Apenas arte? Sobre a exposição Queermuseu no Santander cultural

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Imagino que o leitor espere que um artigo escrito por uma autora cristã em um veículo cristão dará destaque ao desrespeito religioso cometido no Queermuseu. Na verdade, não é o que farei aqui. Esse viés específico há algum tempo me entedia, e creio que tenho razão: a associação simbólica entre cristianismo e sexo já não é novidade pelo menos desde 1987, quando Madonna lançou o videoclipe da música Like a Prayer, dançando eroticamente em uma igreja. Reportagens relatam que o Vaticano reagiu fortemente e o vídeo chegou a ser proibido em alguns países, o que aliás fez disparar a venda de discos para mais de quinze milhões:1 a transgressão vende.

Se há pelo menos trinta anos o establishment artístico-cultural em todo o Ocidente parece sentir uma atração irresistível para a iconoclastia religiosa através do sexo, podemos concluir que se criou uma espécie de mania que se repete de tempos em tempos nas galerias de arte do país. Não deixa de ser curioso constatar, a cada vez, que a mesma “transgressão” continua a mobilizar como se fosse a última novidade. Os cristãos já se acostumaram com isso, até. Eu, pelo menos – talvez ajude o fato de que sou protestante e não católica –, não me surpreendi nem me choquei ao ver essas imagens no Queermuseu: um Cristo com vários braços, como Shiva, e uma tigela cheia de hóstias nas quais se lia “língua”, “vagina”, “vulva” e quetais. (Aliás, essa tigela me lembrou um coleguinha de escola que gostava de me escandalizar dizendo no meu ouvido “Deus é cocô”, e conseguia; mas na época eu não tinha mais de seis anos de idade.) Com isso, não quero fazer pouco da indignação de meus amigos católicos: a sensibilidade religiosa é algo particular e demanda respeito. (Um dado interessante: quando em 1995 um pastor da Igreja Universal, como recurso retórico, xingou e chutou uma santa na televisão, não houve quem o defendesse alegando “liberdade”. Mas por que o desrespeito encontra tantos defensores quando se torna um recurso artístico? Daí o costume; daí o bocejo. A pele do cristão ganhou escara.)

Meu ponto aqui, que espero ficar claro, é outro.

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A exposição em Porto Alegre chamada Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, aberta ao público desde o dia 15 de agosto e prevista até 8 de outubro, foi fechada pelo Santander Cultural mediante pressão popular. Da exposição, vi fotos e assisti a todos os vídeos que encontrei, alguns deles feitos por pessoas que elogiaram o evento (descartada portanto a ideia de que houve “edição”). Também assisti a debates veiculados na tevê entre o Movimento Brasil Livre, que chamou a atenção nacional para o caso, e alguns responsáveis pelo Queermuseu, como seu curador Gaudencio Fidelis, só para confirmar mais uma vez com tristeza: não existe debate de verdade no país. Cada um fala o que quer, acusa e insulta o outro (com sutileza ou não) e ninguém busca compreender ninguém. Destacaram-se arrogância dos dois lados e a presença dos velhos chavões “nazista” e “fascista”. Não consegui assistir por inteiro um dos vídeos, porque fiquei constrangida: um dos participantes derramava sobre os espectadores uma retórica tão empolada que provocou risos abafados no oponente; este não se aguentou e fez uma piada de mau gosto com o outro, e logo ambos encetaram uma briga verbal de pátio de escola.

Como se faz para estabelecer uma cultura de um verdadeiro debate no  Brasil? Tudo começa com um respeito genuíno e uma abertura para entender – o que não equivale a aceitar, pelo contrário, é essencial para refutar! – o ponto de vista alheio. Algo de que os cristãos também estão precisando muito, diga-se.

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A mostra incluía imagens de sexo explícito, mas não havia aviso algum indicando isto na entrada, nem restrição de idade (algo que a lei não prevê para museus, mas que, no caso em questão, seria no mínimo de bom tom). Pelo contrário, as visitas de turmas escolares foram previstas no projeto submetido à Lei Rouanet, que manifestou o objetivo de “aproximar o público escolar das diversas linguagens da arte”.2 Essas visitas foram frequentes e, inclusive, incentivadas com impressão de material didático.3 As escolas pediam autorização dos pais para as visitas, mas, como é comum, sem explicitar-lhes o conteúdo da mostra. Junto ao fato de que o mecanismo da Lei Rouanet envolve impostos (o banco fica isento e usa esse dinheiro para o incentivo à cultura), isso explica a grande indignação popular que o museu suscitou. De fato, todo o caso, por esse ângulo, é escandaloso.

Chamado a examinar o conjunto das obras, o Ministério Público concluiu que não houve incentivo à pedofilia, conforme noticiou O Globo.4 Porém, em nota no dia 15 de setembro, os procuradores de Justiça Criminal do Ministério Público do RS, Alexandre Lipp e Sílvio Munhoz, foram bem mais específicos, aludindo a uma “facilitação da pedofilia” e recomendando ao Santander Cultural, segundo A Gazeta do Povo,5 “que, em futuras exposições, seja criado espaço onde não se permita o livre acesso de crianças e adolescentes desacompanhados de pais ou responsáveis legais, no caso de mostras que contenham obras com cenas de sexo explícito ou pornográfica, assim como definido pelo artigo 241-E, do Estatuto da Criança e do Adolescente”. Citaram nominalmente também a Secretaria Municipal de Saúde, a Fundação de Assistência Social à Cidadania e a Secretaria Estadual de Educação, recomendando que, “em caso de visitas agendadas por estas a eventos culturais de qualquer ordem, em que haja a participação de crianças e adolescentes, seja avaliada previamente a adequação do acervo e do tema, independentemente da existência de indicação etária, à condição de criança/adolescente, com foco na observância da definição do art. 241-E, do ECA”. Isso tudo era esperado, mas o veredito final não poupou a jugular dos responsáveis: “a exposição tinha o nítido propósito de erotizar o público-alvo e induzi-lo a tolerar condutas como orgias, zoofilia e vilipêndio a símbolos religiosos”. Lipp explicou: “apresentar ao público escolar condutas como zoofilia em um contexto de respeito à diversidade comunica a mensagem de que essas condutas devem ser aceitas”.

Assim se pronunciou a análise jurídica. Porém, uma análise que priorizasse o ponto de vista artístico chegaria a conclusão semelhante? Até que ponto podemos dizer que a arte “comunica uma mensagem”, para o bem ou para o mal?

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É verdade que algumas das obras presentes na exposição sofreram acusações infundadas. Uma delas é “O Eu e o Tu”, de Lygia Clark, que consiste em dois macacões que cobrem todo o corpo, até a cabeça, com zíperes em certos locais (cabeça, axilas, nádegas etc.). Ao contrário do que foi propagado, os zíperes não davam acesso ao corpo um do outro, mas sim a texturas emborrachadas semelhantes à pele humana. Um casal que vestisse a roupa e começasse a explorar o corpo do outro encontraria, onde menos se esperava, características masculinas no macacão vestido pela mulher e características femininas no macacão vestido pelo homem. O homem abriria o zíper da mulher no local das axilas, por exemplo, e encontraria copiosos pêlos. A ideia de Lygia Clark, conforme explicou seu filho Álvaro em um dos debates, era uma experiência de “buscar o eu no outro”, fundamental nas relações amorosas.

Se eu estivesse presente nesse debate, adoraria saber mais de Álvaro Clark (um senhor muito simpático, aliás) sobre essa ideia de arte (ou eu diria, talvez, “arte como ideia”). No caso de O Eu e o Tu, eu argumentaria, não há um objeto artístico. Não há uma obra específica que possa compor o “museu imaginário” – conceito de André Malraux para o gigantesco conjunto de imagens de obras de arte que figura nas mentes em todo o mundo. Não preciso visitar nenhum museu para compor mentalmente a Monalisa ou os Girassóis de Van Gogh; mas como entrariam no museu imaginário os macacões de Lygia Clark? Não foram feitos para o olhar. (Estavam expostos no Queermuseu, aliás, como curiosidade, mas não foram usados.) Não são belos; não têm materialidade. Podemos achar bela a ideia de encontrar o Eu no Tu, podemos acolher como algo precioso essa busca, mas onde está a obra? Dela, só sobrou a experiência. Eu diria a Álvaro que, no meu entender, Lygia pertence a certo corpo de artistas que, no rastro de Duchamp,6 serram o próprio galho em que estão sentados. Não se trata simplesmente de desafiar um conceito tradicional de arte, mas de fatiá-la, decompondo-a em traços específicos (como o impacto subjetivo) e declarando como “arte” algo que é somente um jogo, uma brincadeira com o espectador. Como fazer isso sem deslocar o foco tão radicalmente ao ponto de destruir a integridade da obra – de qualquer obra?

É interessante notar também que, no âmbito do Queermuseu, O Eu e o Tu ganhou um sentido diferente do que foi exposto pelo filho da artista. O impacto da busca do Eu no Tu se tornou uma experiência de confusão de gêneros – como se por um momento pudéssemos esquecer que o outro diante de nós é homem ou mulher. Porém, ao despir-se do macacão, tudo pode retornar ao que era. Não há garantias de que o pêlo sentido na roupa será incorporado à realidade do dia a dia. O desejo de ser reconhecido como algo diverso, ou híbrido, não pode ser exigência. Como forçar o olhar, o tato, a apreciação estética, para sempre? A obra – ou a experiência – acaba questionando, talvez, o que alguns militantes LGBT não gostariam de discutir.7 Pois ela convida em vez de obrigar, e seus efeitos não obedecem a nenhuma agenda. Conforme disse Álvaro Clark no debate, “política e arte não se comunicam”.

Mas, se os procuradores que analisaram a exposição identificaram ali um “nítido propósito”, seria ela apolítica?

Vejamos a outra obra que escolhi para analisar. É um quadro que certamente seria alocado na salinha à parte recomendada pelos procuradores. Trata-se de Cenas do Interior II, de Adriana Varejão, artista carioca nascida em 1964. O jornal Zero Hora8 abriu espaço para a descrição do trabalho pela própria autora:

Cenas do Interior II mostra cenas de sexo entre duas figuras femininas japonesas, uma figura japonesa e um negro, dois homens brancos e um negro e duas figuras masculinas brancas indistintas com uma cabra – esta última imagem, recortada da obra completa e compartilhada sozinha nas redes, foi a que causou polêmica.

— Esta é uma obra adulta feita para adultos. A pintura é uma compilação de práticas sexuais existentes, algumas históricas (como as chungas, clássicas imagens eróticas da arte popular japonesa) e outras baseadas em narrativas literárias ou coletadas em viagens pelo Brasil. O trabalho não visa julgar essas práticas. Como artista, apenas busco jogar luz sobre coisas que muitas vezes existem escondidas. É um aspecto do meu trabalho, a reflexão adulta — afirma Varejão.

A artista confirmou a percepção do público a que aludi: foi oferecida ao olhar de crianças “uma obra adulta feita para adultos”. Mas há mais a comentar. À primeira vista, gosto da ideia de “jogar luz sobre coisas que muitas vezes existem escondidas”. Resolvido o problema da presença infantil, não concordo que esta obra não devesse ser exposta em absoluto. Toda a questão, arriscarei dizer, foi situacional: não a obra em si, mas sua localização específica e o objetivo explícito da exposição como um todo, como veremos.

Darei aqui uma descrição mais detalhada do quadro. A imagem, em um amarelo esmaecido, retrata uma casa com alguns cômodos, em um estilo que de fato lembra a estética oriental. Em cada um deles há cenas de sexo explícito. À esquerda, no que parece ser um dos quartos, uma mulher branca faz sexo com um rapaz negro (este, achei-o mal desenhado, mas talvez tenha sido intencional, para lembrar as pinturas antigas). Acima, em outro quarto, duas mulheres fazem sexo. No que parece ser a sala, no canto direito inferior, há sexo entre três homens – um deles, em posição passiva, é negro. No meio, em destaque, uma pessoa baixinha segura as patas dianteiras de uma cabra, enquanto um homem a penetra.

Sim; a cena principal, no centro do quadro, é de zoofilia. Todas as demais reações negativas do público – foram mencionados pedofilia, racismo e desrespeito à religião – estão abertas a interpretação e/ou podem ser problematizadas. Mas a zoofilia, nessa obra que descrevi, é inequívoca. É um dado objetivo.

Diante disso, alguém poderia observar: apresentar a zoofilia não significa sancionar a zoofilia, assim como apresentar o mal, na arte, não significa recomendá-lo. Concordo totalmente! De fato, parece ser esse o principal argumento da artista, cujas palavras sugerem neutralidade: “O trabalho não visa julgar essas práticas.” Porém, a ausência de julgamento não suscita tanto a condenação quanto tende para a absolvição. Nesse sentido, “não julgar” equivale a cultivar certo olhar de paisagem. E, em alguns contextos, distinguir neutralidade de apologia não é fácil. Será que, ali onde estava, essa “zona cinza” que transparece na obra não acabou sugerindo o efeito apologético?

Na arte, é incontestável que existe a exposição do mal sem apologia. Como doutora em literatura francesa – perdoem-me pela carteirada – já apresentei um poema do livro Les Fleurs du Mal, de Charles Baudelaire, a um público cristão, no evento Consciência Cristã em Campina Grande. Au Lecteur (Ao Leitor) é meu preferido e expõe uma série de mazelas a que o homem está sujeito. A tradução é de Ivan Junqueira:

A tolice, o pecado, o logro, a mesquinhez,
Habitam nosso espírito e o corpo viciam,
E adoráveis remorsos sempre nos saciam
Como o mendigo exibe a sua sordidez.

Fiéis ao pecado, a contrição nos amordaça;
Impomos alto preço à infâmia confessada,
E alegres retornamos à lodosa estrada,
Na ilusão de que o pranto as nódoas nos desfaça.

Na almofada do mal é Satã Trismegisto
Quem docemente o nosso espírito consola,
E o metal puro da vontade então se evola
Por obra deste sábio que age sem ser visto.

É o Diabo que nos move e até nos manuseia!
Em tudo o que repugna uma jóia encontramos,
Dia após dia, para o Inferno caminhamos,
Sem medo algum dentro da treva que nauseia.

Assim como um voraz devasso beija e suga
O seio murcho que lhe oferta uma vadia,
Furtamos ao acaso uma carícia esguia
Para expremê-la qual laranja que se enruga.

Espesso, a fervilhar, qual um milhão de helmintos,
Em nosso crânio um povo de demônios cresce,
E ao respirarmos aos pulmões a morte desce,
Rio invisível, com lamentos indistintos.

Se o veneno, a paixão, o estupro, a punhalada
Não bordaram ainda com desenhos finos
A trama vã de nossos míseros destinos,
É que nossa alma arriscou pouco ou quase nada.

Em meio às hienas, às serpentes, aos chacais,
Aos símios, escorpiões, abutres e panteras,
Aos monstros ululantes e às viscosas feras,
No lodaçal de nossos vícios imortais

Um há mais feio, mais iníquo, mais imundo
Sem grandes gestos ou sequer lançar um grito,
Da Terra por prazer faria um só detrito
E num bocejo imenso engoliria o mundo;

É o Tédio! – O olhar esquivo à mínima emoção
Com patíbulos sonha, ao cachimbo agarrado.
Tu conheces leitor, o monstro delicado,
— Hipócrita leitor, meu igual, meu irmão!

Seria ridículo dizer que fiz apologia desses males ao recitar o poema, tão ridículo quanto declarar que Baudelaire o faz (ou que a própria Bíblia o faz, ao apresentar cenas de estupro, incesto, assassinato etc., como argumentaram alguns em favor da exposição). No evento, busquei analisá-lo sob o ponto de vista de uma cosmovisão cristã. Na época, expliquei que a palavra “tédio” não abarca todos os ricos sentidos do termo francês ennui, e o correlacionei à acídia, espécie de torpor melancólico que é mãe do tédio, da preguiça e de outros vícios semelhantes. Como tal, é considerada na tradição cristã um pecado gravíssimo, pois impede o homem de buscar a Deus. Contra esse mal, Baudelaire descreve em sua obra toda uma série de tentativas humanas de superação, mas em direção oposta à da busca ao Deus verdadeiro. Assim, o homem mergulha nas paixões, na bebida, nas drogas e chega até a adorar Satanás – sim, Baudelaire compôs poemas de louvor ao diabo. Mas o livro inteiro não é uma apologia a esses males. Au Lecteur dá o tom: o eu lírico sabe onde está se metendo, pois não chama o mal de bem. Chama, sim, o leitor de hipócrita porque, no século XIX, já era consenso a ideia de uma bondade intrínseca ao homem. Embora não fosse cristão, Baudelaire aderia a parte do ensino bíblico: acreditava no pecado original, mas não na redenção. Entendia o veredito que recai sobre a humanidade, de que fomos criados bons mas rejeitamos Deus, tornando-nos maus e tendendo ao mal inapelavelmente (Romanos 3.10-18); porém, no livro, o eu lírico deixa de lado a ideia da redenção – de que não podemos escapar ao mal, a não ser que o próprio Deus nos resgate de volta (Romanos 3.23-26) – e constrói seu próprio caminho de fuga do ennui. No final, com o poema A viagem, o leitor percebe que a busca foi malsucedida:

Saber amargo o que se pode obter na viagem!
O mundo, hoje pequeno e quase sem remédio,
Hoje, ontem, amanhã, nos faz ver nossa imagem:
Sempre um oásis de horror num deserto de tédio!

É quando o poeta pede à Morte, capitão do navio em que está, para soltar a vela e verter-lhe o veneno. Ele mergulha então no abismo – “Inferno ou Céu, que importa? – para encontrar o novo, e então já não há mais a ser dito.
   
No entanto, ainda que Flores do mal não sejam apologia do mal, e nem devam ser tratadas assim, não se pode negar que há um efeito perverso consequente ao modus operandi de Baudelaire: produzir beleza literária com um conteúdo pervertido pode imprimir no espírito do leitor a ideia de que a arte não tem compromisso algum com a verdade e o bem. Essa dissociação não era um objetivo abertamente confessado e praticado nas obras do poeta, como uma ideologia; mas a subordinação da arte à realidade visível – sobretudo nas artes plásticas, que para a academia precisavam “imitar a natureza” – era uma de suas maiores irritações, como se depreende de seus textos críticos sobre as exposições de sua época. E nisso ele tinha razão: instrumentalizar a arte como mera “imitação” é algo que, no limite, impede a criatividade e a destrói. Mas nossa época não costuma conceber que o mesmo efeito se obtenha quando a arte é instrumentalizada como mera “transgressão”, que talvez se possa definir como uma imitação ao contrário. Em ambos os casos, a arte continua presa aos limites do consenso: no primeiro, ela o reflete, no segundo, ela o inverte. De que liberdade se pode falar, então, quando os efeitos e os sentidos artísticos são igualmente empobrecidos?

Assim, enquanto antes a arte se subordinava à imitação, hoje ela se subordina à obrigação de dissociar-se da verdade e da bondade. A imposição acadêmica simplesmente mudou de lado: a arte precisa apresentar-se como “transgressora” para ganhar adeptos e aplausos. Sua função é identificar algumas verdades e moralidades consensuais, torcendo-as, ainda que a obra em si não crie nem sugira beleza alguma. Ainda que nem seja arte.

De fato, esse objetivo transgressor esteve presente de modo explícito nas palavras do próprio curador da mostra. Da reportagem do Zero Hora sobre a tela de Adriana Varejão, destaco o trecho:

No catálogo da exposição, o curador Gaudêncio Fidelis escreve que a tela é uma “manifestação crítica diante do processo de colonização do país” e “perturba as relações verticais e eventualmente as horizontaliza (com as figuras deitadas ou reclinadas) por meio de relações sexuais heterossexuais e homossexuais”.

– É uma obra extremamente política, que questiona e critica todo o processo de colonização do país, as consequências da escravidão, além dos diversos aspectos de raças, crenças e culturas. É uma obra histórica – diz o curador.

Foi atribuído à obra, portanto, um sentido primordialmente político. Atente o leitor para os verbos: perturbar, questionar, criticar. É objeto dessas ações não só a colonização brasileira, mas “diversos aspectos de raças, crenças e culturas” (bastante amplo, aliás). Em tudo isso, propõe-se refletir sobre as práticas sexuais “fora do padrão” como perturbadoras da ordem social. Antes de entrar no mérito da proposta, cabe observar que é interessante como o curador se sente à vontade para pré-definir o sentido da imagem, guiando o olhar do espectador e vedando-lhe caminhos alternativos. Da mesma forma, muitos descontentes com o fechamento do Queermuseu – não só artistas, mas também jornalistas, filósofos e demais influenciadores da opinião pública – se sentiram à vontade para escrever artigos em que julgaram ignorantes as pessoas que repudiaram a exposição. Mas convém mostrar-lhes que sua indignação contraria a própria liberdade que desejam defender. Será que a obra de arte exige do espectador uma recepção específica? Creio que não! Os textos explicativos ao lado das obras (ou publicados em catálogos e jornais) têm uma função limitada: podem aprofundar a experiência artística, mas não defini-la. Após ver o quadro, o espectador não deve refletir sobre o poder transformador do sexo nas relações hierárquicas. Sua recepção é livre. As obras de arte – e sobretudo as artes plásticas – não são primordialmente instrumento para reflexões políticas ou históricas, mas nos impactam com sua beleza e com a pluralidade de sentidos que evocam em nós. Não estou dizendo que a boa obra de arte nunca provoque mal-estar em sua época (o livro de Baudelaire é um exemplo disso); mas digo que, uma vez estabelecida como algo digno de figurar como “arte” (e isso independe dos curadores, dos influenciadores ou de qualquer outro que se queira autoridade em matéria de arte, mas se dá por um consenso diacrônico, bem mais democrático: ainda ouvimos Mozart, contemplamos Michelangelo, recitamos Dante etc.), a obra encanta ou impacta antes de confundir, e as legendas se tornam absolutamente desnecessárias.

Em Cenas do Interior II, a pintora trabalhou com diferentes níveis de desvios do padrão: desde sexo de senhores com escravos até zoofilia. Enquanto nas sociedades coloniais o primeiro era um desvio, hoje isso não faz mais sentido para a população em geral, embora relações entre superiores e subordinados sejam sempre algo um tanto problemático por motivos óbvios (“horizontalização” nem chega perto de descrever tais motivos em nossos dias, que dirá na época da escravatura). Já a zoofilia, além de imoral, é crime grave: no Brasil, está configurada como maus tratos e é punida com até três anos de detenção, embora existam alguns gatos pingados (perdão pelo trocadilho) que ousem defendê-la em público.9

Não custa lembrar que, na sexualidade cristã, os limites são bastante rígidos em relação aos padrões modernos: condena-se qualquer tipo de relação sexual antes ou fora do casamento, mesmo entre um homem e uma mulher. (Evidentemente, o cristão se sujeita à ordem bíblica de livre vontade. Não pretende coagir por lei quem não está convencido.) Longe de ser um apêndice moralista sem sentido para a fé, esse valor é algo central, pois, segundo a Bíblia, corresponde ao relacionamento – exclusivo e permanente – entre Cristo (análogo ao homem) e a igreja (análoga à mulher). Além disso, os cristãos acreditam que o casamento mantém o desejo dentro da esfera do amor e do compromisso, caracterizando-se como a melhor proteção para mulheres, crianças e, por que não, também os pets. Não é pura idiossincrasia, mas sim o melhor modo de propiciar um meio seguro para a formação das novas gerações. É com base nesse valor que podemos reprovar, sem meias palavras, as famílias que cometem abusos e descumprem seu propósito de proteção e amor incondicional.

Porém, ainda que levemos em conta a explicação do curador sobre a “crítica ao processo colonizador”, quando contemplamos a cena da zoofilia, o panorama simplesmente não se afina. Faz-se necessária uma pergunta: por que perturbaria “relações verticais” uma imagem de sexo entre dois homens e uma cabra, e por que isso seria desejável? Pergunto-me se o leitor mais familiarizado com as teorias recentes sobre os animais – e aqui penso em Peter Singer – não precisou recorrer a esse universo para entender a indistinção sugerida na tela. Inspirados em Singer, militantes da causa animal condenam a diferença valorativa entre homens e animais como “especismo”. Seria a essa “relação vertical” que a imagem aludiria? Seriam então contíguos os dois universos – o da causa animal singeriana e o da luta LGBT, calcada no que chamam “ideologia de gênero”?10 Afinal, todo leitor, de qualquer orientação religiosa, ideológica ou sexual, mesmo que nunca tenha ouvido falar nem em Singer nem em ideologia de gênero, poderia muito bem indagar-se intimamente: o que raios um quadro que destaca a zoofilia está fazendo em uma exposição que não ocultou o objetivo de apresentar – e celebrar – a diversidade sexual?

Por trás da arte, revelou-se um mundo de decisões políticas logo na abertura da exposição, no dia 15 de agosto, quando Fidelis fez um discurso11 em que citou a filósofa americana Judith Butler,12 um dos maiores expoentes da ideologia de gênero na atualidade, como uma de suas grandes influências. Esse parti pris surgiu ali em forma e em conteúdo: em um tom inegável de manifesto, ele louvou a iniciativa como “um museu mais radical, mais inclusivo, mais desviante” – e, surpreendentemente, mencionou aquela já conhecida fala de Bolsonaro sobre não estuprar Maria do Rosário, um adendo interessante por marcar uma forte posição (bastante aplaudida aliás) do Queermuseu como um evento progressista em oposição aberta a um conservadorismo do qual Bolsonaro seria representante. Manifestou a escolha consciente por “muitas obras radicais, que nenhum outro museu colecionaria (…), obras que a institucionalidade rejeita”. Para ele, o Queermuseu seria “um museu inclusivo, diverso, que acreditasse que a história da arte não é feita somente de obras-primas. Um museu do desvio para uma curva não-normativa.13 Um museu que propiciasse ao visitante uma experiência positiva sobre a diferença”. E arrematou: “Hoje é um dia de celebração.”

Experiência positiva? Celebração? Quando pensamos em Cenas do Interior II, também não há encaixe: qual experiência positiva o visitante pode obter de um quadro que destaca uma cena de sexo com dois homens brutalizando um animal? Note: não é a primeira vez, nem será a última, em que essa prática monstruosa aparece em obras de arte. O pintor gótico Hieronymus Bosch, do século XV, já retratava bestialidade. Mas eis a grande diferença: Hieronymus Bosch nunca inseriu um de seus quadros de zoofilia em uma exposição que, sob os auspícios de Judith Butler, declarou-se expressamente como promovedora de uma “experiência positiva sobre a diferença”. Ele jamais associou qualquer coisa de positivo ao mal figurado em suas obras. Pelo contrário: em Bosch, práticas sexuais espúrias como a zoofilia sempre se justapõem a violência e ao mais horrível desespero.

Mas, no Queermuseu, a zoofilia, em destaque, veio associada a quê? Segundo o curador, a uma “crítica diante do processo de colonização do país”, portanto, algo pedagógico e edificante. Da mesma forma, a cena de zoofilia foi retratada junto a sexo homossexual e sexo em grupo (ou “poliamor”, como querem alguns). De que modo a zoofilia não poderia ser “normatizada” nesse contexto, junto com as duas outras formas de desejo sexual que já são amplamente defendidas no movimento LGBT?
   
Alguém poderia objetar que uma experiência positiva não significa necessariamente endosso, mas compreensão. O problema é que, assim como a ausência de julgamento evocada pela pintora tende a uma atitude positiva, a “compreensão” não deixa de ser uma postura moral que, ao ser encorajada, fomenta uma crescente passividade que impede medidas enérgicas contra o praticante. Nesse caso, assim como na pedofilia e em demais impulsos que coagem o outro, essa neutralidade equivale à proteção do praticante e à desproteção das verdadeiras vítimas, que restam irreconhecidas.
   
O mais estranho é que, embora a pauta da zoofilia ofenda a muitos homossexuais, não foi enxergada como tal na exposição. Em 2012, uma reportagem do jornal O Globo14 publicou:

A homossexualidade era entendida como uma doença mental até 1973 e estava no mesmo grupo que necrofilia, pedofilia, zoofilia e outras mais pela chamada “Bíblia da psiquiatria”: o “Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais” (DSM). Uma forte reação de acadêmicos e ativistas conseguiu na época remover o termo do manual.

Quarenta anos depois, no Brasil, uma exposição que se apresenta como LGBT recoloca a zoofilia ao lado da homossexualidade, e ninguém tratou publicamente do potencial ofensivo disso para as comunidades gays. Parece haver uma confiança tão absoluta nos expoentes do movimento que nada a abala. Mas não podemos esquecer que a credulidade excessiva do brasileiro em seus representantes, em qualquer meio, é fatal para seus representados…
  
Vou me repetir, até porque o fato é de um assombro gigantesco. A mostra Queermuseu – Cartografias na Arte Brasileira, com o objetivo explícito de proporcionar uma “experiência positiva sobre a diferença”, expôs um quadro que evidencia uma correlação entre sexo homossexual e… bestialidade. Estão todos na mesma casa e a bestialidade tem a primazia: está no centro da tela. Se eu visse essa imagem em qualquer exposição no mundo, essa seria minha primeira interpretação. Qual seria a do leitor?
   
Ora, cristãos e conservadores sempre disseram que, depois da “normatização” da homossexualidade, viria a tentativa de “normatização” do sexo em grupo, com crianças, com animais etc. A essa ideia de inevitabilidade, sempre se seguiram reações de horror, como se o argumento quisesse afirmar algo como “todo gay, no fundo, também é pedófilo, zoófilo etc.” – uma óbvia inverdade. A tese central é outra: se a liberdade sexual tiver a primazia sobre outros valores (centralidade da família como meio saudável para a criação de filhos, proteção aos mais frágeis etc.), a sociedade terá de estar aberta para todo tipo de realização de desejos sexuais, com resultados no mínimo duvidosos. Afinal, trocar as prioridades significa remodelar todas as relações sociais. Em alguns meios que se querem esclarecidos, o consenso de que a criança não tem autonomia suficiente para exigir direitos sexuais, por exemplo, já está sob crítica. Ora, mas quem argumentaria que uma criança (ou um animal) está em plena posse de seu poder decisório e sua capacidade comunicativa para dar consentimento sexual a um adulto? Quem se oporia à necessidade de proteger crianças (e bichos) das investidas sexuais de pessoas que não sabem nem querem controlar seu desejo? Somente aqueles que efetivamente não sabem nem querem controlar seu desejo – e precisam da sanção do Estado para viver como lhes apraz. Hoje, somente a cosmovisão cristã tem base e força suficientes para declarar que a liberdade sexual não pode ter a prioridade. Somente um cristianismo firme pode proteger os mais frágeis – demanda fortemente presente em toda a Bíblia – sem destruir todo o tecido social, como faz o politicamente correto. Como ainda vivemos sob um certo cristianismo difuso na cultura,15 muitos entenderam e repudiaram o que foi sugerido, sob uma luz positiva, no Queermuseu.
   
Há cerca de quinze anos, revisei um livro que nunca mais esqueci. Não lembro o autor nem o título, mas o conteúdo eu lembro bem: era uma defesa ardorosa e pretensamente científica de um futuro em que todos pudessem ter sexo com quem quisessem, na hora em que quisessem. Seria extinta a família, os filhos seriam dados a terceiros e haveria livre acesso ao objeto de desejo, qualquer que fosse. Ou seja, o autor foi honesto o suficiente para declarar a existência da família como um obstáculo à satisfação imediata e ilimitada dos desejos sexuais. Precisamos levar essas ideias a sério. Diante dos fatos que surgem aqui e ali, torna-se impossível negar que alguns militam secretamente por um “mundo melhor” semelhante.
   
Frente à bandeira da liberdade sem forma – liberdade que destrói, enganando os pais para atingir os filhos e violentando os bichos para obter prazer –, torna-se ingênuo deixar de desconfiar de que, por toda parte, não só dentro do movimento LGBT, mas na política, na mídia, na educação e também no meio artístico, há quem use a demanda de amor, respeito e acolhimento como máscara para objetivos bem menos nobres. Para transformar a desconfiança em certeza, não é difícil encontrar na internet artigos de autoridades respeitadas – como Guilherme Schelb, procurador regional da República  –16 denunciando livros do MEC e orientações pedagógicas totalmente espúrias para crianças, como apresentação de filmes pornográficos em sala de aula sob pretexto de “educação sexual” e danças simulando relações sexuais sob a orientação da professora.17 A sexualização da infância sob pretexto de “educação” é uma realidade muito presente em nosso país para que a ignoremos. Por que a ignoraríamos sob outros pretextos? Assim, torna-se extremamente perigoso declarar que não houve intenção apologética alguma nessa mostra em que a zoofilia se mostrou como “diferença diante da qual não se julga” e a presença da criança foi planejada e incentivada. Essas decisões apontam, na verdade, para uma dupla violência: contra crianças, que não têm maturidade suficiente para discernir o que lhes é exposto, e contra animais, já que foi incentivada a passividade diante da imagem de um bicho imobilizado e transformado em objeto sexual. E, quando a diferença vira violência, não podemos permanecer neutros. É por nossa própria conta e risco que, desta vez, fecharemos nossos olhos e diremos: “Apenas arte.”
    
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1Cf.  https://oglobo.globo.com/cultura/madonna-uma-historia-de-escandalos-com-igreja-4568941#ixzz4sNz1uFCSstest
2Cf. http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/09/1917600-curador-de-mostra-cancelada-diz-que-banco-infringiu-regras-basicas.shtml
3Cf. http://www.gazetadopovo.com.br/ideias/com-pornografia-e-zoofilia-exposicao-cancelada-pelo-santander-teve-visita-de-criancas-dv3xoh8n57sdhntokchqnysio
4Cf. https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/nao-ha-pedofilia-diz-promotor-apos-visitar-exposicao-de-diversidade-sexual-cancelada-em-porto-alegre.ghtml
5Cf. http://www.gazetadopovo.com.br/ideias/erotizacao-de-criancas-era-objetivo-da-queermuseu-dizem-procuradores-gauchos-emkyes4v336y5tcor7foc8wrk
6Sobre isso, ver o livro incontornável de Affonso Romano de Sant’Anna, Desconstruir Duchamp: arte na hora da revisão (Rio de Janeiro, Vieira & Lent, 2003). Para uma abordagem mais acadêmica, ver, do mesmo autor, O enigma vazio: impasses da arte e da crítica (São Paulo, Rocco, 2008).
7
Destaco aqui os que lutaram pela aprovação do ambicioso Projeto de Lei 5003-b/2001, que ficou conhecido como “mordaça gay”. O texto original era amplo demais e criminalizava “qualquer tipo de ação violenta, constrangedora, intimidatória ou vexatória, de ordem moral, ética, filosófica ou psicológica”. Isto colocaria no mesmo bojo um espancamento por homofobia, óbvia ação violenta, e uma simples pregação bíblica de Romanos 1, que poderia ser interpretada como “ação vexatória de ordem moral”.
8Cf. https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/artes/noticia/2017/09/queermuseu-quais-sao-e-o-que-representam-as-obras-que-causaram-o-fechamento-da-exposicao-9894305.html
9
Em 2010, o site da ANDA (www.anda.jor.br) – Agência de Notícias de Direitos Animais – denunciou um artigo que trazia uma defesa direta e apaixonada da zoofilia, “Tire os filhotes da sala”, na revista eletrônica Void. O artigo afirmou que “a relação entre humanos e outras espécies não tem nada de criminoso, desde que seja mutuamente gratificante – e isso inclui o sexo com animais”, e ainda forneceu o passo a passo para “se relacionar sexualmente com diversas espécies, a exemplo do cachorro, dos animais rurais, como os porcos, cavalos e vacas, e até com os golfinhos”. E isso já faz quase dez anos. Eu não quis pesquisar mais exemplos porque muitas notícias do tipo estão recheadas de imagens que são difíceis de esquecer. (Esta é uma delas, cuidado ao procurar.)
10Cf. http://www.gazetadopovo.com.br/ideias/o-que-e-ideologia-de-genero-0zo80gzpwbxg0qrmwp03wppl1
11Cf. https://www.youtube.com/watch?v=yvzx9Akoaqo&index=1&list=PLosDkjRViz_3zgHaOjT4uFc69hV_jrxqy&t=86s
12Cf. https://ensaiosdegenero.wordpress.com/2012/05/01/o-conceito-de-genero-por-judith-butler-a-questao-da-performatividade/
13Queer significa “estranho, fora dos padrões”, em inglês. É usado hoje como sinônimo de homossexual.
14Cf. https://oglobo.globo.com/sociedade/saude/mais-um-ponto-final-na-luta-dos-homossexuais-7059597
15Cf. meu livro Cristianismo e cultura (Campina Grande, Visão Cristã, 2015).
16https://infanciaefamilia.com.br/category/infancia-sem-pornografia/
17Eu vi esse vídeo abominável e não me animo a procurá-lo de novo. Infelizmente, não é o único.

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