos recursos dispensados à nossa existência. Temos que saber utilizá-los de modo criterioso, de modo a refletir sobre as necessidades atuais da humanidade. Mas não somente isso, também devemos preparar as futuras gerações.

Se os cristãos forem incisivos em seu posicionamento, podemos apresentar uma ideologia responsavelmente ética. Esta certamente levará mais a sério a missão de disciplinar a utilização dos recursos naturais. Ao mesmo tempo que os utilizamos, também devemos preservá-los e protegê-los para que não se acabem, em vez de tomar medidas paliativas que apenas adiam por algum tempo o seu esgotamento final.

Por fim, a visão da igreja deve ser integral. Essa visão integral irá gerar uma missão integral, que vê o homem todo em todo o seu contexto. A ação efetiva do cristão, frente a essa realidade, será ampla e próxima de uma realidade bíblica. A consciência de que onde abundou o pecado superabundou a graça de Deus certamente tirará da estagnação os cristãos sérios. Estes devem ter em mente a verdade, que, se o pecado tem abrangência cósmica, então a salvação deve ter tal abrangência e ainda mais. O cristão tem um potencial assombroso, tendo em vista a grande diversidade de dons, dispensados pelo próprio criador. E, com certeza, pode trazer mudanças significativas ao planeta e ajudar em sua manutenção até que os tempos sejam consumados com o retorno do nosso amado redentor, Jesus Cristo. A Ele toda a glória!

 
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