Deus, a liberdade e o Mal

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Desde a década de 80, a filosofia cristã vem passando por uma renovação que, em certa medida, tem revolucionado o universo acadêmico-filosófico. O filósofo norte-americano Alvin Plantinga é, sem dúvida, um dos responsáveis por esse movimento. Em 7 de abril de 1980, a revista Time publicou uma matéria intitulada Modernizing the Case for God [A modernização da defesa de Deus]. O interesse da matéria era noticiar essa incrível revolução entre os filósofos contemporâneos, dentre os quais Plantinga foi colocado como figura de destaque:   

Deus? Ele não tinha sido derrubado dos céus por Marx, banido do inconsciente por Freud e dado como morto por Nietzsche? Darwin não o tinha expulsado do mundo empírico? Não é bem assim! Deus está de volta em meio a uma silenciosa revolução do pensamento e da argumentação que dificilmente alguém poderia ter previsto há duas décadas. O mais intrigante é que esse movimento não partiu de teólogos ou cristãos comuns — muitos dos quais sequer jamais aceitaram que Deus estivesse realmente em apuros —, mas partiu nitidamente dos círculos intelectuais de filósofos acadêmicos, cujo consenso há muito tinha banido o Todo-poderoso das discussões mais proveitosas.

Além da matéria da Time, que deixa bem claro que Plantinga foi o pivô dessa “silenciosa revolução”, há também outros testemunhos de filósofos profissionais que reconhecem o papel crucial de Plantinga nesse movimento de renovação da filosofia cristã. Por exemplo, James F. Sennett, seguindo as indicações de Kelly J. Clark, lembra que Plantinga estava no centro de dois eventos catalisadores que dão testemunho do sucesso desse fenômeno. O primeiro foi a fundação da Society of Christian Philosophers [Sociedade de Filósofos Cristãos], em 1978. Na época, a sociedade chegou a contar com mais de 1.100 membros. Plantinga foi seu terceiro presidente, depois de William Alston e Robert Adams.1  O segundo foi a apresentação e a publicação de Advice to Christian Philosophers [Conselho aos filósofos cristãos], a famosa aula inaugural de Plantinga, ministrada na ocasião em que assumiu a cátedra John A. O’Brien como professor de filosofia na Universidade de Notre Dame, em 4 de novembro de 1983. Nesse discurso histórico, Plantinga desafiou os filósofos da comunidade cristã a se libertarem da agenda e das preocupações do mundo filosófico não teísta.  

Na comunidade cristã, tanto o pastor quanto o teólogo são desafiados a lidar com questões filosóficas por meio do uso de ferramentas da experiência pastoral e da teologia; porém, como disse Plantinga, há também espaço para os que são desafiados a lidar com tais questões por meio do uso de ferramentas da própria filosofia. Estes são os chamados “filósofos cristãos”. Por exemplo, o assim chamado “problema do mal” é uma questão filosófica que deve receber não somente um tratamento pastoral e teológico, mas também filosófico, i.e., um tratamento que recorre a ferramentas da própria filosofia. 

É exatamente isso que Plantinga oferece em Deus, a liberdade e o mal. Nesta obra, ele mostra como o problema do mal — uma questão filosófica com implicações diretas sobre a experiência pastoral e a teo­logia cristã — pode receber um tratamento filosófico, em especial, um tratamento que lança mão de ferramentas da lógica modal e da semântica de mundos possíveis.

 Mais detalhes

 

 1James F. Sennett (ed.), The Analytic Theist: an Alvin Plantinga reader. Grand Rapids, Michigan/Cambridge, UK: Eerdmans, 1998, p. xii.

 

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