Brincando de Deus – Parte 2

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Mais reflexões sobre as implicações éticas e teológicas da tecnologia da engenharia genética

A Engenharia Genética gera inúmeras questões éticas e teológicas, entre as quais é possível destacar algumas.

O ser humano tem o direito de fazer a sua própria clonagem ? Ele não estaria querendo “bancar Deus” sendo um recriador da natureza? Não estaria julgando que a natureza está imperfeita e quereria ser maior que Deus? Estas questões podem ser relevantes do ponto de vista ético e teológico, contudo é preciso considerar, em primeiro lugar, que a Engenharia Genética não é nociva em si mesma. As intenções de cada cientista é que devem ser consideradas em particular. Ao que tudo indica, não há hoje um poder gerenciador que avalia o cumprimento das intenções científicas.

Até que ponto o ser humano pode controlar os fenômenos da natureza? Aqui é preciso considerar que, na criação, Deus determinou que Adão dominasse (no hebraico Gn 1.26: radah , dominar, governar, submeter, conquistar – Gn 1.28: kabash , subjugar, controlar, conquistar) a terra. Isso nos leva a entender que Adão e toda a raça humana tem o compromisso de governar, administrar a terra, administrar os fenômenos da natureza. Deus nos concedeu o atributo de sermos administradores do Universo, ainda que não sejamos o seu dono.

Para ilustrar isto, é possível citar uma experiência em sala de aula, quando alguns alunos de Bioética perguntam se é aceitável teologicamente o controle da natalidade, uma vez que não se encontra nada explícito na Bíblia sobre isso. Para um início de discussão é preciso lembrar que durante a formação da mulher foi previsto um ciclo de fertilidade. É claro que esse ciclo tem freqüência diferente em muitas mulheres. Mas é um método natural de gerência ou administração da natalidade. 3 Se Deus deu ao ser humano a tarefa de administrar os fenômenos da natureza, então, ele pode trabalhar no sentido de conseguir descobrir outras alternativas no sentido de prover soluções às suas questões biológicas e genéticas.

Geralmente somos fatalistas. Se alguém nasce com algum defeito genético acreditamos logo que é o destino, que, sendo isso tributado às ocultas forças do destino, não devemos ficar desejando ser Deus para mudar a situação. Há um toque de incoerência nessa abordagem, pois nenhum míope “civilizado” (e com algum recurso financeiro) deixaria de ir ao oftalmologista e deixaria de usar óculos ou lente de contacto. E a maioria de nós sabe que uma das causas da miopia é genética. Alguns que têm mais recursos (e coragem) até chegam a se submeter a ceratotomia radial para corrigir a sua miopia, eliminando-se o uso de óculos. Isso tudo não deixa de ser uma intervenção terapêutica para corrigir uma anomalia genética. Uma luta contra o fatalismo genético. Se somos administradores da natureza, devemos trabalhar para a sua perfeita manutenção e laborar no sentido de socorrer os geneticamente carentes ou anômalos através da descoberta e aplicação terapêutica genética. Assim, a Engenharia Genética tem sido um socorro quando produz sinteticamente vacinas, insulina, interferon, etc. É a face humanitária desta ciência.

Um grande risco nesta questão está em se desejar construir seres humanos sob medida que preencham um determinado padrão, uma espécie de super-raça dominadora ou útil para certos tipos de trabalho naturalmente indesejável. Como seria estabelecido este padrão, quem estabeleceria? São questões alarmantes. Querer manter ou preservar o que Deus criou é uma coisa, querer recriar e tendenciosamente manipular o ser humano é outra. Nesse caminho Spinsanti (1990, p. 53) afirma que “a manipulação, enquanto mudança planejada da natureza biológica a serviço do homem, tem significado aceitável e condizente com toda tradição judaico-cristã, que está na base da ciência moderna. Sob essa luz, pode-se ver no projeto científico de conhecer os mecanismos de reprodução da vida, para intervir neles, uma forma elaborada de obediência ao mandamento bíblico de dominar a terra e submetê-la.”

Outra questão é até que ponto as descobertas da Engenharia Genética levarão as autoridades governamentais a interferir na vida do indivíduo ? No futuro próximo, com o completo mapeamento do código genético humano, poderão as autoridades decretar leis que inibam pessoas de se casarem por incompatibilidade genética para evitar o nascimento de filhos defeituosos, que por sua vez provocariam custo social e impediriam o aperfeiçoamento da raça humana?

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