A necessidade de uma consciência ética-ecológica cristã – Parte 1

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A dimensão ética da relação entre ser humano e meio ambiente é assunto relevante nestes dias de crise. Qual deve ser nossa posição, como cristãos, frente à destruição do meio ambiente? Em Romanos 8.17 a 25, Paulo nos apresenta a ação de Deus na criação, mostrando o movimento do passado para o futuro, tendo o presente como um processo a ser levado em conta. Nesse contexto, qual é a implicação do tema criação para uma consciência ética-ecológica cristã?

É dever de todos os cristãos refletir não apenas no resgate dos perdidos, mas também nos posicionar diante desse assunto que nos afeta direta e indiretamente, o qual terá repercussões sérias para as futuras gerações. Estar bem informado sobre os dados publicados a respeito da situação de nosso planeta faz parte da responsabilidade de cada cidadão para uma tomada de posição efetiva. Dar de ombros e passar a responsabilidade apenas aos órgãos competentes é o caminho que muitos tomam. Estamos diante de um problema que, independente de raça, cor e religião, interfere diretamente na existência do ser humano. É um problema que diz respeito a todos.

A dimensão ética cristã a respeito da criação poderá oferecer aos cristãos um conjunto de princípios e condutas normativas que pode melhorar os relacionamentos entre o cidadão, a sociedade e o espaço ambiental. Porém, o melhor de tudo isso é a ação poderosa do amor que, em ação, rege e une perfeitamente todas as coisas.

Há inúmeras instituições que se preocupam em destacar a atual situação em que se encontra nosso planeta. Há relatos de esgotamento dos recursos naturais em consequência da destruição do meio ambiente pelo seu colonizador, chamado homem.

É certo que os resultados da ação destruidora do humano sobre a natureza se mostram na vida do próprio homem ou na ausência desta vida. É cada vez mais normal assistir, por meio da mídia, às notícias frequentes sobre o tema abordado neste breve artigo.

O objetivo jamais é radicalizar, partindo de uma visão pessimista. O intuito é refletir sobre a necessidade de um equilíbrio da vida entre o homem e seu meio ambiente, de modo que ambos possam sobreviver numa perspectiva cristã.

Parte 1 — A Criação
Na perspectiva bíblica, a criação refere-se àquele primeiro ato mediante o qual o Deus autoexistente trouxe à existência o que não tinha forma de existência independente. Em certo sentido, pois, a criação torna-se uma subdoutrina da doutrina do próprio Deus, pois, uma vez que algo existe, além de Deus, já precisamos definir tal existência em relação à sua origem, tanto do ponto de vista da responsabilidade, quanto do ângulo do destino.

O conceito de criação tem vínculo direto com o próprio criador. Uma vez que ela tem começo em Deus, deverá encontrar seu cumprimento nele. A implicação está na dependência da criação em relação ao criador, definida no Novo Testamento, quando diz que tudo foi criado da parte de Deus, por Deus e para Deus (Rm 11.36).

O Antigo e o Novo Testamentos apontam o verdadeiro Deus como criador de todas as coisas, alicerce indispensável da teologia sã. A fé, a razão e a revelação concordam entre si que Deus é a causa da criação. Assim, a nossa teologia tem início pela base do conceito de que Deus criou e trouxe à existência os universos e os seres materiais e imateriais. Por causa desse fato, tudo o que foi criado deve buscar e encontrar em Deus a razão de sua existência e o consequente destino.

A criação espiritual é que torna necessária a criação material, e é precisamente essa realidade que está envolvida na redenção. Afinal, na nova criação, os remidos haverão de participar dos benefícios da ação divina. Essa afirmação aponta para uma característica distinta escatológica de tudo o que foi criado.

Origem de tudo
Existe um conceito que afirma que é desconhecido o elemento do qual tudo veio a ser. Desse elemento desconhecido, surgiram os quatro elementos básicos: terra, ar, fogo e água. Essa teoria diz que toda vida se origina de um ou de outro desses elementos, ou de todos eles.

Há também o conceito dos que não entendem a matéria como o elemento primeiro da criação. Para estes, havia uma substância espiritual, a partir da qual a matéria teria surgido e se desenvolvido. Platão foi um que defendia esta ideia, e chamava essa substância de “o universal”, um padrão que também seria eterno. Esse conceito dá ao espírito uma posição primeira e à matéria uma mera imitação deste.

No conceito da criação, como ato eterno de Deus, temos as formas e tipos vindo à existência a partir de um ato de Deus, recebendo desse criador sua manutenção. A implicação dessa declaração é que nem sempre a criação existiu como uma realidade. Contudo, tal criação sempre fez parte do pensamento de Deus. Dentro do tempo, Deus concretizou seu pensamento e as coisas vieram à existência. Então, houve um momento em que somente Deus existia e, a partir daí,
mediante o poder de sua palavra, tudo foi criado.

Do ponto de vista do Novo Testamento, Deus cria todas as coisas por meio de seu Filho, trazendo à existência o material e o imaterial. Deus criou tudo em Cristo e para Cristo. Deus fez o mundo de coisas que não aparecem (conf. Hb 11.3), que podem indicar coisas imateriais.

Os teólogos cristãos têm-se utilizado dessa ideia, afirmando que os universais são as ideias da mente divina. Nesse caso, somente a mente divina existia, antes mesmo do universo físico. Assim, se há uma causa primeira, na reflexão cristã, Deus é o ser supremo, o Todo-poderoso, que traz à existência todas as coisas.

Literalmente “gemendo”
O apóstolo Paulo diz no texto de Romanos: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós. A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora” (8.18-22 [ARA]).

Schaeffer levanta a questão: Por que a criação está gemendo? Em seu ponto de vista, ele diz que a causa está na anormalidade a que essa criação foi entregue por causa do pecado (2003, p. 218).

Segundo o texto bíblico, a queda não foi apenas do gênero humano, mas de toda a criação, pois o pecado afetou toda a criação: “E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida” (Gn 3.17).

A humanidade pecou, rebelou-se contra seu criador, e toda a natureza foi juntamente desviada de seu curso. Hendriksen defende que o verso 22 de Romanos 8 se refere à criação irracional, animada e inanimada, chamando-a de criação subumana ou simplesmente de natureza. É preciso ter em mente que não foi por sua própria escolha que a natureza se tornou sujeita a futilidade, ou seja, não foi a criação irracional que pecou, mas foi o homem (2001, p. 354).

A doutrina da queda cósmica está implícita no registro bíblico de Gênesis 3, em que a terra recebe maldição por causa do homem, até Apocalipse 22, em que nunca mais haverá qualquer maldição. Bruce (1997, p. 137) diz que o homem foi encarregado da criação inferior e a envolveu consigo quando caiu.

Cranfield também entende que a criação cai junto com o homem e diz que há pouca dúvida de que Paulo teve em mente o julgamento narrado em Gênesis 3.17-19 (2005, p. 186). É interessante perceber o paralelismo entre “sujeita à vaidade” e “cativeiro da corrupção”, podendo supor que vaidade deve ser empregada simplesmente como sinônimo de corrupção, o que levou à mutabilidade e à mortalidade que caracterizaram essa criação como a conhecemos.

Já Rey compreende essa passagem como essencialmente antropológica. Ele diz que as palavras que descrevem a espera da criação são tomadas de empréstimo ao vocabulário do sofrimento humano. Segue afirmando que, para o apóstolo Paulo, cosmo e homem formam uma unidade e estão ligados por um mesmo destino (2005, p. 218). O que é difícil de concordar com Rey é a declaração de que, para Paulo, pouco importa o ponto de vista cósmico e o que interessa mesmo é o homem. Isso pode levar a um descaso com relação ao contexto em que se vive e, consequentemente, conduzir o cristão a focar sua prioridade apenas no ser humano.

O fato é que Adão cometeu o pecado e ele viria a sofrer as consequências, mas a criação também. O pecado causou anomalias a ele mesmo e a toda a criação. Desde a queda do homem as potencialidades da natureza estão tolhidas, restringidas e confinadas. A criação está sujeita a um desenvolvimento reprimido e a uma constante decadência. Ainda que aspire, não é capaz de plena realização (HENDRIKSEN, 2001, p. 357).

Por isso, o gemido, como o de uma mulher que está no processo de dar à luz uma criança. É gemer que indica sofrimento. Rey ressalta que essa expressão de Paulo é imagem tomada de empréstimo da apocalíptica judaica para designar os sofrimentos com a proximidade da era messiânica, em que o mundo será libertado de seus males (2005, p. 220).

É fato percebermos que estamos rodeados de sofrimento, que gera gemidos em toda a criação por causa da presença do pecado. Desde as suas mais remotas origens, toda a criação tem sofrido com a humanidade. Quando Deus castigou a humanidade doente, através do dilúvio, todos os animais morreram, exceto alguns escolhidos. No Êxodo, Deus matou todos os primogênitos, filhos dos egípcios e seus animais, por conta da opressão. Todavia, livrou seus escolhidos, os filhos dos israelitas e seus animais. Deus se importa com toda a sua Criação, e nós também temos bons motivos para nos importarmos com ela.

Mesmo agora o homem, que pela exploração egoística pode transformar a boa terra numa bola de poeira, pode, graças ao desempenho de uma administração responsável, fazer com que o deserto floresça como um rosal. Que há de ser, então, o efeito que uma humanidade completamente redimida produzirá na criação entregue aos seus cuidados? (BRUCE, 1997, p. 137).

É necessária a conscientização de que o ambiente que nos rodeia tem sofrido continuamente com as ações egoístas dos pecadores. Não podemos perder de vista que a criação oferece aspectos totalmente opostos: é o lugar da revelação da glória e da bondade de Deus, mas sua forma também está determinada pelo pecado, pela doença e pela morte (SCHELKLE, 1978, p. 27). Como seres redimidos, precisamos nos interessar por esse gemido da criação, pois não deixa de ser criação de Deus.

Schelkle diz que a história da humanidade em relação a Deus é salvação e ruína de toda a criação. O homem é o coração do mundo que pulsa (1978, p. 27). Por isso, temos a narração bíblica do pecado, o castigo dos primeiros homens e a criação junto com eles.

Quando olhamos à nossa volta, vemos claramente como isso se materializa de modo cruel. O cristão deve ter a consciência de que não é salvo do mundo, mas com ele.  O sofrimento que Paulo quer explicar também é para nós uma realidade que estamos vendo. É fato que o homem pode perverter a criação, mas também pode salvá-la.

Parte 2 — Uma situação alarmante
O homem tem afetado o meio ambiente de várias maneiras. O ser humano, ao servir-se da natureza para existir e viver, tem provocado, por ignorância ou irresponsabilidade, muitos problemas que, devido à superpopulação do mundo atual, causam preocupações a todos nós. A realidade do fim do mundo parece mais viável hoje do que nunca. Abaixo podemos ver alguns destes problemas ao longo destes últimos anos.

Como está nosso planeta hoje
Alguns problemas podem ser destacados com relação à agressão ao meio ambiente. Tais como: poluição, contaminações diversas, dessecagem, extermínio de animais, consumo excessivo de produtos naturais, destruição da camada de ozônio, dentre outros. A natureza sofre e, para se ter uma ideia disso, abaixo, podemos observar mais detalhadamente o que estamos fazendo com a nossa casa.

Rios poluídos
Saiba que as reservas de água doce ocupam apenas 2% da superfície terrestre e estão concentradas principalmente no gelo das calotas polares e nos lençóis subterrâneos. Seus principais agentes poluidores são os agrotóxicos usados na lavoura, detergentes e sabões em pó, lixo industrial e urbano, e metais pesados, como chumbo, cádmio, arsênio e mercúrio, utilizados na indústria e na mineração.

Nos grandes centros urbanos, esgotos e lixo orgânico são lançados sem tratamento nos rios e acabam com toda flora e fauna aquáticas. A matéria orgânica dissolvida alimenta inúmeros microrganismos que, para metabolizá-la, consomem o oxigênio das águas. Cada litro de esgoto consome de 200 a 300 miligramas de oxigênio, o equivalente a 22 litros de água. Se a carga de esgoto for superior à capacidade de absorção das águas, o oxigênio desaparece, interrompendo a cadeia alimentar e provocando a morte da fauna. Isso ocorre com frequência em várias regiões do Brasil, por exemplo, na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, ou na represa Billings, em São Paulo1.

Mares poluídos
Os oceanos recebem boa parte dos poluentes dissolvidos nas águas doces, além do lixo dos centros industriais e urbanos localizados no litoral. O excesso de cargas orgânicas no mar leva à proliferação de microrganismos consumidores de oxigênio. Em grande quantidade, esses microrganismos formam as chamadas “marés vermelhas”: as águas ficam escuras, matam peixes, e os frutos do mar tornam-se tóxicos para o consumo humano.

Em junho de 1994, milhares de focas aparecem mortas no litoral da Namíbia, na África, provavelmente devido à maré vermelha que atingiu o Atlântico Sul em março e abril. O petróleo é considerado o principal poluente do ambiente marinho. Vazamentos em poços petrolíferos marítimos, em terminais portuários, em navios petroleiros e a limpeza de seus tanques são responsáveis pelo despejo anual de 1 milhão de toneladas de óleo nos oceanos.

O óleo espalha-se pela superfície e forma uma camada compacta que demora anos para ser absorvida. Isso impede a oxigenação da água, mata a fauna e a flora marinhas e altera o ecossistema. O incêndio de mais de 700 poços de petróleo pelas tropas iraquianas durante a retirada do Kuweit, e o despejo de 1,2 milhões de barris de óleo nas águas do golfo Pérsico, em fevereiro de 1991, provocaram o maior desastre ecológico já verificado nos oceanos. O óleo mata 20 mil aves, cobre 400 km de areia da costa da Arábia Saudita e leva toneladas de resíduos para a atmosfera, escondendo o Sol e fazendo a temperatura cair, durante o dia, de 30 para 15oC. O último foco de incêndio é extinto em novembro de 1991, mas a remoção do óleo misturado com a areia ainda vai demorar alguns anos2.

O clima e os oceanos 
Os oceanos funcionam como um grande estômago, digerindo quase toda a matéria orgânica que se forma à superfície e que  vai afundando, até repousar no leito. Cientistas norte-americanos defendem na revista Nature, que o fato da diminuição da quantidade de  matéria orgânica sintetizada se deve ao aumento da matéria inorgânica sintetizada. O aumento da ocorrência desse fenômeno deve-se, em parte, à situação instável do clima do nosso planeta.

Quando falamos de matéria orgânica digerida pelos oceanos, falamos essencialmente de carbono que é, no fundo, o elemento essencial de qualquer tipo de vida. O carbono que permanece indigerível, aquele que os organismos que trabalham na decomposição não conseguem tratar, permanece indefinidamente entre os sedimentos que formam o leito dos oceanos. Que características peculiares têm esses menos de dois por cento de carbono que permanecem inalterados e alheios ao sistema digestivo dos mares? A equipe da Universidade de Washington, em Seattle, liderada por John Hedges, estudou partículas sedimentares de matéria orgânica à superfície e no leito do Oceano Pacífico e no Mar da Arábia, e concluiu que essa matéria orgânica que escapa inalterável apresenta pouca ou nenhuma variação em relação à restante: “Caracterizamos a estrutura química do carbono orgânico no plâncton de superfície e na matéria sedimentar do fundo do Oceano Pacífico e do Mar da Arábia. A composição dessas matérias é quase coincidente”, afirmam.

Mas a equipe também encontrou provas de uma formação invulgar de bioquímicos, talvez formados por recombinação química de certos elementos ou por uma invulgar biossíntese microbiana, na coluna de água dos dois mares observados. Os investigadores avançam então com a hipótese da matéria orgânica que escapa por digerir e usar esses estranhos elementos inorgânicos, cada vez mais presentes, para se esconder e passar por impossível de reciclar. Essa técnica usada pelo próprio carbono e outras substâncias, que não sendo nocivas se vão acumulando, atingindo graus preocupantes, poderão ser uma das causas das alterações climáticas do planeta, defendem os cientistas.
 
Uma das consequências do aquecimento terrestre é o aumento do nível dos mares. O gráfico abaixo mostra que, desde 1960, o nível não parou de subir.
 


Durante este século, o nível do mar elevou-se cerca de 10 a 25 centímetros, provavelmente por causa da fusão de geleiras, muitas das quais estão perdendo peso.

Mas isso pode estar ocorrendo principalmente por causa da expansão térmica. O oceano, como a maioria das coisas, “incha” quando aquecido. Seja qual for a causa, o nível do mar está aumentando cerca de 2 milímetros por ano, e muita gente acredita que as praias estão encolhendo.

O IPCC3 projeta uma elevação do nível do mar de cerca de 50 centímetros, com uma faixa de variação de 15 a 90 centímetros, para o ano 2100. A estimativa média, de 50 centímetros de elevação, deixaria cerca de 90 milhões de pessoas sujeitas a um risco considerável de inundação todos os anos.

O ponto mais alto da variação exigiria que muitos mapas fossem redesenhados. Por exemplo, uma elevação de 1 metro no nível do mar colocaria 6% da Holanda e 17,5% de Bangladesh sob a água. Não admira que as nações de terras baixas estejam tão preocupadas com o aquecimento terrestre4.

Efeito estufa
O carbono presente na atmosfera garante uma das condições básicas para a existência de vida no planeta: a temperatura. A Terra é aquecida pelas radiações infravermelhas emitidas pelo Sol até uma temperatura de -27oC. Essas radiações chegam à superfície e são refletidas para o espaço. O carbono forma uma redoma protetora que aprisiona parte dessas radiações infravermelhas e as reflete novamente para a superfície. Isso produz um aumento de 43oC na temperatura média do planeta, mantendo-a em torno dos 16oC. Sem o carbono na atmosfera a superfície seria coberta de gelo.

O excesso de carbono, no entanto, tenderia a aprisionar mais radiações infravermelhas, produzindo o chamado efeito estufa: a elevação da temperatura média a ponto de reduzir ou até acabar com as calotas de gelo que cobrem os polos. Os cientistas ainda não estão de acordo se o efeito estufa já está ocorrendo, mas preocupam-se com o aumento do dióxido de carbono na atmosfera a um ritmo médio de 1% ao ano. A queima da cobertura vegetal nos países subdesenvolvidos é responsável por 25% desse aumento. A maior fonte, no entanto, é a queima de combustíveis fósseis, como o petróleo, principalmente nos países desenvolvidos.

O Japão é o que tem registrado maior crescimento: de 1985 a 1989, sua emissão de dióxido de carbono passa de 265 milhões de toneladas por ano para 299 milhões. Novo dilúvio — Pesquisas realizadas pela Nasa mostram que a temperatura média do planeta já subiu 0,18o C desde o início do século XX. Nos anos 80, fotos tiradas pelo satélite meteorológico Nimbus em um período de 15 anos registram a diminuição do perímetro de gelo em volta dos polos. Supondo o efeito estufa em ação, os cientistas projetam um cenário de dilúvio: o aquecimento do ar aumenta a evaporação da água do mar, cria um maior volume de nuvens, faz crescer o nível de chuvas e altera o regime dos ventos. Haveria chuvas intensas em áreas hoje desérticas, como o norte da África e o nordeste do Brasil, e faltaria água em regiões férteis, como o meio-oeste dos EUA.

O degelo das calotas polares elevaria o nível do mar, como já foi dito anteriormente, inundando ilhas e áreas costeiras. Holanda, Bangladesh, Miami, Rio de Janeiro e parte de Nova York, por exemplo, sumiriam do mapa. O aumento da temperatura global também provocaria a multiplicação de ervas daninhas e insetos e a transferência das pragas de clima quente — como a mosca tsé-tsé, que vive no centro da África — para regiões de clima frio. A absorção do excesso de dióxido de carbono faria a vegetação crescer mais rapidamente e retirar mais nutrientes do solo. Segundo essas projeções, as florestas temperadas só sobreviveriam no Canadá5.

Chuvas ácidas
A queima de carvão e de combustíveis fósseis e os poluentes industriais lançam dióxido de enxofre e de nitrogênio na atmosfera. Esses gases se combinam com o hidrogênio presente na atmosfera sob a forma de vapor de água. O resultado são as chuvas ácidas nas águas da chuva, assim como a geada, neve e neblina, ficam carregadas de ácido sulfúrico ou ácido nítrico. Ao caírem na superfície, alteram a composição química do solo e das águas, atingem as cadeias alimentares, destroem florestas e lavouras, atacam estruturas metálicas, monumentos e edificações.

Segundo o Fundo Mundial para a Natureza, cerca de 35% dos ecossistemas europeus já estão seriamente alterados e cerca de 50% das florestas da Alemanha e da Holanda estão destruídas pela acidez da chuva. Na costa do Atlântico Norte, a água do mar está entre 10% e 30% mais ácida que nos últimos vinte anos.

Nos EUA, onde as usinas termoelétricas são responsáveis por quase 65% do dióxido de enxofre lançado na atmosfera, o solo dos montes Apalaches também está alterado: tem uma acidez dez vezes maior que a das áreas vizinhas, de menor altitude, e cem vezes maior que a das regiões onde não há esse tipo de poluição. Monumentos históricos também estão sendo corroídos: a Acrópole, em Atenas; o Coliseu, em Roma; o Taj Mahal, na Índia; e as catedrais de Notre Dame, em Paris, e de Colônia, na Alemanha. Em Cubatão, São Paulo, as chuvas ácidas contribuem para a destruição da mata Atlântica e desabamentos de encostas. A usina termoelétrica de Candiota, em Bagé, no Rio Grande do Sul, provoca a formação de chuvas ácidas no Uruguai6.

Buraco na camada de ozônio
Os raios ultravioletas, presentes na luz solar, causam mutações nos seres vivos, modificando suas moléculas de DNA. No homem, o excesso de ultravioleta pode causar câncer de pele. A camada de gás de ozônio (O3), forma-se pela exposição de moléculas de oxigênio à radiação solar ou às descargas elétricas.

Detectou-se nos últimos anos, durante o inverno, um grande “buraco” na camada de ozônio, logo acima do polo sul; esse buraco tem aumentado a cada ano, chegando à extensão da América do Norte. Foi verificado que a camada de ozônio está também diminuindo de espessura acima do Polo Norte. Acredita-se que os maiores responsáveis por essa destruição sejam gases chamados CFC (clorofluorcarbonos).

Essas substâncias são usadas como gases de refrigeração, em aerossóis (spray) e como matérias-primas para a produção de isopor. Os CFC se decompõem nas altas camadas de atmosfera e acabam por destruir as moléculas de ozônio, prejudicando assim a filtração da radiação ultravioleta7.

Uma problemática de difícil solução
Os editores do 1o. Congresso Internacional de Ecologia de 1974, afirmavam que a ciência ecológica não se achava ainda em condições de dar regras exatas para cada uma das problemáticas do meio ambiental. O que sabiam era apenas o suficiente para prevenir contra a exploração de recursos naturais, porém uma coisa é ter essa consciência, outra, realmente diferente, é ter a ação.

Havia a consciência da necessidade de uma política a longo prazo, em que principalmente defendiam que não se podem esquecer as regras ecológicas, ou seja, os seus limites, em detrimento da ganância por lucros imediatos.

A problemática não se resolve apenas através da ciência ecológica e nem das técnicas corretoras, mas também através da consciência dos problemas e da ascensão coletiva de responsabilidades, ou seja, é a noção da solidariedade.

Com isso, ele destaca o desafio do trabalho do filósofo da moral: que deve proceder a uma revisão dos paradigmas vigentes de fundamentação ética e, em definitivo, perguntar-se o que quer dizer hoje a filosofia moral diante de um problema que, nas palavras de Paul Feyerabende, ‘é o problema mais difícil e urgente que existe’ e que, por isso, ‘nos obriga a considerar seriamente as nossas prioridades’ (VIDAL, 1999, p. 784).

O problema é difícil e urgente; porém não concordo que seja o mais difícil e urgente que existe. Outra coisa é refletir sobre a questão dos paradigmas, se realmente um conjunto de regras irá segurar o avanço da problemática ecológica. A questão é complexa, pois não se trata apenas de fazer algo, mas buscar conciliar sobrevivência, uma vez que estamos vivendo num sistema que busca suprir as necessidades da própria humanidade. É uma questão do coração, da consciência interior, da mudança radical das proposições, e a resposta está e esteve sempre à disposição de todos, na Bíblia.

Atualmente, grande parte da sociedade está clamando por esse equilíbrio ecológico, e isso é uma reação frente às atrocidades cometidas, em que a natureza está sendo agredida e, por fim, destruída. Basta lembrar da cena daquele pequeno pássaro, antes branco, agora todo negro em função do petróleo que se apegou ao seu frágil corpo, e toda a vida marinha aos arredores condenada em função de um grande vazamento de petróleo. Estes, indefesos diante de tal situação, melhor dizendo, de tal agressão, são eliminados de seu próprio hábitat, sem direito à defesa.

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Notas
  1   2   3Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, estabelecido em 1988 pela Organização Meteorológica Mundial — OMM e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente — PNUMA; estuda, discute e orienta a implementação da Convenção do Clima e do Protocolo de Kyoto.
  4   5http://www.marcobueno.net/arquivos_estudo/arquivo_estudo.asp?txtIDArquivo=71
  6    7 Livros:
BARTH, Karl. Carta aos Romanos: Tradução e comentário Lindolfo K. Anders. São Paulo, Novo Século, 1999.  p. 854.

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