A mensagem nunca é maior que o mensageiro

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Este é meu primeiro artigo para o site Teologia Brasileira. Nesta coluna escreverei sobre missiologia, dedicando mais linhas para falar sobre a situação da Igreja em países onde ela sofre perseguição sistemática.

Missiologia é o estudo da missão que Jesus nos incumbiu. Essa disciplina tenta basicamente responder duas perguntas: (1) Qual é a missão da Igreja? e (2) Como cumprir essa missão? Nas últimas décadas houve um aumento da produção de material missiológico em todo o mundo. Há diversos livros abordando os aspectos econômicos, sociológicos, antropológicos e psicológicos da missão. Além disso, as estratégias desenvolvidas são inúmeras, tanto na área transcultural quanto na urbana. Nesta última temos alguns modelos famosos como o de Paul Yonggi Cho e as células, Igreja com Propósitos, Rede Ministerial e G12. Através deles as igrejas incorporaram uma série de conceitos de liderança, equipe, público alvo, marketing, etc. Alguns ministérios se transformaram em uma espécie de versão evangélica do programa “Aprendiz”, onde crentes competem para ver quem é mais produtivo.

Enfim, não cederei à tentação de fazer uma análise dessas teorias nesse artigo. Não creio que o cerne do problema missiológico esteja na qualidade da nossa estratégia missionária. Nós, protestantes, temos a tendência de supervalorizar a pureza da doutrina cristã (ortodoxia) em demérito da pureza da prática cristã (ortopraxia). Dizemos: somente a fé salva! E com isso muitas vezes insinuamos que se o sujeito crê na doutrina certa, ele é salvo. Por vezes convenientemente enfiamos debaixo do tapete as palavras de Deus: “…a pessoa é aceita por Deus por meio das suas ações e não somente pela fé” (Tiago 2.24).

Esse desequilíbrio influencia nossa prática missionária. Cremos que se descobrirmos a estratégia ou doutrina certa, construiremos uma Igreja saudável. Pensamos que conhecendo o melhor método de evangelismo e discipulado, produziremos o cristão ideal. Creio que Jesus pensou diferente de nós.

Há cerca de dois mil anos, existiu um grupo de líderes religiosos e doutores cuja teologia era tão boa, que Jesus chegou a afirmar: “[eles] têm autoridade para explicar a Lei de Moisés. Por isso vocês devem obedecer e seguir tudo o que eles dizem” (Mateus 23.2b, 3a). Não só eles eram bons teólogos, como eram missionários dedicados. Jesus diz que eles atravessavam os mares e viajavam por todas as terras para converter uma pessoa (Mateus 23.15).

No entanto, eles não agradaram a Jesus, que os chamou de hipócritas, guias cegos e filhos do diabo. Ele também os reprovou como missionários, pois disse que quando eles conseguiam converter uma pessoa, essa se tornava duas vezes mais merecedora do inferno do que eles mesmos.

Alguém pode perguntar: “como um bom teólogo pode produzir um merecedor do inferno?” Tenho uma resposta: a mensagem nunca é maior que o mensageiro. O problema dos fariseus é que a vida deles não correspondia a sua pregação (Mateus 23.3). A melhor doutrina torna-se vazia quando não é acompanhada por vida.

Missionário é a versão latina da palavra apóstolo, que por sua vez é uma transliteração do grego e significa enviado. Missionário é um enviado de Deus, um representante de Cristo. E não é suficiente que esse enviado fale as palavras de Jesus, é fundamental que ele viva como representante de Deus.

Nos últimos congressos e palestras missionárias que tenho ido e assistido, ouço muito falar de estatísticas e estratégias para enviarmos missionários. No entanto, pouco escuto sobre a qualidade desses enviados. Na minha opinião, o sucesso da nossa missão está fortemente atrelado a essa última questão e não às primeiras.

Por isso, nesta coluna deixarei um pouco de lado o aspecto estratégico e acadêmico da missão. Falarei do aspecto devocional da missão, de como podemos ser a luz do mundo imitando Aquele que é o Pai das Luzes.

 

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