A estigmatização aos evangélicos que vemos perpetuada pela mídia progressista, agora ganha mais um episódio gravíssimo. A presidente da comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Fortaleza [pasmem], vereadora Larissa Gaspar, do Partido dos Trabalhadores (PT), deslegitimou a renovação democrática que está ocorrendo na Bolívia. Como ela fez isso? Associando os evangélicos ao tráfico!
Sim, caro leitor, ela culpou os “narco-pentecostais” pela derrubada do [bonzinho] ex-presidente Evo Morales. Segundo informações da vereadora Priscila Costa, voz atuante na Câmara Municipal de Fortaleza, na ditadura de Morales passou a vigorar um Código Penal que simplesmente equiparava o evangelismo ao tráfico [artigo 88], considerado como crime passível de punição o ato de “recrutamento para participação de […] organizações religiosas ou cultos”[1] – mas a culpa por aquilo que os socialistas consideram como uma desgraça (mesmo que, empiricamente, não seja) é dos malvados evangélicos!
O fato de uma figura política do PT considerar um governo 1. Democrático; 2. receptivo à liberdade religiosa e de culto; 3. reconhecido internacionalmente; 4. aclamado pelo povo que padeceu por anos sob as mãos opressoras de um ditador, como se ele fosse … “uma afronta ao Estado Democrático de Direito”, não nos assusta muito. O processo de manipulação política pode anular o bom senso das pessoas. Entretanto, quando se busca culpar e taxar como ruim [ou condenável] um grupo, utilizando da sua fé como argumento para justificar uma suposta tragédia, vemos a aversão ao sentimento religioso, colocando suas garras à mostra, mais uma vez.
A religião possui um valor inestimável na vida do ser humano, conforme o Dr. Valmir Nascimento fala na introdução do nosso livro Direito Religioso: Questões Práticas e Teóricas (2ª Edição):
A religiosidade é uma dimensão singular da vida humana e marcou desde sempre a história da humanidade. Resguardar a liberdade de crença, culto e organização religiosa é, por esse motivo, uma questão de essência existencial, como meio de salvaguarda da identidade e da dignidade humana. Tal liberdade é um dos elementos estruturantes do moderno Estado Constitucional, desenvolvido como reação ao autoritarismo teológico-político da Cristandade medieval, por um lado, e contra o absolutismo monarca do Estado moderno,1 por outro, com previsão na Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948: “Todo o homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular” (art. 18).[2]
Além do termo “narco-pentecostais” que associa a religião ao tráfico, os cristãos são acusados de “impor e praticar violência” conforme o discurso da vereadora petista. Para nós, importa saber que discursos como esse vão além de uma demonstração de desespero – trata-se de uma afronta ao sentimento religioso cristão e um reflexo da agenda secularista que busca tornar o evangelicalismo como algo obscuro e violento.
A tradição cristã protestante [e também a católica] carrega consigo muitas conquistas. Desde a liberdade religiosa, até o acesso à educação, os evangélicos são engajados pela promoção de políticas que promovam a liberdade e a justiça – quanto a fatos, não há argumentos. É claro que uma das características da religiosidade cristã está no exercício da misericórdia, mas não é saudável que a oposição faça uso da liberdade para desqualificar um segmento religioso, inda mais sem fontes concretas para comprovar a acusação. Nas palavras do Dr. Ives Gandra:
Têm, os crentes, voz ativa, assim como os não crentes, e podem expor e lutar por suas convicções, principalmente no que diz respeito a “direitos humanos” e “individuais”, conforme os padrões morais da religião que professam, os quais a história tem demonstrado serem superiores aos daqueles que não acreditam em nada, senão na própria existência e na moral pessoal por cada um formatada.[3]
A presidente interina da Bolívia, Jeanine Añez, enviou um projeto de lei para convocar eleições gerais, buscando legitimidade pelas vias constitucionais[4] (como deve ser feito!). As primeiras semanas de destituição de um governo assolado por uma contagem de votos extremamente suspeita, demonstra os primeiros feixes de liberdade. Liberdade religiosa, que é a liberdade matricial de todas as demais liberdades, e dignidade da pessoa humana, andam lado a lado, e não há nenhum discurso capaz de provar o contrário: é a alegria do povo boliviano, dos cristãos que outrora eram perseguidos, contra um discurso desgostoso e alieando de quem nunca topou arrumar as malas para viver sob a Bolívia de Morales.
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[1] Após polêmica com igrejas, Bolívia cancela o novo código penal: < https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/01/1952336-apos-polemica-com-igrejas-bolivia-cancela-novo-codigo-penal.shtml >
[2] VIEIRA, Thiago Rafael; REGINA, Jean Marques. Direito Religioso: questões práticas e teóricas. Ed. 2. Porto Alegre: Concórdia, 2019. p. 25.
[3] Ibidem, p. 34.
[4] Presidente interina envia ao Congresso da Bolívia projeto de lei para convocar eleições. Veja mais em: < https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/11/presidente-interina-anuncia-que-convocara-eleicoes-na-bolivia-nas-proximas-horas.shtml >