Introdução
Esclarecer a relação entre calvinismo e escolasticismo é de suma importância para o entendimento da teologia reformada mais antiga. Que o período pós-reforma foi considerado um período escolástico para os calvinistas e até mesmo para os luteranos, é um fato tão público e notório que sequer precisa de referências. A tradição escolástica dentro do calvinismo é muito forte, embora percebida de forma mais leve em João Calvino, foi em Beza, seu sucessor, que a relação entre Calvinismo, Aristóteles e o escolasticismo se tornou de fato amigável. Grandes nomes do calvinismo clássico eram extremamente escolásticos, com influência predominantemente tomista, tais como os reformadores Girolamo Zanchi, Francis Turretin, Musculus, Pedro Mártir, Theophilus Gale e outros. No entanto, houve uma ruptura que alguns autores defendem que foi em Jonathan Edwards,[1][2] e a escolástica protestante foi esquecida ou avaliada de forma superficial e negativa.
Esse artigo tem por objetivo demonstrar o porquê a teologia escolástica é importante para a teologia reformada hoje. Demonstrar que a relação escolasticismo e teologia reformada é muito antiga e defendida pelos nossos pais reformadores. Responder, sucintamente, às críticas de Francis Schaeffer, Herman Dooyeweerd e Gordon Clark contra a teologia escolástica reformada, sobretudo em seu aspecto aristotélico-tomista.
O que é o Escolasticismo?
O termo escolasticismo, embora possa ser considerado desde os antigos filósofos gregos, para nós interessa seu significado que deriva de escolas de ensino superior no início da era medieval na Europa. Nessas escolas, os falantes da dialética, normalmente chamada de “lógica” na era moderna, eram conhecidos pelo termo latino “escolástico”.
Os autores Willem J. Van Asselt e Pieter L. Rouwendal explicam o seguinte:
O termo “escolasticismo” é derivado da palavra grega scholè, a qual originalmente significava “tempo livre”, pois a instrução na filosofia era originalmente seguida no tempo livre de uma pessoa. A partir disso, scholè passou a ser usada para tudo aquilo atinente à educação. A palavra latina schola recebeu o mesmo significado. Na cultura romana, scholasticus se referia a uma pessoa dedicada à ciência (no sentido lato do termo), a quem, hoje em dia, chamamos de acadêmico. No início da Idade Média, o termo scholasticus se referia a “uma pessoa conhecedora” ou “alguém que recebeu instrução em uma escola”. De maneira geral, o líder de uma escola era tratado com a mesma palavra. No período do Renascimento e da Reforma, o termo scholasticus era utilizado de diferentes formas. [3]
O escolasticismo nasceu de uma das mudanças culturais mais importantes que ocorreram no período medieval, que foi um afastamento do neoplatonismo e sua aproximação com Aristóteles. É o período após a patrística, que é o período dos pais da Igreja, e tem seu começo[4] por volta do século VI d.C., com os comentários de Boécio (480-524 d.C) à obra de Aristóteles. Esse autor é considerado o “primeiro escolástico”.[5][6] Esse afastamento não foi total, o neoplatonismo, assim como o agostinianismo, manteve suas influências, principalmente na ala franciscana da escolástica, em detrimento da ala dominicana que era mais aristotélica. As duas principais ordens na escolástica medieval foram as ordens franciscana e dominicana. Os principais nomes da escolástica são Santo Anselmo, São Boaventura, Alberto Magno, São Tomás de Aquino, Guilherme de Occam e Duns Scotus.
Embora existam muitas semelhanças entre teologia patrística e escolasticismo, há, pelo menos, uma diferença crucial: a teologia patrística sustentava que grandes ideias teológicas vêm através de inspiração mística, e, embora o escolasticismo não tenha negado as experiências místicas, ele se tornou altamente racionalista, enfatizando o valor da lógica na investigação, explicação e defesa de toda a Teologia. O mundo físico e o mundo espiritual, e até o próprio Deus, tiveram que ser analisados através da aplicação da lógica. Os escolásticos foram bem treinados nos escritos de Aristóteles sobre lógica, física e metafísica, e procuraram ajustar a apresentação da Teologia cristã à visão de mundo racionalista. Por essa razão, para entender a teologia escolástica medieval, precisamos entender alguns pontos de vista de Aristóteles na lógica.
Por razões de tempo, podemos apenas mencionar quatro aspectos das visões de Aristóteles sobre a lógica que influenciaram a teologia escolástica: primeiro, a importância da terminologia exata;[7] segundo, a necessidade de raciocínio proposicional;[8] terceiro, o valor dos silogismos lógicos;[9] e, finalmente, as prioridades da análise racional.[10]
Aristóteles entendeu que, para o sucesso do racionalismo, a reflexão lógica dependia dos termos que usamos e com que cuidado os definimos, para o dr. José d’Assunção Barros:
O que traz uma verdadeira unidade à Escolástica é o seu método: o mestre escolástico deve extrair do texto canônico – que traz à Escolástica o princípio de Autoridade – a matéria para um problema, e a partir daí desenvolvê-lo em relação a um interlocutor imaginário pronto a lhe opor objeções. A base do método é o desejo de explicitar tudo, esgotando sistematicamente todas as possibilidades. O método escolástico desenvolve-se em torno de alguns pontos essenciais, entre eles a ‘precisão vocabular’ e a ‘Dialética’ – conjunto de operações que fazem do objeto de saber um problema que será exposto e sustentado contra o interlocutor real ou imaginário.[11]
O escolasticismo é muito mais um método, um modo de fazer teologia, do que uma doutrina, método esse que usa da lógica para a resolução dos problemas, onde o autor apresenta uma tese e responde às objeções a essa tese, como se estivesse conversando com um interlocutor imaginário. Ao apresentar sua tese, deve anteriormente discorrer sobre os outros pensamentos divergentes do ali apresentado e mostrar o porquê tal pensamento não é adequado ou é menos adequado em relação ao que ele apresentará, definindo precisamente os termos usados.
O que é Escolasticismo Reformado?
A teologia escolástica reformada[12] teve seu auge, dentro da teologia reformada, no século XVII. Os autores Willem J. Van Asselt e Pieter L. Rouwendal explicam o seguinte:
No período do Renascimento e da Reforma, o termo scholasticus era utilizado de diferentes formas. Por exemplo, os alunos na academia (schola publica), instituída por Calvino em Genebra, eram chamados de scholastici. Ainda assim, Calvino também utilizou o termo scholastici de uma maneira completamente diferente, negativamente, dando um valor ao termo quanto ao conteúdo. Essa ambivalência no termo “escolástico” também pode ser encontrada nos escritos dos representantes da ortodoxia. Embora em suas obras dogmáticas os escritores desse período tenham, por diversas vezes, nas mesmas obras e até mesmo no mesmo capítulo se oposto contra a teologia escolástica, é possível encontrar uma defesa do escolasticismo. No primeiro caso, o termo escolástico cuida do conteúdo do período (tardio) da teologia medieval; no último caso, a referência se dá para a teologia conforme praticada nas academias e universidades reformadas.[13]
Depois de explicarmos anteriormente o termo “escolástico ou escolasticismo” em diversos ambientes, nos interessa aqui a definição do termo na Idade Média e na Academia de Genebra. Tanto na Idade Média como em Genebra, o termo era sinônimo de academicismo, daqueles que faziam uma teologia científica. Os autores, Willem J. Van Asselt e Pieter L. Rouwendal, ressaltam também uma diferença entre o conteúdo desenvolvido nesse período e o método escolástico. Muitos escritores reformadores criticaram algumas doutrinas desenvolvidas na escolástica, mas não criticaram seu método e como método, não precisa representar nenhuma teologia em particular. Prova disso é que temos Católicos Romanos escolásticos, calvinistas escolásticos, luteranos escolásticos, e isso não significa que as doutrinas dos três são iguais, mas que o método a ser empregado é o mesmo, logo, não nos enganemos ao pensar que escolasticismo é sinônimo de Catolicismo romano ou qualquer outra vertente cristã.
Quais as principais características do escolasticismo reformado?
Uma análise da ortodoxia escolástica demonstra que é possível distinguir períodos dentro da teologia escolástica reformada. Richard A. Muller dividiu-os em três eras: a era da baixa ortodoxia (1565-1640), que foi caracterizada pela solidificação das confissões protestantes, e sendo representada por nomes como João Calvino, Wolfgang Musculus, Pedro Mártir Vermigli e Andreas Hyperius;[14] a era da alta ortodoxia (1640-1725), que sintetizou a base dada pela primeira com o próprio desenvolvimento da teologia escolástica protestante advinda das academias tanto de Genebra quanto de outros lugares da Europa, e fez contraponto não só a ataques externos feitos pelos católicos-romanos quanto a ataques internos, como a controvérsia Amyraldista, sendo representada por homens como Samuel Maresius, Johannes Cocceius, Gisbertus Voetius e o conhecido Francis Turretin;[15] por último, a era da ortodoxia tardia, datada depois de 1725, caracterizada pelo abandono praticamente completo do método escolástico tão característico da era anterior, e representada por homens como Daniel Wyttenbach, John Gill, Bernhardus de Moor e outros.
Deve-se negar que o escolasticismo é um retorno ou resquício de Roma, ou que é um sincretismo pernicioso entre filosofia pagã e cristianismo. Muito pelo contrário, o fato de tanto reformados, como luteranos e católicos usarem o escolasticismo, possibilitou que a teologia fosse mais ecumênica, de forma que a cristantade, mesmo dividida, pudesse debater teologia usando uma linguagem acadêmica comum. Que Aristóteles, Platão e outros filósofos gregos não eram cristãos e, por consequência, vendo por esse aspecto, suas filosofias são pagãs, é um fato inegável, mas disso não se segue que o uso de filosofia grega, portanto pagã, torna quem a usa um pagão, ou que estaríamos substituindo a Palavra de Deus por filosofia, pois se assim fosse, tornaríamos pagãos o apóstolo Paulo, que usou literatura grega na Escritura,[16] e todos os pais da Igreja, incluindo aquele que deu a base da teologia reformada, o imortal Santo Agostinho. Para Platão, Deus era imutável e para Aristóteles, Deus era o motor imóvel, o ato puro, e segundo Herman Bavinck, “A teologia cristã concordou com essa avaliação. Deus, de acordo com Irineu, é sempre o mesmo, auto-idêntico. Em Agostinho, a imutabilidade de Deus flui diretamente do fato de que ele é o ser supremo e perfeito… A mesma ideia aparece repetidamente nos escolásticos e nos teólogos católicos romanos, tanto quanto nos teólogos luteranos e reformados”.[17] Bavinck diz o mesmo sobre o conceito de eternidade, que os reformadores concordaram, sem adicionar nem tirar, o que primeiramente foi desenvolvido por Agostinho, melhorado em Boécio e, por fim, tomando sua forma final em Tomás de Aquino. O próprio Bavinck era um aristotélico.[18]
Girolamo Zanchi também ensina:
Não há razão para alguém rejeitar esse estudo da filosofia natural como inútil em assuntos humanos ou condená-lo como prejudicial ao cristianismo: ao contrário, é da maior utilidade no estudo de todas as artes liberais; na promoção da filosofia moral; no reconhecimento e adoração a Deus; no entendimento adequado da Sagrada Escritura; na confirmação de muitas doutrinas cristãs e na refutação de heresias; e finalmente na promoção da piedade.[19]
Fica mais fácil entender o relacionamento entre calvinismo, escolasticismo e filosofia grega quando entendemos que os reformadores nunca pensaram em criar uma outra Igreja, mas reformar a Igreja Antiga. A intenção nunca foi descartar tudo que foi ensinado pelos Santos, como Agostinho, Anselmo, Tomás de Aquino, mas corrigir e descartar aquilo que fora considerado desvio. Assim, no calvinismo, digo em sua forma confessional, encontraremos elementos fortes do escolasticismo, mesmo que essa verdade seja difícil de engolir para os adeptos de um calvinismo mais recente que demonizaram o escolasticismo, principalmente na abordagem tomista, por causa de sua epistemologia. O reformador João Calvino incentiva a leitura dos filósofos dizendo que seus ensinamentos são verazes, é lógico que enquanto nos ajuda a entender a Escritura e se submete a ela. Calvino claramente diz:
Quanto, porém, às próprias faculdades da alma, relego aos filósofos que dissertem com mais sutileza. Para que a piedade seja edificada, nos será suficiente uma definição singela. Confesso que as coisas que ensinam são realmente verazes, não apenas agradáveis de se conhecer, como também são proveitosas e por eles habilidosamente coligidas, nem tampouco proíbo de seu estudo aqueles que estão desejosos de aprender.[20]
Uma característica forte do escolasticismo reformado é não só o método, mas a predominância da teologia aristotélica-tomista em detrimento das demais, como escotistas, occamistas ou místicas. Não nos enganemos, Calvino não era menos escolástico que seus contemporâneos. Em verdade, a declaração de Vicente Temudo Lessa, sobre o reformador, é surpreendente:[21] Richard Muller diz que:
Na primeira e principal apresentação da tese sobre ideias reformadas de liberdade e contingência, parece que Vos identificou que Calvino ensinava uma abordagem básica e sem nuanças da contingência e liberdade, complicada por uma ênfase na questão específica de pecado, graça e livre escolha. Mas, em uma reapresentação subsequente da tese, Vos recuou dessa ideia e identificou Calvino como um determinista tomista em contraste com modelos escotistas posteriores adotados por seus sucessores no século 17.[22]
Richard Muller destaca a influência predominantemente tomista em toda teologia reformada:
Os textos reformados do início da Idade Moderna se caracterizam, além do mais, por uma relativa ausência de referências positivas a Escoto ou a escotistas contemporâneos e por uma preponderância de referências a Tomás de Aquino e vários tomistas contemporâneos. Entre os doutores medievais o ponto de referência mais frequente de Zanchi é Tomás de Aquino. O uso, por Voécio, da terminologia da contingência sincrônica em polêmica em 1652 fez referências tanto de adversários no debate sobre a livre escolha humana quanto a de teólogos cujos argumentos favoreciam os do próprio Voécio. Entre os adversários, Voécio citou pensadores jesuítas Rodrigo de Arriaga e Francisco Oviedo. A favor de seus argumentos, Voécio citou os teólogos reformados Paul Ferry e Samuel Rutherford e então comentou que naquele assunto, “alguns papistas, como tomistas”, estavam de acordo com os reformados, citando primeiramente Tomás de Aquino e em seguida François du Bois (Francisco Sylvius), um famoso comentador da Summa theologiae de Aquino. Além disso, conforme destacado por Beck, Voécio fez referência à obra de Diego Alvarez como antecedente e até mesmo como fonte de seu próprio pensamento sobre a questão da contingência, utilizando positivamente o conceito tomista de concorrência divina como uma praemotio physica […] Mesmo assim, Rutherford e Turretini defenderam a relação positiva entre as teorias reformada e tomista de premoção, fazendo referência a fontes dominicanas do início da Idade Moderna e, nesse aspecto, não fazendo nenhum comentário sobre textos escotistas ou franciscanos no mesmo período.[23]
Algo importante de se notar, é que assim como Lutero, Calvino se posicionou contra a multiplicação desnecessária de termos, algo muito comum na escolástica medieval, porém nunca se posicionou contra novos termos teológicos, como o mesmo diz: “Se alguém, então, censura a novidade dos termos, porventura não se julgará, com merecida razão, que não se atenta dignamente para a luz da verdade, visto que está a censurar apenas isto: tornar a verdade clara e lúcida”.[24]
Para McGrath, Calvino via com suspeitas o pensamento de Aristóteles, algo que pode parecer paradoxal devido ao seu forte viés tomista, mas mesmo que aceitemos tal afirmação, o mesmo McGrath afirma que o período pós-reforma rejeitou totalmente essas suspeitas de Calvino e tornou Aristóteles um forte aliado.[25]
Se lermos a Confissão de Fé de Westminster, por exemplo, encontraremos termos como causa primária, causa secundária, causa contingente, causa necessária, causa livre, substância, natureza, pessoa, contingência, necessidade, espírito puríssimo, que são termos que dificilmente seriam explicados sem a filosofia escolástica. Além disso, a doutrina da simplicidade divina, que foi defendida por todos os calvinistas, e foi desenvolvida no período escolástico, jamais poderia ser explicada sem o apelo dessa mesma filosofia. Algo interessante e digno de nota, que ilustra muito bem como se deu a formação da doutrina calvinista após a morte de Calvino, foi que Beza, quando ainda reitor da Academia de Genebra, recusa um candidato a professor chamado Petrus Ramus (fundador do Ramismo) como titular dessa academia, justamente porque o candidato não era aristotélico (escolástico), vejam como Beza o responde:
O primeiro obstáculo é que no momento não há vaga na Academia, e nossos recursos são tão pequenos que não podemos aumentar o número de professores […] O segundo obstáculo jaz em nossa determinação de seguir a posição de Aristóteles, sem desviar uma linha, quer Lógica, quer nas demais áreas de nossos estudos.[26]
A academia de Genebra era a maior academia de calvinismo do mundo, o que mostra irrefutavelmente como a teologia calvinista tradicional tem laços estreitos com o aristotelismo e, consequentemente com o escolasticismo.
Os grandes nomes do escolasticismo reformado
Lembremos do gigante reformado chamado Gisbertus Voetius, também conhecido como Papa de Utrecht, justamente pela sua defesa da ortodoxia calvinista. Foi influente no Sínodo de Dort, e é conhecido pelo seu escolasticismo, também chamado de o maior dos escolásticos[27]. Gisbertus Voetius usou a tese da pré-moção causal divina, que foi desenvolvida por Santo Tomás de Aquino, no esteio de Aristóteles, para debater e combater o falso ensino cartesiano de Descartes.[28] William Ames era um tomista,[29] e foi o autor mais citado na história do calvinismo, para se ter uma ideia, ele foi citado mais que Lutero e Calvino juntos dentro da nossa tradição. Francis Turretini, que foi o primeiro a escrever baseado nas confissões e cânones de Dort, por isso é considerado como o sistematizador de um calvinismo confessional, é um exemplo de escolasticismo que se nota em uma leitura rápida dos seus escritos recheados de várias citações de Aristóteles, e aos teólogos medievais, em particular, Tomás de Aquino. O mesmo também defendeu as teses de pré-moção física,[30] assim como Voetius, para explicar o concurso providencial divino. Girolamus Zanchi, com toda a sua envergadura intelectual, era conhecido como “um calvinista em termos de conteúdo teológico e um tomista em termos de filosofia e metodologia”.[31]
Ainda devemos considerar que não se deve pensar que tudo que foi escrito no período escolástico seja heresia, a linha que separa a heresia da ortodoxia no período escolástico é bem nítida. Por que eu deveria desprezar os argumentos de Santo Anselmo, o pai dos escolásticos, sobre a substituição penal, que é a base da expiação limitada? Muitos calvinistas atualmente, porque não dizer a maioria, são voluntaristas éticos,[32] essa doutrina surgiu com Duns Scotus, no auge da escolástica.
Podemos citar outros grandes teólogos calvinistas que foram extremamente escolásticos, como Theophilus Gale, Pedro Mártir, John Humfrey, John Owen, Franciscus Junius, Benedict Pictet, etc. JKS Reid observa que em Calvino, Bullinger, Musculus, Vermigli, Beza, Ursinus, Zanchi, Polanus e Perkins “encontramos nesses pensadores, no lado da providência e da causalidade divina abrangente, uma concepção de panergismo escotista (de John Duns Scotist) ou uma concepção escolástica padrão da concordância da vontade divina e humana”,[33] em outras palavras: eram todos escolásticos, de uma forma ou de outra, e note-se, não só em método, mas também em conteúdo, o que nos leva a crer que as críticas ao conteúdo eram pontuais, geralmente nos pontos de discordância das próprias tradições. Richard Muller diz que:
[…] existem também várias abordagens ao pensamento reformado, tanto na Reforma quanto no período da ortodoxia, que tem identificado outros antecedentes medievais. Além disso, um exame da teologia de Pedro Mártir Vermigli, uma teologia extremamente influente na época da Reforma e com frequência vista como uma das mais importantes antecessoras da ortodoxia reformada, tem identificado raízes tanto no tomismo como no agostinianismo medieval tardio de Gregório de Rimini. Wolfgang Musculus citava regularmente Aquino, Escoto e Occam.[34]
O Declínio do Escolasticismo Reformado
Muller pontua que na era da alta ortodoxia, depois do ano de 1685, inicia-se um processo de declínio do método escolástico, caracterizado pela substituição do modelo filosófico antigo do aristotelismo cristão para uma nova espécie de racionalismo ou até mesmo por uma versão de dogmática não-filosófica. Muller dirá que no século XIX a escolástica protestante foi esquecida ou avaliada de forma superficial e negativa:
O acolhimento e o uso concretos da filosofia pelos escolásticos protestantes praticamente não foram examinados por esses acadêmicos mais antigos[35], e, quando investigados, foram apresentados de forma bem superficial, muitas vezes com avaliações dogmáticas altamente negativas. Esses exames superficiais têm muitas vezes operado na suposição de que a escolástica protestante pode ser simplesmente considerada uma herança aristotélico-tomista.[36]
Scott Clark analisa esse movimento e suas conclusões coincidem com as de Muller. S. Clark, após dizer que a crítica de John Frame ao escolasticismo reformado não passa de um grande espantalho e que as críticas de Barth e Briggs foram analisadas e respondidas, testemunha que durante 20 anos fez a experiência de colocar seus alunos em contato com as fontes secundárias sobre o escolasticismo reformado, que foram escritas no século XIX e XX, e depois ao colocar tais alunos em contato com as fontes primárias, ele diz que “os alunos relatam consistentemente que o que encontram nas fontes primárias não é [compatível com] o que a literatura secundária mais antiga descreve”.[37]
O declínio do escolasticismo reformado se deu em paralelo com o declínio da filosofia aristotélica-cristã nas universidades europeias. Além das já confirmadas calúnias e falta de entendimento da mesma, os métodos do humanismo foram em si sendo mais e mais levados para um distanciamento da base filosófica que veio anteriormente a ele, se distanciando cada vez mais do método que foi predominante nas universidades no século XV, XVI e XVII. Como observado por Muller,[38] a ortodoxia tardia (que ele classifica como a última era do escolasticismo reformado) foi cada vez mais influenciada pelas várias escolas de filosofia racionalista, e foi assolada pelas marés da exegese histórico-crítica.
Com o subsequente surgimento de uma dogmática racionalista, o escolasticismo protestante chegou ao fim. Segundo Muller, o declínio da ortodoxia protestante coincide, portanto, com o declínio dos fenômenos intelectuais inter-relacionados do método escolástico e do aristotelismo cristão. A filosofia racional era incapaz de se tornar uma ancilla (serva, escrava) adequada da teologia e, em vez disso, exigiu que ela mesma, e não a teologia, fosse considerada a rainha das ciências. Sem uma estrutura filosófica adequada para pautar sua teologia, o escolasticismo reformado chegou a um fim.[39]
Atualmente, após a década de 70 do século passado, está havendo uma redescoberta do valor do escolasticismo reformado, como diz Scott Clark:
[…] após a publicação da dissertação de Jill Raitt sobre o pensamento de Teodoro de Beza acerca da Ceia do Senhor, chamada The eucharistic therology of Theodore Beza: development of the reformed doctrine [A Teologia Eucarística de Teodoro de Beza: Desenvolvimento da Doutrina Reformada] (Chambersburg: American Academy of Religion, 1972). A dissertação de PhD em Stanford, em 1974, de Bob Godfrey, sobre o Sínodo de Dort, incrementou o debate e continua sendo um recurso valioso para entender o assunto através da ótica da ortodoxia reformada precoce. No entanto, a maré só começou a mudar a favor da ortodoxia histórica em 1978, quando Richard Muller começou o que foi, por muitos anos, uma luta individual contra a concepção mais aceita da história do escolasticismo reformado. Na verdade, [essa concepção mais aceita] se tratava de um desvio do “gênio”, “espírito” e até da teologia da Reforma, que marcou uma volta ao “racionalismo” medieval e ao movimento espiritualmente estultificante que destruiu mais ou menos as igrejas reformadas e pavimentou o caminho para a ascensão do liberalismo.
Temos hoje grandes nomes do escolasticismo reformado, como Richard Muller, Antonine Vos, Paul Helm, Willem J. Van Asselt, Scott Clark, Asa Goudriaan etc.
Uma Sucinta Resposta a Schaeffer, Dooyewerd e Clark
Atualmente, apesar de fazermos uso exaustivo da lógica aristotélica, incoerentemente, alguns a consideram uma filosofia pagã e que por isso deve ser considerada um corpo estranho no cristianismo. Ademais, autores como Francis Schaeffer[40] e Herman Dooyeweerd[41] têm rejeitado a Teologia Natural e o tomismo com a acusação de que os mesmos nos levam a uma visão de um homem autônomo de Deus, pois separaria a graça e natureza. Além desses, temos Gordon Clark que tem acusado a teologia natural de Tomás de Aquino de empirismo[42], e são exemplos recentes e claros do que outrora fora criticado por Richard Muller, autores que analisaram o tomismo e a teologia escolástica, superficialmente e negativamente, e esquecendo que nossos pais acreditavam em uma teologia natural e que, mais importante, isso não nos leva ao empirismo ou separação entre graça e natureza.
Quanto à teologia natural, Francis Turretin afirma que os socinianos eram os que negavam a teologia natural, não os ortodoxos (referindo-se à teologia reformada):
Nossa controvérsia aqui é com os socinianos, que negam a existência de uma teologia natural ou conhecimento de Deus, e sustentam que o que pode parecer isso, em parte, fluiu da tradição transmitida desde Adão e, em parte, de revelações feitas em diferentes épocas (Socinio, Praelectiones theologicae 2 [1627], p. 3-7; Christopher Ostorodt, Unterrichtimg […] hauptpuncten der Christlichen Re/igion 3 [1612], p. 23-28). Os ortodoxos, ao contrário, uniformemente ensinam que há uma teologia natural, em parte inata (derivada do livro da consciência por meio de noções comuns [koinas ennoias]) e em parte adquirida (extraída do livro das criaturas, discursivamente).[43]
Joel Beek vai dizer que “entre os puritanos encontramos concordância geral sobre a veracidade e, portanto, a utilidade da teologia natural quando devidamente entendida”.[44] Para os puritanos, afirma Beeke o conhecimento de Deus é em parte natural e em parte sobrenatural quando é inato e adquirido, graça e natureza são inseparáveis e se reforçam mutuamente.
Sobre a acusação de que São Tomás separou natureza e graça, dr. Sproul emite o seguinte parecer:
Talvez nenhum outro pensador católico tenha sido mais difamado, mal interpretado e mal compreendido por críticos do que Tomás de Aquino. É amplamente aceito que o erro mais destacado de Tomás foi separar natureza e graça. Essa acusação é uma bobagem completa; nada poderia estar mais longe da verdade. Quem acusa Tomás de separar a natureza e a graça não entendeu o principal de sua filosofia, particularmente com o respeito a sua monumental defesa da fé cristã.[45]
Edward Feser,[46] tomista da mais alta cepa, observa que segundo Tomás de Aquino, todo o conceito de razão autônoma é um construto de iluminação. Quando Tomás de Aquino oferece suas cinco “provas” da existência de Deus, ele apenas demonstra que o teísmo cristão é racional e coerente. Ao usar esses argumentos, Tomás de Aquino não implica que todas as verdades da fé cristã devam, ou mesmo possam ser racionalmente demonstradas. Tomás de Aquino argumenta que a Trindade, a encarnação e outras doutrinas são consideradas apenas pela revelação, e não pela dedução lógica, dessa forma o conhecimento totalmente adequado de Deus não pode ser descoberto pela razão.
Não há, em parte alguma dos escritos de teólogos escolásticos que defenderam uma teologia natural, sejam eles reformados ou da Igreja de Roma, que defendam que há uma separação entre natureza e graça, senão que há uma distinção na ordem da razão. Aliás, esse era um aspecto basilar da crença puritana, que a graça não estava contra a natureza, e o fato de todos os puritanos aceitarem a utilidade da teologia natural concomitantemente com tal crença, já mostra derrota da acusação feita por Schaeffer e Dooyeweerd. Para escolásticos reformados, assim como se distingue a natureza divina e humana de Cristo, mesmo que as duas sejam inseparáveis, ou que se faça distinção entre as três pessoas da Trindade, mas sem separá-las, natureza e graça são apenas distintas, mas não separadas, pois se distinção equivalesse à separação, então seríamos nestorianos e triteístas.
Quanto às críticas de Gordon Clark, também não logram êxito. Clark diz que “Tomas, seguindo Aristóteles, sustentava que todo conhecimento surge na sensação”.[47] É de extrema ignorância dizer que para Santo Tomas e Aristóteles todo conhecimento surge na sensação. Para ele, na verdade, o conhecimento embora se inicie pela sensação, não se deriva totalmente dela, e pode, ademais, ultrapassá-la, como de fato acontece no conhecimento das realidades suprassensíveis (como Deus e as substâncias separadas).[48] O chamado aristotelismo-tomista está longe tanto das posições empiristas e sensualistas (de Locke, Hume e Condillac), como das racionalistas (de Leibniz, Wolff e Descartes), e defende uma síntese das exigências de um e outro, situando-se assim como uma posição intermédia onde convém afirmar certa capacidade nativa de universalidade no sujeito, e certa participação da experiência na construção do conhecimento, isso está de acordo com a defesa de Francis Turretin, que era um grande tomista reformado, e parece antecipar os erros dos teólogos supracitados. Turretin diz que “os ortodoxos, ao contrário, uniformemente ensinam que há uma teologia natural, em parte inata (derivada do livro da consciência por meio de noções comuns [koinas ennoias]) e em parte adquirida (extraída do livro das criaturas, discursivamente)”.[49]
Aliás, o ceticismo em relação aos sentidos, defendido por Clark e outros pressuposicionalistas, também é o argumento favorito dos céticos e dos espiritualistas cartesianos: o erro dos sentidos. Para dissipar a objeção basta destacarmos o fato de que para que o argumento seja válido é forçoso que o erro seja um fato, isto é, que seja real e percebido como tal; contudo, dizer que é real, é dizer que é verdade que nos equivocamos. Assim sendo, se é verdade que nos equivocamos algumas vezes, não é possível que nos equivoquemos sempre. Ademais, o erro só pode ser conhecido em relação com a verdade, tomamos consciência dele por oposição com juízos verdadeiros e conhecidos como tais. Se estivéssemos, portanto, em constante erro, tampouco teríamos a noção de erro. Consequentemente, a possibilidade de um erro universal dos sentidos está excluída na medida em que nos damos conta de que nos equivocamos acerca de determinada coisa.
Certamente, nossos reformadores jamais negaram o poder dos nossos sentidos. Turretini afirma que “é certo que nenhum conhecimento real nasce conosco, e que, nesse aspecto, a pessoa se assemelha a uma tábula rasa (tabulae rasae)”.[50] Obviamente ele não fala das realidades suprassensíveis, mas dos inteligíveis. O conhecimento divino, na teologia reformada ortodoxa, é natural e sobrenatural, parte inato, parte adquirido.
Conclusão
Desprezar a escolástica é desprezar os nossos pais reformadores. É ignorar que houve uma continuidade na teologia reformada que se utilizou muito da teologia medieval. É alimentar a ilusão e até mesmo a calúnia apologética papista de que a reforma protestante foi na verdade uma revolução e não uma reforma, o que não corresponde aos fatos. É isolar até mesmo os reformadores de seu próprio contexto medieval, pois eram homens de seu tempo. Alguns eram tomistas, outros escotistas, uns realistas, outros nominalistas, mas todos eram escolásticos de alguma forma. Algo notado por Richard Muller é o abandono dos termos da teologia escolástica,[51] o que tem sido danoso para a nossa teologia que tem sido tratada de forma simplista, reducionista e que muitas vezes temos nos alimentado de artigos de blogueiros (Vide Vincent Cheung) desprezando nossa tradição por uma falsa associação com o catolicismo romano, o que tem na verdade nos levado a heresias bem piores que o papismo, como o ensino de Cheung de que Deus é autor do pecado. O calvinismo clássico é escolástico, e é salutar se voltar para ele e procurar a crença dos nossos pais. Ela é sólida, é bíblica, é tradicional, logo, faz parte de nossa história.
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[1] MULLER, R. Vontade Divina e Escolha Humana: Liberdade, Contingência e Necessidade no pensamento reformado do início da Idade Média (São Paulo: Vida Nova, 2019) p. 21-22.
[2] The Reformed Freedom of the Will vs. Determinism. Disponível em: <https://reformedbooksonline.com/the-reformed-freedom-of-the-will-vs-philosophical-necessity/>. Acesso em: 26/12/2018.
[3]ASSELT, W.V.; ROUWENDAL, P.L. O que é Escolasticismo Reformado?. Disponível em: <http://www.seminariojmc.br/index.php/2018/01/02/o-que-e-escolasticismo-reformado-2/>. Acesso em: 25/03/2020.
[4] Alister McGrath dirá no seu livro, O pensamento da Reforma (Cultura Cristã, 2014, p. 82), que o escolasticismo “floresceu no período de 1200 a 1500”. Se com essa declaração ele quer dizer que o escolasticismo teve início no ano 1200, então contestamos totalmente tal afirmação, mas se com essa declaração ele quer dizer que esse período foi o auge do escolasticismo, então concordamos com tal afirmação.
[5] PERUTELLI, A.; PADUANO, G.; ROSSI, E. Storia e testi della letteratura latina. Zanichelli. 2010. p 01. Disponível em: <https://online.scuola.zanichelli.it/perutelliletteratura/files/2010/09/vol3_boezio.pdf>. Acesso em: 08/05/2020.
[6] BOEHNER, P.; GILSON, E. História da Filosofia Cristã (Petrópolis: Vozes, 1970) p. 210.
[7] É a precisão vocabular. O uso de termos claros e bem definidos para que o interlocutor saiba exatamente do que o autor está tratando ao ter contato com o pensamento do mesmo. Podemos citar como exemplo o caso do uso do termo “livre arbítrio” que foi amplamente usado por Calvinistas escolásticos como Francis Turretin e John Owen, mas que não tem o mesmo significado que é empregado pelos seus oponentes arminianos, nem tem o mesmo significado para os calvinistas modernos. Assim, é mister precisar bem o vocábulo, para não acontecer de defendermos uma teoria A, usando um autor que defende uma teoria B, embora A e B possuam os mesmos termos.
[8] Proposições são declarações que podem ser válidas e/ou verdadeiras. As proposições não são simples frases, mas declarações em que se usam conectivos para afirmar ou negar. Por exemplo, se eu digo: “Paulo, Papa”. Na frase não se diz nada sobre Paulo, nem afirma, nem nega, logo não pode ser uma proposição. Mas se eu digo: “Paulo não foi Papa”, então temos uma declaração com um valor de verdade ou de falsidade, isso é uma proposição. A simples palavra, que é a denominação vocal daquilo que se dá diretamente aos sentidos, não é verdadeira ou falsa até que seja julgada pela razão e possa assim ser afirmada ou negada algo sobre tal.
[9] Silogismo é quando a partir de duas ou mais proposições eu chego a uma conclusão que, se as proposições forem verdadeiras, a conclusão inevitavelmente será, por exemplo, se eu afirmo as duas proposições: 1 – Sócrates é homem; 2 – Todo homem é mortal; eu concluo que, sendo verdadeiro 1 e 2, podemos afirmar – necessariamente que Sócrates é mortal. A conclusão se segue necessariamente das proposições anteriores.
[10] Uma análise racional é em Aristóteles um conceito mais complexo, que passa pelas três operações do intelecto, que seriam: 1 – simples apreensão ou inteligência dos indivisíveis, onde se identifica as essências ou quididades das coisas; 2 – segunda operação do intelecto, cujo nome é juízo ou composição, pois se trata de um julgamento que é feito pelo intelecto, que julga a atribuição de quididades a outras quididades que foram apreendidas na primeira operação; 3 – a terceira operação se chama propriamente de raciocínio, que é onde se trata da questão propter quid ou “por que é”. Aqui entra as 4 causas de Aristóteles (material, eficiente, formal e final), só aí estaremos realizando o raciocínio propriamente dito. Para Aristóteles, o intelecto só funciona corretamente com a lógica, que é a arte de fazer a razão alcançar seu fim com facilidade, com ordem e sem erro. Explicar como se dão essas operações em detalhes nos levaria a mais outro artigo, portanto, para quem quiser se aprofundar no assunto, indicamos a leitura de Aristóteles, no livro 1, capítulo 1 de seu Peri Hermeneias e também Livro II da Física do mesmo autor, esse último para uma melhor investigação da terceira operação do intelecto e um estudo das causas.
[11] BARROS, J.D. A Escolástica em seu Contexto Histórico. Fragmentos de Cultura. Goiânia. v. 22. n. 3. p. 233. jul./set. 2012. Disponível em: <http://seer.pucgoias.edu.br/index.php/fragmentos/article/download/2348/1442>. Acesso em: 30/04/2020.
[12] A escolástica abrangeu todos os reformados, luteranos e calvinistas, no entanto, nesse artigo estaremos focando nos reformados de tradição calvinista.
[13]ASSELT, W.V. ROUWENDAL, P.L. O que é Escolasticismo Reformado?. Disponível em: <http://www.seminariojmc.br/index.php/2018/01/02/o-que-e-escolasticismo-reformado-2/>. Acesso em: 25/03/2020.
[14] MULLER, Richard A. Post-Reformation Reformed Dogmatic (Baker Academic: 2ª ed. Vol. 1., 2003) p. 30.
[15] MULLER, 2003, p. 31.
[16] Como exemplo, podemos citar o texto de 1 Coríntios 15.33, quando o Apóstolo usa uma frase de um autor grego chamado Menandro para ensinar os cristãos.
[17] BAVINCK, H. Dogmática Reformada: Deus e a criação (Cultura Cristã: Vol 2, 2012) p. 157-158.
[18] Prefácio à edição em inglês de BAVINCK, H. Teologia Sistemática: Fundamentos Teológicos da Fé Cristã. Socep, 2001, p.7.
[19] ZANCHI, G. apud BURCHILL, C. J. Girolamo Zanchi: portrait of a reformed theologian and his work. Sixteenth Century Journal. XV. Nº 2. 1984, p. 6. Tradução de Joel Pereira.
[20] CALVINO. Institutas. 1.15.6
[21] LESSA, V. T. Calvino, 1509-1564, sua vida e obra (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1985) p. 41.
[22] MULLER, 2019, p. 49.
[23] MULLER, 2019, p. 86-88
[24] Institutas, 1.13.3.
[25] MCGRATH apud LIMA, L.A. Uma Análise do Chamado “Novo Calvinismo”, de Seu Relacionamento com o Calvinismo e de Seu Potencial para o Diálogo com a Contemporaneidade. Dissertação apresentada ao programa de pós-graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências da Religião. São Paulo, 2009.
[26] BANG, C.O. Armínio, um Estudo da Reforma Holandesa (São Paulo: Reflexão, 2015) p. 69.
[27] HANKO. H. Retrato dos Santos Fiéis. (Joinville: Fireland Missions, 2013) p. 342.
[28] RULER, J.A. Nederlands archief voor kerkgeschiedenis / Dutch Review of Church History. Vol. 71, No. 1 (1991), pp. 58-91 NEW PHILOSOPHY TO OLD STANDARDS: Voetius’ Vindication of Divine Concurrence and Secondary Causality. Disponível em: <https://www.jstor.org/stable/24009394?read-5NXtqogX-DufSdAloMe-lr7nLh-UeN-Y- uo#page_scan_tab_contents>. Acesso em: 17/01/2019.
[29] Calvinist Thomism Revisited: William Ames (1576–1633) and the Divine Ideas. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=6PVCdOEtS6Y>. Acesso em: 20/10/2019.
[30] Tese essa desenvolvida por Santo Tomás de Aquino partindo do princípio de que “nada passa da potência para o ato, senão por outro ser em ato” e “tudo que se move é movido por outro”.
[31] ZANCHI, Girolamo. On The Law in General. CLP Academic. 2012. p. xxii.
[32] Seu maior defensor, recentemente, foi o teólogo Gordon Clark, que batizou o voluntarismo ético de Ex Lex.
[33]REID, J.K.S. apud The Reformed Freedom of the Will vs. Determinism. Disponível em: <https://reformedbooksonline.com/the-reformed-freedom-of-the-will-vs-philosophical-necessity/>. Acesso em: 26/12/2018.
[34] MULLER, 2019, p. 47.
[35] Richard Muller se refere a Alexander Schweizer, Heinrich Heppe e J H Scholten do século XIX que ensinavam um determinismo tão rígido que caía facilmente no ocasionalismo. Além desses, esse autor acrescenta que a escolástica reformada foi criticada também por Charles Augustus Briggs (1841-1913), por barthianos desde a década de 1930, por amyraldianos e outros desde as décadas de 1960 e 1970.
[36] MULLER, 2019, p. 23.
[37] CLARK. R. S. Anti-Scholasticism, Revival(ism), Pietism, Or The Reformed Theology, Piety, And Practice?
Or Why I Wrote Recovering The Reformed Confession. Disponível em: <https://heidelblog.net/2018/01/anti-scholasticism-revivalism-pietism-or-the-reformed-theology-piety-and-practice-1/>. Acesso em: 25/03/2020.
[38] MULLER, Richard A. Post-Reformation Reformed Dogmatics. Baker Academic 2ª ed. Vol. 1. 2003, p.80.
[39] MULLER, 2003, p. 81.
[40] SCHAEFFER, F. A morte da razão (São Paulo: Cultura Cristã, 1989) p. 9-10.
[41] DOOYEWEERD, H. Reformation and Scholasticism in Philosophy Reformation Publishing Project, 2012. Disponível em: <https://facebook.com/photo.php?fbid=2160128534065675&set=a.377810868964126&type=3>. Acesso em: 23/05/2019.
[42] CLARK, G. Aquinas. Disponível em: <https://gordonhclark.reformed.info/aquinas-by-gordon-h-clark/>. Acesso em: 20/10/2019.
[43] TURRETINI, F. Compêndio de Teologia Apologética (São Paulo: Cultura Cristã, 2011) p. 45.
[44] BEEKE, J. R. JONES, M. Teologia puritana: doutrina para a vida (São Paulo: Vida Nova, 2016) p. 36.
[45] SPROUL. R.C. Filosofia para iniciantes (São Paulo: Vida Nova, 2010) p. 69.
[46] FESER E. Aquinas: A Beginner’s Guide. London. Oneworld. 2009 apud COOPER, J. LIOY, D. The Use of Classical Greek Philosophy in Early Lutheranism. Conspectus: The Journal of the South African Theological Seminary, Volume 26. Número 1. Set 2018, p. 1–26. Disponível em: <https://journals.co.za/content/journal/10520/EJC-141a1c6512>. Acesso em: 25/03/2020.
[47] CLARK, G. Aquinas. Disponível em: <https://gordonhclark.reformed.info/aquinas-by-gordon-h-clark/>. Acesso em: 20/10/2019
[48] “Substâncias separadas” é o termo filosófico para Anjos na teologia cristã, não confundir com o conceito de “substância separada” usada por Aristóteles, que correspondia aos astros celestes.
[49] TURRETINI, F. Compêndio de Teologia Apologética (São Paulo: Cultura Cristã, 2011) p. 45.
[50] TURRETINI, F., 2011, p. 45.
[51] Para o aprendizado de termos técnicos escolásticos reformados, vejam a obra TOURINHO, F. O Calvinismo Explicado (Rio de Janeiro: Dort, 2019).
Artigo muito bem feito e esclarecedor. Negar a herança do pensamento medieval é negar o maior monumento já criado pelo pensando cristão.
O autor transformou Calvino em um escolástico, e os puritanos da CFW também. Não falou em influências somente, mas em convicções escolásticas presentes na construção teológica desses. Não há base histórica para essas afirmações, podem haver citações, mas sem qualquer confirmação histórica. Somos todos escolásticos então, devemos a eles, nossa relevância e teologia. Elogios a um período de espiritualidade árida e desconstrucionista que abriu caminho para o liberalismo teológico. Texto forçado!
Como não há, basta dar uma rápida leitura na Dogmática Reformada de Bavinck, ou em Van Asselt, Richard Muller que essa negação cai por terra. Havia convicções escolásticas tais como a linguagem aristotélica, a metafísica tomista ou scotista (dependendo do teólogo), como a própria natureza do discurso. Agora, é mais errado ainda afirmar que a espiritualidade árida tem como causa primária o escolasticismo, visto que trata-se apenas de um método de teologia para acadêmicos. Uma das coisas que os teólogos claramente sabiam distinguir era a erudição exigida nas academias com o público leigo que ouviam suas pregações, e dado que o puritanismo surge em um tempo da alta escolástica, é equívoco afirmar que isto seja culpa de um método.