A escola da vida

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Quando decidimos atender ao chamado divino, devemos buscar uma escola de preparação de líderes ou um centro de treinamento missionário. Nesse momento, muitas expectativas nos enchem o coração. Quais os conhecimentos que iremos aprender, quantas habilidades iremos adquirir? Com os conhecimentos aprendidos nos anos de preparo, estaremos aptos para enfrentar o ministério, seja para assumir uma igreja, seja para ir ao campo missionário? Assim pensamos.

Porém, queremos afirmar, que a preparação bíblica-teológica-missiológica não é suficiente para habilitar o vocacionado. Evidentemente, ela é de suma importância, e ninguém deve pular essa etapa, conduzido pela pressa de assumir o ministério. Afinal, muito prejuízo desencadeará em decorrência disso, tanto para o vocacionado como para a obra de Deus.

Quando dizemos que ela não é suficiente, é porque queremos lembrar que, paralelo à preparação acadêmica e ao programa de treinamento, é necessário entrar na escola da vida, no programa de tratamento e aperfeiçoamento do caráter, conforme proposta divina.

O vocacionado deve ouvir o chamado do Mestre dos mestres, pois ele deseja trabalhar na vida de cada um, tanto através das aulas e do contexto escolar, como através de experiências particulares que ele mesmo vai proporcionar.

Devemos estar atentos, porque lado a lado do programa curricular o divino Mestre vai levá-lo a reflexões profundas sobre você mesmo, seu ego, seu ser interior, suas vulnerabilidades e suas potencialidades. O interesse do Mestre da vida é tratar com o caráter.

Estejamos apercebidos, porque, ao estudar as Escrituras Sagradas, o Espírito Santo vai produzir em nós uma visão nova e particular do ser divino, além dos conceitos e pressupostos teológicos. A análise e a exegese da Palavra devem conduzir-nos a uma profunda percepção das verdades divinas que buscam encontrar forma de expressão em nossa vida. (1Tm 1.16)

Todo sistema ensino-aprendizagem promove tarefas acadêmicas, as quais o aluno será submetido, mas há muitas lições que o divino Mestre deseja ensinar, as quais não precisam de caneta e caderno, porque elas marcarão o  caráter com traços profundos que nos acompanharão por toda vida.

Deus quer nos ensinar que o mais precioso não é o que sabemos sobre ele, mas o quanto o conhecemos na percepção da nossa interioridade.

A mensagem do cristianismo tem dois aspectos distintos: o teológico e o ético, ou seja, o ensino e o comportamento, a mensagem e a prática, (o Kerigma e a diakonia). Em outras palavras, o que Deus fez por sua graça pelo homem e o que Deus exige do homem que se tornou objeto da graça. Deus nos chama para expressar o caráter de Cristo em todas as suas dimensões, e isso significa mais do que fazer algo para Deus significa o como fazemos. Deus nos chama para expressar as virtudes do seu Filho, porque do contrário o nosso serviço e a nossa mensagem perdem a plataforma de credibilidade.

Com a convicção do chamado divino, devemos buscar o preparo ministerial sem deixar de centralizar e enfocar a formação do caráter como alvo prioritário. Daremos algumas razões para isso:

Primeiro, a proposta divina para cada um de nós não é um ‘eu’ melhorado, educado ou uma personalidade aperfeiçoada conforme as normas de ética e os valores da religião; é muito mais. É sermos conforme a imagem de Jesus. Esta é a proposta de Deus expressa na sua Palavra: “Pois os que conheceu por antecipação, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho…” (Rm 8.29). “até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.13). Não podemos negar a participação da família e da Igreja que nos conduzem dentro dos princípios cristãos, porém queremos lembrar que as virtudes que o Mestre deseja formar no vocacionado são marcas mais profundas, virtudes próprias e necessárias para quem se dispõe a assumir o ministério sagrado. 

Segundo, caráter excede a qualquer habilidade. Na didática do Mestre, há sempre uma busca por virtudes e valores morais e espirituais que comprovem a genuína vocação.  A pesquisa promovida pela WEA (Aliança Evangélica Mundial), que trata do retorno antecipado de missionários, mostra que é necessário estar atento ao assunto, pois, dentre outras razões do retorno, 4.4%  indicam vida espiritual imatura, 7.4% problemas com colegas, 7.8%, compromisso inadequado. Esses indicadores chamam a nossa atenção para priorizarmos a formação do caráter: tratar o ser antes do ter (diplomas e títulos), e o viver como discípulos de Cristo, antes de fazer grandes obras.

A formação do caráter é uma proposta desafiadora, porque, além de trabalhar com o indivíduo como um ser psicossocial, afetivo e cognitivo, trabalha com um ser espiritual.

A formação do caráter não se limita a uma performance nos moldes da sociedade, com os traços que delineiam os valores éticos e morais de um cidadão consciente; o nível é muito mais elevado — formar o caráter de Cristo. “[…] até que Cristo seja formado em vós. Cristo em vós, a esperança da glória.” (Gl 4.19; Cl 1.27).

Quantos prejuízos causados a Igreja e ao campo missionário por falta das virtudes cristãs impingidas na personalidade humana. Geralmente, encontramos as pessoas se desculpando em relação a caracteres do seu temperamento e na forma natural de ser, como se fôssemos obra acabada. A personalidade humana é aperfeiçoável e tratável até a eternidade. Devemos dispor o nosso coração e nos colocarmos nas mãos hábeis do divino oleiro para que ele trate a personalidade e delineie os traços e a forma da sua natureza em nós.

A meta divina é nos tratar até que sejamos perfeitos, como é perfeito o nosso Pai que está nos céus. (Mt 5.48)
Terceiro, a nossa vocação não se limita ao uso de habilidades técnicas, metodológicas, filosóficas, científicas ou apenas ao que se refere ao mundo dos conceitos e das teorias. Este, terminantemente, não é o modelo do Mestre dos mestres. Somos chamados para ensinar a Verdade que se expressa na vida, para habilitar os homens a toda boa obra, pelo ensino da Sagrada Escritura, que instrui e educa para a vida. (2Tm 3.16,17).

Os educadores, como Paulo Freire, Vigosky, entre outros, já esbravejaram no mundo indicando que a educação se dá no contexto da vida, na dimensão do cognitivo, afetivo e volitivo. Somos tendentes a apelar para a razão como se caracterizava a educação medieval. “O conhecimento adquirido era comprovado pelo conhecimento exposto.” Hoje, a educação busca provar o conhecimento pela experiência vivida. A Escritura nunca foi diferente; a ortopraxis autentica o ensino ortodoxo dos arcanos divinos que são preceitos de conduta e vida.

Quando Deus vocaciona alguém, ele planeja tratar a vida como um todo. Informações limitam a personalidade humana apenas à mente e negam a inteligência emocional e a integralidade do ser criado à semelhança do Deus trino.

A formação do caráter cristão deve ter prioridade na proposta de vida de todo aquele que se dispõe para o serviço ministerial. Que cada um se matricule na escola da vida e se submeta ao tratamento do Mestre. Busque os programas de preparação pastoral ou missionária que estejam atrelados à didática do Mestre, a única forma eficiente de torná-los “[…] obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.” (2Tm 2.15).

1 COMENTÁRIO

  1. Foi extraordin rio ler o texto acima, indico todos os textos e livros da Querida Durvalina. Tive o privil‚gio de começar meu curso de Bel. em Teologia no Betel-SP é onde tínhamos o privil‚go de ouvi-la e tb pude receber suas ministraçäes no CPM da Missão Antioquia -no V. da Benção-SP.Em minha jornada mission ria, o Espírito Santo sempre traz a minha mente seus ensinamentos sobre o Car ter Cristão e tenho procurado ser, viver e reproduzi-los. Amada, que Deus continue te abençando!

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