O conceito de membresia em João Calvino

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Resumo

A comunhão dos santos é uma realidade que tanto é espiritual como se manifesta exteriormente. Deus conhece os seus eleitos de todos os tempos e culturas, sabe quais os que lhe pertencem e que juntos constituem a Igreja invisível. Diante dos olhos dos homens estão aqueles que professam a fé cristã e se agregam à Igreja institucional, a Igreja visível. João Calvino, em sua afamada obra A Instituição da Religião Cristã aborda a doutrina da Igreja, defendendo a tese de que aquele que se professa cristão deve unir-se a uma Igreja local. O mesmo autor, num conjunto de sermões escritos contra os Nicodemitas, um grupo de pessoas que se professava protestante mas continuava ligado à igreja católica romana, vai criticar essa postura e também defender a necessidade fundamental de estar unido a uma igreja verdadeira. Aqueles que se unem à Igreja visível são os que fazem confissão da sua fé, têm uma vida exemplar e participam dos Sacramentos, os quais devem zelar pela pureza e edificação do Corpo em amor.

Palavras-chave

Igreja; Membresia; João Calvino; Comunhão dos Santos.

Introdução

Tem-se visto uma lacuna na vivência do conceito de membresia bíblica no seio das igrejas do Ocidente. Esta lacuna tem-se evidenciado pela ausência de uma compreensão profunda da importância da membresia bíblica, pela falta de um rigor biblicamente saudável quanto aos que são afirmados como membros pela igreja local e pela pouca ou equivocada participação dos membros nas suas responsabilidades para com o Corpo.  Este artigo pretende mostrar de forma introdutória o conceito de união do cristão professo à Igreja visível na ótica de João Calvino. Para tal far-se-á uso de diversas fontes, A Instituição da Religião Cristã, alguns dos comentários às epístolas paulinas do mesmo autor e um conjunto de quatro sermões de Calvino, editados e publicados juntos em 1552, em reação a um grupo chamado de Nicodemitas, os quais afirmavam a fé reformada mas continuavam ligados à igreja católica romana. Procurar-se-á nessas obras perceber o conceito de Calvino sobre o significado de ser-se membro de uma Igreja local, a sua importância, requisitos e responsabilidades por parte da membresia.

1. Igreja Invisível e Igreja Visível

A Igreja invisível é aquela que é plenamente conhecida por Deus, composta pelos eleitos de todos os tempos e culturas.

Como afirma Calvino,

somente Deus conhece os que lhe pertencem, mantendo-os ocultos sob seu selo, como Paulo o afirma (2 Tm 2, 19), até o dia em que os fizer sair portando as insígnias que os distinguem dos réprobos. Mas, por serem número exíguo e desprezível, que permanece oculto na multidão, à semelhança de um punhado de trigo sob a palha, somente a Deus compete conhecer Sua Igreja, cujo fundamento último é sua misteriosa eleição.1

Todos os membros da Igreja invisível se submetem a Cristo, o Cabeça, e eles, unidos pelo Espírito, por uma só fé no mesmo Salvador, formam o Corpo de Cristo.

Por outro lado, a Igreja deve ser também considerada no seu aspecto exterior, no seu aspecto visível. É neste aspecto que incidirá o restante do artigo. O membro da Igreja é aquele que faz parte da Igreja visível, que se une a ela, que professa sua fé em Cristo e participa e desfruta da vida regular da Igreja, daquelas que são consideradas por Calvino as marcas de uma verdadeira Igreja: a Pregação pura da Palavra e os Sacramentos.

2. A importância da união à Igreja local para a vida Cristã

Para Calvino é vital que o cristão compreenda a importância de ele perceber que deve estar unido à Igreja: “(…) devemos crer na Igreja de modo que nos convençamos ser membros seus.”2
 
Calvino3 emprega uma metáfora para enfatizar o papel fundamental da Igreja visível na vida do cristão, chamando-lhe de mãe. Afirma Calvino que

“não há outro meio de entrar na vida eterna se a Igreja não nos tiver concebido em seu seio, dado à luz, amamentado, e, depois, nos tiver mantido sob sua guarda e autoridade até que, despojados de nossa carne mortal, formos semelhantes aos anjos (Mt 22.30). Se por toda a vida devemos ser discípulos, nossa fraqueza não permitirá que deixemos essa escola.”4

Comentando o texto de Gálatas 4.26 Calvino5 vai afirmar que aquele que se recusa ser filho da Igreja está a contrariar o seu desejo de ser filho de Deus como Pai, pois é só através da instrumentalidade da Igreja que o pecador nasce em Deus, passa pelas várias fases de crescimento da infância e juventude e chega à fase adulta.

É no seio da igreja local que o cristão é nutrido, disciplinado, encorajado e assim cresce em santidade e vigor espiritual, tal como um filho cresce e floresce sob os cuidados de sua mãe.

Deus podia instantaneamente transformar um cristão recém-nascido num cristão perfeito, mas Ele quer fazê-lo crescer gradativamente, e tal processo acontece sob os cuidados da Igreja. Como isso acontece?

“Sabemos que isso se dá pela pregação da doutrina celeste, confiada aos pastores. Sabemos que todos estão obrigados à mesma lei: deixar-se governar, com espírito manso e humilde, pelos doutores e pastores que os presidem. (…) É verdade que o poder da salvação reside somente em Deus, mas Ele no-lo dá a conhecer e o expressa pela pregação do Evangelho,”6

É na Igreja que o Evangelho é continuamente colocado diante do cristão, seja através da Pregação da Palavra, o Evangelho falado ou através dos Sacramentos, o Evangelho visível, encenado, que fica diante dos olhos dos membros do corpo cada vez que um Baptismo ou uma Ceia do Senhor são realizados.

“quel thresor c’est d’avoir liberté, non seulement de servir purement à Dieu, et faire confession publique de sa foy : mais aussi d’estre en Eglise bien reiglee et policee, où la parolle de Dieu se presche, et où les Sacremens s’administrent comme il appartient : attendu que ce sont les moyens par lesquels les enfans de Dieu se peuvent confermer en la foy, et sont incitez à vivre et mourir en l’obeissance de luy. (…) Les Sacremens ne nous monstrent pas Jesus Christ de loin, comme sous la Loy : mais le nous mettent devant les yeux.” (Calvino, 2013, pp. 11-12, 145-146) 7

Na obra supra-citada Calvino está a dirigir-se aos chamados Nicodemitas 8, os quais questionavam se não poderiam ler, orar e aprender as Escrituras em casa, sem entrarem num templo. Calvino 9 chama essas pessoas de orgulhosas, pois criam que os sermões, as orações públicas e os Sacramentos eram coisas supérfluas.

Calvino lança então uma pergunta à qual ele mesmo responde:

“A quel propos doncques nous assemblons-nous? pourquoy est-ce que l’Evangile nous est presché ? pourquoy avons-nous le Baptesme et la Cene, sinon à fin que Dieu soit magnifié en nous ? Or ceste louange ne gist pas seulement au bout de la langue, mais elle s’estend par toute la vie. {Pse. 26. b. 6.} Pourtant il est dit en l’autre passage, Je laveray mes mains en integrité, Seigneur, puis j’entreray à ton autel. Nous voyons maintenant quel est le vray usage de tout l’ordre de l’Eglise : c’est que nous servions purement à Dieu.”10

Como resposta Calvino11 afirma a importância da união à igreja para que o cristão esteja cada vez mais confirmado na fé, na crença em Deus, em santidade, no desprezo do mundo e no amor pela vida celestial.
Assim, sem comunhão com a Igreja o cristão não é exposto ao Evangelho e não pode progredir na sua peregrinação cristã. Calvino em A Instituição da Religião Cristã critica asperamente aqueles que achavam poder viver a sua vida cristã longe do seio da Igreja:

“Impelidos pela soberba, pela presunção e pela inveja, muitos se persuadem de que farão maiores progressos lendo ou meditando em particular que participando das assembleias públicas, por considerá-las desprezeis e inúteis. Mas, uma vez que rompem o sagrado vínculo da unidade, não escaparão do justo castigo desse ímpio divórcio, que por fascinação conduz a erros pestíferos e terríveis delírios.”12

Sobre esta mesma ideia ainda escreve que,

“o Senhor tem em tal conta a comunhão de sua Igreja, que considera desertor da religião todo aquele que, de modo contumaz, afasta-se de uma congregação cristã na qual estão presentes o verdadeiro ministério da Palavra e dos sacramentos. (…) separar-se da Igreja é o mesmo que renegar a Deus e a Cristo.”13

Fica evidente que, para Calvino, todo aquele que vive longe da comunhão da Igreja, que não vive a verdadeira membresia com a sua igreja local, demonstra negar a fé, revela que qualquer cristianismo professo pelos lábios dessa pessoa logo sucumbirá, da mesma forma que um recém-nascido está fadado a definhar caso não receba os cuidados de sua mãe. Assim sendo, para Calvino a união à Igreja local é vital para a vida e crescimento do cristão.

3. Quem são os membros da Igreja?

A Igreja é constituída por todos quantos são adotados como filhos de Deus, são esses que se tornam membros de Cristo. Assim, Calvino refere que

“Por Igreja entende-se frequentemente toda a multidão dos homens que, dispersos no mundo, honram a Deus e a Cristo; que foram iniciados na fé pelo batismo; que atestam sua união na verdadeira doutrina e na caridade pela participação na ceia. Consentem, ademais, na Palavra do Senhor e conservam o ministério da pregação instituído por Cristo. Nessa Igreja, aos bons estão misturados os hipócritas, os quais nada têm de Cristo, exceto o nome: muitos ambiciosos, avarentos, invejosos e maledicentes; muitos têm hábitos ainda piores, mas são tolerados por algum tempo, seja porque não podem ser condenados por juízo legítimo, seja porque nem sempre vigora o necessário rigor da disciplina. Assim, pois do mesmo modo como é necessário crer na Igreja que nos é invisível mas é conhecida por Deus, assim nos manda que honremos a Igreja visível e nos mantenhamos em comunhão com ela.”14

O Senhor conhece todos aqueles que, no tempo e no espaço, pertencem à Igreja invisível, mas há aos olhos humanos a  necessidade de se reconhecer quem é parte da Igreja visível e neste sentido “sendo oportuno conhecê-la, o Senhor no-la manifesta mediante notas seguras e sinais evidentes.”15

Calvino16 vai afirmar que o rosto da Igreja manifesta-se diante dos nossos olhos através dos seguintes sinais: Palavra de Deus sinceramente pregada e ouvida e sacramentos administrados segundo a instituição de Cristo.
Nesta mesma linha são reconhecidos como membros da Igreja aqueles que “por confissão de fé, exemplo de vida e participação nos sacramentos, professam conosco o mesmo Deus e o mesmo Cristo.”17

A mesma verdade pode ser vista, pela perspectiva oposta, através da aplicação da disciplina eclesiástica perante um testemunho contrário ao Evangelho, pois “quando as igrejas são guiadas por normas adequadas não devem tolerar que os maus sejam nutridos em seu seio, nem devem admitir, sem distinção alguma, que bons e maus participem da ceia.”18. Assim, são excluídos da comunhão da Igreja aqueles que demonstram o oposto daqueles que são os sinais dos que são membros da Igreja, aqueles que demonstram em seu testemunho apostasia, com os quais a Igreja não mais se identifica.

Comentando o capítulo 5 da primeira epístola aos Coríntios sobre o homem que se deitava com a mulher de seu pai, Calvino sublinha a ideia de que o corpo local não pode consentir com o pecado de um de seus membros,

“Em primeiro lugar, uma vez que existe comunhão entre os membros da Igreja, o fato é que todos eles seriam afetados pela apostasia da parte de um deles. Em segundo lugar, quando um ato danoso é cometido em alguma igreja, a culpa não se confina à pessoa que o cometeu, mas todo o grupo em alguma extensão é também contaminado. (…) Cada Igreja deve ponderar sobre este fato, ou seja, que ela é marcada com o estigma da desgraça toda a vez que algum infamante crime é cometido em seu seio.”19

Neste sentido faz-se necessária a disciplina, através da qual são corrigidos e removidos erros que surjam na Igreja, refere Calvino 20. Afirma ainda que a excomunhão de alguém deve ser proposta pelo colégio de anciãos e depois encaminhada à assembleia. Ou seja, são os outros membros, a Igreja local, que irão aplicar a disciplina sobre o pecador impenitente, em quem não mais reconhecem um testemunho coerente com a fé professada. Esta excomunhão é realizada sob a autoridade de Cristo, que deu as chaves do Reino à Igreja,

“Porque, se a promessa é genuína – “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles (Mt 18.20) -, segue-se que tudo quanto se realizar em tal reunião provém de Cristo. Daí inferirmos quão importante é a excomunhão legítima aos olhos de Deus, visto que ela depende do poder de Deus.” 21

Assim, para Calvino é membro da Igreja visível todo aquele que professa fé em Cristo, que tem um testemunho de vida coerente com a sua confissão de fé e que participa dos Sacramentos. Na ausência destes sinais a pessoa deve ser desligada da comunhão com a Igreja.

4. Quais as responsabilidades dos membros da Igreja?

Fica evidente pelo percurso até aqui que o membro da Igreja tem como dever glorificar a Deus e adorá-lo através de uma vida exemplar, do ouvir a pregação da Palavra e participando nos Sacramentos, para tal deve estar presente regularmente nas reuniões da Igreja. Foi também referida a participação dos membros na disciplina de alguém em pecado, ficando assim evidente que também é responsabilidade dos membros zelarem pela pureza da Igreja.
Além desses deveres que já foram sendo delineados nos outros pontos é responsabilidade de cada membro edificar os demais segundo a medida da graça que recebeu, conforme refere Calvino 22. Cristo é o Cabeça da Igreja, é Ele quem nutre todas as necessidades de cada membro e Ele faz isso através dos membros, em que estes se edificam mutuamente. Calvino, comentando Efésios 4.16 afirma que

Há três coisas a serem notadas aqui. A primeira consiste no que já declarei. Toda a vida ou saúde que se difunde através dos membros emana da Cabeça; de sorte que os membros são apenas assistentes. A segunda consiste em que, mediante distribuição, a limitada contribuição de cada um demanda comunicação entre si. A terceira consiste em que, sem o amor mútuo, o corpo não pode desfrutar de saúde. E assim ele diz que, através dos membros, como que através de condutores, da Cabeça flui tudo quanto é necessário para a nutrição do corpo. Também diz que, enquanto essa conexão estiver em vigor, o corpo é vivo e saudável. Além do mais, ele atribui a cada membro seu próprio modo de ser – segundo a justa operação de cada parte.23

Para que esta edificação ocorra Deus distribuiu, livremente, dons aos seus filhos,

“Portanto, cada um de nós deve compreender que, seja qual for o dom que possui, o mesmo lhe foi concedido para a edificação de todos seus irmãos. Com isso em mente ele deve dedicá-lo ao bem comum, não suprimindo-o, nem sepultando-o em seu interior, por assim dizer, nem tampouco usando-o com se ele fosse sua possessão particular.”24

A operação destes dons e toda a interação que aconteça entre os membros da Igreja só se torna eficaz se for banhada no amor, ou seja, se for pensada tendo em conta a edificação do próximo. É corporativamente que a acção de determinado membro ganha vida, o próximo deve ser o alvo da atuação do membro. Quando o crente age para benefício próprio, para seu enaltecimento, não está a agir em prol da edificação do corpo, está a agir isoladamente e de forma egoísta. Neste sentido Calvino escreve em relação ainda a Efésios 4.16 que

“o apóstolo mostra que a Igreja é edificada – para a edificação de si mesmo em amor. Isso significa que nenhum crescimento é de utilidade quando não corresponde a todo o corpo. A pessoa que deseja crescer isoladamente segue um rumo equivocado. Pois que proveito traria [ao corpo] se uma perna ou um braço se desenvolvesse sem simetria, ou uma boca fosse grande demais? Seria ele simplesmente afligido como se tivesse presente um tumor maligno. Portanto, caso queiramos ser considerados em Cristo, que nenhum de nós seja tudo para si mesmo, senão que, tudo quanto venhamos a ser, sejamos em relação uns aos outros. Isso só pode ser realizado pelo amor; e onde o amor não reina, também não existe edificação na Igreja, senão mera dispersão.”25

A presença deste ambiente de amor é reforçada por Calvino também em seu comentário a 1 Coríntios 12.27 quando escreve da necessidade de

“Que haja amor uns para com os outros, simpatia e consideração uns pelos outros. Que seja o bem comum a influenciar-nos para que não sejamos os que danificam a Igreja por meio da malevolência, ciúme, orgulho, ou algum gênero de discórdia; ao contrario disso, que cada um canalize toda a sua energia em sua preservação.26

Os membros devem também cuidar das necessidades materiais dos ministros do Evangelho e daqueles membros que padeçam de necessidades, da mesma forma que um membro da família deve socorrer o outro quando necessário. Ao comentar Gálatas 6.10 Calvino afirma:

“Começando com a liberalidade devida aos ministros do evangelho, Paulo agora faz uma aplicação mais ampla de sua doutrina e nos exorta a fazer o bem a todos, mas recomenda à nossa consideração a família da fé, ou seja, os crentes, porque eles e nós pertencemos à mesma família. Esta semelhança tem o propósito de estimular-nos ao tipo de comunicação que deve ser mantida entre os membros de uma família. Há deveres que temos de cumprir em relação a todos os homens, mas o vínculo de um dever mais sagrado, estabelecido por Deus mesmo, nos une aos crentes.”27

Assim, para Calvino, ao ser unido ao Corpo, cada membro tem a responsabilidade de participar da vida do próprio Corpo de variadas formas, seja crescendo ele mesmo na sua caminhada cristã e mantendo-se na sua confissão de fé, seja edificando os outros membros através dos dons que recebeu de Deus e cuidar das necessidades materiais dos ministros do Evangelho e daqueles membros que estão em necessidade. Não se esgotam as responsabilidades do membro no que aqui se mencionou, mas dado o objetivo introdutório do presente artigo são aqui referidas algumas delas, sendo a principal a edificação do Corpo, que se dá de variadas formas. Ainda assim fica claro que tudo o que é feito no Corpo deve ser feito em amor, visando a edificação do outro e a Glória de Cristo.

Considerações finais:

Como foi analisado, Calvino, em várias de suas obras, dá suprema importância à necessidade do cristão estar unido à Igreja visível. O cristão como filho adotado de Deus pertence ao Corpo universal de Cristo, mas exterioriza essa sua ligação à Igreja invisível ao unir-se à Igreja visível. Calvino também deixa claro que essa união se dá pela confissão de fé, pelo exemplo de vida, pela participação nos Sacramentos e quando a fé é negada seja em palavras ou em testemunho de vida através de pecado impenitente a pessoa é excluída da comunhão da Igreja, não podendo participar da Ceia do Senhor. Também fica claro no pensamento de Calvino, manifesto em algumas de suas obras, que o membro da Igreja tem a responsabilidade de edificar os outros membros, para o crescimento do Corpo.

Tal perspectiva de Calvino sobre a membresia deve encorajar as igrejas de hoje a terem em igual estima a membresia bíblica, a terem cuidado de quem afirmam ser membro e a promoverem intencionalmente o exercício das responsabilidades bíblicas de cada um dos seus membros.

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1CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã. São Paulo: Editora UNESP, 2009, p. 467.
2Ibid. p. 468.
3Ibid. p. 465-466
4Ibid. p. 468-469
5CALVINO, João. Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses. São José dos Campos: Editora Fiel, 2010, p. 152
6Id. A Instituição da Religião Cristã. São Paulo: Editora UNESP, 2009, p. 469
7ENGAMMARE, Max et al. (ed.). Quatre Sermons 1552. Genéve: Librarie Droz, 2013, cap. 1 e cap. 4, iBooks. “que tesouro é ter liberdade, não apenas para servir exclusivamente a Deus, e fazer confissão pública da sua fé: mas também estar numa Igreja bem ordenada e policiada, onde a Palavra de Deus se prega, e onde os Sacramentos são administrados como devem ser: uma vez que são os meios pelos quais os filhos de Deus podem ser confirmados na fé, e são incitados a viver e morrer em obediência a Ele. (…) Os Sacramentos não nos mostram Jesus de longe, como sob a Lei: mas colocam-no diante dos olhos.” (tradução nossa)
8São assim chamados à luz do exemplo de Nicodemus, que foi ter com Jesus durante a noite, para não ser visto. Tratava-se de um grupo de pessoas que se professavam protestantes mas não abandonavam a Igreja Católica Romana: “Na época de Calvino havia também homens que tinham ideias semelhantes com respeito à Igreja Católica Romana. De um lado eles queriam dizer aos reformadores: “Sim, nós cremos nas doutrinas reformadas; nós cremos na doutrina da justificação somente, cremos que a adoração é definida somente por Deus, cremos que não devemos adorá-lo de nenhuma outra forma se não a que Ele determinou na Sua Palavra, mas não queremos abrir mão dos nossos empregos, de nossas posições. Queremos continuar em nossos cargos e funções na Igreja Romana porque se apoiarmos a Reforma publicamente, perderemos nosso status na sociedade”. Veja o que eles estavam dizendo: “Desde que o meu coração esteja bem, aquilo que eu faço não importa”. BACON, Richard. Calvino e os Nicodemitas. In: XV Simpósio Reformado os Puritanos, Maragogi, 2013, p. 6-7)
9Id. Quatre Sermons 1552. Genéve: Librarie Droz, 2013, cap. 4, iBooks.
10Ibid. cap. 4, iBooks. “Com que propósito então nos reunimos? Por que é que o Evangelho nos é pregado? Por que realizamos o Baptismo e a Ceia, senão com o propósito de que Deus seja magnificado em nós? Este louvor não sai apenas da ponta da nossa língua, mas estende-se por toda a nossa vida. (Sl 26.b.6). Portanto é dito numa outra passagem: Lavarei as minhas mãos em integridade, pois entrarei em teu altar. Vemos agora qual é o verdadeiro uso de toda a ordem da Igreja: é que sirvamos exclusivamente a Deus.” (tradução nossa)
11Ibid. cap. 4
12Id. A Instituição da Religião Cristã. São Paulo: Editora UNESP, 2009, p. 470-471
13Ibid. p. 473-474
14Ibid., p. 473-474
15Ibid., p. 474
16Ibid., p. 474
17Ibid, p. 474
18Ibid., p. 479
19CALVINO, João. 1 Coríntios. São Bernardo dos Campos: Edições Parakletos, 2003, p. 157
20Ibid., p. 159
21Ibid., p. 160
22Id. A Instituição da Religião Cristã. São Paulo: Editora UNESP, 2009, p. 477
23Id. Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses. São José dos Campos: Editora Fiel, 2010, p. 306.
24Id. 1 Coríntios. São Paulo: Edições Parakletos, 2003, p. 389
25Ibid. p. 389
26Ibid. p. 390
27Id. Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses. São José dos Campos: Editora Fiel, 2010, p. 194.

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SUGESTÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR:

LEEMAN, Jonathan. Membresia na igreja: como o mundo sabe quem representa Jesus . São Paulo: Vida Nova.

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