O Sionismo foi um movimento social e político que visava o retorno dos judeus para o lar nacional, Eretz Israel. A expressão foi criada em 187, mas o movimento é bem mais antigo. Como conceito nacional é tão antigo quanto o exílio babilônico em 586 a. C., que conforme o juramento do salmista:
“Seu eu te esquecer de ti ó Jerusalém,
Que minha mão direita esqueça sua destreza.
Que minha língua fique presa ao céu de minha boca.
Se eu não me lembrar de ti;
Se eu não colocar Jerusalém
Acima de minha alegria principal” (Sl 137.6)
No século XIX o sionismo abrange características mais distintas que puramente religiosa, dividindo-se em três correntes: O Sionismo Político, com a subcorrente dos territorialistas ou sionistas sem Sion e a subcorrente dos sionistas com Sion; os Sionistas Práticos e os Sionistas Culturais.
O Sionismo político teve como principal precursor Theodor Herzl.
Theodor Herzl nasceu em Budapeste em 1860. Era jornalista com formação de jurista e trabalhava para o jornal vienense Neue Freire Press. Estava em Paris cobrindo o desenrolar do julgamento do Caso Dreyfus. Alfred Dreyfus era um oficial do Estado Maior que estava sofrendo sutil política de descriminação por ser judeu. Dreyfus era acusado de traição militar. Este incidente foi decisivo para que Herzl percebesse o feroz ódio das multidões contra os judeus. O próprio Herzl declarou que quando o desolador julgamento acabou ele perguntou aos seus colegas por que tanta alegria entre o povo, ao que seu colega afirmou que um desonrado traidor haveria de receber o merecido castigo. Neste momento ele indaga como poderiam se alegrar com o sofrimento de um ser humano. Seu colega também vienense respondeu-lhe dizendo que os franceses não o consideravam um ser humano, mas unicamente um judeu.
Herzl era um judeu assimilacionista, desconhecendo até aquele momento as atividades sionistas e as teorias que se propagavam na época. Sofreu uma profunda crise emocional com este episódio, que o levou à adesão pela causa sionista, no qual perdurou até o final de sua vida em 1904. A partir de então, Herzl toma como missão a luta pela criação de uma pátria judaica, Palestina hoje Israel. Para começar escreveu o livro “Ler Judenstaadt” (O Estado Judeu), nome inspirado no ideal de transformar a Palestina em uma nação judaica, tornando-se mais tarde o principal documento do pensamento sionista político.
Após a publicação do livro, visitou os magnatas judeus para que cooperassem investindo na idéia de colonização da Palestina, porém, não houve reciprocidade. Não desistiu da luta, continuou a tentar através de contatos com vários governadores e ministros de Estado da Europa. Despontado com a frieza com que era tratado, decidiu confiar no povo judeu convocando-o ao Primeiro Congresso Sionista na Basiléia, Suíça, de 29 a 31 de agosto de 1897. Com ele estava Max Nordeau, escritor e médico renomado, amigo e companheiro de Herzl. Esse Primeiro Congresso teve um caráter parlamentar mundial de judeus.
Deste entusiasmado Congresso a Organização Sionista Mundial foi estabelecida tornando-se uma instituição oficial. Como conseqüência, foi fundado o Banco Judeu Colonial, no qual viabilizaria a aquisição de títulos de terras palestinas através do Fundo Nacional Judaico. Além das medidas citadas, o Congresso adotou também a bandeira nacional judaica e o hino judaico Hatikva (A Esperança). Curiosamente, atribuiu-se a este Congresso, a formulação dos Protocolos dos Sábios de Sião, um grosseiro documento anti-semita forjado por um homem chamado Línodo Russo. Herzl, na ocasião, foi eleito Presidente da Organização e do Comitê Executivo Mundial Sionista.
Desde o findar da Primeira Guerra Mundial, o Oriente Médio que havia estado sob o domínio do Império Turco-Otamano derrotado, ficou sob a proteção da Liga das Nações. Isso ocorreu para “viabilizar” a independência política desses Estados, que no caso da Palestina e Jordânia eram controladas pela jurisdição britânica. Após o término do Congresso, Herzl se reuniu junto aos chefes de Estado dos países europeus com a finalidade de conseguir apoio a uma colonização em massa de judeus na Palestina. Encontrou-se com o sultão da Turquia, que lhe ofereceu a Palestina por cento e trinta milhões de libras esterlinas. Empolgado com a proposta, recorreu novamente aos magnatas judeus. Porém, de nada adiantou. Sentiu-se profundamente decepcionado. A Alemanha, que de início apoiara a idéia de um lar judeu não abraçou a proposta do sultão. O único estado a demonstrar interesse foi à Inglaterra, pois lhe interessava o controle do Mediterrâneo através dos capitais dos magnatas Rotschilds e Lord Beasconfield.
O Segundo Congresso Sionista foi novamente em Basiléia no ano de 1898. Foi nesse Congresso que Herzl obteve um resultado mais prático para criação de um banco com a finalidade de ser um instrumento financeiro da Organização Sionista. Já em 1899, o Terceiro Congresso Sionista de Basiléia, teve um número maior de delegados. Um dos problemas tratados neste Congresso foi o da cultura hebraica. O Quarto Congresso foi organizado em Londres em 1901. Neste, ficou estabelecido a criação do Keren Kayemet Le-Israel (Fundo Perpétuo para Israel), cujo objetivo era a aquisição de terras no território palestino para estabelecer os colonos judeus que migrassem.
Foi durante a aprovação desses projetos que o Quinto Congresso, reunido novamente em Basiléia em 1901, dividiu-se em duas correntes: uma denominada política, ou legalista, que visava obter autorização do governo turco para a colonização Palestina; e, a segunda corrente era composta de sionistas russos e poloneses, chamados “sionistas práticos”, pois não achavam necessário esperar uma autorização oficial do governo turco para colonização palestina, apesar de terem consciência que esse tipo de colonização só poderia ser de pequena expressão.
Enquanto a Palestina estava oficialmente fechada à colonização sionista, o governo inglês, fiel à sua política de criar um núcleo nacional judaico na parte oriental do mediterrâneo, sugeriu duas possibilidades: Chipre e El-Arish, no Sinai. Esta chegou a ser estudada com interesse por Herzl e seus amigos, inclusive por Lord Rothschild. Mas surgiram dois obstáculos. Um dos sionistas orientais, que só desejavam a Palestina; e outro do governo do Egito, que mesmo debaixo do domínio inglês desde 1883, ainda influenciava o suficiente para impedir que seu território fosse cedido e fragmentado.
O Sexto Congresso realizado em agosto de 1903, em Basiléia, foi o mais tumultuado e agitado de todos. Os judeus russos vinham sofrendo as violências antijudaicas dos “pogroms”. Nesse momento a Inglaterra ofereceu a Herzl os territórios da África Oriental – Uganda – como socorro imediato para os judeus ameaçados. Essa proposta foi submetida por Herzl ao Congresso, que convencionou chamar “Projeto de Uganda”. O objetivo era que os judeus da Rússia conseguissem um escape para essa calamidade, inclusive Herzl deixou claro que seria apenas uma situação provisória ao declarar: “Uganda não é nem nunca poderá ser o mesmo que Sion, mas apenas uma colônia suplente… A colonização de Uganda não passará de uma medida de urgência”. Porém, seus argumentos de nada adiantaram diante da forte oposição que sofreu.
A partir daí os sionistas políticos dividiram-se em duas subcorrentes: Os que buscavam um lugar em qualquer lugar do globo para os judeus; e, os que aceitavam a proposta de Uganda, passando a ser conhecidos por “territorialistas” ou “sionistas sem Sion”; também dos que insistiam na Palestina como pátria, denominados “sionistas com Sion”, ou “sionistas práticos”, uma vez que queriam a imigração imediatamente. Surpreendente foi o fato que os maiores oposicionistas foram os judeus russos e poloneses, que mais tarde ficaram expostos aos novos massacres em 1904 e 1905. Devido a estes acontecimentos o movimento sofreu uma forte cisão.
Entre o final de 1903 e o início de 1904, Herzl trabalhou para reunificar o movimento, conseguindo-o. Porém, os debates de Uganda haviam lhe esgotado e sua saúde estava profundamente abalada, vindo a falecer no ano de 1904 em Viena. A notícia de sua morte abalou os judeus do mundo todo, que pensaram que com ele a causa Sionista morreria. Enganaram-se. A grande maioria dos sionistas julgava que o esforço “político” fortemente organizado, aliado a uma orientação prática seria capaz de concretizar seus anseios de uma Palestina judaica. No entanto, havia ainda uma minoria sionista que consistia de intelectuais voltados em suas aspirações para o aspecto cultural judaico, dando maior ênfase à propaganda e ao esclarecimento. Dentre esses sionistas destaca-se a liderança do filósofo Achad Há-Am.
De todas essas correntes, a que prevaleceu foi a dos sionistas práticos. Na realidade, elas conseguiram se ajustar a contribuição que prestaram à causa sionista, sem se prejudicarem. Enquanto o grupo dos sionistas políticos faziam contatos diplomáticos, os sionistas práticos realizavam a imigração (clandestina) para a Palestina e a aquisição de terras aos colonos; e os sionistas culturais empenhavam-se na publicação de livros, jornais, folhetos para divulgação da causa sionista. É importante não esquecer também do Sionismo Sintético, liderado por Weizmam que tentou unificar todas as demais correntes sionistas. Interessavam-se pelos três aspectos do Sionismo: político, cultural e prático.
Referências bibliográficas
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TSUR, Jacob. A epopéia do sionismo. Rio de Janeiro: Ed. Documentário, 1977.
Olá, gostaria de saber qual o posicionamento de vocês irmãos a respeito do relacionamento atual de Deus para com Israel, Israel ainda é a “menina de seus olhos”?
A teologia da substituição é correta?
Deve haver uma distinção entre Israel e Igreja atualmente?
Obrigado.