Qual foi sua motivação principal para escrever a obra Desintoxicação Sexual?
A ideia do livro surgiu de conversas que tive com jovens na minha igreja e em outros lugares. Por várias vezes ouvi perguntas e colocações que deixaram muito claro que esses jovens estavam vendo material pornográfico. Porém havia mais que isso. Não somente estavam vendo material pornográfico, como também começavam a ter o desejo de viver vidas baseadas na pornografia que viam. Um jovem recém-casado estava tentando praticar, com a ajuda de sua esposa, atos que ele via nos materiais pornográficos. Em vez de amar e honrar suas esposas, tentavam praticar aquilo que viam em sites pornográficos. Foi então que percebi que, se esses jovens quisessem desfrutar de uma vida sexual plena e saudável com suas esposas, eles precisariam passar por uma espécie de desintoxicação para livrar-se das marcas da pornografia em suas vidas.
No prefácio alguns membros da sua igreja contam como você os ajudou nesse processo de desintoxicação. O que você diria que mais os ajudou?
O que os homens — pelo menos, homens cristãos — precisam quando estão lutando contra a pornografia é ter esperança. A maioria dos jovens que tem dificuldades com pornografia já tentou parar em algum momento da vida. Eles já prometeram a si mesmos que jamais voltariam a cair nisso; já sentiram o peso do pecado e da culpa; e, ainda assim, continuam a ver material pornográfico. Quando isso acontece, eles ficam surpresos e enojados pelo fato de terem caído de novo. Eu quis dar-lhes esperança de que é possível acabar com esse pecado e se ver livre dele. Pude fazer isso por meio da Bíblia (onde Deus nos promete ajuda para superar o pecado) e de experiências pessoais (nas quais experimentei a ajuda de Deus nessa luta).
Como você abordou o assunto com eles? Você adotou alguma forma de prestação de contas?
Escolhi começar sem sobrecarregá-los com a culpa pelo que têm praticado, pois eles já se sentem culpados. Nenhum jovem que me procurou achava que ver material pornográfico era aceitável. Meu desejo era que eles vissem como o plano de Deus para o sexo é bom. Queria ajudá-los a vislumbrar o que Deus oferece a nós e ao casamento através do relacionamento sexual. Se conseguirmos celebrar o que é bom, puro e verdadeiro, então, por contraste, delimitamos o que é mau. Assim, confiamos que o Espírito Santo nos motivará, antes de tudo, a buscar aquilo que honra a Deus e, consequentemente, fugir daquilo que o desonra.
Após essa etapa, sempre existe a necessidade de alguma forma de mentoria e prestação de contas. Isso ajuda o homem a evitar o pecado e, o que talvez seja mais importante ainda, dá a ele esperança quando cai no pecado novamente.
Você pode nos falar um pouco da sua própria experiência nesse processo de desintoxicação sexual?
Minha experiência foi exatamente como essa que acabei de descrever. Uma vez que percebi o plano do Senhor para o relacionamento sexual, encontrei uma grande motivação para buscar a pureza. Desejava experimentar a bênção resultante tanto da fidelidade à minha esposa quanto da confiança e pureza dentro do nosso casamento.
De que forma o homem deve envolver sua esposa (ou mesmo sua noiva ou namorada) nesse processo?
O relacionamento sexual, por definição, deve envolver o homem e sua esposa. Portanto, quando um homem está enfrentando dificuldades nessa área, sua esposa tem o direito de saber. O pecado sexual deve ser confessado à esposa, e sua ajuda deve fazer parte dessa luta contra o pecado. Que aliado seria mais forte que a própria esposa? Enquanto o homem luta contra a pornografia, ele deve buscar a ajuda da esposa por meio da oração, mas também por meio da prática sexual regular.
No caso de homens não casados, deve-se tomar mais cuidado para envolver a namorada ou noiva. Se um homem está namorando e, ao mesmo tempo, enfrentando grandes dificuldades com o vício da pornografia, eu lhe aconselharia a dar um tempo no relacionamento enquanto luta contra esse pecado. No entanto, se um homem está noivo, precisa contar sobre essa dificuldade para sua noiva e, talvez, ao pai dela. Não seria justo levar seu vício para o casamento sem que sua futura esposa saiba disso. Afinal de contas, é bem pouco provável que tal vício desapareça pelo simples fato de estar casado e passar a ter uma forma legítima de desfrutar do sexo. Muitos homens levam esse vício em pornografia para o casamento e ficam chocados ao descobrir que ainda caem nisso, mesmo depois de casados. Se eles nunca se livraram do vício antes, então, não deveriam se surpreender.
O que você pensa do uso de abordagens psicológicas ou mais terapêuticas na igreja em relação a esse problema?
Normalmente a psicologia secular erra quando enxerga o vício da pornografia como uma questão ligada ao cérebro e não ao coração. Encarado dessa forma, o problema se torna uma questão de terapia e não de teologia. Porém, quanto mais aprendemos sobre como o cérebro funciona, mais vemos que só raramente existe uma linha nítida que divide cérebro e coração, e, certamente, o caso da pornografia não é exceção à regra. Quando se peca ao ver material pornográfico por causa de um desejo (coração), isso afeta todo o seu ser (cérebro). Depois de um tempo, você acaba condicionando seu cérebro a ser estimulado somente com pornografia; por isso, há um número cada vez maior de homens hoje em dia que, se não forem estimulados pela pornografia, são sexualmente impotentes. Eu já ouvi mulheres com baixa autoestima quanto à sexualidade por causa da comparação feita com o que se vê em material pornográfico; enquanto isso, os homens usam as mulheres para fazer uma performance daquilo que veem no monitor.
Quando identificamos a pornografia, primeiramente e acima de tudo, como uma questão do ‘coração’, somos capazes de lutar contra idolatrias e outros pecados que motivam um homem a envolver-se com a pornografia em vez da pureza. E, realmente, só o evangelho pode oferecer verdadeira esperança para superar esse pecado, não apenas varrendo-o para debaixo do tapete, mas acabando com ele de verdade. Somente então a pessoa tanto recebe quanto desfruta o perdão de Deus. O evangelho oferece a esperança mais verdadeira e mais profunda.
Qual foi o papel da teologia e das Escrituras no seu processo pessoal de desintoxicação sexual?
A teologia cumpriu o papel mais importante para o meu entendimento sobre a desintoxicação sexual. Mais uma vez, foi a descoberta do puro e simples plano de Deus para o sexo que me fez perceber quão tóxica é a pornografia. Ela é tóxica para uma vida sexual saudável, para um casamento sólido e, ainda, para a paternidade. Para ser um bom marido, pai, líder e pastor, eu precisava superar esse pecado. No exato momento em que vi qual é o plano de Deus para o sexo na Bíblia, Satanás começou a perder a luta. Quando vi a alegria, a liberdade e o benefício que vêm do tipo de vida sexual que Deus quer que eu tenha, comecei a buscar pureza com uma paixão renovada. Não somente estava claro o que Deus exigia de mim (algo que eu já sabia), mas agora eu também via o benefício e a bênção decorrentes disso e, no lado oposto, também via o quanto custava ignorar a vontade de Deus nessa área. Foi bem amedrontador calcular os custos, mas foi maravilhoso calcular as bênçãos.
Como um homem pode aplicar o evangelho nessa área, em termos práticos, a fim de ser vitorioso e conseguir se manter afastado dos pecados sexuais?
O evangelho nos diz que Cristo sofreu e morreu até mesmo por pecados como a pornografia, a masturbação e todos os outros pecados sexuais. Ele suportou a punição de Deus por esses pecados, e, se confiarmos nele, não precisamos temer julgamento. Além disso, Cristo ressuscitou dentre os mortos para mostrar que venceu o pecado e a morte – ele acabou com o poder do pecado. Assim, não somente podemos ser perdoados, mas também temos o seu poder para superar o pecado. Ao considerar o pecado da pornografia, precisamos, em primeiro lugar, confiar em Cristo, confirmando que somos realmente cristãos e salvos. Tendo feito isso, podemos confiar que Deus tem poder para acabar com esse pecado e que ele também deseja que nós mesmos acabemos com tal pecado. Isso nos dá grande força e confiança.
Quando lutamos contra o pecado, o evangelho nos diz que Cristo o superou e que agora ele nos dá esse poder de superá-lo por meio do Espírito Santo. Quando lidamos com a culpa do pecado, o evangelho nos diz que Cristo sofreu a punição; então, podemos nos arrepender e buscar o perdão de Deus para vivermos uma vida no caminho que ele nos aponta. Também esperamos com grande expectativa por aquele dia – o dia prometido – em que Cristo acabará de vez com nossos pecados, e iremos estar com ele para sempre.