Os solas da Reforma

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Neste ano se celebra o quinto centenário da Reforma. 500 anos desde que Lutero afixou as 95 teses em Wittenberg. Por essa razão, diversos eventos e publicações estão acontecendo ao redor do mundo. Mais do que nunca, os solas têm sido recordados como princípios da Reforma Protestante. Não resta dúvida que Lutero, Calvino e muitos de sua época creram nas verdades expressas neles (Sola Scriptura – Somente a Escritura, Sola Fide – Somente a Fé, Sola Gratia – Somente a Graça, Solus Christus – Somente Cristo, Soli Deo Gloria – Glória somente a Deus). A ideia subjacente em cada sola aparece nos textos dos reformadores. No entanto, a origem e o uso conjunto dos solas são, em geral, desconhecidos da maioria dos protestantes. Quando foram reunidos pela primeira vez?

Kevin J. Vanhoozer diz que “enquanto os livros de hoje geralmente tratam os cinco solas juntos, somente no século XX é que foram mencionados coletivamente”.1 O mesmo autor afirma que Sola Fide, Sola Gratia e Sola Scriptura podem ser encontrados nos escritos dos reformadores, mas Solus Christus e Soli Deo Gloria são posteriores a eles. Sabe-se que, no século XVIII, alguns artistas assinaram suas obras com S.D.G., isto é, Soli Deo Gloria. J. S. Bach é o caso mais famoso. Em 1916, o luterano Theodore Engelder publicou o artigo “The Three Principles of the Reformation: Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fides”.2  Por sua vez, Solus Christus aparece no terceiro volume da dogmática de Emil Brunner (1960), traduzido para o inglês em 1962.3 Brunner registra Solus Christus quando comenta o pensamento de Karl Barth, que, em 1932, já havia feito menção a Christ alone (Somente Cristo).4 O próprio Brunner, em 1934, cita “sola gratia, sola fide, soli deo gloria”.5 Como se observa, entre 1916 e 1960, todos os solas estavam em uso. Inevitavelmente chegaria o momento em que seriam reunidos em um único texto.

Em sua obra The Reformation, de 1958, o historiador Geoffrey R. Eldon elencou quatro deles (Sola fide, sola gratia, sola scriptura, soli Deo gloria).6 Poucos anos depois, o teólogo católico Johann Baptist Metz editou o livro The Church and the World (1965). Trata-se de um volume com vários artigos. Um deles, escrito pelo padre holandês Joseph Frans Lescrauwaet, intitula-se The Reformed Churches. A certa altura, Lescrauwaet comenta: “Como Lutero, Calvino estava comprometido com os três solas – ‘sola scriptura, sola gratia, sola fide’ – outrora resumidos por Lutero em ‘Christus solus’ – mas ele expressamente adicionou o ‘soli Deo gloria’”.7  Vê-se, desta forma, que a menção aos cinco solas juntos é recente e foi feita por um católico-romano.

Isso em nada macula seu uso pelos protestantes. Pelo contrário. É bom saber que os católicos associam estas verdades aos herdeiros da Reforma. Elas foram importantes no século XVI e, resumidas nos solas, continuam sendo hoje em dia. Seu valor não está somente no fato de terem sido usadas ao longo do tempo, mas porque procedem da eterna Palavra de Deus.

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1Vanhoozer, Kevin J. Biblical Authority After Babel (Grand Rapids, MI: Brazos Press, 2016), p. 26.
2In: Dau, W.H.T. Four Hundred Years: Commemorative Essays on the Reformation (St. Louis, MO: Concordia Publishing House, 1916), p. 97-109.
3Cf. Brunner, Emil. Dogmatics III: The Christian Doctrine of the Church, Faith and the Consummation (Cambridge, England: James Clarke & Co., 1962, Reprinted 2002), p. 221. 
4Cf. Barth, Karl. Church Dogmatics, Volume 1: The doctrine of Word of God, Part 1 (Edinburgh: T & T Clark, 1975), p. 418. 5Brunner, Emil. The Mediator: A Study of the Central Doctrine of the Christian Faith (Cambridge, England: The Lutterworth Press, 1934, Reprinted 2002), p. 295. 
6Cf. Eldon, G. R. The New Cambridge Modern History. II. The Reformation: 1520-59 (Cambridge, England: Cambridge University Press, 1958), p. 118.
7Lescrauwaet, Josephus F. The Reformed Churches: In: Johann Baptist Metz. The Church and the World (New York, N.Y. / Glen Rock, N.J.: Paulist Press, 1965), p. 143.

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