Um tributo ao teólogo que ensinou uma geração a evangelizar através da igreja local
Quando John Stott e J. I. Packer precisaram de oradores para uma reunião crucial de líderes evangélicos na década de sessenta, eles convidaram apenas um palestrante que tinha por volta de 30 anos: Michael Green. O teólogo britânico que morreu em Oxford em 6 de fevereiro aos 88 anos de idade, tornou-se um dos mais talentosos evangelistas de sua geração.
Green, um estudante acadêmico talentoso, se converteu ao cristianismo quando adolescente. Logo após isso, recebeu honras acadêmicas em estudos clássicos em Oxford e teologia em Cambridge. Seu senso de chamado ao ministério da Igreja da Inglaterra refletiu ao longo de sua vida através da paixão pelo evangelismo. Enquanto servia na equipe da London College of Divinity, a faculdade da Igreja da Inglaterra, Green publicou duas obras destinadas ao público infantil, estabelecendo sua crescente reputação como apologista e evangelista: Man Alive (1967) e Runaway World (1968).
Esses livros foram amplamente lidos e compartilhados por estudantes cristãos e levaram a convites para falar em grandes igrejas e reuniões em todo o Reino Unido. Eu mesmo li os livros enquanto estudava em Oxford no início da década de 1970. Lembro-me vividamente do impacto de um sermão de Green pregado em Oxford em João 3, que me ajudou a captar os temas centrais do Evangelho.
Impacto precoce
Green agora era uma estrela em ascensão na Igreja da Inglaterra. Ele foi o mais jovem orador no Congresso Anglicano Evangélico Nacional em 1967, organizado por John Stott e J. I. Packer, que foi amplamente visto na época como padrão de um novo e mais confiante curso para o evangelicalismo dentro da Igreja da Inglaterra.
Ainda com 30 anos de idade, foi nomeado diretor da London College of Divinity em 1969 e supervisionou a mudança da faculdade para a cidade de Nottinghham em East Midlands, na Inglaterra. O entusiasmo contagiante de Green por sua fé, associada às suas excelentes habilidades de ensino, elevou significativamente o perfil da faculdade.
Em 1975, Green tornou-se reitor da Igreja de Santo Aldate em Oxford. Como estudante em Oxford naquele tempo, lembro bem do sentimento de encanto e expectativa dentro da comunidade cristã estudantil de Oxford ao saber dessa nomeação. Muitos ficaram entusiasmados com a ideia de se sentar aos pés de um pregador e evangelista tão talentoso e bem conhecido, e eles não ficaram desapontados.
A pregação de Green uniu seu amor pelo Novo Testamento, sua paixão pelo evangelismo e um profundo senso de cuidado e compaixão por sua congregação. A notável capacidade de Green em encorajar outros na sua fé e explorar seus chamados, levou muitos a considerar a ordenação, a obra missionária ou maneiras de garantir que sua fé e chamados profissionais estivessem entrelaçados.
De alguma forma, Green conseguiu encontrar tempo para escrever. Suas obras desse período incluem seu livro O Espírito Santo (1975), cujo tom caloroso e encantador fez muito para celebrar o novo interesse pelo Espírito Santo que ganhou influência nos círculos estudantis dentre outros.
Em 1977, John Hick e um grupo de acadêmicos produziram uma obra revisionista intitulada The Myth of God Incarnate. Green reconheceu que uma resposta teologicamente ortodoxa era necessária e num tempo espantosamente curto reuniu uma coalizão de escritores para produzir The Truth of God Incarnate, incluindo ensaios de acadêmicos de peso como John Macquarrie e Stephen Neil, e também dois artigos primorosamente escritos pelo próprio Green.
Um campo maior
Depois de dez anos na igreja de Santo Aldate, Green anunciou sua intenção de seguir adiante em outros campos do ministério e pediu oração enquanto ele e sua esposa Rosemary ponderavam sobre seu futuro. Depois de meditar, Green anunciou que assumiria o cargo de professor de evangelismo no Regent College Vancouver em setembro de 1987. Green lecionou na college’s summer school no final da década de 1970 e início da década de 1980. Ele e Rosemary claramente fariam um ótimo trabalho.
Essa nova posição permitiu que Green desenvolvesse sua paixão pelo evangelismo num campo maior. Além disso, liderando projetos missionários com alunos do Regent na Colúmbia Britânica e Estado de Washington, Green obteve a oportunidade de falar por toda América do Norte, criando e consolidando vínculos com líderes das igrejas da região. Seus interesses de ensino concentraram-se nas áreas de evangelismo, apologética, teologia aplicada e Novo Testamento. Sendo tanto um erudito quanto um homem de prática, Green tornou-se um exemplo para os estudantes, particularmente por meio de seus encontros informais de “Green no gramado” debaixo de uma árvore no gramado da Regent, explorando as questões dos alunos sobre evangelismo, apologética e espiritualidade.
Em 1988, a Conferência de Lambeth – que reuniu bispos anglicanos de todo mundo, declarou que a década de 90 deveria ser uma “década de evangelismo” marcada por uma “renovada ênfase em tornar Cristo conhecido para os povos do mundo dele”. Em 1991, George Carey foi entronizado como Arcebispo da Cantuária. Carey estava convencido de que o futuro da Igreja da Inglaterra dependia de uma recuperação do ministério de evangelismo.
Como ex-aluno do London College of Divinity, Carey conhecia a competência e paixão de Green nesse campo. Ele convidou Green a retornar à Inglaterra como diretor-adjunto da iniciativa de evangelismo “Springboard” da Igreja da Inglaterra, junto com o Bispo Michael Marshall. Green serviu nesse posto entre 1992–1996, coordenando palestras de treinamento evangelístico e desenvolvendo a visão evangelística da igreja a partir de sua base em Nottingham. Finalmente em 1996, aos 65 anos de idade, Green se aposentou nessa posição.
Oxford
Neste ponto eu entrei na vida de Green. Tornei-me diretor do Wycliffe Hall em Oxford – uma faculdade teológica evangélica da Igreja da Inglaterra – em 1995 e estava ciente da necessidade de possuir uma figura sênior sábia e respeitável na equipe que pudesse encorajar e mentorear os estudantes. Depois de falar em um dos últimos eventos de treinamento evangelístico de Green em Nottingham, em 1996, percebi que ele e Rosemary pareciam não ter um papel óbvio quando a iniciativa Springboard chegou ao fim.
Após conversar com colegas, convidei Michael e Rosemary para se juntarem à equipe do Wycliffe Hall. Green seria um pesquisador sênior, uma posição que lhe permitiria ensinar em áreas de sua especialidade – sobretudo evangelismo e apologética, enquanto lhe dava espaço para escrever livros e falar ao redor do mundo. Michael e Rosemary puderam se reconectar com a igreja de Santo Aldate, bem como Oxford – a cidade em que se conheceram e se apaixonaram.
Para a alegria de todos, eles aceitaram e se mudaram para Oxford. Não há espaço para relatar as muitas conquistas de Green em sua fase final em Oxford, tal como seu envolvimento na fundação da Oxford Centre for Christian Apologetics no início de 2000, sua entusiástica e comprometida liderança de grupos de estudantes da Wycliffe em projetos missionários nas igrejas e universidades britânicas, seu rico ensino nos campos do evangelismo, apologética e Novo Testamento e, talvez de modo mais memorável, o calor da hospitalidade que ele e Rosemary ofereceram aos alunos e colegas em sua casa em Old Marston, nos arredores de Oxford.
Green permaneceu na equipe do Wycliffe Hall até sua morte mais de 20 anos depois. Sua última palestra na faculdade, dada algumas semanas antes de sua morte, foi sobre um tema que permaneceu próximo ao seu coração: “Evangelismo através da igreja local”.
O legado de Green permanece nas vidas das muitas pessoas que ele aconselhou, encorajou e que encontraram nele um cristão gracioso e cativante com uma paixão por sua fé e um amor por seu Senhor. Há muitos como eu em todo o mundo, tanto no Reino Unido quanto na América do Norte que se consideram edificados e enriquecidos por terem conhecido Michael Green e que o apontarão com um líder influente em suas vidas e pensamentos. Por várias vezes o próprio Green observou que ele era um Barnabé – um encorajador. Neste mundo cruel e desanimador, certamente precisamos de mais líderes como Michael Green.
Texto original: Alister McGrath: Michael Green Taught Me the Importance of Evangelism. Christianity Today.
Traduzido por Tiago Silva e revisado por Jonathan Silveira.
Em breve, Edições Vida Nova republicará a obra Evangelização na Igreja Primitiva, de Michael Green.
Neste livro, o autor tenta apresentar completa e claramente a sua compreensão sobre o ensino das Escrituras a respeito do Espírito Santo. Ele reflete também nos temas de batismo, dons e plenitude do Espírito Santo. O estilo adotado é comparativamente simples, embora o conteúdo seja de grande relevância teológica e prática. Publicado por Shedd Publicações. |
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Excelente. Que edificante.
Glória ao Senhor Jesus.