Falta de compaixão não é solução para a depressão

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“Se você acorda sem sentir nenhuma dor, é porque está morto.”

Provérbio russo.

A depressão é uma doença? Até que ponto a solução para a depressão é o confronto? Até que ponto até mesmo a autoconfrontação deve ser vista como solução para a depressão?

A igreja e seus líderes estão numa frente de batalha poucas vezes vivida na história da igreja. O cuidado com a saúde mental é um dos maiores desafios para um teólogo e um pastor em nossos dias.

Muitas pessoas que têm procurado ajuda em conselheiros, amigos e pastores, chegam com crises severas de alteração em seu comportamento e sensações. Não importa o nome que se dê a estas crises (depressão, síndrome do pânico, transtorno disfórico pré-menstrual, transtorno obsessivo compulsivo, etc.).

Muitas pessoas estão desorientadas – ou mal orientadas – e, por consequência, se entregam às drogas lícitas e ilícitas, ao alcoolismo e, em não poucos casos, ao suicídio.

Por mais que boas pesquisas já tenham sido feitas e apresentadas à comunidade científica e à sociedade em geral, ainda há quem pense que depressão não é uma doença. Ainda há quem afirme que depressão “é coisa de gente mimada”, que “não possui o temor do Senhor”, e que “não tem vivido em comunhão com Deus”.

Além disso, ainda há os que afirmam que depressão “é algo demoníaco”, e que estar em depressão significa estar com a mente controlada por demônios.

Por mais que tantos estejam trabalhando para compartilhar com a Igreja no Brasil e no exterior alguns caminhos alternativos para tratar da depressão, ainda há livros e cursos que insistem em tratá-la como uma mera tristeza profunda, trazendo confusão e perigo àqueles que nunca estudaram com cuidado o assunto ou que estão atravessando a depressão.

Um exemplo disto é o que é apresentado na lição 18 do livro Autoconfrontação: um manual de discipulado em profundidade, desenvolvido por John C. Broger. As primeiras palavras deste capítulo são: “Depressão não é uma doença”.[1]

Elaborado no final da década de 1970, o objetivo deste livro é oferecer um curso – considerado por alguns como “o melhor do mundo em aconselhamento bíblico” – que instrua conselheiros bíblicos em como atuarem em cada tipo de atendimento ligado ao aconselhamento.

Muitas igrejas, associações e líderes têm-no usado como base para treinamento de conselheiros em suas igrejas. E, de fato, há várias instruções bíblicas neste livro. No que tange ao lidar com o pecado, Autoconfrontação cumpre seu papel de mostrar o que as Escrituras dizem a respeito do coração humano, especialmente em mostrar que a Bíblia é suficiente para lidar com o pecado humano.

Um conselheiro, de acordo com este manual de Autoconfrontação, deve levar aquele a quem aconselha a fazer perguntas a si mesmo com o fim de se autoconfrontar, ao invés de se autoglorificar, ou de se autocomiserar. Perguntas bem-feitas levariam o aconselhado a sair do pecado, desde que este ouça os conselhos e os coloque em prática.

No entanto, há alguns equívocos sérios neste livro. Por exemplo, afirmar que a depressão não pode ser também uma doença, não é só má compreensão, mas irresponsabilidade. É certo que muitas pessoas, quando tristes, afirmam estar em depressão, banalizando-a. No entanto, estar deprimido não é o mesmo que estar em depressão. Estar deprimido significa estar triste; estar em depressão significa estar doente.

John Broger afirma que

muitos sintomas e distúrbios (temporários ou crônicos) definidos como depressão são consequência de hábitos não bíblico [sic] e/ou reações pecaminosas para com circunstâncias e pessoas. Lidando biblicamente com os seus pecados e decidindo viver de modo agradável ao Senhor, você pode vencer a depressão que tem origem numa vida de desacordo com a Bíblia.[2]

O pressuposto deste parágrafo está equivocado. Não são os sintomas que definem uma depressão, mas exames, sejam laboratoriais, sejam testes de triagem, onde rastreia-se por meio dos sintomas algo que esteja causando alterações na mente e no corpo de uma pessoa.

É evidente que pecados podem ter consequências físicas. Mágoas, falta de perdão, ira ou ansiedade pecaminosas, podem levar uma pessoa a somatizar, passando a ter não somente sintomas emocionais, mas físicos, de uma alteração (depressão).

Depressão é alteração. A moderna palavra depressão vem do contexto da topografia onde descreve-se que há uma depressão em um terreno quando neste encontra-se alguma alteração severa. Se há uma alteração no terreno, afirma-se que há uma depressão no mesmo.

É deste contexto que a palavra depressão foi tirada para descrever alterações que aconteçam em seres humanos. Estas alterações (depressões) não são apenas de ordem emocional, como compreende o livro Autoconfrontação.

Broger afirma que o conselheiro deve “apresentar um plano bíblico para vencer a depressão”, dando a impressão de que a depressão seja algo simples de ser diagnosticado e fácil de ser curado. Com uma abordagem behaviorista, este manual passa a impressão de que basta fazer certas coisas que o depressivo será curado.

Afirmar que a depressão pode ser vencida somente com um plano bíblico é o mesmo que afirmar que um câncer pode ser vencido com um plano bíblico. Quando alterações afetam o corpo e a mente de alguém, tal pessoa precisa de um médico e da intervenção medicamentosa, além do auxílio bíblico.

Outra frase que causa espanto é que o conselheiro deve “ajudá-lo [o aconselhando] a entender que a depressão não é desculpa para que você viva em desacordo com a Bíblia”.

A consequência desta abordagem resulta em pessoas deixarem de procurar seus pastores para falar de suas enfermidades mentais. Além disto, faz com que deixem de ir a médicos e de se medicarem, chegando a surtos psicóticos, onde tiram a própria vida. Como bem relatou Wilkenson:

Normalmente, as pessoas têm vergonha de falar sobre desordem mental … É por isso que as pessoas estão relutantes em ver um médico.  No entanto, a depressão é tanto uma condição médica quanto diabetes ou malária e precisa de uma orientação de um profissional. É um dos transtornos mais comuns e afeta cerca de 19 milhões de pessoas por ano, independentemente da idade, sexo ou raça.[3]

Além de tudo que já foi aqui exposto, Broger diz que o conselheiro deve “lembrá-lo [o aconselhando] de que qualquer pessoa pode provar depressão, mas deve tratá-la de acordo com a perspectiva bíblica e não segundo a própria maneira de pensar ou a filosofia de outros”.[4]

O que seria a “filosofia de outros”? As pesquisas científicas que têm descoberto as muitas causas para a depressão? O que significa tratar segundo a Bíblia? Tratar a depressão como um todo, ou somente os sentimentos e emoções que envolvem a depressão?

Ao tratar dos “princípios bíblicos”, o autor afirma que “mesmo que você se sinta deprimido, é preciso viver de modo bíblico (baseado em Salmos 19.7-11; 119.92-93, 143; João 15.8-12, etc.)”.[5]

Mais adiante ele afirma que “você deve edificar outros e glorificar a Deus em seus pensamentos, palavras e ações continuamente, em vez de obedecer à Palavra de Deus apenas quando você está com vontade”.[6]

De acordo com esta visão, estar em depressão é resultado de não querer fazer a vontade de Deus. Como solução, a pessoa deve decidir trabalhar para edificar a outros e glorificar a Deus em seus pensamentos. Isso, de acordo com o autor, a curará da depressão. Assim sendo, este material ensina claramente que depressão é um pecado.

Uma das soluções apresentadas pelo livro é “despoje-se da desobediência à Palavra de Deus e revista-se de um viver disciplinado e fiel na obediência à Palavra, expressão do seu compromisso de agradar a Deus e não a si mesmo”.

A compreensão de Autoconfrontação é de que depressão tem a ver com estar deprimido e, por isso, não é doença. E quando as razões pelas quais alguém está deprimido são pecaminosas, a depressão deve ser tratada como um pecado.

Sendo uma obra antiga, pode-se imaginar que o livro trata daquilo que não conhece. No entanto, trata-se de uma questão de pressupostos. A percepção de que a Bíblia sozinha seria capaz de curar alguém em depressão não se coaduna com uma bibliologia saudável abraçada na história da igreja. O equívoco mais comum aqui seria confundir o Sola Scriptura com o Nuda Scriptura.

Como bem escreveu Scott Manetsch, os cristãos – seja na América do Norte, seja no restante do mundo – têm entendido mal a doutrina Sola Scriptura[7]. Esta doutrina não afirma que as Escrituras são o único documento que deve ser lido e aplicado, excluindo-se a tradição e a sabedoria que se encontra tanto dentro quanto fora das Escrituras, como no trabalho das formigas (Provérbios 6.6).

Quando se determina a rejeição, não somente da tradição, mas das ciências humanas de forma geral, o que se tem não é o Sola Scriptura, mas o Nuda Scriptura[8]. Embora o conceito de Nuda Scriptura não seja um conceito formal na história do pensamento cristão, o mesmo tem sido aplicado a correntes que rejeitam a doutrina da graça comum aplicada inclusive em questões de saúde mental.

Seria bíblico rejeitar toda sabedoria que vem da revelação geral (ou natural) e abraçar somente a sabedoria que vem da revelação especial? O que é a sabedoria, à luz das Escrituras? Aquilo que vem somente das Escrituras, ou aquilo que vem de nossa leitura das Escrituras e de nossa leitura da natureza (mediada pelas Escrituras)?

Aquele que defende que nada além das Escrituras deve ser usado para tratar de saúde mental não defende o Sola Scriptura, mas o Nuda Scriptura, abordagem rejeitada na história da igreja como um equívoco perigoso.

Dentro da história do moderno movimento de aconselhamento “bíblico”, são os conselheiros ligados à primeira geração do aconselhamento em que mais se percebe esta confusão. É dentro desta primeira geração de conselheiros que se tende a afirmar que depressão não é uma doença.

Poderíamos compreender as três gerações do movimento de aconselhamento “bíblico” resumidamente da seguinte maneira.

A primeira geração tem como sua principal referência Jay Adams. Nesta geração, encontra-se uma forte ênfase na confrontação de pecados observados no aconselhamento[9]. Foca-se mais no pecado do que na angústia e sofrimento de quem procura ajuda.

A segunda geração tem como sua principal liderança David Powlison. Esta geração não abandonou a necessidade de confrontação do pecado, mas passou a ver o aconselhado como alguém que sofre e não apenas como um pecador[10]. O conselheiro olha para o aconselhado de forma sensível. As principais críticas de Powlison a Adams são sobre sua insensibilidade no aconselhamento. Mesmo que o pecado seja a causa da enfermidade mental, o aconselhado deve ser tratado com misericórdia, compaixão e amor. Firme, porém, sensível e amoroso.

A terceira geração, segundo Lambert, ainda está em formação. Consiste em conselheiros como Paul Tripp e Edward Welsh[11], chamados por Lambert de “sangue novo”. Nesta geração, reconhece-se o trabalho de todos os envolvidos na primeira e segunda gerações, mas há uma inclinação maior ao desenvolvimento de um diálogo possível entre a teologia bíblica e áreas das ciências humanas que lidam com o estudo da alma, especialmente das enfermidades mentais.

Destas três, Broger claramente se alinha à primeira geração em que, não somente há pouca ou nenhuma compaixão por quem padece de depressão, como também compreende-se que o aconselhado deve reconhecer o pecado que está gerando a “tristeza profunda”, e não procurar um médico.

Quando alguém afirma que depressão não é doença, anula-se a necessidade de um médico. Sem médico, não haverá remédios ou tratamentos. Sem nada disso, a pessoa poderá passar por alucinações em que venha a se machucar, ou se matar.

Veja o que Andrew Solomon escreveu:

Não é como se a depressão fosse uma coisa inócua. Além de ser um estado infeliz, horrível, não construtivo, na maior parte dos casos, ela também mata. Não apenas através do suicídio, mas também através de uma taxa maior de doenças do coração, resposta menor do sistema imunológico e assim por diante.[12]

É comum pessoas afirmarem que a depressão não pode ser considerada doença pois não há um exame laboratorial que demonstre que alguém está em depressão. Este tipo de pensamento só demonstra o desconhecimento de quem fala sobre depressão é ainda maior do que se imagina.

Existe algum exame para depressão?

A depressão é uma doença comum, embora seja bastante séria. Todos se sentem tristes às vezes, mas depressão é diferente de tristeza. Depressão pode afetar como se pensa, se sente e se comporta.

Depressão altera o modo de viver. Pode-se perder o interesse em atividades que eram amadas. Algumas pessoas em depressão podem perder o senso da realidade, e correm o risco de se machucar e, até mesmo – como já posto –, de se suicidar.

Embora existam muitos que afirmem que não exista um exame para depressão, o fato é que existe sim – e muitos! Não se pode permitir que o desconhecimento nos desumanize.

Existem vários testes realizados para diagnosticar a depressão. Sabe-se que não há uma causa única para ela. Para chegar a um diagnóstico, são necessários vários exames iniciais para descartar possíveis causas principais (algum problema na tiroide, deficiência de vitamina D, ou outros).

Os médicos sempre focarão primeiramente nos sistemas neurológico e endócrino. Eles tentarão identificar quaisquer questões sérias de saúde que possam estar contribuindo para os sintomas de uma depressão clínica.

Exemplo, o hipotireoidismo – causado por uma glândula tireoide hipoativa – é uma condição médica comum associada à depressão. Mas não é a única. Existem outros distúrbios endócrinos como o hipertireoidismo, a doença de Cushing (um distúrbio da glândula adrenal), dentre outros.

Muitas enfermidades relacionadas ao sistema nervoso central podem levar à depressão. O uso de certos medicamentos corticosteroides (Prednisona, e outros) em certas pessoas acabam causando certos distúrbios hormonais ou vitamínicos que conduzem à depressão. Isso sem falar no uso de outras drogas (legais e ilegais) ou na ingestão de remédios sem recomendação médica (automedicação).

Assim sendo, muitos exames podem ser feitos, principalmente exames de sangue, para investigar alterações hormonais ou vitamínicas. Além destes, outros exames podem ser pedidos para descartar outras condições físicas que estejam conduzindo à depressão, como um exame de urina para verificar a função renal, ou uma triagem toxicológica, ou um exame para verificar a função hepática, dos eletrólitos, dentre outros.

Além disso, pode ser pedido uma tomografia computadorizada ou outros exames do cérebro para descartar algum tumor cerebral que talvez esteja causando alterações de comportamento. Eletrocardiograma e eletroencefalograma também podem ser pedidos para verificar alguma questão cardíaca ou algum problema na atividade elétrica cerebral que possam estar causando alterações na percepção da realidade, ou mesmo alterações de humor.

Alguns testes de triagem onde apenas perguntas são realizadas são feitos por alguns médicos. Mas eles não devem ficar apenas com testes de palavras, apenas ouvindo e fechando um diagnóstico. A menos que por este rastreio inicial se perceba claramente alguma coisa.

Todo este rastreio deve ser feito a fim de se diagnosticar esta doença que causa alteração (depressão) no ser humano. E o mais importante de tudo. Uma vez diagnosticado, há cura para a depressão.

Várias pesquisas têm sido feitas e têm encontrado diferenças no padrão cerebral de algumas pessoas com distimia (Transtorno Depressivo Persistente, ou ainda, Transtorno Distímico). O padrão cerebral dessas pessoas age de forma diferente das pessoas sem depressão. Veja as palavras de Wilkenson:

O Hipocampo, que é uma pequena parte do cérebro responsável pelo armazenamento de memórias e pensamentos, é menor em pessoas com distimia.  O Hipocampo tem receptores de serotonina necessários para equilibrar a serotonina, que é um elemento químico cerebral responsável por permitir a comunicação entre circuitos de diferentes regiões do cérebro. Um Hipocampo menor tem menos receptores de serotonina. Como resultado, a comunicação entre diferentes regiões cerebrais é afetada em pessoas distímicas.[13]

Andrew Solomon aprofunda ainda um pouco mais:

Muita coisa acontece durante um episódio depressivo. Há mudanças na função do neurotransmissor, mudanças na função sináptica, aumento ou decréscimo da excitabilidade entre neurônios, alterações de expressão de gene, hipometabolismo (geralmente) ou hipermetabolismo no córtex frontal, níveis elevados de hormônio liberado pela tiroide (TRH), perturbação da função na amídala e possivelmente no hipotálamo (áreas dentro do cérebro), níveis alterados de melatonina (hormônio que a glândula pineal fabrica a partir da serotonina), aumento da prolactina (o lactato aumentado em indivíduos predispostos à ansiedade trará ataques de pânico), diminuição de temperatura corporal durante o período de 24 horas, distorção da secreção de cortisol durante o período de 24 horas, perturbação do circuito que liga o tálamo, os gânglios basais e os lobos frontais (mais uma vez, centros no cérebro), aumento do fluxo sanguíneo para o lobo frontal do hemisfério dominante, diminuição de fluxo sanguíneo para o lobo occipital (que controla a visão), diminuição de secreções gástricas. … As células cerebrais mudam suas funções prontamente e, durante um episódio depressivo, o coeficiente entre as mudanças patológicas (que causam depressão) e as adaptativas (que a combatem) determina se você continua doente ou melhora.[14]

Qual a solução para tudo isso? Um bom médico, um exame bem realizado que identifique alterações físicas em seu corpo, remédios que ajudem a recuperar a saúde naquilo que está enfermo (alterado, em depressão); e bons conselheiros, que caminhem com o aconselhando, que não o acusem, que não procurem adivinhar o que está acontecendo com o aconselhando, que sintam a dor e tenham compaixão daquele que sofre.

Estes conselheiros devem ser pessoas que também se preocupem com a vida espiritual do aconselhando, pois a causa inicial da depressão pode ter sido um pecado. Ou mesmo que não tenha sido, a alteração física mexerá com as emoções e podem levá-lo ao desequilíbrio. Um bom conselheiro ajudará aquele que sofre a manter-se apegado ao Senhor em meio à luta contra a depressão.

Como eu disse no início, problemas com a ansiedade pecaminosa podem ser somatizados, da mesma forma que problemas meramente físicos também podem afetar nossas emoções e vida espiritual.

Richard Baxter, escrevendo no século 17, buscava assegurar aos seus leitores que “entendessem que seus problemas tinham dimensões tanto somáticas quanto emocionais e espirituais”.[15] A sabedoria, segundo Baxter, está em perceber que nossa natureza é composta de uma parte física e outra não física. Uma afeta a outra, assim como a outra afeta a uma.

Depressão mexe com o todo de nosso ser. Por isso, mesmo buscando um médico, aquele que sofre precisa de alguém que pastoreie seu coração. Ou mesmo que a depressão tenha sido originada pela raiz de amargura guardada no coração de uma pessoa, uma vez que isto lhe alterou fisicamente, não buscar ajuda médica poderá levar aquele que sofre à morte.

A depressão se parece com os braços da morte que nos tocam antes de nossa hora de partir. É por isso que todos odiamos a depressão. Todos odiamos a morte. Todos repudiamos a destruição daquilo que Deus criou perfeito, belo e feliz.

No entanto, mesmo sabendo que a Queda nos tenha legado muitos momentos de aflição, dor, desesperança, e angústias do inferno, há um caminho de Redenção para tudo isso.

Mesmo que venhamos a andar pelo vale da sombra da morte, não temos o que temer, pois o Bom Pastor estará lá, conosco – não para nos acusar ou nos confrontar – mas com seu cajado e com sua vara para nos guiar e proteger (Sl 23.4).

Quando o abraço da morte envolve uma pessoa e não a larga, surgirão pensamentos suicidas, angústias de morte, e outras sensações terríveis.

No entanto, estas sensações e pensamentos são mentiras que invadirão a mente daquele que sofre. Existe uma esperança, e ela está em Cristo e em todos os meios que ele nos deixou para que cuidássemos deste corpo – que não nos pertence, pois foi comprado por Ele.

O seu corpo não lhe pertence. Ele foi comprado por Cristo. Por isso, mesmo que você tenha dificuldades iniciais para buscar um médico ou outros profissionais, lembre-se de que você deve cuidar daquilo que Deus lhe deu e que não é seu – o seu corpo. Cuide bem daquilo que Cristo redimiu e prometeu um dia glorificar.

E saiba que, com a ajuda de Deus, com a intervenção médica, e com a assistência compassiva e cheia de amor de conselheiros maduros e bem preparados, certamente qualquer pessoa pode sair da depressão. Às vezes de forma rápida, às vezes depois de alguns meses ou anos.

E, repito, o mais importante de tudo: uma vez diagnosticada, há cura para a depressão. Louvado seja o Senhor por isso!

___________________________

[1] John C. Broger. Autoconfrontação: um manual de discipulado em profundidade. Palm Desert: Biblical Conseling Foundation, 1995, p. 317.

[2] Broger, 317.

[3] Anthony Wilkenson. Chronic Depression: Diagnosis and Treament for Dysthymic Disorder. Scotts Valley: CreateSpace Independent Publishing Platform, 2014, p. 24. Kindle Edition. Minha tradução.

[4] Broger, 317.

[5] Ibid., 317.

[6] Broger, 317.

[7] Scott M. Manetsch, “Is the Reformation Over? John Calvin, Roman Catholicism, and Contemporary Ecumenical Conversations,” Themelios 36 (2011): p. 199.

[8] Nada além das Escrituras.

[9] LAMBERT, Heath. The biblical counseling movement after Adams. Wheaton: Crossway, 2012, p. 49.

[10] Lambert, p. 49.

[11] Ibid., p. 44.

[12] Andrew Solomon. O demônio do meio-dia: uma anatomia da depressão. São Paulo: Companhia das Letras, 2014, posição 1076. Kindle Edition.

[13] Wilkenson, p. 15-16.

[14] Solomon, posição 1061.

[15] Michael S. Lundy; J. I. Packer. Depression, Anxiety, and the Christian Life: Practical Wisdom from Richard Baxter. Wheaton, IL: Crossway, 2018, 53.

3 COMENTÁRIOS

  1. Parabéns Wilson. Tenho acompanhado sua dedicação em desmistificar tantos absurdos que estão fazendo com o aconselhamento Bíblico, bem como lido seu livro sobre Depressão. Já fiz um curso de um ano numa instituição conhecida em São Paulo, bem como numa Associação Nacional por 4 anos, e tenho relatado aos líderes das mesmas os absurdos que tenho constatado nas tais teorias (muito baseadas na primeira geração de conselheiros Bíblicos nos EUA. Meu nome é Márcio José, sou pastor Batista junto com o Pr Creuse na PIB de Barueri. Estou fazendo mestrado em exposição bíblia e teologia no SBPV, e sou Psicólogo (não-ativo por convicções). Entendo as intenções do movimento de Aconselhamento Bíblico no Brasil e faço coro em muitos argumentos, mas conhecendo (humildemente) um pouco do outro lado, percebo quantas bobagens se fala sobre a psicologia (já demonstradas, conhecidas por você aqui) e sobre o erro da “Nuda Scriptura”. Wilson tenho questionado muito sobre a falta de exegese no Aconsellhamento Bíblico e as distorções em textos usados como base. Já questionei líderes amigos que temos em comum, os quais entenderam e me deram razão em certo ponto. Minha constatação? O COP já dizia lá atrás sobre uma “exegese lexical”. Meu “medo”? As consequentes pessoas feridas pela intransigência e pela formação de conselheiros quase sem graça e misericórdia dos que sofrem. Aconselho pessoas com depressão e até uma esquizofrênica há anos. Não é fácil, mas seguimos fazendo nosso papel de entender a suficiência das Escrituras, sem desconsiderar os avanços científicos na matéria do sofrimento humano. Forte abraço.

  2. Posso estar equivocado, mas esta noção apresentada por Wilkenson já não foi desacreditada?
    Esta não é exatamente minha área, mas achei que este argumento acerca da serotonina já havia sido “superado”. Veja isto:

    “o diretor do Instituto de Saúde Mental americano (National Institute of Mental Health – NIMH), Thomas Insel, já declarou que “as noções iniciais de que transtornos mentais são desequilíbrios químicos estão começando a ficar antiquadas”. Isso foi em 2011. Muitos anos antes – em 2003 – o psiquiatra e pesquisador de Standford, David Burns, já havia revelado que mesmo tendo dedicado anos de sua carreira à pesquisa do metabolismo da serotonina no cérebro, ele nunca havia se deparado com “nenhuma evidência convincente de que algum transtorno psiquiátrico, incluindo depressão, seja ocasionado por uma deficiência de serotonina no cérebro”. Quanto tempo vai levar para que os profissionais da saúde mental no Brasil abandonem esse argumento? A popularização dessa hipótese colabora com o uso indiscriminado e irresponsável de psicotrópicos. Pode estar entre os fatores que explicam o aumento expressivo do uso de antidepressivos na última década em todo o mundo.”
    http://www.brasilpost.com.br/michele-muller/desequilibrio-quimico-no-_b_8118932.html
    outro https://psicoativo.com/2015/12/deficiencia-de-serotonina-causa-depressao-mito.html

    Opinião aqui, evidentemente, não de um biblicista, mas aqueles cientistas que aparentemente mudam de opinião a cada 3 anos.

    Eu, por mim, continuo com a boa e velha Bíblia.

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