Na falta de um chamado…

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Enquanto muitos esperam por revelações e vocações especiais

No último texto que escrevi para esse site, falei sobre a discussão que os discípulos tiveram sobre quem era o mais importante. Lucas fala sobre essa conversa no nono capítulo de seu evangelho. Acho esse capítulo bastante engraçado. Além desse evento, o capítulo está recheado de outras trapalhadas cometidas pelos discípulos:

  • a falta de fé antes da multiplicação dos pães (9.13); 

    em meio à visão de Jesus com Moisés e Elias, Pedro propõe que eles fiquem por lá, dizendo que até armaria uma barraca para cada um deles. Como o evangelista sentencia, “Pedro não sabia o que estava dizendo” (9.33);

    os discípulos não conseguem expulsar um espírito mau de um menino e ouvem a seguinte repreensão do Mestre: “Gente má e sem fé! Até quando ficarei com vocês? Até quando terei que agüentá-los?” (9.41);

    logo depois, os discípulos não entenderam um ensinamento de Jesus e ficam sem perguntar nada pois estavam com medo (9.45) – talvez de tomar outra bronca de Jesus;

    João, possivelmente todo orgulhoso, comunica que proibiu um homem de expulsar demônios em nome de Cristo porque o sujeito não era do grupo dos discípulos. Jesus mais uma vez os repreende (9.49,50).

    A última trapalhada é a mais absurda, quando os moradores de um povoado samaritano recusaram-se a receber o Messias. Com toda sinceridade, Tiago e João perguntam a Jesus: “O senhor quer que a gente mande descer fogo do céu para acabar com essas pessoas?” Cristo, mais uma vez os repreende (9.51-54). Jesus deve ter pensado: “Mas será que esse povo não aprende nunca?”

Em meio a esses erros infantis, uma pessoa se destaca. Lucas desconhecia seu nome. Sabe-se apenas que ele estava expulsando demônios pelo nome de Jesus. Provavelmente este sujeito viu Cristo pregar e expulsar espíritos maus. Imagino que ele sentiu o forte desejo de ajudar os necessitados da mesma forma que vira Jesus fazendo. Ele deve ter seguido o Messias, ouvido seus ensinamentos e observado suas ações.

Então Cristo anuncia que iria chamar doze discípulos. O homem deve ter torcido: “Me escolhe, me escolhe!” Jesus escolheu Judas Iscariotes, mas deixou nosso herói desconhecido de lado. Muitos ficariam indignados. Aquele homem não. Sem ser chamado, sem reconhecimento, sem fama e sem participar do grupo, ele seguiu caminho, portando apenas o nome de Jesus. Ao encontrar o primeiro endemoninhado, decidiu colocar as mãos sobre o homem. Para sua própria surpresa, ele expulsou o espírito mau. Que ironia!

Quando encontraram o homem, os discípulos devem ter ficado desconcertados. Viram que o desconhecido tinha fé e conseguia expulsar demônios, enquanto eles ainda tinham que recorrer à ajuda de Jesus. E não sabemos mais sobre o sujeito. Mas sua atitude permanece como exemplo. Enquanto muitos esperavam por um chamado especial, ele decidiu ir e abençoar. Na solidão e no anonimato, ele obedeceu ao ensinamento de Cristo. No meio das trapalhadas dos discípulos famosos, o anônimo se destaca. Ele prova que não precisamos de chamado – estamos prontos para ir e abençoar seja onde for – basta que tenhamos a mesma atitude desse desconhecido.

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