A literatura em J.R.R. Tolkien

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Um dos autores mais lidos no presente – mais do que a própria Bíblia – valorizava muito a literatura e a cultura. Não apenas o tamanho de obras como O Senhor dos Anéis – recentemente lançado nos cinemas –, Silmarillion e Obras Inacabadas marcou sua biografia, mas também a própria importância que o escritor inglês dava à literatura. Desde pequeno, sua mãe, que gostava muito de línguas, dava-lhe aulas e incentivava a sua leitura. Infelizmente ela morreu de diabetes antes de da formatura do filho na área de Filologia, na Universidade de Oxford. Esta perda pesou sobre Tolkien durante toda a vida e diz-se que a figura da “elfa” Galadriel é inspirada em sua mãe.

Tolkien desenvolveu um particular gosto pela mitologia e pelos contos de fada. Seu objetivo sempre foi o de “criar um mito” para a Inglaterra, criação esta que muitos críticos consideram impossível de ser realizada, já que se alega que os mitos se originam no inconsciente coletivo.

Como profundo conhecedor de línguas, Tolkien discordou e se lançou ao desafio de imitar Deus e criar um mundo. E como cristão católico que era, acabou imprimindo no mundo que criou valores essencialmente cristãos, tais como a amizade, a perseverança, a coragem, a sabedoria, a esperança e, o que é mais importante, o amor. É importante notar, no entanto, que Tolkien jamais admitiu que as suas obras tivessem um caráter alegórico.

O problema para entender Tolkien é perceber que a Terra-Média tem uma relação analógica com a nossa Terra. Para o entendimento da obra-prima de Tolkien, O Senhor dos Anéis , é necessário saber lidar com metáforas e interpretá-las. Não se trata de nada semelhante a outras obras ditas “realistas”, como por exemplo o livro de Paulo Lins levado recentemente às telas, A Cidade de Deus .

Para Tolkien, a literatura imaginativa – como são os contos de fada – tinha basicamente três funções: recuperação, escape e consolação.

A recuperação , que pode ser mais bem reconhecida na extensa parte final de O Senhor dos Anéis , reflete a convicção cristã de que as coisas não estão nada bem com o homem e seu mundo. Após um longo período de labuta diária, ele necessita de um pouco de férias. Assim, os verdadeiros contos de fada estão longe de uma visão cor-de-rosa das coisas. Mas, exatamente por mostrarem as injustiças da vida, eles proporcionam esperança de mudança no final. (O famoso “e viveram felizes para sempre” nem sempre foi explícito. Originalmente, as histórias tinham final aberto, como nos contos das Mil e uma Noites e do Barba Azul .) Portanto, as coisas estão, por assim dizer, “doentes”, “enviesadas”, “corrompidas”, mas a recuperação vem para renovar nossas forças para que enfrentemos as vicissitudes do cotidiano e lutemos por um mundo melhor.

A função do escape também parte do mesmo pressuposto, de que as coisas vão muito mal por aí, pois normalmente o homem vive na mediocridade de um cotidiano impensado. Os contos de fada, por serem tão estranhos ao nosso mundo, fazem-nos acordar e e tomar cuidado com visões de mundo reducionistas, simplistas ou materialistas. Então, não se trata de nenhum escape alienante, como o de um fugitivo da sua cela, mas, pelo contrário, do escapar do trivial, do meramente consumista e do massificador para o encantador mundo das fadas.

Finalmente a consolação também está relacionada ao reconhecimento de que esse mundo não é nada fácil e que precisamos do outro e de Outro para suportá-lo. O Senhor dos Anéis evidentemente não é nada semelhante a alguma canção de ninar ou conto da carochinha. Para além das guerras e da violência, porém, há paradoxalmente o consolo de se ter sobrevivido e de que a luta foi perdida, mas a batalha ainda não acabou.

Muitos dão uma explicação superficial para a obra, quando a associam fortemente à Segunda Guerra mundial e, particularmente, à bomba atômica, devido à forte crítica que Tolkien faz à supremacia do saber tecnológico. Mas, em primeiro lugar, ele já havia terminado de escrever o livro quando se ouviu falar da bomba e, em segundo lugar, Tolkien estava interessado em criar um outro mundo, um mundo paralelo, e não alegorias (metáforas diretas e unívocas) deste mundo.

Parece uma visão pessimista da vida, mas o bom humor com que Tolkien trata desses horrores e o prolongado final feliz – cheio de atos de cura e purga dos locais atingidos pelo mal – alimentam no leitor esperanças de um mundo melhor ainda aqui neste mundo, coisa que as pessoas necessitam com a maior urgência.

No próximo artigo, vamos entender melhor o que o melhor amigo de Tolkien, C. S. Lewis, tinha a dizer a respeito da importância da literatura e, particularmente, dos contos de fada.

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