Era Júnia uma apóstola?

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1. Introdução

A questão do gênero e posição de Júnia(s) na igreja primitiva voltou a ser discutida após a decisão da Ordem de Pastores Batista em aceitar a ordenação feminina ao ministério pastoral. De acordo com os defensores da ordenação feminina, Júnia(s) figura como mulher entre os apóstolos do primeiro século. Não apenas ela é contada entre os apóstolos, mas é proeminente entre eles. Em resposta a essa afirmação, muitos evangélicos afirmam que Júnia(s) era na verdade um homem, um companheiro ministerial de Paulo à estatura de Epafrodito, Timóteo e outros. De fato, a questão é complexa e traz importantes implicações para a práxis pastoral contemporânea e, portanto, precisa ser analisada com a devida atenção.

A primeira evidência da complexidade do assunto encontra-se na falta de clareza nas traduções em português. A grande maioria das traduções verte o texto como se Júnia(s) fosse de fato um homem (Júnias, cf. ACF), ao passo de que apenas algumas traduções mais recentes a apresentam como mulher (Junia, cf. NVI). Entretanto, o leitor não é notificado de que a sutil inclusão ou exclusão do s no fim da palavra poderia descrever um homem ou uma mulher.

A segunda evidência é a divergente opinião dos comentaristas sobre o significado do texto. Em geral, comentários populares parecem incertos quanto ao gênero e posição de Júnia(s), e portanto, são de pouco auxílio aqui.1  Alguns comentaristas parecem certos de que Júnias era um homem, mas sem certeza se ele era um apóstolo ou não.2  Calvino, por exemplo, não oferece qualquer discussão sobre o gênero de Júnia(s) e afirma que ambos Andrônicos e Júnia(s) são apóstolos no sentido mais abrangente do termo.3  Lutero, na sua tradução para o Alemão usa a expressão den Andronikus und den Junias (lit. o Andrônico e o Júnias),  no seu livro sobre o ministério cristão os chama de homens notáveis  e em suas palestras em Romanos ele vai ainda além: “Saúdem a Andrônicos, o homem, e Júnias, da família Juniana, que eram homens de renome entre os apóstolos.”6  Outros parecem certos que Júnia(s) é de fato uma mulher, mas entendem que ela não faz parte do ministério apostólico.7 Há ainda quem defenda que Júnia(s) é uma mulher e parte do ministério apostólico da igreja primitiva.8 A diversidade de opiniões nesse assunto dificulta o diálogo sobre o sentido e significado do texto, que acaba sendo definido em termos de preferências teológicas pessoais.

Por fim, a complexidade do assunto é também ressaltada pelo ambiente cultural dos nossos dias. Diferente de outros momentos da história, nossos dias são marcados por um intenso debate relacionado ao papel da mulher no ministério impulsionado pelo feminismo da nossa era. Nesse cenário, apresentar uma opinião que manifeste a prioridade masculina no ministério soa como machismo fundamentalista, do mesmo modo que, qualquer manifestação de uma opinião contrária ao consenso evangélico se parece com feminismo, ou com alguma forma de liberalismo.

Por isso, nesse artigo pretendemos apresentar as questões relacionadas à (1) forma do texto, (2) ao gênero de Júnia(s), e (3) sua posição em relação aos apóstolos. Nossa intenção é apresentar de modo introdutório as evidências conhecidas com o objetivo de analisá-las à luz do texto de Rom.16, da gramática e morfologia do Grego Koinê. Desse modo, não intencionamos apresentar uma análise teológica sistematizada do ministério feminino na igreja primitiva ou contemporânea. O foco dessa análise subjaz primariamente na forma, sentido e significado do texto e suas implicações para o ministério feminino na igreja.

2.Sobre a forma do texto

O primeiro aspecto a ser analisado é relacionado à forma original do verso. Dois problemas textuais nesse verso serão observados: (1) O primeiro diz respeito à identidade de Ἰουνiαν [Junia(s)], e (2) o segundo diz respeito à conexão da expressão “eles estavam em Cristo antes de mim” no fim do verso. Como ficará evidente, a história da transmissão desse texto conta parte da história da interpretação do mesmo bem como suas dificuldades interpretativas.

2.1 Identidade de Ἰουνiαν

A verdade a respeito do gênero de Júnia(s) é muito mais simples e complexa do que alguns pensam: a diferença entre um nome masculino e feminino é apenas uma questão de acentuação. O termo grego Ἰουνιαν é o termo usado por Paulo, e se tiver um acento agudo na paroxítona o termo é feminino (Ἰουνίαν, Júnia), se tiver o acento circunflexo na oxítona (Ἰουνιᾶν, Júnias) o termo é masculino. A simplicidade da diferença faz com que o assunto se torne extremamente complexo, especialmente pelo fato de que os manuscritos gregos só passaram a ser acentuados depois do sétimo século dC.

Para deixar o estudo ainda mais interessante, o texto de Rom.16.7 tem uma interessante variante textual exatamente na descrição da pessoa que acompanha Andrônico. Ἰουνιαν é a forma textual apresentada no NA28 e é claramente bem atestada por uma ampla variedade de manuscritos (Ψ, L, D2), incluindo os mais antigos unciais (א, B, A). É também preservada por minúsculos tardios (0150 33 81 88 104 1881 1877 1852 1739 1573 1319 1241 1175 630 629 614 459 451 436 424 365 330 326 263 256 181 1962 1984 1985 1991 1912 2127 2200 2492 2495), bem como por antigas versões Itálicas (itd itdem ite itf itg vg), Sírias (syrp syrh) e Copta Saídica e Armênia. Entretanto, o mais antigo manuscrito da literatura paulina,  ?46 atesta que o nome da pessoa descrita com Adrônico é na verdade Ἰουλίαν (Júlia). Essa leitura é também atestada pelas versões Itálicas (itar itb itc itgig itx itz) em alguns manuscritos da Vulgata (vgmss), Copta Boárica e da versão Etíope. Alguém até poderia apontar para o fato de que a leitura variante além de antiguidade dispõe de certa distribuição geográfica, mas mesmo assim ela é ainda muito mal atestada. Deve-se lembrar também que o escriba responsável pela produção do ?46 eventualmente oferece leituras singulares para nomes próprios.9 Fato reforçado pelo fato de que no verso v.15, o mesmo escriba substitui Ἰουλίαν (Júlia) por Ἀουλίαν (Aoúlia),10 criando uma leitura única entre as evidências textuais. Dessa forma, fica claro que a evidência externa a favor da leitura apresentada na NA28 é sem sombra de dúvidas superior. No entanto, deve ficar evidente que ainda que ᾽Ιουνιαν seja considerada a leitura original do texto, pouco podemos dizer sobre seu gênero, pois os mais antigos manuscritos não eram acentuados. Aliás, Meztger sobre esse problema textual atesta que “[c]om base no peso da evidência manuscrita, o Comitê [da UBS3] foi unânime em rejeitar Ἰουλίαν (…) em favor de Ἰουνiαν, mas ficou dividido a respeito do como o termo deveria ser acentuado.”11 Do ponto de vista das evidências internas, a diferença entre Ἰουνιαν/Ἰουλίαν pode ser facilmente explicada por algum problema de audição, visto que a pronúncia de ambas grafias são similares. É ainda possível sugerir um possível problema de transcrição, visto que o nome Ἰουλίαν também aparece no v.15a, entretanto, pouco provável. Devido ao fato de a forma não acentuada Ἰουνiαν poderia indicar um nome tanto masculino como feminino é improvável que uma mudança de Ἰουνιαν para Ἰουλιαν tenha acontecido por uma razão teológica ou sociológica.

No entanto, dado o fato de que existe uma ambiguidade implícita sobre o gênero de Ἰουνιαν, é mais provável que um escriba tenha alterado para Ἰουλιαν para fornecer texto como menos ambígua, se é que uma alteração intencional é esperada aqui. Portanto, acreditamos que, neste caso a evidência externa apresenta um cenário improvável para justificar a variante Ἰουλιαν como leitura original do texto. Além disso, a evidência interna aponta para o fato de que Ἰουνiαν é uma leitura mais difícil que Ἰουλιαν. Sendo assim, entendemos que a leitura apresentada na NA28 deva ser considerada como a leitura original. Entretanto, é interessante notar que o mais antigo testemunho textual das cartas paulinas não hesitou em utilizar um nome claramente feminino nesse verso. Em outras palavras, a variante textual indica que os antigos copistas, em contraste com comentadores modernos, não tinham problema em encontrar aqui uma referêcia a uma mulher. Por outro lado, afirmar que Ἰουλιαν era a leitura original é ir além das evidências.

2.2 Quem estava em Cristo antes de Paulo?

Ainda no v.7 encontramos outro problema textual com três diferentes variantes textuais. Na última parte do verso encontramos a leitura adotada pela NA28 οἳ καὶ πρὸ ἐμοῦ γέγοναν ἐν Χριστῷ (eles estavam em Cristo antes de mim). Nessa leitura, o pronome relativo nominativo plural (οἳ) faz referência direta ao sujeito a οἵτινές (eles) apresentado na sentença anterior, que por sua vez é uma referência tanto a Andrônicos e Júnia(s). Nesse caso a dupla/casal estava em Cristo antes de Paulo. A segunda variante (v2) apresenta a seguinte leitura τοῖς πρὸ ἐμοῦ γέγοναν ἐν Χριστῷ (aqueles que estão em Cristo antes de mim) e o artigo, dativo plural (τοῖς) é entendido em aposição a τοῖς ἀποστόλοις (os apóstolos) qualificando o tipo de apóstolo apresentado por Paulo aqui. Em outras palavras Paulo estaria dizendo que Andrônico e Júnia(s) fariam parte do grupo apostólico que estava em Cristo antes mesmo de Paulo. A terceira variante (v3) verte ὅς καὶ πρὸ ἐμοῦ γέγοναν ἐν Χριστῷ (o qual estavam em Cristo antes de mim).

O suporte manuscrito para a NA28 é superior, mas é dividido. Os mais importantes manuscritos suportam essa leitura (A B 630 1739; cf. 1881), mas o Sináitico (א) não inclui o pronome relativo οἳ, que foi adicionado por um corretor (אc). Há ainda uma leitura secundária dessa variante que apresenta a forma verbal distinta, γεγόνασιν, que é amplamente atestada por manuscritos secundários12 (C P Ψ 33 81 88 104 181 326 330 436 451 614 629 1241 1877 1962 1984 1985 2127 2492 2495 Byz Lect). Aparte da ausência do pronome relativo no Sinaítico, pouca diferença faria a alteração do perfeito (γέγοναν) para o aoristo (γεγόνασιν) nesse caso. Entretanto, fica evidente que a leitura com perfeito é mais antiga. A v2 não dispõe de abundante evidência, sendo apresentado basicamente como uma leitura primariamente Ocidental (D G itar itd* ite itg itgig Ambrosiaster), com a excessão da versão copta boárica (copbo). O que é interessante nessa leitura, entretanto, é o fato de que ela conecta Andronico e Junia(s) com o grupo apostólico original. Nesse caso, eles seriam parte do grupo seleto e antigo de apóstolos da igreja primitiva. O que é ainda mais interessante é que o texto ocidental é conhecido por suas tendências anti-feministas,13 o que faz dessa leitura extremamente significativa na tradição ocidental. A v3 é apenas suportada apenas pelo ?46, o que parece sugerir que a leitura presente na NA28 é a original do texto.

Do ponto de vista das evidências internas, é evidente que a leitura presente no ?46 trata-se de um equívoco gramatical. O pronome relativo masculino singular não pode ser conectado a nenhum antecedente nessa frase. Alguém poderia sugerir que ele refere-se exclusivamente a Andrônico, claramente singular e masculino, mas essa construção seria completamente imprópria visto que o verbo γέγοναν está na terceira pessoal do plural. Entretanto, é possível que a leitura do ?46 seja fruto de um problema de vista, visto que a alteração de ΟΙ (NA28) para ΟΣ (?46) não é improvável. Se esse é o caso, então a leitura do ?46 atesta a antiguidade da leitura encontrada na NA28. É essa conclusão é consistente com a qualidade do escriba responsável pela reprodução do ?46, que eventualmente apresenta equívocos gramaticais devido a variação ortográfica que eventualmente produz leituras sem sentido.14 Como já mencionamos, a v2 não é bem atestada externamente, mas trata-se da leitura mais curta, é mais difícil do que a encontrada na NA28 e poderia facilmente explicar o surgimento das outras leituras, do ponto de vista estritamente textual. Não seria fácil explicar essa leitura a partir de um problema auditivo, visto que o som estritamente gutural do pronome relativo οἳ dificilmente seria confundido com o som estritamente palatal do artigo τοῖς, embora problemas similares a esse são também encontrados em outros lugares. Por outro lado, τοῖς poderia ser facilmente a adição de um escriba que compreendeu equivocadamente que οἳ se referia aos apóstolos e então alterou para τοῖς, clarificando o sentido que ele viu no texto. Em outras palavras, a leitura presente na NA28 também poderia explicar o surgimento da v2. Portanto, não encontramos suficiente razão para considerá-la como original. Além do mais, ainda que do ponto de vista textual a v2 pudesse explicar o surgimento da leitura da NA28, qualquer tentativa de demonstrar isso a partir das evidências externas estaria fadada ao fracasso pela natureza absolutamente secundária e tardia da leitura da v2. Portanto, concluímos que a leitura apresentada na NA28 deve ser tomada como original. Por outro lado, reconhecemos que historicamente comunidades cristãs ortodoxas não encontraram problemas em identificar Andrônico e Júnia(s) como integrante do ministério apostólico.15 

3. Sobre o gênero de ‘Ioynian

A questão do gênero do termo Ἰουνιαν é cercada de dificuldades que pretendemos apresentar resumidamente aqui: (1) O primeiro deles é relacionado ao critério escolhido por alguns teólogos para definir se o mesmo é masculino ou feminino; (2) outro importante fator a ser considerado aqui é o texto crítico e suas traduções, especialmente no século passado; (3) também pretendemos apresentar a opinião evangélica contemporânea e sua influência na produção teológica; (4) também vamos analisar problemas relacionados à natureza do termo; e (5) por fim, vamos analisar as evidências conhecidas para apresentarmos nossa conclusão.

3.1 A questão do critério

O primeiro problema a ser considerado aqui é a questão do critério usado para definir se Ἰουνιαν é masculino ou feminino. Alguns teólogos evangélicos acreditam que o critério para definir o gênero de Ἰουνιαν é a definição do termo ἀποστόλος (apóstolo) no texto. Se o termo ἀποστόλος for uma referência aos apóstolos de Cristo, então o termo é masculino visto que o Senhor não nomeou nenhuma mulher para o cargo de apóstolo durante seu ministério. Se, por outro lado, ἀποστόλος é entendido de modo genérico, como um missionário, emissário ou colaborador ministerial Ἰουνιαν poderia ser feminino.16 Por outro lado, há quem diga que Ἰουνιαν deve ser feminino por que ἀποστόλος descreve aquelas pessoas designadas pelo Cristo ressurreto para levar o evangelho, fazendo de Júnia a primeira apóstola.17
 
Entretanto tal abordagem é circular e indevida. Se a pergunta a ser respondida pelo texto é a existência do ministério apostólico feminino na igreja primitiva, a resposta negativa ou positiva não deve ser incluída como evidência a ser analisada. Metodologicamente essa abordagem é imprópria. Ademais, não é prudente definir questões léxicas baseadas em preferência teologia. Existem ferramentas apropriadas para se investigar questões léxicas e nominais. Entretanto, é aqui que encontramos mais um problema no estudo do gênero de Júnias(s).

Por exemplo, o Thayer’s Greek Lexicon, apesar de estar largamente desatualizado18 ainda é um dos léxicos mais utilizados no estudo teológico. Segundo esse léxico, Ἰουνιᾶς é a forma grega contraída do nome latino masculino Junianus e descreve um cristão romano convertido do judaísmo.19 De modo similar, o Vocabulary of the New Testament afirma que o nome Ἰουνιᾶς (masc) não é encontrado em lugar algum, exceto em Rom.16.7, e que é provavelmente a forma contraída do nome Iunianus.20 A segunda edição do A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature  de modo similar apresenta Ἰουνιᾶς como substantivo próprio masculino e também alude a possibilidade de ser uma contração do nome latino Junianus e completa: “A possibilidade, do ponto estritamente léxico, deste substantivo ser o nome de uma mulher Ἰουνία, ας, Júnia (…) é provavelmente descartada pelo contexto.”21 Que evidência apresentaria o contexto para validar tal afirmação? Infelizmente, ambos Moulton-Milligan e BAGD apontam para o comentário de Hans Lietzmann e para algumas gramáticas. Para piorar, no seu comentário Lietzmann defende a grafia masculina Ἰουνιᾶς (assumindo a contração do nome latino Junianus), por que “as próximas descrições especificam um homem,”22  sendo essa uma conclusão largamente equivocada! As expressões τοὺς συγγενεῖς μου καὶ συναιχμαλώτους μου (meus compatriotas e meus companheiros de prisão) devem ser masculina e plural em função da natureza composta da referência. Em grego, como em português, quando substantivos são usados para descrever um grupo de pessoas ele é necessariamente masculino plural. Observe, por exemplo, que Paulo descreve Priscila e Áquila no v.3 como τοὺς συνεργούς μου (meus companheiros). O termo masculino plural (τοὺς συνεργούς) aqui refere-se apenas a natureza composta da referência (Priscila e Áquila), e seria um equívoco assumir por isso que Priscila é na verdade um homem! Entretanto, foi exatamente o que fez Lietzmann (!). Além disso, as antigas gramáticas gregas continham uma seção dedicada ao estudo de nomes apresentados no NT, especialmente aqueles que eram importados de outros idiomas. Quase que inequivocamente tais obras apresentavam Ἰουνιᾶς como um nome masculino, mas que poderia possivelmente ser feminino.23 São essas as gramáticas mencionadas nos léxicos mais usados na produção teológica, o que nos oferece uma clara visão do problema do critério relacionado ao gênero de Ἰουνιαν.

Apenas recentemente o A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature foi atualizado e uma nova entrada foi adicionada. Além da antiga nota do BAGD para Ἰουνιᾶς, agora o BDAG inclui a definição Ἰουνία como “compatriota ou parente de Paulo, alguém que esteve aprisionada com Paulo e distinta entre os apóstolos.” Além disso, o BDAG corrige a nota do BADG ao usar o comentário de Lietzmann, e afirma que tal autor não apresenta qualquer evidência para afirmar que o contexto elimina a possiblidade de que tal nome possa ser de fato feminino.24 Mas, o mesmo não pode ser dito de das gramáticas mais recentes, afinal A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature (1961) continua a defender que Ἰουνιᾶς descreve um nome masculino.25

Em outras palavras, até recentemente não existam referências a possibilidade de que Ἰουνιας descrevesse de fato um nome feminino. Não é à toa que comentários desse mesmo período iriam apontar para o fato de que a evidência léxica era de fato favorável a descrição de um nome masculino. Um excelente exemplo desse fato é o comentário de Sanday e Headlam que afirma: “Existe alguma dúvida quanto ao fato se esse nome é masculino (…) uma contração de Junianus, ou feminino, Júnia (…) Se Andrônico e Júnias estão incluídos entre os apóstolos, como é bem provável, então é mais provável que o nome seja masculino.” 26

3.2 O problema do texto crítico e das traduções

Outro problema a ser lembrado é que o texto crítico é normalmente considerado o texto original para a pesquisa teológicas. Pastores, teólogos e exegetas debruçam-se sobre ele para dele extrair suas conclusões teológicas. Em 1927 a 13a. edição do texto de Erwin Nestlè não apenas o texto trazia a acentuação masculina de Ἰουνιᾶν, mas também apresentava tal leitura sem qualquer menção da possibilidade da acentuação feminina. Esse fato é importante a ser lembrado, pois até então a acentuação das edições anteriores de Nestlè incluíam a acentuação feminina, sem qualquer nota sobre a possibilidade de acentuação masculina.

Agora, não apenas as ferramentas léxicas sugeriam que o Ἰουνιᾶν era a forma textual mais adequada, mas também o texto crítico trazia seu suporte. Em 1930, uma nova edição do texto Nestlè mantinha a acentuação masculina, mas adicionou uma nota apontando para o o texto de Westcott-Hort (1881), Tischendorf (1841) e Weiss (1900) que usavam a acentuação feminina, mas sem qualquer indicação de evidência manuscrita para tal leitura. Pouco tempo depois, a edição crítica do texto do NT editado por  Augustinus Merk, Novum Testamentum Graece et Latine (1933) também trazia a acentuação masculina, mas sem qualquer nota ou explicação para a evidência. O mesmo caso se repetiu nas edições de Bover (1943), Kilpatrick (1958), Tasker (1964), UBS1 (1966), Nèstle (1972), Nestlè-Aland (1979) e na reedição da UBS2 (1975). Em outras palavras, as mais importantes ferramentas de pesquisa do século passado estavam unânimes em qual seria a leitura original do texto. Não é à toa que a opinião contemporânea a respeito de Júnia(s) favorece fortemente a identificação masculina o termo.

Baseados nesses textos e na influência da academia desse período, quase todas as traduções inglesas produzidas na ocasião vertiam o texto com a forma masculina do termo. Por exemplo, as traduções de Fenton (1903), Moffat (1913), Ronald Knox (1945), Noli (1961) vertiam o termo de modo masculino, bem como as versões Modern Reader’s Bible (1907), RSV (1946), Amplified New Testament (1958), NEB (1961), NASB (1963), JB (1966), GNB (1966), LB (1971), NIV (1973), NJB (1985), The Message (1993) e CEV (1995). O mesmo aconteceu com as traduções em português desse período, afinal a Versão Brasileira (1917), Versão de Matos Soares (1932), Almeida Revista e Atualizada (1956), Ave-Maria (1957), Versão dos Monges Beneditinos (1959) Almeira Revista e Corrigida (1969), Bíblia de Jerusalém (1981), Bíblia na Linguagem de Hoje (1988), Almeira Revista e Atualizada 2a Edição (1993), Almeida Revista e Corrigida (1995), todas incluíam a leitura masculina do termo. Apenas recentemente, a NVI (2001) usou a forma feminina do termo e a NTHL (1998) introduziu o termo “irmã” para clarificar a referência feminina do termo.

Entretanto, o a produção de textos críticos não foi tão monolítica assim como pensam alguns, afinal algumas edições desafiaram à esse consenso. Em 1982 Zane Hodges e Arthur Farstad publicaram o The Greek New Testament According to the Majority Text no qual incluíram a acentuação feminina, entretanto sem qualquer nota explicativa para o caso, ou menção da possibilidade de acentuação masculina. Entretanto, na nova edição do texto da UBS3 (1993) e Nestlè-Aland (1993) a forma do texto voltou a ter acentuação masculina, mas uma nota foi adicionada com uma possível leitura alternativa com acentuação feminina. Uma nova mudança na forma do texto foi introduzida, entretanto, na Jubilee Edition de Nestlè-Aland (1998, reimpressa em 2001) e da UBS4 (1998) no qual aceitaram a leitura feminina, sem citar a possibilidade de a acentuação ser masculina. Já no aparato crítico da UBS4, a leitura Ἰουνίαν (fem) recebe a nota {A} entendendo essa forma textual como certa. Isso justificaria a razão de que apenas recentemente traduções passaram a considerar a possibilidade de o termo ser uma referência a uma mulher. A mais recente edição do texto do Nestlè-Aland (NA28, 2012) traz a acentuação feminina como o texto original. O mesmo aconteceu com o UBS5, publicado mais recentemente.

3.3 A opinião evangélica contemporânea

Desde que Piper e Grudem publicaram o livro Recovering Biblical Manhood and Womanhood (1991), a opinião evangélica contemporânea parece ter flutuado em torno da pesquisa que eles apresentam nesse livro. No que se refere ao gênero de Ἰουνιαν, eles afirmam: “Não se pode estabelecer definitivamente se Júnias era uma mulher. O nome pode ser a contração de um nome masculino, Junianus.27 Em uma nota de rodapé anexa a essa afirmação, Piper e Grudem apresentam larga evidência de léxicos e gramáticas que apontam para o fato de que não existem evidências léxicas ou gramaticais que atestem que Ἰουνιαν “não pode ser a forma contraída o nome masculino Junianus, e que todos os que comentam sobre ele (Robertson, BDF, BAGD, Thayer e Moulton & Milligan) afirmam que não apenas ele poderia ser, mas que é provável ou possível que é um nome que pertence a um homem.”28  Como fica evidente, Piper e Grudem usam as mesmas gramáticas apontadas pelos léxicos mais usados para o estudo teológico, tem o suporte do texto crítico e apresentam uma opinião que parece mui bem substanciada por evidência léxica.

Não à toa, Piper e Grudem tornaram-se referencia no assunto e passaram a influenciar a produção de artigos sobre o assunto. Em outro lugar, Piper e Grudem afirmam terem pesquisado no Thesaurus Linguae Graecae e terem encontrado evidência suficiente para afirmar que Ἰουνιαν pode descrever tanto um nome masculino como feminino e que os pais da igreja estão divididos sobre o assunto. Eles também sugerem que Epifânio deva ser considerado como confiável por ter acesso a mais informações relacionadas a Ἰουνιαν, e concluem que é mais provável que de fato que tal nome descreva um homem.  Em consonância com Piper e Grudem, Augustus Nicodemus (1996) afirma que “a conclusão é que não podemos saber com certeza se Júnias era uma mulher — mais provavelmente era um homem. É por isto que a maioria das traduções modernas, onde possível, traduzem Júnias como masculino (e não Júnia, feminino).”30  Observe que Nicodemus também usa como evidência as traduções contemporâneas, e como demonstramos as evidências fazem jus à sua conclusão. Debaixo da mesma influência, Carlos Osvaldo conclui: “Júnias, que é chamada de notável entre os apóstolos (Rm 16.7), poderia na verdade ser o Junias, dada a natureza ambígua dos nomes latinos terminados em -as.”31 De modo interessante, o Carlos anexa uma nota de rodapé e aponta para o artigo do Nicodemus como um artigo que trata do assunto com equilíbrio e não com paixão.

Mais recentemente, Grudem escreveu o livro Evangelical Feminism and Biblical Truth (2004) no qual retomou o problema do gênero de Ἰουνιαν, mas manteve algumas de suas conclusões apresentadas no livro em parceria com Piper. Na ocasião, a pesquisa relacionada a Ἰουνιαν já tinha avançado, mas as convicções pessoais de Grudem ainda não tinha sido alteradas. Ele ainda mantém que o nome é ambíguo e que não se pode saber se é masculino ou feminino.32  Apesar de ter interagido com a possibilidade de que Ἰουνιαν na verdade fosse uma referência a um nome feminino em latim, ele mantém que essa é a apenas uma possibilidade, visto que poderia ser também a contração de um nome latino masculino. No que se refere à pesquisa de Grudem, o que é mais interessante é que no seu livro mais recente sobre o assunto, Evangelical Feminism – A New Path to Liberalism?, Grudem evitou completamente qualquer comentário referente a Júnia(s), cujo caso é se quer mencionado no livro.33 

Como ficou evidente em nossa apresentação, o problema do critério para a definição do gênero de Ἰουνιαν em Rom 16.7, já vista nos antigos léxicos, gramáticas e textos críticos, influenciou largamente a produção teológica evangélica contemporânea e quase cristalizou a opinião de não se poder definir com certeza se Ἰουνιαν é masculino ou feminino, mas que mais provavelmente Ἰουνιαν é uma referência a um homem.

3.4 A questão da morfologia do termo

Como já mencionamos, a grafia não acentuada de Ἰουνιαν poderia indicar um nome tanto masculino como feminino. A terminação aparentemente feminina do termo não necessariamente indicaria que o nome descreve uma mulher, pois em grego Koine existem substantivos nominais da primeira declinação que descrevem nome de homens. Em Rom.16.14-15 encontramos três nomes masculinos que são declinados como substantivos femininos: Πατροβᾶν, Ἑρμᾶν e Ὀλυμπᾶν. Outros exemplos como esse são encontrados por todo o NT , como Ἀντιπᾶς (Ap.2.13), Θευδᾶς (At.5.36), Ἀρτεμᾶς (Tt.3.12), Ζηνᾶς (Tt.3.13), Δημᾶς (Cl.4.14; Fl.1.24; 2Tm 4.10) entre outros. Por outro lado, essa terminação é também frequentemente usada para nomes femininos em grego, como Μαρἰα (Mat. 13.55; Luk.1.27; At.1.14) Μαρθα (John 11.1), Πρίσκα (Rom.16.3) ou Πρίσκιλλα (At.18.2), Τρύφαινα, Τρυφῶσα (Rom.16.12), Ἰουλία (Rom.16.15) entre outros. Como fica evidente, do ponto estritamente morfológico, nenhuma conclusão razoável é possível a parte da acentuação de Ἰουνιαν. De fato, qualquer conclusão baseada somente na morfologia do termo está fadada ao fracasso, dada a intrínseca ambiguidade dos substantivos nominais de primeira declinação no que se refere ao gênero.

3.5 O problema da teoria da contração

Isso não significa que então que nenhuma decisão é possível sobre o assunto. A teoria mais comum sobre o gênero de Ἰουνιαν é que o mesmo trata-se de uma contração de um nome latino Iunianus, e portanto descreve um nome masculino. Essa opinião, frequentemente mencionada em materiais evangélicos contemporâneos, já era apresentado nos antigos léxicos e gramáticas. Aliás, em 1844 Henry Alford já fazia menção desse fato no seu Greek New Testament.34 Entretanto, é bem provável que tal teoria esteja errada. De modo geral, Peter Lampe afirma: “As modernas gramáticas suportam a leitura masculino ao teorizar que ‘Júnias’ era a contração de ‘Junianus’, mas sem serem capazes de citar qualquer evidência para essa teoria.” 35

O primeiro problema da teoria da contração é que o suposto nome masculino Ἰουνιᾶς/Iunias não é encontrado em nenhum documento Grego ou Latino sobrevivente do período do NT.36 Se a forma contraída, seja latina ou grega, não foi encontrada em lugar algum, como se pode saber que era uma contração? O segundo problema, é que não se pode confirmar se Iunianus foi realmente contraído para Iunias ou se é que foi contraído, pois a forma contraída não foi até então encontrada.37 É evidente que a ausência de evidência não implica em evidência de ausência. Por outro lado, o fato de que o nome feminino Ἰουνίας é encontrado pelo menos duas vezes fora da literatura cristã,38 parece sugerir que a existência de evidência de um nome feminino favorece a identificação de Ἰουνιαν como um nome feminino. Ao menos, deve-se concluir que a evidência disponível aponta para um nome feminino. Aliás, se o nome Ἰουνίας for na verdade a transliteração grega do latim Iunia, temos que considerar a referência de Paulo como necessariamente feminina. Evidencia para essa afirmação parece não faltar, pois o nome feminino latino (Iunia) foi encontrado em mais de 250 referências somente em Roma, enquanto o nome masculino (Iunias) não é encontrado em lugar nenhum.39 Também vale a pena notar que a mudança de opinião entre BADG (2ed.) BDAG (3ed) sugere que os recentes avanços no estudo do assunto apontam para uma definição mais clara de que Paulo realmente se refere a um mulher em Rm.16.7. Diante disso devemos considerar que é muito mais provável que a referência paulina teria sido feita a uma mulher e não a um homem.

Entretanto, esse não é o principal problema da teoria da contração. A parte da falta de evidência que aponte para um nome masculino, é fundamental notar que de acordo com o sistema de transliteração de um nome latino para o grego, tal teoria não pode ser sustentada.40 De acordo com Richard Cervin, nomes masculinos em latim que eram terminados em –us eram transliterados em grego como -ος. Aqueles terminados em –o eram transliterados em grego como -ων. Nomes femininos em latim terminados em -a eram transliterados como -ας ou -η, mas nomes masculinos terminandos em –a eram transliterados como -ας. Os nomes masculinos em latim terminados em -ius eram normalmente transliterados como -ιος em grego. Nomes latinos femininos terminados em –ia teriam terminação -ἰα.41 Ou seja, o nome Iunius/Iunia seriam transliterados Ἰοὐνιος/Ἰουνἰα, com clara distinção de gênero. Então, Cervin conclui: “A forma acusativa desse nomes (que é a forma necessária em Rm.16.7) desse nome latino seria Iunium/Iuniam deixando evidente o gênero do substantivo nominal.42 Essa forma seria transliterada em grego como Ἰοὐνιον/Ἰουνἰαν, que também se permite distinguir claramente o gênero do substantivo nominal.”  Em outras palavras, se o nome é latino devemos entendê-lo como feminino.

Soma-se a isso, o fato de que o nome grego masculino ᾽Ιουνιὀς (Júnias), sugerido por Cervin é encontrado nove vezes na literatura grega, enquanto ᾽Ιουνιᾶς (Júnia) não é encontrado nenhuma vez.43 Mais interessante ainda, é que David Noy44  cita a existência de um judeu que morreu em Roma,45 chamado ᾽Ιούνιος ᾽Ιοῦστος (pt. Júnios Justos), o que nos sugere que o nome proposto por Cervin deve ser considerado válido. Richard Bauckham, entretanto, nos lembra que “existem muito nomes gregos que nós temos conhecimento que foram usados apenas uma vez, e por isso, a possibilidade de que a pessoa ser chamada ᾽Ιουνιᾶς [masc.] em Romanos16.7 não pode ser descartada. Mais ainda assim, o nome não é atestado em nossas evidências, ao passo que o nome Júnia é bem atestado. Por isso, deveria-se apresentar razões contundentes para se preferir ‘Júnias’ a ‘Júnia’ aqui.”46

3.6 A evidência da tradição manuscrita

Um detalhe, eventualmente esquecido no diálogo sobre o gênero de Júnia(s), é o testemunho apresentado pela tradição manuscrita do NT. Por exemplo, a Vulgata traz a leitura Iuniam, que é claramente feminino. Vale a pena mencionar que a forma acusativa de nomes grego masculinos terminados em -ᾶς (como o sugerido nome Ἰουνιᾶς) eram normalmente transliterados com terminação -an, como por exemplo Arteman (Tt.3.12), Barabban (Mat.27.17), Barnaban (At.11.22), Caiphan (Mt.26.57). Em outras palavras, se um nome masculino fosse lido no texto grego, Jerônimo deveria ter transliterado Iunian. Por outro lado, nomes gregos terminados em -α eram transliterados como –am, como Tryphænam, Tryphosam (Rom.16.12) e Iuliam (v.15). Ou seja, do ponto de vista da Vulgata, Júnia é uma mulher.

De acordo com John Thorley o mesmo suporte é encontrado nas versões Copta Saídica e Boárica, que claramente traduzem ᾽Ιουνιας como um nome feminino. Segundo ele, a versão Siríaca não nos oferece muita ajuda, mas certamente não oferece qualquer suporte para o nome masculino Júnias. Ou seja, “todas as antigas versões sobreviventes (Antiga Latina, Vulgata, Copta Saídica e Boárica e Síria) sem excessão transcreveram o  nome de modo que podem ser entendidos como feminino, e nenhuma oferece sinal positivo de que um nome masculino estava sendo transcrito.47 Em outras palavras, o cristianismo primitivo parecia compreender Júnia como uma mulher.48 

Soma-se a isso o fato há larga evidência de que a partir do momento em que os manuscritos gregos passaram a ser acentuados Júnia foi acentuada de modo a indicar um nome feminino. De acordo com Robert Jewett, o acento agudo é suportado por B2 D2 L Ψvid 0150 33 81 104 256 263 365 424 436 459 1175 1241 1319 1573 1739 1852 1881 1912 1962 2127 2200 Μaj Lect e mais 55 outros manuscritos.49,50 Aliás, ele sugere que todos os manuscritos examinados até aqui favorecem a inclusão do acento agudo, clarificando a referência feminina do termo em Rom 16.7. Além disso, Eldon Jay Epp reporta que todas as edições críticas do texto grego, do Textus Receptus até a 13a. edição do texto de Nestlè (1927), todas vertiam o termo com acentuação aguda, com a excessão de Henry Alford (mencionado acima).51 Em outras palavras, “nós devemos aceitar a possibilidade que outro time missionário formado por marido [Andrônico] e mulher [Júnia] está em vista aqui.”52
 
3.7 A corroboração patrística

Por fim, é importante observar que paralelamente ao testemunho das antigas versões e manuscritos acentuados, os Pais da Igreja também favorecem a identificação de Júnia, uma mulher em Rom.16.7. O mais importante estudo nessa área foi feito por Valentim Fàbregas,53 cujo esforço é eventualmente apresentado em comentários críticos.54 A vasta maioria dos pais da igreja considerava que Júnia era a esposa de Andrônico, como por exemplo, Ambrosiaster (c. 339-97); Jeronimo (c. 342-420), João Crisóstomo (c. 347- 407), Teodoreto (c.393-458); Ps.-Primasio (c. 6 século.); João Damasceno (c. 675-749). O único pai da igreja que parece considerar que Paulo se refere a um homem em Rom.16.7 é Epifânio, que diz que “Júnias, que Paulo também menciona, se tornou bispo em Apameia da Síria”. O testemunho de Epifânio  apresenta informações históricas a respeito de Júnias e o apresenta como homem que posteriormente se torna bispo, e por isso foi assumido como mais confiável por Piper, Grudem. Contudo, seu testemunho deve ser balanceado pelo fato de que na frase seguinte ele também se refere a Priscila (Rom.16.3) como sendo um homem.55  Fato percebido, e provavelmente ignorado, por Piper e Grudem, que afirmam: “Nós estamos perplexos com o fato de que próximo ao contexto da citação referente a Junias, Epifânio também apresenta Prisca como um homem mencionado em Romanos 16.3, apesar de que sabemos pelo Novo Testamento que ela é uma mulher.” 56 Ainda assim os autores mantém, contra o bom senso, que Epifânio deve ser preferido em contraste com Orígenes. Infelizmente, Piper e Grudem não tiveram acesso a um número adequado de citações dos Pais da Igreja e se tornaram vítimas de suas preferências pessoais.

Crisóstomo, por exemplo, afirma: “É evidente que ser um apóstolo é uma grande coisa. Mas considere que grande elogio é ser considerada notável entre eles. Eles eram notáveis por seu trabalho e por suas conquistas. Quão grande era a devoção dessa mulher que recebeu o privilégio de ser chamada de apóstola.”57 Teodoreto sobre o casal Andrônico e Júnia, afirma: “Então Paulo fala que eles são notáveis, não apenas entre os discípulos, mas entre os professores, mas não apenas entre os simples professores, mas entre os apóstolos.” 58 Orígenes também diz: “Pode-se dizer com certeza que ambos eram compatriotas de Paulo de acordo com a carne e que teriam crido antes dele e que eram considerados notáveis entre os apóstolos de Cristo; sobre quem, também é possível que sejam entendidos desta forma, e que, provavelmente, eles fazem parte daqueles setenta e dois que também foram nomeados apóstolos, e portanto, ele os chama de notávies entre os apóstolos, os mesmo apóstolos anteriores a ele mesmo.” 59 Como fica evidente nessas citações, Júnia era uma mulher, mas a que classe de apóstolo ela pertencia Crisóstomo e Orígenes parecem não concordar. Entretanto, uma coisa é clara: A maioria dos Pais parece convencida de que Júnia era uma mulher.

Vale também a pena lembrar que vários comentaristas medievais também suportavam a tal interpretação do texto, como por exemplo Hatto (?); Oecumenius; Lanfranc de Bec (c.1005-89); Bruno o Cartuxo (c.1032-1101); Theophylact (c. 11 século); Pedro Abelardo (1079-1142); and Pedro Lombardo (c. 1100-1160). Talvez a escolha fosse óbvia pelo simples fato de que não se encontrava com essa grafia um nome que representasse um homem em grego.60 Entretanto, do mesmo modo que entre os Pais da Igreja existiam diferentes opiniões, o mesmo aconteceu com os autores medievais. Aegidus de Roma (1245-1316), por exemplo, chama ambos Andrônico e Junias de homens dignos de honra61  na sua obra Opera Exegetica, Opuscula I.62  Contudo, vale lembrar que apesar de a evidência história estar dividida, a ampla maioria favorece a identificação da Júnia como uma mulher, com raras excessões.

3.9 Conclusão

O que podemos concluir em nossa abordagem é que de fato é muito mais provável que  Paulo se refere a uma mulher de nome Ἰουνίας em Rom 16.7 do que a um homem chamado Ἰουνιᾶς. Essa conclusão é suportada pelas seguintes razões: (1) Em função da teoria da contração de um nome masculino latino estar claramente equivocada; (2) Em função do suposto nome masculino contraído em grego não ser encontrado em lugar algum; (3) Pela existência do nome grego feminino Ἰουνίας fora da literatura cristã (4) Pela farta evidência do nome latino feminino Iunias como descrição de uma mulher; (5) Pela rica evidência demonstrada pela evidência textual; e por fim, (6) pela contundente demonstração do fato proveniente da história da Igreja. Em outras palavras, nós entendemos que a descrição de Ἰουνίας dever ser entendida como virtualmente certa diante das evidências que dispomos e analisamos.

4. Sobre a posição de Andrônico e Júnia

Agora, nos resta observar o sentido da expressão preposicionada ἐν τοῖς ἀποστόλοις (entre os apóstolos). Seria ela é a descrição de que Andrônico e Júnia eram conhecido pelos apóstolos ou eram estavam incluídos entre os apóstolos? Essa questão, como as anteriores, é complexa por sua simplicidade. A verdade é que gramaticalmente ambas são possíveis, embora não igualmente possíveis. Como forma de demonstrar esse fato, nós vamos analisar as possibilidade hermenêuticas tal como apresentadas nos comentários, vamos apresentar a teoria apresentada por Michael Burer e Daniel Wallace, as críticas de Bauckham, Epp, Beleville e Hope para então apresentar uma possível conclusão para o dilema apresentado.

4.1 Possibilidades exegéticas

Gostaria de demonstrar como em anos recentes os comentaristas tem expressado suas opiniões sobre o assunto. Por uma questão de conveniência, vamos usar as categorias de R.S. Cervin para o dilema e classificar a tradução de ἐν τοῖς ἀποστόλοις (entre os apóstolos) como aquela que demonstra o sentido inclusivo da expressão, ao passo que a tradução “pelos apóstolos” como aquela que demonstra o sentido exclusivo da expressão. Na primeira, Andrônico e Júnia fazem parte do círculo apostólico, na segunda não.

a. Sentido inclusivo

Cranfield afirma que o sentido exclusivo é gramaticalmente possível, mas que é “é muito mais provável – nós poderíamos dizer virtualmente certo – que essas palavras significam proeminente entre os apóstolos’”.63 Dunn defende o mesmo ponto aqui, embora com um pouco mais de suporte do que Cranfield.64 Schreiner defende essa leitura como consenso na academia e que “é quase que completamente certo que, essa é a maneira mais natural  de se entender essa expressão preposicionada.”65 Douglas Moo defende que o sentido inclusivo é esperado nesse texto, pois o sentido exclusivo seria possível se Paulo tivesse usado a preposição ὑπό seguida do genitivo plural τῶν αποστολῶν. 66John Sttot atribui o peso da decisão do sentido da expressão sobre a abrangência do significado do termo apóstolo: Se o termo se refere exclusivamente aos doze, então a tradução deveria ser “notáveis pelos apóstolos”, entretando acredita que essa leitura parece mais distante do texto grego. Tendo feito esse comentário, Sttot conclui: “é provavelmente melhor entender ‘apóstolos’ no sentido de apóstolos da igreja [não exclusivo aos 12], e concluir que Andrônico e Júnia eram notáveis missionários.”67 William Hendriksen defende que a dupla Andrônico e Junías [embora a descreva como homem] devem ser entendidos como “notáveis entre os apóstolos” dando a entender sua preferência pelo sentido inclusivo da expressão.68 Byrne sugere que a expressão “estavam em Cristo antes de mim,” sugere que ambos Andrônicos e Júnia eram parte da Igreja Primitiva de Jereusalém, e que pela avançada idade dos mesmo, Paulo lhes concede o privilégio de serem chamados apóstolos no sentido técnico do termo.69

b. Sentido exclusivo

Charles Hodges defende que Paulo nunca usa o termo apóstolo de forma não oficial, como evidenciado o uso do artigo com o termo apóstolo e define que Andrônico e Júnia era “conhecido pelos apóstolos.”70 Argumento similar é apresentado por J.Murray,71 Shedd,72 e Meyer.73 Lenski, diferente dos comentaristas já citados, afirma que a questão não pode ser exclusivamente definida pelo uso do termo apóstolo, mas pelo uso locativo da preposição έν e defende que a paráfrase “no círculo dos apóstolos de Jerusalém” bem descreve o sentido do termo grego.74 Similarmente, Denney afirma que o modo como Paulo emprega o termo apóstolos aqui dificilmente poderia se referir a um grupo maior na igreja. Ao contrário, ele é usado em referência aos doze e portanto, Andônico e Júnias são considerados “homens de honra conhecido pelos apóstolos.”75  C.K. Barret afirma que a tradução “conhecido pelos apóstolos” é bem mais provável.76

Como é evidente, aqui novamente a opinião teológica está dividida.77 Entretanto, antes que alguém queira inferir das conclusões supracitadas que o posicionamento inclusivo é fruto do liberalismo, é importante que se note que entre os autores citados Cranfield e Dunn dificilmente poderiam ser classificados com fundamentalistas, da mesma forma que Hendriksen, Moo ou Sttot dificilmente seriam chamados liberais. A questão é complexa pelo simples fato de que ambas as opções são gramaticalmente possíveis e não necessariamente influenciada pelo pano de fundo socio-cultural pró-feminismo dos nossos dias. Comentaristas mais antigos não nos deixam mentir aqui.78

4.2 A dificuldade gramatical

O grande problema gramatical encontrado por aqueles que defendem o sentido exclusido da expressão ἐν τοῖς ἀποστόλοις, é que a tradução pelos apóstolos é altamente improvável pelo simples fato de que a preposição ἐν apenas raramente é usada com sentido de agência.79 A classificação de ἐν como agência no Grego Clássico é reconhecido tanto pelo LSJ80 como por Smyth,81 mas eles não apresentam nenhum caso de agência pessoal na literatura Clássica. LSJ, por exemplo, assume a existência de tal categoria por apontar Mt.9.34 como um possível caso.  De acordo com BDF,82  o uso de ἐν como agência pessoal é raro e acontece no NT em função da influência semítica dos autores. Por exemplo, Paulo usa ἐν como agência pessoal ao citar o  AT: “Ἐν ἑτερογλώσσοις καὶ ἐν χείλεσιν ἑτέρων λαλήσω τῷ λαῷ τούτῳ” (Por meio de línguas estranhas e por meio de lábios estranhos falarei com este povo; 1Co.14.21). Evidentemente, tanto ἑτερογλώσσοις como χείλεσιν ἑτέρων são usados como figuras de linguagem que apontam para a pessoa que fala em outro idioma. Dessa forma, Paulo faz o uso dessa categoria que sabemos ser especialmente rara.83 Sobre isso, Daniel Walace conclui: “Nenhum exemplo livre de ambiguidade pode ser apresentado. Por isso, o que pode ser dito sobre o dativo de agência, pode também ser dito sobre ἐν + dativo para expressar agência: na melhor das hipóteses, é raro.”84

O problema é ainda mais complexo quando se percebe que a expressão ἐν + dativo plural pessoal, ἐν τοῖς ἀποστόλοις, não poderia ser traduzido como sugerem Hodges, Murray, Meyer and Lenski. Essa construção parece exigir o sentido inclusivo (cf. Rom.1.5 – ἐν πᾶσιν τοῖς ἔθνεσιν: entre todas as nações; 1.13 – καὶ ἐν ὑμῖν καθὼς καὶ ἐν τοῖς λοιποῖς ἔθνεσιν; também tenho conhecido entre vocês, bem como entre os gentios; 2.24: ἐν τοῖς ἔθνεσιν: entre os gentios; 8.29 – ἐν πολλοῖς ἀδελφοῖς: entre muitos irmãos; 15.5 – ἐν ἀλλήλοις: lit. entre uns aos outros; 15.9 – ἐν ἔθνεσιν: entre os gentios).85 Em outras palavras, a conclusão apresentada por Schreiner, Dunn e Cranfield parece acertada, por ser substancialmente suportada pela gramática grega e pela abundância de exemplos encontrados no NT.

4.3 O problema morfo-sintático

Entretanto, nenhuma evidência é apresentada por eles sobre como a expressão preposicionada ἐν τοῖς ἀποστόλοις deve ser entendida quando modificada pelo adjetivo ἐπίσημος (notáveis). É necessário reconhecer, entretanto, que tal construção não ocorre no NT e que o próprio adjetivo ἐπίσημος é extremamente raro na literatura neo-testamentária, sendo utilizada uma única outra vez (Mt.27.16). Talvez por essa mesma razão, comentaristas abordam essa construção como tendo o mesmo sentido. Do ponto de vista estritamente morfológico, ἐπίσημος tem um dois conceitos implícitos: (1) comparativo (proeminente, notável entre) ou (2) elativo (reconhecido por).86 O termo em si, pode ser usado com ambos os sentidos e o sentido intencionado pelo autor é explícito pelo tipo de construção no qual o adjetivo é usado. Como tal construção não é usada no NT, devemos observar como o termo é usado fora do mesmo.

a. A proposta de Burer-Wallace

Νο artigo “Was Junia Really an Apostle” (Era Júnia Realmente uma Apóstola) Michael Burer e Daniel Wallace, propõem uma hipótese-teste para avaliar elementos morfo-sintáticos que poderiam auxiliar a identificação do sentido de ἐπίσημος em Rom.16.7: “Uma vez que um substantivo genitivo é tipicamente usado com adjetivos comparativos, nós esperaríamos que o mesmo com uma comparação implícita também. Portanto, se em Rom 16.7 Paulo quisesse afirmar que Andrônico e Júnia era excepcionais entre os apóstolos, nós esperaríamos que ele usasse o genitivo (τῶν) ἀποστὀλον. Por outro lado, se a força elativa é sugerida – i.e. sem que o sentido comparativo seja inferido – nós esperaríamos ἐν + dativo.”87
 
De acordo com a pesquisa que fizeram, quando o sentido comparativo está presente, os autores frequentemente usam o genitivo. Esse sentido foi encontrado em 2Mac.6.1, Salmos de Salomão 17.30, Martírio de Policarpo 14.1, Adições a Ester 15.22, Lucianus, Peregr.6.1; Herodian 1.7.88 Por outro lado, como o sentido elativo está presente, ἐν mais um dativo plural não é incomum. Esse sentido foi encontrado em Salmos de Salomão 2.6, Lycurgus, Against Leocrates, 129, Euripedes, Bacch. 967, Euripedes, Hipp. 103, Lucianus, Harmonides 1.17.89  Burer-Wallace também apontam para ocasiões que apontam na direção contrária de sua tese, como por exemplo Lucianus, na obra On Salaried Posts in Great Houses, usa a construção ἐπίσημος + dativo para descrever o sentido inclusivo,90 bem como Josefo na obra Bellum Judaicum 2.418. Entretanto eles acrescentam que esse uso é deveras raro. Com isso, os autores concluem que a evidência da LXX, Patrística, dos papiros, inscrições e do Grego Clássico e Helênico sugerem que a hipótese-tese está de fato correta.

A conclusão que apresentam no artigo é que “o modificador genitivo pessoal é consistentemente usado para descrever a ideia inclusiva, enquanto o (ἐν mais) dativo pessoal adjunto quase nunca é usado dessa forma. Dizer que ἐπίσημοι ἐν τοῖς ἀποστόλοις só pode significar ‘notáveis entre os apóstolos’ é simplesmente incorreto. Seria mais correto dizer que ἐπίσημοι ἐν τοῖς ἀποστόλοις quase que certamente significa ‘bem conhecido pelos apóstolos’. Portanto, Júnia, juntamente como Andrônico, são reconhecidos por Paulo como bem conhecido pelos apóstolos, mas não como excepcionais membros da comunidade apostólica.” 91

b. A resposta de Bauckham, Beleville e Epp

Apesar de as evidências apresentadas sugerirem que a conclusão oferecida por Burer-Wallace esteja correta, ela foi rejeitada por Epp que a atribuiu o nome de defeituosa à pesquisa,92 Beleville que a considerou insuficiente93 e Bauckham que a definou como uma teoria inicial e nada mais do que isso.94 Entre a análise feita por Bauckham, Epp e Beleville, três críticas principais são feitas:

1. O problema da falta de paralelo: O primeiro problema é apresentado por Epp que afirma que a maioria da evidência apresentada por Burer-Wallace pode ser considerada paralela a de Rom 16.7. Depois de reorganizar a evidência, Epp sugere que apenas 13 casos poderiam servir como paralelo para Rom 16.7. Desses 13, 11 reproduzem o padrão encontrado em Romanos. Desses 11, 8 tem sentido exclusivo (reconhecidos por) e 3 tem sentido inclusivo (admirados entre).  O principal problema da teoria de Burer-Wallace é que, segundo ele, o conceito não é tão claro quanto parece,95 mas Epp não nos diz quais são os casos que classifica e obriga o leitor a aceitar sua análise na obra mais popular,96 e apenas a discute em seu artigo acadêmico.97

2. O problema da categorização: O principal problema para Bauckham é a evidência não foi bem categorizada. De acordo com ele, Burer-Wallace conflaram duas categorias distintas: (a) ἐπίσημος + dativo e (b) ἐπίσημος + ἐν + dativo. Então, ele afirma que dos 13 casos de referência pessoal, as duas construções de ἐπίσημος com genitivo tem sentido exclusivo,98 as duas construções com ἐν + dativo tem sentido exclusivo,99 mas afirma que das outras oito ocorrências de ἐπίσημος + ἐν + dativo, duas tem sentido inclusivo100  e seis exclusivo.101 De acordo com ele, essa classificação melhor apresenta a evidência e demonstra que a classificação (e teoria) de Burer-Wallace deve ser entendida como equivocada. O que Bauckham sugere, em outras palavras, é que se Paulo tivesse escrito ἐπίσημος τοῖς ἀποστόλοις, evitando inserir ἐν, então o sentido seria necessariamente exclusivo. Entretanto, como esse não é o caso, é então provável que o sentido seja inclusivo, visto que Paulo jamais atribuiria o nome apóstolo a alguém que não tenha chegado a Cristo antes de que ele mesmo, tal como o texto sugerisse a respeito de Andrônico e Júnia.102
 
3. O problema da testemunho histórico: Como Epp e Bauckham, Beleville reclama da organização da evidência e como Bauckham, conclui que a teoria apresentada por Burer-Wallace não pode ser tida como final. Entretanto, ela afirma que Burer-Wallace subestimaram o testemunho do Pais da Igreja de fala grega. De acordo com ela, “o simples fato de que se uma pessoa nativo e bem educada, que fala em grego e entende a frase como tendo sentido inclusivo e Ἰουνιαν como sendo uma mulher, o ônus da prova recai sobre aqueles que afirmam o contrário.”103

Como é evidente, as críticas de Bauckham e Epp são primariamente relacionadas a a aspectos técnicos da pesquisa, que poderiam fazer diferença no modo como a sentença poderia ser entendida. Já a crítica de Beleville aponta para um detalhe aparentemente não tratado no artigo apresentado por Burer-Wallace, mas que merece nossa atenção aqui. Entretanto, antes de seguirmos com a análise das evidências, devemos fazer alguns comentários preliminares.

No que se refere à crítica de Epp,104 inadvertidamente ele comprovou que o princípio apresentado por Burer-Wallace está correto. Se assumirmos que sua organização da evidência está correta, em 72% dos casos similares ao de Rom.16.7 o sentido é exclusivo. Usando o critério que ele apresenta, nós entendemos que a a conclusão é que é mais provável que Paulo tenha usado o sentido exclusivo do que o sentido inclusivo. O fato de que apenas três construções carregam o significado inclusivo só prova que este significado também é possível em Rom.16.7, não tão possível quanto o exclusivo. Do mesmo modo que ele afirma que o sentido exclusivo não é necessário, nós afirmamos que diante das evidências que ele apresenta que o sentido inclusivo também não é necessário. Entretanto, seria correto afirmar que o sentido exclusivo é mais provável que o sentido inclusivo.

No que se refere à crítica de Baukham, o mesmo pode ser dito. Se as categorias devem ser organizadas como ele sugere, apenas 2 usos em oito suportam a conclusão que ele defende. Em outras palavras, em 75% dos casos de construções similares à Rom16.7, o sentido esperado é exclusivo. Em outras palavras, Bauckham conseguiu comprovar que a teoria apresentada por Burer-Wallace não é apenas possível, mas largamente provável.

No que se refere à crítica de Beleville, devemos dizer que ela tem razão. O testemunho daqueles que falam em grego de forma nativa e que tem boa educação devem ser considerandos na análise de como determinada frase em grego. Mas, devemos entender que a evidência não deve ser limitada aos Pais da Igreja, afinal eles não são os únicos que falavam grego de forma nativa. Por outro lado, supor que a opinião dos Pais Gregos sobre um ponto sintaticamente discutível comprova uma preferência teológica, é usar a história como critério para determinar o significado do texto.105 É uma suposição perigosa.106 

c. A análise das Evidências107

Em primeiro lugar é necessário observar que Burer-Wallace não apresentam o caso como se o mesmo fosse uniforme, como sugerem Beleville e Epp, mas um padrão reconhecido pelas evidências apresentadas. Como parece haver certo consenso no que se refere ao uso do genitivo como indicação do sentido inclusivo, aqui daremos maior atenção as evidências paralelas ao texto de Rom.16.7, no qual ᾽επισήμος é usado ou seguido de dativo ou de ἐν mais dativo.

1. Sentido inclusivo: ἐπισήμος + [prep] genitivo

No texto de 3Macc 6.1 lemos: “Ελεαζαρος δέ τις ἀνἠρ έπίσημος τῶν ἀπω τῆς χώρας ιερέω” (Eleazar, um homem proeminente entre os sacerdotes da [sua] região). Nessa exemplo é evidente que Eleazar está incluído na categoria de sacerdotes da sua região [ou seu país]. Fica claro que o genitivo aqui exige esse sentido nessa citação, o que é aceito por ambos Epp e Bauckham.108 No Salm.Sal.17.30, lemos: “τὸν κύριον δοξασει ἐν ἐπισήμῳ πάσης τῆς γῆς” (glorifiquem ao Senhor em um [lugar] proeminente da terra). Embora impessoal, fica claro que o lugar proeminente é parte da terra, o que reforça a sugestão o fato de que o genitivo quando modifica ἐπισήμος carrega o sentido exclusivo sugerido por Burer-Wallace. Beleville e Epp não comentam sobre essa passagem, ao passo que Bauckham, mais uma vez manifesta a mesma opinião.109 No texto do Mart.Pol.14.1 lemos: “κριὸς έπισήμος ἐκ μεγάλου” (um carneiro notável de um grande rebanho). Nessa citação lemos ἐκ + genitivo funcionando exatamente como genitivo sozinho nas outras ocasiões apresentadas acima. Mas o que é certo é que tal carneiro é parte do rebanho apresentado no texto. Talvez pela aceitação do fato apresentado, nem Epp, Beleville ou Bauckham comentam esse verso. Como fica evidente, a hipótese-teste proposta por Burer-Wallace parece bem substanciada pela evidência léxica. Portanto, parece razoável o sentido inclusivo é normalmente (não exclusivamente) representado pelo modificar genitivo, seja ele preposicionado ou não.

2. Sentido exclusivo: ἐπισήμος + [prep] dativo

No Salm.Sal. 2.6 nós encontramos um excelente paralelo para o texto de Rom.16.7, observe: “ἐν ἐπισήμῳ ἐν τοῖς  ἔθνεσιν” (eles estavam em um [lugar] notável entre os gentios [as nações]). Como fica claro aqui, o primeiro grupo [eles] judeus cativos não faz parte do segundo grupo, os gentios. É nesse sentido que estamos usado o termo exclusivo. O problema aqui é que tanto Beleville110 como Bauckham111 entendem que έπισήμῶι é usado aqui como um substantivo por ser introduzido por ἐν, e não como um adjetivo, o que invalidaria o paralelo com Rom16.7. Entretanto, o Beleville e Bauckham parecem ignorar que o mesmo fenômeno acontece em Salm.Sal.17.30. Para piorar, Bauckham entende que aqui ἐν ἐπισήμος funciona como adjetivo. Vale a pena mencionar que as mais importantes traduções do Apocrifa parecem aceitar o fato de que nesse texto ἐπισήμῳ é usado como adjetivo.112 Em outras palavras, as crítica de Beleville e Bauckham não parece justificada.

No texto de Lycurgus, Against Leocrates 129, nós lemos: “πᾶσιν έπίσημον ἐποίησαν τὴν τιωπίαν” (e fez [sua] punição evidente a todos). A punição de Pausânias aqui é apresentada como evidente a todos os habitantes de Esparta, o que mais uma vez demonstra a validade do sentido exclusivo do dativo modificando ἐπισήμος, uma conclusão aceita por Epp113  e Bauckham.114  O mesmo pode ser dito dos texto de Euripedes, Bacch 976, no qual lemos: “ἐπίσημον ὄντα πᾶσιν” (manifeto para todos os homems) e Hipp.103, no qual o vemos atribuir a Afrodite, a deusa imortal, o seguinte título: “κἀπίσημος έν βροτοῖς (gloriosa entre os mortais). Nesse casos, vemos claramente o sentido exclusivo dos mesmos. Sobre esse texto, Beleville afirma: “Dos exemplos listados por Burer e Wallace como exclusivos, apenas o texto de Eurípedes, Hippolytus 103 é realmente o caso.”115 Apesar de encontrarmos nesse verso pleno suporte de Beleville, ela parece discordar largamente da evidência já apresentada e do suporte tanto de Epp como Bauckham para outros textos.

Burer-Wallace também apresentam o texto de Luciano, Harm.1.17, no qual lemos: “καὶ τὸ ἐπίσημον εἶναι ἐν πλήθεσι” (ser aquele notado pela multidão). Beleville, rejeita que esse texto tenha sentido exclusivo por entender τὸ ἐπίσημον como um substantivo articulado, e traduz como “ser o notável na multidão.” Entretanto, Beleville na sua tradução vai contra o fluxo do texto.116 Nesse texto, lemos que Harmonides procura ser um flautista excepcional a ponto de ser reconhecido por todos! Tanto Epp117 como Bauckham118 discordam de Beleville aqui.

Em outra passagem de Lucaino, Merc.Cond.28, Burer-Wallace sugerem que tal passagem tem sentido inclusivo (contra a própria tese), e tal conclusão é acompanhada por Epp,119 Beleville120 e Bauckham.121 O texto diz: “ἐπίσημος ἔσῃ ἐν τοῖς έπαινοῦσι” e foi traduzido como, “tendo cuidado para ser notado entre a claque.” Entretanto, é bem possível que esse consenso esteja errado. Sobre essa passagem, H.R. Curtis afirma: “Luciano está alertando seus leitores sobre a importância do que os outros escravos irão pensar por que são eles que irão reportar o comportamento para as autoridades. Portanto, ‘ele deve tomar cuidado para não ser notado pelos escravos que estão louvando ser o diretor do coral [ que não faz parte da claque].”122 Em outras palavras, esse é mais um exemplo a ser considerado, que reforça a tese de que ἐπισήμος + dativo denota o sentido exclusivo.

Antes de encerrarmos nossos comentários aqui, vale a pena mencionar os casos apresentados por Burer-Wallace que não se enquadram em sua tese. Eles citam Lucian, Dial. meretre 1.2 e Philo, Fug. 10, os quais usam ἐν + dativo mais são entendidos como sentido inclusivo. No que se refere ao primeiro texto, Epp e Bauckham concordam com a definição, e no segundo todos eles parecem concordar com tal definição.

Como  ficou claro na nossa apresentação acima é que enquanto alguma resistência tenha sido oferecida por Epp, Bauckham e Beleville, a evidência parece contrária a eles. Aliás, é digno de nota que eles tomaram a pesquisa de Burer-Wallace como completa, e não puderam produzir sequer um novo exemplo de uso de ἐπισήμος. Isso parece sugerir que eles estão mais preocupados com a resposta a teoria proposta, do que à pesquisa e avaliação do assunto.

3. Novas evidências

Felizmente, a evidência apresentada por Burer-Wallace não era exaustiva. Após o conhecimento das críticas apresentadas por Epp, Bauckham e Beleville, Burer retomou o a investigação de ἐπίσημος na literatura grega, e apresentou larga evidência para a teoria que havia previamente defendido com Wallace. No artigo ᾽Επίσημοι έν τοῖς ἀποστόλοις in Rom 16.7 as Exclusive: Further Defense and New Evidence (ainda não publicado),123  Burer demonstra acima de qualquer dúvida que o sentido esperado de ἐπίσημοι ἐν τοῖς ἀποστόλοις em Rom 16:7 deve ser exclusivo, considerando o uso paralelo de ἐπισήμος + [prep] dativo na literatura grega que não havia sido analisada no artigo anterior.124

Portanto, entendemos que o sentido da construção apresentada por Paulo em Rom 16.7 é exclusivo. A evidência léxica favorece largamente essa conclusão e qualquer discussão sobre o lugar de Júnias no círculo apostólico deve ser reavaliada à luz da evidência conhecida.

5. Sumário e conclusão

Por fim, precisamos recapitular nosso argumento aqui: Em primeiro lugar, nós procuramos demonstrar que a forma textual encontrada na NA28 deve ser recebida como original, apesar de alguns poucos clamores pela preferência de leituras alternativas. Também observamos que do ponto de vista morfológico, o nome grego não acentuado Ἰουνιαν usado por Paulo, deve ser entendido como um nome feminino. Essa conclusão é suportada pela improvável teoria da contração do nome masculino Iunianus, pela tradição manuscrita do NT e demonstrada pela ampla aceitação dos Pais da Igreja. Também demonstramos que a construção ἐπίσημοι ἐν τοῖς ἀποστόλοις, do ponto de vista estritamente morfo-sintático deve ser entendido com sentido exclusivo, ao contrário dos muitos comentários que defendem o sentido inclusivo. Em outras palavras, nós entendemos que o texto afirma que Andrônico e Júnia formam um casal que em função do surpreendente trabalho que realizaram se tornaram notáveis pelos apóstolos de Cristo. Godet se opões a essa conclusão, simplesmente por considerar esse título um tanto estranho.125 Entretanto, ele parece esquecer a preeminência da liderança dos doze apóstolos e o status daqueles que eram aprisionados em função do evangelho.

Contudo, é importante dizer que nossa conclusão de forma nenhuma minimiza o papel da mulher na igreja. Aliás, em nada minimiza o lugar de Júnia ou Andrônico, pois eles são notáveis! Pelo que se sabe, esse casal estava em Cristo antes de Paulo e batalharam pelo ministério a ponto de serem encarcerados por isso. Eles são notáveis! Ninguém seria encarcerado em favor do evangelho sem que tivesse realizado um trabalho missionário exemplar.

Isso também sugere o elevado papel da mulher na igreja primitiva como propagadoras do evangelho. E mais: Júnia não estava sozinha! Febe, Priscila, Maria, Trifena, Trifosa, Pérside, a mãe de Rufino, Júlia e a irmã de Nereu. Entre elas estão mulheres consideradas cooperadoras de Paulo (v.3), mulheres dispostas a arriscar a própria vida pelo evangelho (v.4),  que recebiam em suas casas as reuniões proibidas da igreja (v.5), que trabalharam arduamente no Senhor para servir a igreja (v.6, 12). São fundamentais e necessárias para o ministério e vida da igreja.

Nossa conclusão aponta para o fato de que Paulo não apenas reconhece o ministério feminino nesse texto como ele também o elogia.126 No antigo mundo romano dificilmente uma mulher seria encarcerada sem ter feito expressiva manifestação pública de fé. Júnia e seu marido certamente batalharam insistentemente pela fé. Certamente a fama desse casal chegou até o conhecimento dos apóstolos.

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1SPROUL, R. C. The Gospel of God: An Exposition of Romans. Great Britain: Christian Focus Publications, 1994; WIERSBE, Warren W. The Bible Exposition Commentary. Wheaton, IL: Victor Books, 1996; WIERSBE, Warren W. Wiersbe’s Expository Outlines on the New Testament. Wheaton, IL: Victor Books, 1992; WITMER, John A. “Romans.” In The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures, edited by J. F. WALVOORD and R. B. ZUCK. Wheaton, IL: Victor Books, 1985; RADMACHER, Earl D., ALLEN, Ronald B. e HOUSE, H. W. House, eds. Nelson’s New Illustrated Bible Commentary: Spreading the Light of God’s Word Into Your Life. Supersaver ed. Nashville: Thomas Nelson, 1999.
2LANGE, John Peter, Philip Schaff, F. R. Fay, J. F. Hurst, and M. B. Riddle. A Commentary on the Holy Scriptures: Romans; BENGEL, Johann, Gnomon of the New Testament; GODET, F. Commentary on the Epistle to the Romans. Tr. by A. Cusin, revised and edited by Talbot W. Chambers, 1883. Grand Rapids: Zondervan, 1969. BARRETT, C. K. A Commentary on the Epistle to the Romans. Harper’s New Testament Commentaries, edited by Henry Chadwick. New York: Harper & Row, 1957. SANDAY, William, e HEADLAM, Arthur C.. A Critical and Exegetical Commentary on the Epistle to the Romans. The International Critical Commentary, edited by S. R. Driver, A. Plummer, and C. A. Briggs. 1902. Reprint. Edinburgh: T. & T. Clark, 1971. HENDRICKSEN, William. Exposition of Paul’s Epistle to the Romans. New Testament Commentary. Grand Rapids: Baker, 1980.
3CALVIN, John, and John Owen. Commentary on the Epistle of Paul the Apostle to the Romans. Bellingham, WA: Logos Bible Software, 2010, pp.545-46.
4LUTHER, Martin, Die Heilige Schrift Nach Der Deutschen Übersetzung Martin Luthers (Oak Harbor, WA: Logos Research Systems, Inc., 2001), Ro 16:7.
5LUTHER, Martin, Church and Ministry, Luther’s Works 41, ed. Eric W. Gritsch (St. Louis: Concordia and Philadelphia: Fortress Press) 1966), 348.
6LUTHER, Martin Lectures on Romans, Luther’s Works 25, ed. Hilton ton C. Oswald (St. Louis: Concordia and Philadelphia:Fortress Press, 1972), 129.
7MOUNCE, Robert H. Romans. Vol. 27. The New American Commentary. Nashville: Broadman & Holman Publishers, 1995; FITZMYER, Joseph A. Romans. The Anchor Bible, edited by W. F. Albright and D. N. Freedman. Garden City, N.Y.: Doubleday, 1993; SCHREINER, Thomas. Romans. Baker Exegetical Commentary on the New Testament, edited by Moisés Silva. Grand Rapids, Baker, 1998; MORRIS, Leon. The Epistle to the Romans. Grand Rapids: William B. Eerdmans Publishing Company, 1988; CRANFIELD, C. E. B. A Critical and Exegetical Commentary on the Epistle to the Romans. Vol. 1. The International Critical Commentary, edited by J. A. Emerton and C. E. B. Cranfield. Edinburgh: T. & T. Clark, 1975; MOO, Douglas J. The Epistle to the Romans. The New International Commentary on the New Testament, edited by Gordon D. Fee. Grand Rapids: Eerdmans, 1996. STOTT, John. Romans. God’s Good News for the World. Downers Grove: InterVarsity Press, 1994. BRUCE, F. F. The Epistle of Paul to the Romans An Introduction and Commentary. Revised edition. The Tyndale New Testament Commentaries. Grand Rapids: Eerdmans, 1985; UTLEY, Robert James. The Gospel According to Paul: Romans. Vol. Volume 5. Study Guide Commentary Series. Marshall, Texas: Bible Lessons International, 1998. JEWETT, Robert. Romans: a Commentary. Edited by Eldon Jay Epp. Minneapolis: Fortress Press, 2007, p.963.
8DUNN, James D. G. Romans 9–16. Vol. 38B. Word Biblical Commentary. Dallas: Word, Incorporated, 1998; BAUCKHAM, Ricahard, Gospel Women – Studies of the named Women in the Gospels. Grand Rapids: Eerdmans, 2002; EPP, Jay Eldon, “The Junia/Junias Variation in Romans 16,7”, IN: DENAUX, A., New Testament Textual Criticism and Exegesis. Leuven: University Press, 2002, pp.255-263. EPP, Jay Eldon, Junia the First Apostle. Minneapolis: Fortress Press, 2005. HARRISON, Everett F., and Donald A. Hagner. “Romans.” In The Expositor’s Bible Commentary: Romans–Galatians (Revised Edition), edited by Tremper Longman III & Garland, David E. Vol. 11. Grand Rapids, MI: Zondervan, 2008. PEDERSON, Rena. The Lost Apostle: Searching for the Truth About Junia Paperback Reprint. San Francisco: Jossey-Bass, 2008. WILLIAMS, Don. The Apostle Paul and Women in the Church. Glendale: G/L Publications, 1977. HOPE, Stephenson, “Junia: Woman and Apostle”, IN: MCCABE, Elizabeth, Women in the Biblical World – A survey of Old and New Testament Perspectives. Maryland: University Press, 2009. MACDONALD, Margaret Y., “Reading Real Women Through the Undisputed Letters of Paul”, IN: KRAEMER, Ross Shepard e D’ANGELO, Mary Rose, Women and Christian Origins. New York: Oxford, 1999.
9ROYSE, James Ronald. Scribal Habits in Early Greek New Testament Papyri (New Testament Tools, Studies, and Documents). Atlanta: Society of Biblical Literature, 2010, pp.199-355; Sobre a qualidade geral do texto do ?46 ver: ROYSE, James R., “The Early Text of Paul (and Hebrews),” IN: HILL, Charles e KRUGER, Michael J., The Early Text of the New Testament, Oxford: Oxford Press, 2012. pp. 180-184.
10Para imagens em alta resolução do ?46, visitar a página do Center of The New Testament Manuscrips (www.csntm.org).
11METZGER, Bruce Manning, United Bible Societies. A Textual Commentary on the Greek New Testament, Second Edition a Companion Volume to the United Bible Societies’ Greek New Testament (4th Rev. Ed.). London; New York: United Bible Societies, 1994, p.475.
12Sobre a definição de manuscritos primários e secundários, ver: HOLMES, Michael W., “New Testament Textual Criticism.” IN: MCKNIGHT, Scott, Introducing New Testament Interpretation – Guides to New Testament Exegesis. Grand Rapids: Baker Book House, 1989, p. 59-60; Ver também: WALLACE, Daniel B., “Laying a Foundation – New Testament Textual Criticism”, IN: BOCK, Darrell e FANNING, Buist, Interpreting the New Testament Text – Introduction to the Art and Science of Exegesis. Wheaton: Crossway, 2006, 38-41; ALAND, Kurt e ALAND, Barbara, The Text of the New Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1989, pp.79-170. ERHMAN, Bart e METZGER, Bruce, The Text of the New Testament. New York: Oxford, 2005, pp.52-136.
13PERVO, Richard I., “Social and Religious Aspects of the ‘Western Text’, IN: GROH, Dennis E. e JEWETT, Robert, The Living Text – Essays in Honor of Ernest W. Saunders. Lanham: University Press of America, 1985, pp.235-40; WITHERINGTON, Ben. “The Anti-Feminist Tendencies of the ‘Western’ Text in Acts.” Journal of Biblical Literature 103, no. 1 (Mar. 1994): 82-84; MENOUD, Philippe Henri, The Western Text and the Theology of Acts. Studiorum Novi Testamenti Societas, 1951, pp.30-31; EHRMAN, Bart D., “The Text of The Gospel At the End of the Second Century”, IN: PARKER, D.C. e AMPHOUX, C.B, Codex Bezae – Studies from the Lunel Colloquim. New York: E.J. Brill, 1996, pp.114-122; EPP, Eldon Jay. The Theological Tendency of Codex Bezae Cantabrigiensis in Acts. New York: Cambridge University Press, 2005, pp. 75, 89-90, 168. Ver também; ROPES, James Hardy, The Beggining of Christianity: The Acts of the Apostles. Vo.3. Eugene: Wipf and Stock, 2002; RIUS-CAMPS, Josep, e READ-HEIMERDINGER, Jenny. The Message of Acts in Codex Bezae (Vol 1-4): a Comparison with the Alexandrian Tradition (Library of New Testament Studies). London: Bloomsbury T&T Clark, 2007.
14ROYSE, James R., “The Early Text of Paul (and Hebrews),”, p.183.
15Sobre a conclusão de que os manuscritos podem ser usados para o estudo da história do Cristianismo primitivo, ler: EHRMAN, Bart D., Studies in the Textual Criticism of the New Testament. Leiden: Brill, 2006, pp. 100-119; EHRMAN, Bart D. e METZGER, Bruce M., The Text of the New Testament., pp.280-299.
16HENDRIKSEN, William. New Testament Commentary: Romans: Chapters 1-16. 2 ed. Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1992, p.504; LANGE, John Peter, Philip Schaff, F. R. Fay, J. F. Hurst, and M. B. Riddle. A Commentary on the Holy Scriptures: Romans. Bellingham, WA: Logos Bible Software, 2008, pp. 448; VINCENT, Marvin Richardson. Word Studies in the New Testament. New York: Charles Scribner’s Sons, 1887, Vol.3, 180; BOICE, James Montgomery. Romans. Grand Rapids, MI: Baker Books, 1992, Vol.4, p.1922;.
17PEDERSON, Rena. The Lost Apostle: Searching for the Truth About Junia Paperback Reprint. San Francisco: Jossey-Bass, 2008, p.12-26. WILLIAMS, Don. The Apostle Paul and Women in the Church. Glendale: G/L Publications, 1977, pp.44-5.
18O Thayer’s Greek Lexicon foi publicado em 1890 e tem servido a academia teológica desde então. Entretanto, em 1901 Gustav Adolf Deissmann publicou seu trabalho com papiros egípcios que revolucionou o estudo léxico do grego koinê. Os livros Bible Studies: Contributions Chiefly from Papyri and Inscriptions to the History of the Language, the Literature, and the Religion of Hellenistic Judaism and Primitive Christianity (1901 e 1910) e Light from the Ancient East: the New Testament Illustrated by Recently Discovered Texts of the Graeco-Roman World (1910) ajudaram a aprimorar a definições inadequadas de muitos termos gregos do NT, o que tornou o Thayer’s Lexicon quase que imediatamente obsoleto. 19THAYER, Joseph. Thayer’s Greek-English Lexicon of the New Testament: Coded with Strong’s Concordance Numbers. Rei ed. Nashville: Hendrickson Publishers, 1995, p.306.
20MOULTON, J. H., and G. MILLIGAN. Vocabulary of the Greek Testament. London: Hodder & Stoughton, 1930, p. 306.
21BAGD, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature. 2nd ed. Edited by Frederick William Danker and F. Wilbur Gingrich. Chicago: University of Chicago Press, 1958, p.380. Ver Também: ABBOTT-SMITH, G., A Manual Greek Lexicon of the New Testament (3a ed) Edinburg: T&T Clark, 1937. LOUW, J. P. e NIDA, Eugene, Greek-English Lexicon of the New Testament (2a ed) New York: United Bible Societies, 1988)
22LIETZMANN, Hans, Einführung in Die Textgeschichte der Paulusbriefe an die Römer. HNT, 8. Tübingen: Mohr Siebeck, 1928, p.125
23BUTTMANN, Alexander, Grammar of the New Testament Greek. Anodober: Warren F. Draper, 1873, p. 17; WINER, Georg Benedikt. A Grammar of the Idiom of the New Testament: Prepared as a Solid Base for the Interpretation of the New Testament. Andober: Warren F. Draper, 1870, p.102-3; BLASS, F., Greek Grammar of the New Testament and Other Early Christian Literature. New York: MacMillan Company, 1905, pp.29-31; ROBERTSON, A. T. A Grammar of the Greek New Testament in the Light of Historical Research. 4th ed. Nashville, TN: Broadman Press, 1914, p.172; MOULTON, J.H. e HOWARD, W.F., A Grammar of New Testament Greek. Edinburg: T&T Clark, 1906-76), Vol.2, p.155.
24BDAG, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature. 3rd ed. Edited by Frederick William Danker. Chicago: University of Chicago Press, 2001, p.480.
25BLASS, Friedrich, DEBRUNNER, Albert and FUNK, Robert Walter. A Greek Grammar of the New Testament and Other Early Christian Literature. Chicago: University of Chicago Press, 1961. §125, p.68.
26SANDAY, William, and HEADLAM, Arthur C.. Romans (International Critical Commentary). 5th ed. Edinburgh: T. & T. Clark Publishers, Ltd., 1902, 422-3.
27PIPER, John, e GRUDEM, Wayne, eds. Recovering Biblical Manhood and Womanhood (Redesign): a Response to Evangelical Feminism. Wheaton: Crossway, 1991, p.221.
28Idem, p.506.
29Idem, p.79-80.
30LOPES, Augustus Nicodemus, Ordenação Feminina: O que o Novo Testamento tem a Dizer?. Fides Reformata, 2/1 (1991), p.2-3.
31PINTO, Carlos Osvaldo, Paulo e a Mulher, Material não publicado. pp.16.
32GRUDEM, Wayne. Evangelical Feminism and Biblical Truth: an Analysis of More Than 100 Disputed Questions. Reprint ed. Wheaton, IL: Crossway, 2004, 224-26.
33GRUDEM, Wayne. Evangelical Feminism: a New Path to Liberalism? Wheaton, IL: Crossway, 2006.
34ALFORD, Henry, The Greek New Testament, with a Critically Revised Text; London: Rivingtons, 1844. Vol.2, p.382.
35LAMPE, Peter, “The Roman Christians of Romans 16”; IN: DONFRIED, Karl P., The Romans Debate. Massachusetts: Hendrickson, 1991, p.223.
36PREISIGKE, Friedrich, Namenbuch. (Heidelberg:Selbst’s des Herausgebers, 1922); BECHTEL, Friedrich, Die Historischen Personennamen des Griechischen bis zur Kaiserzeit (Hildesheim: Georg Olms, 1964); FRASE, P.M., MATTHEWS, E., A Lexicon of Greek Personal Names 1: Aegean Islands, Cyprus, Curenaia. Oxford: University, 1987; JONES, A.H.M, MARTINDALE, J.R., e MORRIS, J., The Prosopography of the Later Roman Empire: AD 260-527. Cambridge: University, 1971-80
37CERVIN, Richard, ” A Note Regarding the Name Junia(a) in Romans 16.7″, New Testament Studies: Vol.40, Issue 3. Julho 1994, pp.464-470. Ver Também, EPP, Jay Eldon, “The Junia/Junias Variation in Romans 16,7”, IN: DENAUX, A., New Testament Textual Criticism and Exegesis. Leuven: University Press, 2002, pp.255-263.
38Plutarch’s Lives, ed. by E. H. Warmington , vol. 6, Brutus (Cambridge: Mass.: Harvard University Press, 1918) 138- 39; Tácito, Annals, 3.69.
39P. Lampe, Die stadtromischen Christen in den ersten beiden Jahrhunderten, WUNT, p.139-40, 147 IN: Dunn, James D. G. Romans 9–16. Vol. 38B. Word Biblical Commentary, p.894.
40CERVIN, A note, pp. 468-9.
41cf. -us Paulus – Παυλὀς; -o Piso – Πεἰσων; -a (fem) Drusilla – Δρούσιλλα; Roma – Ρωμἠ; -a (masc) Agrippa – ᾽Αγρἰππας; -ius Afranius – ᾽Αφρἀνιος; Antonius – ᾽Αντὀνιος; Caecilius – Κεκἰλιος; Cassius – Κἀσσιος; Dmitius – Δομἰτιος; -ia Aemilia – Αιμυλἰα; Clapurnia – Καλπουρνἰα; Julia – Ιουλἰα; Fulvia – Φουλβἰα; Marcia – Μαρκἰα.
42CERVIN, A note, p.469.
43BAUCKHAM, Ricahard, Gospel Women – Studies of the named Women in the Gospels. Grand Rapids: Eerdmans, 2002, p.168. Ênfase adicionada.
44NOY, David, Jewish Inscriptions of Western Europe – The City of Rome. Cambridge: Cambridge Press, Vol2. n.71, p.62
45A inscrição datada entre o terceiro e quarto século, traz a seguinte leitura: ὦδε κεῖτ(α)ι ᾽Ιούνιοσ ᾽Ιοῦστος (pt. Aqui jaz Júnios Justos [ou talvez, o Justo].
46BAUCKHAM, Gospel Women, p.169.
47THORLEY, John, Junia, a Woman Apostle. Novum Testamentum, XXXVIII, 1. Leiden: Brill, pp.20-23
48WITHERINGTON, Ben III. Women in the Earliest Churches (Society for New Testament Studies Monograph Series). London: Cambridge University Press, 1988; KRAEMER, Ross Shepard e D’ANGELO, Mary Rose, Women and Christian Origins. New York: Oxford, 1999; Swidler, Leonard J., and Arlene Swidler, eds. Women priests: a Catholic commentary on the Vatican declaration. New York: Paulist Press, 1977, pp.141-44; HOPE, Stephenson, “Junia: Woman and Apostle”, IN: MCCABE, Elizabeth, Women in the Biblical World – A survey of Old and New Testament Perspectives. Maryland: University Press, 2009.
49JEWETT, Robert. Romans: a Commentary. Edited by Eldon Jay Epp. Minneapolis: Fortress Press, 2007, p.950.
50
Uma breve nota sobre o testemunho dos Unciais B e D: Como sabe-se, os Unciais gregos não eram acentuados, e originalmente nem B ou D continham sinais diacríticos. Entretanto, no processo de manutenção e uso dos mesmo, corretores passaram a acrescentar notas ao texto original do documento incluindo alguns sinais diacríticos. O Codex Claramontanus (D) foi examinado por Tieschendorf, que identificou nove diferences corretores (!). Três desses continuam a ser apresentados em notas críticas marcados como D1, D2, Dnov. Estima-se que o corretor conhecido como D2 fez suas alterações no nono século. O Codex Vaticanus (B) também é conhecido por seus corretores, caracterizados como B1, B2 e B3. O corretor identificado por Epp, B2 é normalmente datado no sexto século, o que atesta certa antiguidade à evidência da acentuação aguda de Júnia. Para mais informações sobre os Unciais gregos, ver: ALAND, Kurt e ALAND, Barbara, The Text of the New Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1989, pp.103-128. ERHMAN, Bart e METZGER, Bruce, The Text of the New Testament. New York: Oxford, 2005, pp.3-94; PARKER, David, “The Majuscle Manuscripts of the New Testament”, IN: ERHAMN, Bart D. e HOLMES, Michael W., The Text of the New Testament in Contemporary Research. Boston: Brill, 2013, pp.41-68.
51EPP, Jay Eldon, Junia the First Apostle. Minneapolis: Fortress Press, 2005, pp.62-63.
52WITHERINGTON, Ben III. Women in the Earliest Churches (Society for New Testament Studies Monograph Series). London: Cambridge University Press, 1988, p.115.
53FÀBREGA, Valentin. “War Junia(s), der hervorragende Apostel (Rom 16,7), eine Frau.” Jahrbuch Für Antike Und Christentum 27, 1984, 47-64
54FITZMYER, Joseph A. Romans (The Anchor Yale Bible Commentaries). Downers Grove, IL: Yale University Press, 1993; JEWETT, Robert. Romans: a Commentary. Edited by Eldon Jay Epp. Minneapolis: Fortress Press, 2007.
55EPP, Jay Eldon, “The Junia/Junias Variation in Romans 16,7”, IN: DENAUX, A., New Testament Textual Criticism and Exegesis. Leuven: University Press, 2002, pp.251-52.
56PIPER, John, e GRUDEM, Wayne, eds. Recovering Biblical Manhood and Womanhood (Redesign): a Response to Evangelical Feminism. Wheaton: Crossway, 1991, p.79-80
57Chrysostom, Homily on Romans 16, in Philip Schaff, ed, A Select Library of the Nicene and Post-Nicene Fathers of the Christian Church, vol. II, p. 555.
58PG 82.220.
59PG 14.1280.
60DUNN, James D. G. Romans 9–16. Vol. 38B. Word Biblical Commentary. Dallas: Word, Incorporated, 1998, p.894.
61Bernadette J. Brooten, “Júnia Oustanding Among the Apostles (Rom.16.7)” IN: Woman Priests: A Catholic Commentary of the Vatican Declariation, 142.
62BURER, Michael, WALLACE, Daniel B., “Was Junia Really an Apostle? a Re-examination of Rom 16.7”. New Testament Studies, Vol.47; Issue 01, Janeiro 2001, p.77.
63CRANFIELD, C. E. B., Romans 9-16 (International Critical Commentary), p.789.
64DUNN, James D. G., Word Biblical Commentary, vol. 38B, Romans 9-16, p. 894
65SCHREINER T.R.,Romans (Baker Exegetical Commentary on the New Testament, p.786
66MOO, Douglas J., The Epistle to the Romans, p.923
67STOTT, John, Romans: God’s Good News for the World, p.396
68HENDRIKSEN, William, New Testament Commentary on Romans, p.504-5
69BYRNE, Brendan. Romans. Collegeville, MN: Michael Glazier, 1996, p.453.
70HODGE, Charles, Commentary On the Epistle to the Romans, p.449
71MURRAY, J., The Epistle to the Romans, Vol.II p.229-30
72SHEDD, William G., Commentary on Romans. Grand Rapids: Baker Books, 1980, p.427.
73MEYER, H. A. W., Critical and Exegetical Hand-Book to the Epistle to the Romans, p.568
74LENSKI, Richard C. H., The Interpretation of St. Paul’s Epistle to the Romans, p.906-7
75DENNEY, James, St. Paul’s Epistle to the Romans. EGT, Michigan: Grand Rapids, 1974, Vol.II.2, 719.
76BARRETT, C. K. A Commentary on the Epistle to the Romans. Harper’s New Testament Commentaries, edited by Henry Chadwick. New York: Harper & Row, 1957, p.283
77Além das categorias largamente favorecidas acima, existem ainda outras opiniões. John McArthur, por exemplo define que “entre os apóstolos” não estava nem a fama nem a presença de Andrônico e Júnia, mas o serviço. Segundo ele, o casal teria realizado em Jerusalém um excelente trabalho entre os apóstolos, uma opção improvável no texto. (cf. MACARTHUR, John, The MacArthur New Testament Commentary om Romans 9-16. Chicago: Moody Press, 1994, p.365).
78Por exemplo, John Gill (1743-63) está certo sobre o sentido exclusivo, e não menciona outra possibilidade. Albert Barnes (1820) conhece as duas opções, mas opta pelo sentido exclusivo. Adam Clarke (1825), está incerto sobre o sentido, mas favorece o sentido exclusivo. Lange (1864-1880) defende o sentido inclusivo. Henry Matthews (1706) rejeita o sentido exclusivo, e defende o sentido inclusivo.
79BDAG, 326-30; esp. 6, 329; BAGD, 258-261, esp.III.1.b, p.260.
80LIDDELL, Henry George, SCOTT, Robert, JONES, Henry Stuart, and Roderick McKenzie. A Greek-English Lexicon. Oxford: Clarendon Press, 1996, pp.551-2, esp. III.b, 552
81SMYTH, Herbert Weir. A Greek Grammar for Colleges. New York; Cincinnati; Chicago; Boston; Atlanta: American Book Company, 1920, §1687.1.c, p.377.
82BLASS, Friedrich, DEBRUNNER, Albert, e FUNK, Robert Walter. A Greek Grammar of the New Testament and Other Early Christian Literature. Chicago: University of Chicago Press, 1961. §218-220, pp.117-118, esp, §219
83Outros exemplos: Mt.9.34; At.17.31; Rm.3.24; 1Co.6.2. Entretanto, é importante notar que todos esses exemplos tem suas dificuldades individuais e precisam ser analisados e não assumidos.
84WALLACE, Daniel B. Greek Grammar Beyond the Basics. Enlarged ed. Grand Rapids, MI: Zondervan, 1996, p. 374; Ver também: pp.163-66; 373-74.
85Exemplos similares a esse fora de Romanos: Mt.2.6; Lc.1.25, 24; 2.14; 16.15; At.4.12; 15.12; 15.22; 21.19; 1Cor.2.13*; 5.1; 2Co.12.12; Gal.2.2; Ef.2.2; Cl.1.27; 1 Pet.2.12; Exceção à essa regra são as referências aos profetas (ἐν τοῖς προφήταις), quando em referências às escrituras. Embora o substantivo προφήτης (profeta) seja claramente pessoal, quando a referência é feita aos escritos do profetas, a figura de linguagem exige que o sentido do termo seja claramente não pessoal e portanto, a expressão ἐν τοῖς προφήταις carrega sentido claramente locativo (Jo.6.45; At.13.40; 24.14; Hb.1.1), e tem sentido análogo à expressão ἐν ταῖς γραφαῖς (nas escrituras; Mt.21.42; At.18.24). Outra exceção encontra-se no uso do pronome pessoal plural (ἐν ὐμιν) que eventualmente tem o sentido de agência (Mt.10.20), mas que normalmente carrega o sentido inclusivo (Mt.11.21; 20.26; Mc.10.43-44; et al) e é usado cerca 140x no NT.
86BDAG, p.378; BAGD, p.298; LSJ, p.656.
87BURER, Michael, WALLACE, Daniel B., “Was Junia Really an Apostle? a Re-examination of Rom 16.7”. New Testament Studies, Vol.47; Issue 01, Janeiro 2001, p.84.
88Burer-Wallace também incluem casos encontrados entre os papiros de Oxirrinco: P.Oxy.1408, P.Oxy.2108, P.Oxu 2705, O.Oxy.3364
89Burer-Wallace também incluem inscrições que consideram relevantes: TAM 2.205.1 westwall.coll.2.5.18; Asia Menor: TAM 2.1-3838; TAM 2.1-3.905west wall.coll3.12; Fd Xanth 7.76.1.1.1.1.4.
90Lucianus, Merc. Cond.2.8.
91BURER, Michael, WALLACE, Daniel B., “Was Junia Really and Apostle?”, pp.89-90.
92EPP, Jay Eldon, Junia the First Apostle. Minneapolis: Fortress Press, 2005, pp.62-63
93BELEVILLE, Linda, “᾽Ιουνιαν… ἐπίσήμοι ἐν τοῖς ἀποστόλοις: A Re-examination of Romans 16.7 in Light of Primary Source Material”, New Testament Studies, 51, p.248
94BAUCKHAM, Ricahard, Gospel Women – Studies of the named Women in the Gospels. Grand Rapids: Eerdmans, 2002, p.173.
95Epp, Junia, 72-78, esp. 77.
96EPP, Jay Eldon, Junia the First Apostle. Minneapolis: Fortress Press, 2005.
97EPP, Jay Eldon, “The Junia/Junias Variation in Romans 16,7”, IN: DENAUX, A., New Testament Textual Criticism and Exegesis. Leuven: University Press, 2002.
983Mac. 6.1; Lucian Peregr. 6.1.
99Lucian, Against Leocrates, 129; Euripedes, Bacch. 967.
100Lucian, Merc. Cond. 28; Josephus, BJ 2.418.
101TAM 2.905.1; TAM 2.1-3.838; TAM 2.1-3.905; Fd Zanth 7.76.1.1.1.4; eripides, Hipp.103; Lucian, Harm 1.17.
102BAUCKHAM, Gospel Women, p.172-80.
103BELEVILLE, Linda, “᾽Ιουνιαν”, p.242-48, esp. 248.
104Micahel Burer escreveu uma crítica inicial ao texto de Epp, que pode ser lido no site The Council on Biblical Manhood and Womanhood: Reassessing Junia: A Review of Eldon Epp’s Junia: Te First Female Apostle (http://cbmw.org/uncategorized/reassessing-junia-a-review-of-eldon-epps-junia-the-first-woman-apostle/).
105Existe certa diferença entre demonstrar o que os Pais Gregos corroboram com a evidência léxica e sintática de um determinado texto, como fizemos como a descrição do gênero de Júnia, e usar o testemunho deles para determinar o sentido léxico e sintático de um texto, como Beleville quer fazer aqui. No primeiro, a evidência patrística se alinha à evidência léxica. No segundo, a evidência patrística determina a evidência sintática. Se existem razões léxicas para se afirmar que os Pais Gregos estão em erro, tais evidências devem ser consideradas com atenção.
106A título de ilustração se deve considerar o estudo morfológico de μονογενής, que foi durante muito tempo entendido como sendo o resultado de μονὀς e γεννἀω, inclusive pelos Pais Gregos, o que o estudo da morfologia contemporânea rejeita como equivocada (!). É bem mais provável que o termo seja o resultado de μονὀς e γενὀς, tal como sugere a construção de μονογενής, que tem apenas um ν e não dois como γεννἀω.
107Devemos notificar aqui que o conteúdo aqui apresentado tem grande influência de Michael Burer, e do seu artigo não ainda publicado “᾽Επίσημοι έν τοῖς ἀποστόλοις in Rom 16.7 as Exclusive: Further Defense and New Evidence.”
108EPP, “Junia/Junias,” 286; BAUCKHAM, Gospel Women, 177.
109BAUCKHAM, Gospel Women, 177.
110BELLEVILLE, “Re-examination,” 246-247
111BAUCKHAM, Gospel Women, 175-176
112WRIGHT, R.B., “Psalms of Solomon: A New Translation and Introduction,” The Old Testament Pseudepigrapha (ed. J.H. Charlesworth, ABRL; New York: Doubleday, 1985) 667. PIETERSMA, A. e WRIGHT, B.G., eds., A New English Translation of the Septuagint (New York: Oxford University, 2007) 775.
113EPP, “Junia/Junias,” 287
114BAUCKHAM, Gospel Women, 177
115BELLEVILLE, “Re-examination,” 247
116“τὰ μέγιστα δὲ (…)  ἡ δόξα ἡ παρὰ τῶν πολλῶν καὶ τὸ ἐπίσημον εἶναι ἐν πλήθεσι καὶ δείκνυσθαι τῷ δακτύλῳ, καὶ ἤν που φανῶ, εὐθὺς ἐπιστρέφεσθαι πάντας εἰς ἐμὲ καὶ λέγειν τοὔνομα, οὗτος Ἁρμονίδης ἐκεῖνός ἐστιν ὁ ἄριστος αὐλητής” – Mas a coisa mais importante (…) a glória recebida de muitos, ser o único notado pela multidão e ser apontado pelo dedo, e onde quer que eu apareça, que imediatamente todos se virem para mim e digam o meu nome: “Este é Harmonides; ele é o melhor flautista.”
117EPP, “Junia/Junias,” 287
118BAUCKHAM, Gospel Women, 177
119EPP, “Junia/Junias,” 287
120BELLEVILLE, “Re-examination,” 245
121BAUCKHAM, Gospel Women, 177
122CURTIS, H.R., “A Female Apostle?: A Note Re-examining the Work of Burer and Wallace Concerning ἐπίσημος with ἐν and the Dative,” ConJ 28 (2002), p.439.
123Nesse artigo, Burer também demonstra que a construção ἐπισήμος + [prep] genitivo normalmente tem sentido inclusivo: Theon Math., Ὑπόμνημα εἰς τοὺς προχείρους Πτολεμαίου κανόνας (commentarium magnum) (lib. 1–3). {2033.009} ST number 315 page 95 line 14. A.D. 4; Joannes Chrysostomus Scr. Eccl., In epistulam i ad Corinthios (homiliae 1–44). {2062.156} Volume 61 page 169 line 17. A.D. 4-5; idem Scr. Eccl., In illud: Vidi dominum (homiliae 1–6). {2062.498} Homily 6 section 2 line 27. A.D. 4-5; Clemens Romanus et Clementina Theol., Homiliae [Sp.]. {1271.006} Homily 12 chapter 2 section 3 line 1. A.D. 1;  Cyrillus Alexandrinus Theol., Commentarius in xii prophetas minores. {4090.001} Volume 2 page 357 line 18. A.D. 4-5; idem, Epistulae paschales sive Homiliae paschales (epist. 1–30). {4090.032} Volume 77 page 500 line 51. A.D. 4-5; idem., Epistulae paschales sive Homiliae paschales (epist. 1–6). {4090.177} Homily 5 section 1 line 39. A.D. 4-5; idem, Commentarius in xii prophetas minores. {4090.001} Volume 1 page 186 line 17. A.D. 4-5; Scholia in Aristophanem, Scholia in plutum (scholia vetera et fort. recentiora sub auctore Moschopulo). {5014.014} Argumentum-scholion sch plut verse 179 line 39. Date is varia; Scholia in Aristophanem, Commentarium in plutum (recensio 1) (scholia recentiora Tzetzae). {5014.015} Argumentum-dramatis personae-scholion sch plut verse 179 line 22. Date is varia; Diodorus Siculus Hist., Bibliotheca historica (lib. 1–20). {0060.001} Book 14 chapter 41 section 4 line 4. 1 B.C.; idem, Hist., Bibliotheca historica (lib. 1–20). {0060.001} Book 14 chapter 77 section 5 line 2. 1 B.C.; idem Hist., Bibliotheca historica (lib. 1–20). {0060.001} Book 19 chapter 19 section 4 line 4. 1 B.C; Flavius Josephus Hist., Antiquitates Judaicae. {0526.001} Book 16 chapter 16 line 2. A.D. 1; et al.
125ἐπισήμος + [prep] dativo com sentido exclusivo: Lucianus Soph., Hermotimus. {0062.063} Section 44 line 11. A.D. 2; Gregorius Nyssenus Theol., In inscriptiones Psalmorum. {2017.027} Volume 5 page 142 line 15 A.D. 4; Lucianus Soph., Apologia. {0062.059} Section 4 line 21. A.D. 2; Prolegomena de Comoedia, De comoedia. {3002.003} Line 22. Date is varia; Theodoretus Theol. et Scr. Eccl., Commentaria in Isaiam. {4089.008} Section 9 line 121 A.D. 4-5; Ephraem Syrus Theol., Ad imitationem proverbiorum. {4138.006} Page 187 line 6. A.D. 4; Scholia in Pindarum, Scholia in Pindarum (scholia vetera). {5034.001} Ode O 1 scholion 184a line 4. Date is varia; Cyrillus Alexandrinus Theol., Expositio in Psalmos. {4090.100} Volume 69 page 1057 line 30. A.D. 4-5; Historia Alexandri Magni, Recensio α sive Recensio vetusta. {1386.001} Book 2 chapter 21 section 26 line 2. Date is varia; Cyrillus Alexandrinus Theol., Commentarius in xii prophetas minores. {4090.001} Volume 1 page 61 line 2. A.D. 4-5; idem, Commentarius in Isaiam prophetam. {4090.103} Volume 70 page 521 line 52. A.D. 4-5; idem, Commentarius in Isaiam prophetam. {4090.103} Volume 70 page 16 line 27. A.D. 4-5; Lucianus Soph., De domo. {0062.009} Section 7 line 6. A.D. 2; Joannes Chrysostomus Scr. Eccl., In epistulam i ad Corinthios (homiliae 1–44). {2062.156} Volume 61 page 169 line 16. A.D. 4-5; Flavius Josephus Hist., Antiquitates Judaicae. {0526.001} Book 10 chapter 240 line 4. A.D. 1; Eusebius Theol. et Scr. Eccl., Praeparatio evangelica. {2018.001} Book 10 chapter 14 section 11 line 1. A.D. 4; Eunapius Hist. et Soph., Fragmenta historica. {2050.002} Volume 1 page 236 line 18. A.D. 4-5; Historia Alexandri Magni, Recensio β. {1386.002} Book 2 section 21 line 42. Date is varia; Historia Alexandri Magni, Recensio β. {1386.002} Book 2 section 21 line 57. Date is varia; Historia Alexandri Magni, Recensio γ (lib. 2). {1386.004} Section 21 line 55. Date is varia; Historia Alexandri Magni, Recensio Byzantina poetica (cod. Marcianus 408). {1386.018} Line 3997. Date is varia; Lucianus Soph., De saltatione. {0062.045} Section 8 line 16. A.D. 2; Eusebius Theol. et Scr. Eccl., Commentarius in Isaiam. {2018.019} Book 1 section 80 line 48. A.D. 4; Joannes Chrysostomus Scr. Eccl., In diem natalem. {2062.028} Volume 49 page 352 line 12. A.D. 4-5; Apophthegmata, Apophthegmata (collectio anonyma) (e cod. Coislin. 126). {2742.002} Apophthegm 175 line 78. Date is varia; Apophthegmata, Apophthegmata patrum (collectio systematica) (cap. 1–9). {2742.005} Chapter 5 paragraph 46 line 97. Date is varia; Macarius Scr. Eccl., Apocriticus seu Μονογενής. {2776.001} Book 3 Blondel page 80 line 20. A.D. 4-5; Prolegomena de Comoedia, De comoedia (Anonymus Crameri i). {3002.013} Line 66. Date is varia; et al.
126GODET, F. Commentary on the Epistle to the Romans. Tr. by A. Cusin, revised and edited by Talbot W. Chambers, 1883. Grand Rapids: Zondervan, 1969, p.492.
  Por outro lado, o que Paulo não faz é reconhecer o apostolado feminino, como sugerem alguns.

1 COMENTÁRIO

  1. Não esperava encontrar um texto tão denso, rico e bem produzido assim em um site na internet, onde geralmente as coisas são tratadas de maneira absolutamente superficial. Parabéns para quem tiver escrito!

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