Inteligência a serviço de Cristo, o Rei

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1846

Inteligência a serviço de Cristo, o Rei1

Traduzido da língua inglesa por Gérson Dudus

Nas últimas décadas, a igreja protestante brasileira cresceu numa velocidade notável, possivelmente mais depressa do que na Europa Central durante a Reforma.2 Ela está, numericamente, na casa dos milhões, representando uma das maiores presenças protestantes no mundo.3 Acompanha este crescimento um pronunciado aumento de escolas bíblicas e seminários. Seu número cresceu de mais ou menos 80 escolas em 1970, com menos de 1.000 estudantes, para mais de 300 atualmente, com mais de 10.000 estudantes matriculados.4 Esse tipo de crescimento numérico é evidência de um fogo espiritual que se alastrou pelos bairros das cidades e pelo campo. Ninguém sabe por quanto tempo essa rápida taxa de crescimento continuará, mas é óbvio que todo o esforço deve ser feito para mantê-lo.

Eu creio que uma das formas pelas quais isso pode ser feito é a liderança da igreja protestante brasileira pensar seriamente sobre educação cristã superior. É claro que a igreja está necessitada de professores em todos os níveis de instrução, mas em especial no mais elevado, porque aí a dependência de missionários do Primeiro Mundo é maior. Muitos seminários têm usado professores norte-americanos desde sua implantação, e continuam a fazê-lo hoje, pela falta de brasileiros com treinamento superior. Chegou o tempo de isso mudar. A geração de líderes que vai ensinar, pregar e escrever para a igreja do século XXI está começando agora seus primeiros anos de estudo nos seminários. Agora é a hora de nossas escolas e seminários oferecerem programas de pós-graduação nos níveis de Mestrado e Doutorado para aqueles que tiverem habilidade e desejo de continuar seu treinamento.

É fácil citar razões pelas quais o treinamento avançado é desejável e mesmo necessário para uma saúde de longo prazo da igreja. Em primeiro lugar, são aqueles que têm alta graduação em qualquer campo que, na longa caminhada, têm muito a fazer na determinação da qualidade da pregação e do ensino de qualquer geração cristã. Por essa razão, novos centros de treinamento nos níveis acadêmicos mais elevados produziriam um “efeito dominó” na igreja brasileira. Mais homens (e mulheres) se graduariam com capacidade para ensinar outros. A educação teológica se tornaria, então, mais proveitosa e de melhor qualidade. Em segundo lugar, mais literatura cristã de todos os tipos, quer livros didáticos, tratados acadêmicos ou literatura popular, seria produzida por brasileiros para a igreja brasileira. A grande maioria da literatura teológica oferecida à igreja brasileira hoje é traduzida do inglês. A necessidade dos melhores trabalhos ingleses, alemães e franceses sempre existirá, mas a igreja nunca será totalmente autônoma até poder produzir seus próprios acadêmicos que escrevam literatura contextualizada. Em terceiro lugar, mais e melhores professores farão crescer plenamente o nível de treinamento. O jovem pastor que se graduar estará melhor equipado e capacitado a fazer seu trabalho mais competentemente. Finalmente, mais e melhor treinamento ajudará no esforço de fazer do Brasil a próxima grande nação missionária. Mais professores tornarão o treinamento missionário mais acessível a um número maior dos chamados para tal trabalho, e o treinamento missionário, acima de qualquer outro, deve ser da mais alta qualidade possível.

Já é tempo da graduação superior e da erudição cristã serem encorajadas e apoiadas no Brasil. Esse ensaio oferece uma contribuição à tarefa, examinando, em primeiro lugar, o ensino superior na Bíblia e na história da igreja e, em segundo lugar, percebendo o que significa ser um erudito cristão.

“… não há limite para fazer livros, e o muito estudar é enfado da carne” (Ec 12.12).

“O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento” (Os 4.6).

A atitude da Bíblia a respeito da instrução parece ficar em algum lugar entre os dois versos acima. Em Eclesiastes 12.12, o autor, conhecido sobretudo por sua sabedoria, exprime ceticismo sobre o valor da ciência em sua queixa sobre a produção sem fim de livros e a cansativa atividade do estudo. É digno de nota assinalar que ele escreveu esse aviso para seu filho no fim, e não no início do livro. Desse modo, é provável que a afirmação deva ser tomada como irônica, ao invés de cética. Entretanto, uma avaliação ainda mais crítica sobre o estudo pode ser encontrada em outras partes da Bíblia, particularmente no NT. O Senhor mesmo rejeitou a ciência de sua época nos mais rudes termos. Ele agradeceu ao Pai porque o sentido religioso da vida não foi dado “aos sábios e entendidos”, mas sim revelado “aos pequeninos” (Mt 11.25). Ele usou parábolas para esconder seu ensino dos da classe instruída que vinham ouvi-lo. Numa manifestação de irada frustração, ele condenou com sete ais os líderes instruídos de sua geração (cf. Lc 11.52s.). Ele não escolheu nem rabi, nem escriba, nem autoridade alguma para fazer parte de seu círculo pessoal de discípulos. Em suma, não existe nenhum herói acadêmico nos Evangelhos.

O apóstolo Paulo também escreveu contra as classes instruídas, mas seu alvo não era a intelligentsia da nação judaica e, sim, os gregos e romanos. Em 1Coríntios 1, ele avisa nos termos mais fortes que os melhores esforços humanos para alcançar o caminho da bênção são inúteis, e que o Evangelho sempre parecerá fraco e imbecil ao homem sábio deste mundo (cf. 1Co 1.18-20). Naturalmente, Paulo encarou uma situação completamente diferente da nossa. Nas décadas intermediárias do primeiro século, o cristianismo era ainda quase desconhecido. Para o grego instruído, o cristianismo possuía toda respeitabilidade que damos hoje ao aparecimento de mais um culto “new age”. A experiência de Paulo no Areópago é, provavelmente, ilustrativa do tipo de arrogância e escárnio que normalmente recebia. Isto explica, ao menos em parte, o tom defensivo de seus comentários iniciais sobre quem é realmente sábio e quem é de fato tolo aos olhos de Deus (cf. 1Co 3.18-20).

Devemos começar, então, por reconhecer estes versos como, ao menos, avisos de que a razão humana por si só não pode levar a mente inquiridora à verdade religiosa. Mesmo a luz do AT não foi capaz de guiar todos os que o estudaram a reconhecer Aquele para quem apontava. Mas, daí a supor que a Bíblia dê uma avaliação global negativa sobre o estudo, seria um erro. Considere a segunda citação acima, do profeta Oseias. Em seu lamento sobre o triste estado de coisas em seus dias, o profeta descreve o que acontece quando o treinamento religioso é negligenciado. Ele acusa o fracasso da classe instruída em ensinar ao povo o significado e a observância da palavra de Deus, culpando-o pela queda da nação.

Tampouco o apoio bíblico para o estudo apresenta-se de forma negativa, como em Oseias. O mandamento para ensinar também aparece na Bíblia, tanto como ordem quanto como apelo. Aparece como ordem nas numerosas passagens em que o Senhor instrui os judeus a serem cuidadosos no ensino de Seus caminhos aos filhos. Como um apelo, aparece nos muitos pedidos do salmista para ser ensinado a andar nos caminhos do Senhor.5

Dessa maneira, a Bíblia rejeita o ensino religioso quando incorretamente usado, mas afirma seu lugar na propagação da fé. Mesmo nas duas passagens citadas acima, não temos apenas um profeta (Oseias) contra o peso conjunto de Salomão, Jesus e Paulo. Cada um desses três, mesmo tendo o que dizer contra a erudição, também nos proporciona exemplos de homens que tomaram o estudo a sério. O renome de Salomão por sua grande sabedoria não veio sem um considerável esforço.6 Jesus foi chamado de mestre e professor pelos seus seguidores, títulos de honra que Ele nunca rejeitou. Estudou as Escrituras e a tradição judaica bem o suficiente para alcançar maestria em seu conteúdo e significado. Ele demonstrou isso, entre outros lugares, no Sermão do Monte, onde reinterpretou a tradição judaica com a frase “Ouvistes… Eu, porém, vos digo…” (Mt 5.21s.). Essas são palavras de um homem profundamente versado nas Escrituras e convicto do próprio conhecimento delas. Paulo, mais do que qualquer outro escritor bíblico, era um acadêmico treinado. Ele passou os longos anos necessários para ser qualificado como Rabi, em estudo formal das Escrituras Hebraicas (Fp 3.5). Depois de sua conversão, ele dispendeu alguns anos reestudando o que havia previamente aprendido, agora sob a luz de Cristo (cf. Gl 1). O resultado foi uma profunda compreensão do sentido da vida, morte e ressurreição de Jesus que, guiado pelo Espírito, nos proporcionou a fonte primária do sentido teológico de Cristo. Concebido dessa forma, seu trabalho é acadêmico no mais profundo sentido do termo.

A atitude bíblica a respeito do estudo pode ser resumida dizendo-se que ele ocupa uma posição intermediária. Não alcançamos a salvação através do conhecimento de uma verdade secreta, nem pela habilidade de raciocinar adequadamente, mas também não podemos ser seguidores de Jesus Cristo sem um conhecimento de Sua história e uma compreensão de sua significação. O aprendizado pode não salvar, mas a ignorância irá destruir.

Desde a época dos apóstolos, a discussão sobre o lugar da erudição seguiu uma mesma dialética, tendo de um lado aqueles que negam sua utilidade e do outro aqueles que insistem na sua importância. Os argumentos principais, favoráveis e contrários, são quatro. O primeiro deles é que o cristianismo não precisa de estudos graduados, nem é com eles compatível, especialmente aqueles conhecidos hoje como ciências humanas, e.g., filosofia, sociologia, psicologia etc. Tertuliano articulou sucintamente essa rejeição do ensino mundano, perguntando: “O que tem Atenas a ver com Jerusalém, a Academia com a Igreja?”.7 Essa questão sempre apareceu, não tanto como rejeição da erudição, mas sim como uma afirmação da permanente tensão entre o saber secular e a fé cristã. Uma tensão que cresceu agudamente na era moderna, quando a fé reformada tem sido desafiada por novas metodologias críticas baseadas na razão iluminista. Aquelas histórias que tratam do desenvolvimento do pensamento cristão nos últimos duzentos anos são, primariamente, registros de como a teologia tentou adaptar-se a esses desafios intelectuais. A racionalidade crítica de nossos dias tem sido suficientemente grande para levar alguns teólogos a reduzir a mensagem cristã a uma crença ou escolha, eliminando quase que inteiramente seu elemento racional. Esse encaminhamento encontra defensores dos dois lados do espectro teológico, quando alguns fundamentalistas e muitos neo-ortodoxos afirmam que a Bíblia deve ser crida num salto de fé ou ato de vontade, ou seja, se isso não é irracional, é certamente “a-racional”.

A antiga questão de Tertuliano não fica sem uma igualmente antiga resposta. Desde aquela época, tem sido reconhecido que se deve responder a desafios à fé em qualquer que seja a forma que apareçam. E é precisamente nesse ponto que Tertuliano é mais inconsistente. Como os outros acadêmicos cristãos de sua época, sua obra mostra amplo conhecimento, raciocínio disciplinado e um entendimento das posições contra as quais ele estava se posicionando. O cristianismo sempre será importunado não apenas por desafios filosóficos pesados, mas também por uma horda lunática de fanáticos, obscurantistas e fornecedores de religiões de supermercado. Nunca houve um remédio efetivo contra essas pessoas, exceto a capacidade da mente e os pacientes esforços de um ministro estudioso.

Igualmente antiga é a percepção de que Atenas e a cristandade têm grande relação uma com a outra, porque tanto gregos como cristãos são membros da mesma sociedade. Em outras palavras, em cada época, a fé cristã deve estar relacionada à cultura na qual se encontra. Essa demanda por contextualização teve, recentemente, boa articulação na teoria hermenêutica moderna que pergunta como qualquer compreensão de outra pessoa é possível. A resposta tem sido dada em termos de nossos “horizontes”.8 Crescemos aprendendo a pensar nos termos das formas culturais das quais emergimos. Esses horizontes mentais são formados naturalmente com o tempo e proporcionam a base de todo o nosso pensamento, seja religioso ou secular. Esse insight moderno articula a questão precisamente. O Evangelho não pode ser simplesmente jogado às pessoas. Precisa ser colocado em termos que as pessoas achem compreensivos, isto é, em termos de seus contextos ou horizontes.9 Como pode alguém, por exemplo, falar do evangelho de maneira persuasiva e inteligente para um índio guarani, a não ser que primeiramente compreenda sua visão animista do mundo? Como pode alguém dialogar com marxistas sobre o sentido e a direção que Cristo dá à história se não entende o materialismo dialético?10 A debilidade da objeção de Tertuliano e a razão de ela nunca ter sido aceita pela maioria da igreja estão no fato de que ela não reconhece que a fé cristã deve satisfazer todas essas demandas. Deve responder ao erro e deve relacionar a mensagem cristã à cultura na qual se encontra.

O melhor entendimento sobre ensino cristão foi colocado por Agostinho. Ele disse que um homem não pode conhecer a verdade sem primeiramente crer, mas, se crer, então toda a verdade estará aberta para ele. Essa é uma versão cristã do pensamento salomônico de que o princípio da sabedoria é o temor de Deus. É exatamente aqui, nessa atitude da fé interpretando o mundo, que uma ponte é estabelecida entre o ensino sagrado e o profano. O crente deve beber bastante dos poços do ensino secular, contanto que interprete o que é aprendido através das lentes da fé. Essa tem sido a pedra fundamental do estudo superior cristão até hoje em, supostamente, todas as universidades cristãs.11

A segunda objeção ao academicismo cristão é que o estudo, ao menos o estudo graduado, vai levar à ruína da fé. Essa objeção surgiu mormente como uma reação ao efeito destrutivo dos estudos da alta crítica. O aparecimento, nesses últimos dois séculos, do uso de um método definido pela palavra “crítica” levou alguns evangélicos a rejeitar todo e qualquer estudo acadêmico superior, especialmente aqueles da universidade.12 Em sua forma extrema, essa atitude cautelosa nega até o valor do treinamento em seminário para pastores e leigos. Outros, simplesmente, avisam que é melhor esquecer as instituições graduadas de ensino que oferecem mestrado ou doutorado em Ciências da Religião. Os perigos, dizem, superam de longe qualquer possível ganho.13 Há alguma justificativa para essa atitude. Nos últimos séculos, o protestantismo clássico tem lutado contra o liberalismo especificamente nesse ponto. Muitas das teologias históricas que cobrem o período moderno focalizam a luta do téologo ‘iluminista’, que aceita os cânones da alta crítica, mas ainda tenta manter alguma semelhança com a fé.14 Até o momento, o protestantismo brasileiro ainda está intimamente ligado às raízes missionárias conservadoras e não se confrontou com um liberalismo desse tipo. Mas, com o tempo isso vai mudar e o desafio dos estudos da alta crítica terão de ser enfrentados. Porém, para tomar um tema já colocado pela frase de Agostinho, nos estudos religiosos as suposições e atitudes que se usa determinam largamente as conclusões que são encontradas.

O enfoque crítico moderno para os estudos religiosos tem imposto cânones de raciocínio sobre a Bíblia que se inspiram no I1uminismo, ao invés de na tradição cristã. Essa seleção metodológica é mais uma escolha do que uma necessidade. O academicismo cristão não precisa ser crítico dessa maneira para sustentar profundidade de compreensão, proficiência no manuseio do material, ou mesmo respeitabilidade. Não faltam scholars altamente treinados e conscientes das opiniões da escola crítica, mas que se mantêm profundamente comprometidos com a revelação bíblica. Eles são a prova de que os cristãos não precisam desistir de seu intelecto para servir o Cristo da Bíblia.

A terceira objeção contra o estudo graduado cristão é que ele tira recursos da primeira tarefa da igreja, que é a evangelização. O argumento é que há ainda muitos lugares a serem alcançados para desperdiçar tempo com mestrado e doutorado. Por que preocupar-se com os pontos mais delicados da fé, quando as pessoas ainda estão morrendo sem Jesus? Há ainda muitos homens sem conhecimento de Cristo para justificar não se dispender tanto tempo e esforço em educação graduada. Ainda mais, como um escritor diz em um capítulo intitulado “A Urgência do Evangelismo”, a missão tem que manter sua centralidade, porque apressa o dia da vinda de Cristo.15

Essa objeção tem alguma razão de ser. O Brasil deve ser de 10 a 15% protestante, mas isso ainda deixa um enorme número de pessoas ainda sem aproximação. A situação é muito pior em muitas outras partes do mundo. Enquanto a população mundial cresce, o número absoluto de pessoas sem o menor conhecimento do cristianismo também cresce. Hoje, há bilhões fora do alcance do nome de Cristo. A evangelização deve manter sua centralidade para que essas pessoas sejam alcançadas.

Entretanto, no calor da demanda por decisões, é fácil esquecer os anos de labuta em discipulado e crescimento que devem vir em seguida, se o cristianismo quiser enraizar-se e crescer. Por sua própria natureza, a evangelização tem uma visão de curto prazo. Seu grito é “Hoje é o dia da salvação” (2Co 6.2). Mas, na parábola do semeador, não são aqueles que receberam a palavra e mostraram por algum tempo sinais de vida que Cristo louva, mas aqueles que cresceram, alcançaram maturidade e produziram fruto. Talvez o cristianismo pudesse ser reduzido à evangelização, se fosse, como os primeiros cristãos pensavam, uma religião que duraria apenas uma geração. Mas, uma visão de mundo que deve sustentar-se e propagar-se por milhares de anos e centenas de gerações requer muito mais do que um front de agressivos proclamadores do evangelho. Deve haver uma retaguarda que ensine, pastoreie, dirija, corrija e discipline. Deve haver uma base sólida onde se possa construir. A educação teológica e a erudição cristã são parte dessa base.

A quarta e última objeção contra o academicismo cristão é o argumento de que o trabalho do Espírito suplanta toda a necessidade de estudos graduados ou de estudo de que tipo for, mesmo da Bíblia. O grito desse grupo é: “o Espírito, e não a letra, é que traz vida”. Esse é um ponto de vista que parece ter se arraigado hoje, tanto na América do Norte quanto na do Sul. E não é novo. Aparece de tempos em tempos na história da igreja e em diferentes contextos e culturas.16 Para aquele que está aberto a aprender da história, a Reforma provê uma lição na figura de Thomas Münzer. Münzer começou sua carreira como amigo e aliado de Martinho Lutero e como pregador leal à causa da Reforma. Contudo, sentiu-se fortemente levado pelo Espírito a ignorar o conselho de seus amigos reformadores e do ensino das Escrituras. Sua história termina tragicamente, ao liderar um grupo ingênuo de mais ou menos 5000 mendigos para a morte nas mãos do exército do rei. Prometera-lhes uma libertação, a la Gideão, pelas mãos de Deus.17 E até o fim acreditou possuir a infalível mente do Espírito. Os erros de uma visão como essa podem ser menos dramáticos hoje, mas, talvez, não menos trágicos a longo prazo.

Hoje, no Brasil, cada uma dessas quatro objeções pode ser ouvida em diferentes denominações e em diferentes contextos. A fé cristã não tem necessidade de aprendizado secular; estudo graduado expulsa a fé; há muito a ser feito para se preocupar com o estudo; o Espírito tem precedência sobre a mente. Erasmo tinha uma maravilhosa réplica para aqueles que levantavam tais argumentos em sua época. Ele dizia: “As pessoas me dizem: ‘Como seu conhecimento acadêmico pode facilitar a compreensão das Escrituras Sagradas?’ Minha resposta é: ‘como a ignorância contribuiria para isso?’”.18 Precisamente isso, porque em cada um dos casos a premissa é que a ausência de conhecimento é melhor para o cristianismo do que a sua presença. Mas a fé judaico-cristã não é nem irracional, nem “a-racional”, nem irrelevante para as atividades intelectuais modernas. Ao contrário, assume o uso da mente. Ela pressupõe certo montante de esforço mental para entender e aplicar a Bíblia e demanda pastores e professores que possam levar sua
geração ao conhecimento da verdade.19

É certo, portanto, que a erudição cristã tem um lugar seguro na igreja. Resta ainda responder à pergunta sobre o que é um scholar cristão. Quais são as suas características e tarefas? Como ele difere, se é que o faz, de seu correlato secular? Talvez fosse bom começar com o retrato do scholar secular ideal. Ele é um homem (ou mulher) que por um longo e sistemático estudo adquiriu conhecimento detalhado necessário para lidar adequadamente com o objeto de seu estudo. Ele se apropriou das técnicas envolvidas em sua área, de maneira a estar apto para independentemente investigar, analisar e interpretar o material. Sua personalidade contém uma mistura de traços de caráter que cooperam com seu tipo de trabalho: curiosidade, perseverança, iniciativa e originalidade. (Note que eu disse ser essa uma descrição do scholar “ideal”!) Ele é um homem de integridade e honestidade intelectual, nunca citando referências que não usou, nem deixando de citar as referências que utilizou, porque o leitor tem o direito de saber de onde ele derivou sua informação. Ele é um homem que respeita a verdade e persegue isto até as últimas consequências. Ele sabe que seu campo de estudo está sempre crescendo, mas trabalha duro em seu enfoque, sabendo que, se é fiel, a competência se seguirá e os resultados virão. Finalmente, ele procura ajudar outros a obterem conhecimento e adquirirem a perícia que ele mesmo já possui.

O scholar cristão não difere de seu correlato em qualquer desses pontos. Seu treinamento e caráter incluem tudo o que aparece no academicismo secular, começando pelo árduo trabalho necessário para adquirir domínio do material e perícia na técnica. Inclui também traços similares de caráter e envolve as mesmas tarefas: ensinar, estudar e escrever. Mas há um ingrediente essencial que se reserva ao scholar cristão. Ele (ou ela) é uma pessoa que decidiu usar sua inteligência no serviço de Cristo, o rei.20

O elemento da decisão é crucial nessa definição. O desejo de servir a Cristo como Senhor e Salvador aponta a direção, provê o fundamento e determina os objetivos para tudo o que se segue na carreira acadêmica. Aponta a direção na limitação do campo de estudo em algum aspecto histórico, teológico ou prático da fé. Normalmente, ele irá trabalhar numa das áreas padrão, seja Antigo Testamento, Novo Testamento, Teologia Histórica, Educação Cristã, Aconselhamento etc.21 Isso não significa que ele não faça trabalho interdisciplinar, ou que nunca deixe o estudo para envolver-se na vida da igreja. Podemos, de novo, olhar para os primeiros reformadores como exemplos da diversidade teológica e amplitude de conhecimento. Lutero, por exemplo, entendeu que as tarefas do doutorado incluíam tanto a pregação quanto o ensino, e nunca separou as duas, seja no púlpito ou na sala de aula. Nem fazia distinção entre suas cartas, sermões, tratados, opúsculos, comentários ou livros teológicos. Tudo fora escrito como parte de seu serviço à igreja. Calvino também, apesar de não tão ativo quando Lutero, sempre insistiu que seu trabalho deveria ser relevante e útil para a vida aqui e agora.22 O scholar cristão, portanto, é uma pessoa para quem o trabalho é primeiramente e sempre para o serviço da igreja.

Em segundo lugar, a decisão de usar a inteligência no serviço de Cristo, o rei, dá o fundamento para o academicismo, aceitando a cosmovisão bíblica como base para tudo que será dito, ensinado e publicado. Isso significa que uma teologia fundamentada biblicamente , mais do que qualquer tipo de filosofia, será o guia para a verdade e a palavra final sobre o que é ou não a verdade. O scholar secular reclama que o teólogo perde objetividade ao submeter sua vontade ao ensino cristão, não mantendo, dessa maneira, suas opções abertas para onde quer que sua pesquisa possa levá-lo.23 Ele está certo no sentido de que a decisão de crer é crucial na determinação de quais conclusões são encontradas sobre verdade e erro, mas está errado se pensa que sua forma é mais neutra ou livre de escolha. A teoria hermenêutica moderna provou de uma vez por todas que a vontade está ativa em todas as concepções de mundo, não importando quão racionalmente estabelecidas ou cuidadosamente articuladas possam ser.24 Isso é para dizer que não há essa tal objetividade, especialmente em matéria de ultimatos. Há apenas escolhas que podem ser mais ou menos racionais e bem informadas. O scholar comprometido com Cristo não faz nada que se mostre como comprometimento irracional, que seu correlato, que segue a interpretação da vida dada por um Sartre, ou um Heidegger ou qualquer outro filósofo secular não faça. Em ambos os casos, há a decisão de aceitar uma cosmovisão dada como verdadeira. O scholar cristão acredita que sua escolha é a correta, amparado em sua experiência pessoal e pela mais longa tradição filosófica do mundo ocidental.25

Ao fazer a decisão de servir a Cristo, muitos itens são levantados que só dizem respeito ao scholar cristão, e que não são assuntos de interesse para o scholar secular. Em primeiro lugar, todos os cristãos devem considerar cuidadosamente a ordem “não ameis o mundo” (1Jo 2.15). Isso não significa, como disse Tertuliano, que a teologia deve evitar o aprendizado humano. O “mundo” não é a natureza que Deus criou, mas aqueles sistemas humanos de pensamento que dão forma e interpretam a natureza como existindo sem Deus, como se a natureza fosse o próprio fim. É a essência do paganismo, seja na Grécia, na Renascença ou nas formas modernas de considerar a natureza sem Deus, o homem sem pecado, a razão sem corrupção, a salvação sem a graça. A atitude cristã não é a condenação da natureza como tal, mas apenas sua utilização sem referência a Deus. Nem a natureza, nem o intelecto devem ser desprezados, mas, sim, aplicados no serviço de Deus. Nossas mentes são a coroa de tudo que é conhecido, e foi criada para seguir Deus como propósito ou fim. A inteligência permanece ‘boa’ se atada a esse fim, indiferentemente da área que possa perseguir, seja ciência, filosofia, arte etc. É apenas quando a inteligência toma a si mesma como próprio fim que perverte seu verdadeiro propósito e se transforma no ‘mundo’. O salmista, por exemplo, louva a Deus com base na maravilhosa complexidade do cosmos que Ele criou e colocou à disposição para que usássemos (Sl 19 e 139). Esse é o verdadeiro fim para o qual a inteligência foi criada, para entender o que Deus tem feito e, ao compreendermos, louvá-la. Desse modo, os cristãos não desprezam o ensino, porque ele se torna parte do ‘mundo’ apenas quando se acha separado de Deus. Para o homem que compreende isso, todos os campos estão abertos para seu uso.

Finalmente, a decisão em ser um scholar cristão dirige todo o trabalho que está sendo feito, seja nas tediosas horas de estudo privado, ou na proclamação pública no púlpito de uma igreja ou em sala de aula, para que seja para a glória de Cristo e a expansão do Seu nome. Para o scholar cristão, o estudo não é um fim em si mesmo.26 É sempre dirigido para o testemunho, discipulado, serviço. O scholar, tanto quanto o pastor ou o evangelista, estão numa longa linha de pessoas fiéis que chega até aqueles que tiveram o privilégio de ver o Senhor encarnado. Quando Jesus disse a seus discípulos no dia final “vocês serão minhas testemunhas”, essa frase incluiu tudo o que se seguiria, se relacionasse, ou fosse ensinado e escrito, sobre o Senhor até a última geração de crentes.27 O scholar cristão faz todos os esforços para infundir nos outros a mesma visão.28 Claro que a erudição é normalmente mais relacionada com o ensino do que com o discipulado, mas o ideal é que o professor forme as mentes e as vidas de seus estudantes de acordo com o padrão que exibe. Todo trabalho tem sua dignidade e importância, mas o trabalho do scholar cristão é compartilhar com seus pupilos o conhecimento e a verdade de Cristo, conformando o aluno não a si mesmo, mas à verdade que está nele. Apenas um academicismo sadio que se comunica aos alunos de maneira persuasiva faz acontecer esse tipo de encontro, onde fé e intelecto do professor movem fé e intelecto do aluno.

Esse artigo começou comparando o crescimento do protestantismo na Europa durante a Reforma com o seu avanço hoje no Brasil e se referiu a vários pontos da Reforma como padrões de erudição e atividades a serem seguidos. Há mais uma lição que eu gostaria de tirar da história dos Reformadores. A história nos conta que aqueles que espalhavam a fé protestante mais rapidamente eram os estudantes dos seminários. Os primeiros convertidos de Lutero foram os alunos de suas aulas sobre Salmos e Romanos, no seminário de Wittenberg. Pouco depois, a faculdade juntou- se ao apelo da Reforma. Quando fixou suas teses na porta da catedral, ele tinha o apoio de praticamente todos os seus colegas. Isso o despertou para uma revisão no currículo, para providenciar mais instrução em grego, hebraico e na Bíblia. Em três anos, o número de matrículas de estudantes em Wittemberg estourou.29 A verdade é simplesmente que, onde quer que líderes dispostos se juntem para produzir bom ensino bíblico, ensino que seja relevante para aquela cultura e profundo em sua penetração, os estudantes virão. Isso não é menos verdadeiro para o Brasil hoje do que foi há 500 anos atrás para a Alemanha. Possam os líderes das igrejas de hoje captar a visão do que a erudição cristã pode fazer pela igreja.

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1Esse título foi tirado de um artigo de Etienne Gilson com o mesmo nome, “The Intelligence in the Service of Christ the King”, publicado, entre outros, no The Elements of Christian Philosophy (New York, Mentor 1960). O artigo de Gilson focaliza a ordem de 1João, “não ameis o mundo”, e o que isso significa para o erudito cristão. Já o presente artigo, de Alan Pieratt, foi originalmente publicado na revista Vox Scripturae 2:2 (setembro de 1992) 87-100.
2Essa observação foi feita pelo bispo Kloppenberg, em 1984, em David Stoll, Its Latin America Turning Protestant? The Politics of Evangelical Growth (Los Angeles, Universidade da Califórnia, 1990).
3Estimativas citadas dão 19 milhões, no artigo “Cooperative Program for Graduate Studies in Brazil” no boletim da Associação Evangélica para Treinamento Teológico, AETTE. Nesses últimos anos, um número bom de livros e artigos apareceu maravilhando-se do crescimento do Protestantismo na América Latina. Ver E. Cleary, Crisis and Change. The Church in Latin America Today (Maryknoll, N. Y.: Orbis, 1985); O. Costas, Theology of the Crossroads in Contemporary Latin America 1969-1974 (Amsterdam, 1976); John Marcom Jr., “The Fire Down South” (Forbes, 15 de outubro de 1990); D. Martin, Tonques of Fire. The Explosion of Protestantism in Latin America (Cambridge: Mass. Basil Blackwell, 1991); E. Núñes e W Taylor, Crisis in Latin America: An Evangelical Perspective (Chicago: Moody 1989).
4Ver artigo de Richard Sturz, “A Educação Teológico-Evangélica no Brasil”, Vox Scripturae 1:2, 41-57. A maioria dessas escolas oferecem treinamento num nível muito básico, mas poucos programas de mestrado têm aparecido. Sturz nota que deverá haver mais ou menos 20 programas de mestrado instalados até o ano 2000. Ibid., 48.
5Ver, como exemplos do pedido para ser ensinado, Salmos 25, 27, 51, 86, 119, 143. Parte do próprio Shemá é uma ordem para ensinar diligentemente tudo que seja parte da lei de Deus (Dt 6.4s.). Paulo manda Timóteo considerar o estudo como importante parte do ministério (2Tm 2.15).
6A rainha de Sabá se maravilhou da maneira cuidadosamente pensada nas quais as coisas dele eram dispostas.
7Tertuliano, “On Prescription Against Heretics” cap. 7, Ante Nicene Fathers, vol. 3 (Grand Rapids: Eerdmans, 1979). O contexto dessa citação mostra que Tertuliano estava se referindo a “todas as tentativas de se produzir um cristianismo mesclado de composição estoica, platônica ou dialética”. Sua queixa não é tanto contra educação graduada, mas a maneira na qual a revelação não é distinguida de filosofia ou de opinião.
8Ver A. Thiselton, The Two Horizons. New Testament Hermeneutics and Philosophical Description with Special Reference to Heidegger, Bultmann, Gadamer and Wittgenstein (Grand Rapids: Eerdmans, 1980).
9O mesmo ponto usado para ser colocado em termos de pergunta e resposta. Escrevendo antes da terminologia de horizontes tornar-se popular, Paul Tillich disse que as respostas que o cristianismo provê à condição humana devem ser correlacionadas às questões particulares que qualquer cultura dada está perguntando. Systematic Theology, vol. 1, Reason and Revelation. Being and God (Chicago: Universidade de Chicago, 1951).
10Mesmo o apóstolo João, apesar de não ser professor, demonstra um dos aspectos centrais do academicismo nas linhas de abertura de seu Evangelho: “No princípio era o Verbo”. Estas palavras nos dão uma interpretação da obra e da pessoa de Cristo à luz da doutrina grega do Logos. Com estas palavras, João nos deu a melhor cristologia possível, colocando a natureza de Cristo na estrutura racional do universo. Aparentemente, João acreditava que esse aspecto do pensamento grego podia ser usado para expressar a natureza mesma de Cristo. Esse é um excelente exemplo da tarefa de relacionar o Evangelho a uma perspectiva cultural. Para uma boa discussão do conceito grego de Lógos ver The Encyclopedia of Philosophy (New York: Macmillan, 1967).
11Para uma discussão dessa visão, ver E. Harbison, The Christian Scholar in the Age of the Reformation (New York: Scribner’s, 1956) cap. l.
12Para uma discussão do significado e da implicações da “crítica” para as crenças religiosas, ver David Klemm, Hermeneutical Inquiry. Vol. 1: The Interpretation of Texts (Atlanta, Georgia: Scholar’s Press, 1986) 12s.
13O oposto é também colocado pela comunidade acadêmica, que pergunta como um scholar pode ser cristão sem perda de objetividade científica e postura profissional.
14Ver H. Berkof, Two Hundred Years of Theology (Grand Rapids: Eerdmans, 1989) e C. Welch, Protestant Thought in the 19th Century. Vol. 1: 1799-1870 (New Haven: Conn. Yale, 1972), Vol. 2: 1870-1914 (New Haven: Conn. Yale, 1985).
15R. B. Kuiper, God-Centered Evangelism (Grand Rapids: Baker, 1961) 91.
16Para uma descrição dessas conclamações feitas durante o Grande Despertamento nas décadas de 1730 e 1740 nos EUA, ver “Thoughts on the Revival of Religion in New England” nos The Works of Jonathan Edwards, vol. 2 (Carlisle, Pen.: Banner of Truth, 1979). Ver também Edwards, “A Verdadeira Obra do Espírito – Sinais de Autenticidade” (São Paulo: Vida Nova, 1992).
17Münzer uma vez disse: “O homem que não recebeu o testemunho vivo de Deus, não sabe nada realmente a respeito de Deus, mesmo que tenha engolido cem mil Bíblias”. Lutero replicou que ele não ouviria Münzer nem que aquele tivesse “engolido o Espírito Santo, os demônios e tudo o mais”. Citado em Harbison, Christian Scholar, 168. Para um tratamento completo da carreira de Münzer, ver G. Williams, The Radical Reformation (Philadelphia: Westminster, 1962).
18Citado em Harbison, Christian Scholar, 97.
19O período conhecido como Era das Trevas é um exemplo. Não é coincidência que uma ausência de expansão cristã ou realizações entre o tempo de Agostinho e Abelardo, coincide com praticamente nenhuma produção de literatura cristã ou escritos acadêmicos. No período inteiro de mil anos depois de Agostinho, pode-se encontrar apenas poucos volumes de publicações acadêmicas, que foram produzidas durante o breve florescimento da ciência durante o reinado de Carlos Magno. Isso pode ser verificado por uma simples olhada em Patrologia Latina de J. P. Migne, que é uma exaustiva mostra de trabalhos em latim do período medieval.
20Essa frase, scholar cristão, refere-se aqui não a uma pessoa que trabalhe em algum campo de estudo como Física ou Sociologia e que em sua vida pessoal é cristã. Tal pessoa poderia ser assim chamada, sendo que tomou uma decisão por Cristo e tenta honrá-lo mesmo na vivência de algum campo acadêmico. Mas, aqui, o termo “scholar cristão” será usado para a pessoa que, como Paulo disse, é chamada para trabalhar com o Evangelho e fazer disso sua vida (Rm 1.1; 1Co 9.14).
21Isso não significa que seu campo seja muito estreito. Na era moderna, particularmente desde o surgimento da universidade moderna com suas quase que ilimitadas reservas, a graduação tem significado concentração num campo de trabalho extremamente pequeno, de maneira a especializar-se naquela área e ser capaz de escrever para outros especialistas que trabalham no mesmo campo de estudo. Essa tornou-se a norma em educação graduada por ser forçada ao infeliz professor, por instituições que colocam a ênfase na pesquisa para publicação mais do que na excelência no ensino. O poeta Schiller reclamou sobre esse tipo de foco estreito de interesse forçado, há mais ou menos dois séculos atrás. Ele chamou o scholar profissional de seus dias de Brotgelehrte, ou acadêmico do pão de cada dia, um homem cuja ambição era tornar-se um especialista mais estreito possível e aprender cada vez mais sobre cada vez menos. Veja R. G. Collingwood, The Idea of History (London: Oxford, 1946) 105.
22Harbison nota que as palavras repetidas de Calvino eram “proveito, utilidade, lucro ou fruto”. Christian Scholar, 158.
23O oposto também já foi colocado, i.e., que um homem sem fé não pode realmente entender o ensino cristão. Ver H. Virkler, Hermenêutica II (São Paulo: Vida, 1990) para uma breve e clara discussão desse tópico.
24H. Gadamer em seu Truth and Method nos dá a melhor discussão da natureza pressuposicional de todas as crenças humanas (New York: Continuum, 1975). Veja também H. White The Content of the Form. Narrative Discourse and Historical Representation (Baltimore: John Hopkins, 1987) para aplicação desse insight para o campo da escrita histórica.
25Etienne Gilson reclama que uma grande porção de má teologia tem sido escrita por uma ausência de atenção para um treinamento cuidadoso que faz parte de cada campo de estudo. Ele recomenda a prática da teologia apenas àqueles que trabalharam para dominarem sua técnica. A Gilson Reader (New York: Doubleday) 230. Esse trabalho contém um número de artigos sobre a natureza do academicismo cristão, incluindo: “The Ethics of Higher Studies”, “The Intelligence in the Service of Christ”, “The Distinctiveness of the Philosophic Order”, “The Christian Teacher”, “The Eminence of Teaching”, “Education and Higuer Learning”.
26Uma das críticas de Nietzsche sobre a modernidade era de que o academicismo havia se tornado um fim em si mesmo. A ciência tornou-se profissionalizada e afastada de quaisquer valores. Quando fatos são separados de valores dessa maneira, todo tipo de erro é possível. Ver seu Geneology of Morais (New York: Doubleday, 1956) e Birth of Tragedy (New York: Vking, 1960).
27Esse caráter testemunhal aparece no dia do juízo. Veja as palavras de Cristo em Mateus 10.32.
28Esse último ponto deve ser chamado de aspecto ‘ideológico’ da nossa fé. O scholar cristão é, como o seu correlato marxista, um ideólogo. Ele acredita que a verdade está em sua possessão e ele quer que outros compartilhem dela. D. Hyde tem uma boa discussão da natureza religiosa evangelística do marxismo em seu Dedication and Leadership: Learning from the Communists (Notre Dame: Ind. Univ. de Notre Dame, 1966).
29Ver Harbinson, Christian Scholar, p. 113.

1 COMENTÁRIO

  1. Me dói a alma quando ouso esses argumentos nas igrejas. Essa mentalidade ‚ prato cheio para os críticos da igreja evang‚lica. Uma pena que a ignorância seja tão defendida em nosso meio…

    Creio que scholar poderia se traduzido como acadêmico, ficando acadêmico cristão

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