Introdução
Não raro encontramos pessoas enfatizando a cristocentricidade como a perspectiva através da qual devemos olhar para a vida cristã, isto é, todo o referencial que temos acerca da nossa salvação (que por sua vez é o centro de nossa vida para Deus), perpassa por Cristo. Também corriqueiramente vemos as pessoas corroborando uma expressão que tem se tornado cada vez mais comum no meio cristão reformado: “Cristo é a chave hermenêutica das Escrituras!”. Certamente, não há erro algum nessas premissas: de fato, tudo o que usufruímos de benefícios da nossa salvação passa por Cristo Jesus, em quem fomos enxertados (Rm 11. 11-24), e ele é o ponto de convergência de toda a Bíblia Sagrada; de toda a história da redenção registrada de Gênesis à Apocalipse.
Entretanto, ambas as ideias precisam ter como arcabouço um direcionamento mais amplo do que significa que em Cristo repousa toda a vida cristã e de que ele é o meio através do qual lemos e compreendemos a Palavra de Deus. Nossa proposta, então, é reenfatizar aquilo que já nos pertence como confissão credal, porém, que tem sido diluído numa linguagem que parece se esquecer do princípio que sustenta todo o edifício revelacional escriturístico e cosmológico: a doutrina da Trindade.
Centralidade messiânica no Antigo Testamento
Quando voltamo-nos para o Antigo Testamento, logo em suas primeiras páginas, percebemos uma estruturação do que será todo o arquétipo redentor ao longo do progresso da história da salvação. Em Gênesis 3.15 (talvez uma das passagens mais citadas por nós hoje, exatamente por seu papel central no desenrolar da progressão revelacional), encontramos a metodologia decretada por Deus para executar a salvação do cosmo: “Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela. Este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar” (NAA). Geralmente somos muito rápidos em considerar que esse versículo está se referindo à Cristo Jesus, como de fato está. Contudo, é como esse versículo aponta para Jesus e sua obra salvadora que deixamos às vezes escapar. Este texto faz parte de um bloco de sentenças que estão sendo deferidas por Deus diante do pecado em que incorreu Adão e Eva ao comerem do fruto proibido. Cada uma das sentenças reflete uma pena que estará presente na existência do condenado e até mesmo de sua posteridade. Ao publicar as sentenças, é revelado o agente executor das mesmas; o próprio Deus, e dessa forma, todas as consequências ligadas às penas sentenciadas são como promessas da parte do Senhor; promessas que permanecerão em execução até que o plano redentor seja concluído (algumas, para além disso).
Se assim ocorre, nossa ótica deve ser a de considerar Deus o Pai envolvido na promessa messiânica tanto quanto o próprio Messias (aquele mencionado em Gn 3.15 como “este”, ou “descendente da mulher”) que é prometido. O Senhor e o Messias, fazem parte de uma “força-tarefa” que resultará na salvação do povo eleito de Deus e na restauração do cosmo. Temos o envolvimento de dois agentes, que merecem igual crédito na obra que realizam, embora, administrativamente, cada um como destacado, possua sua função nessa ação: o Senhor compromete-se em manter sua palavra e cumpri-la garantindo a vinda do Messias, e o Messias será aquele através do qual a obra expiatória será efetivada.
O “messianismo” é um tema central nas Escrituras, por causa das implicações já mencionadas. Consideremos por exemplo o que asserta Walter Kaiser:
O Messias está no âmago da […] Bíblia. Por exemplo, de acordo com cálculos de rabinos, há aproximadamente 456 textos do Antigo Testamento que se referem diretamente ao Messias ou aos tempos messiânicos. Embora esse número seja aumentado pelos padrões particulares de sabedoria usados em algumas comunidades, o que resta quando a lista é reduzida é ainda extremamente impressionante.[1]
Mais uma vez ressaltamos que, à luz desse dado, as menções ao Messias também aparecem acopladas a estruturas em que a ação é atribuída a mais de uma pessoa ou agente, no caso do messianismo. Deus, ou o Senhor, em muitas passagens aparece como sendo o agente da obra do próprio Messias, como um rei que envia seu príncipe a fim de que o mesmo execute determinada função. Vemos isso em passagens como Deuteronômio 18.15: “O Senhor, seu Deus, fará com que do meio de vocês, do meio dos seus irmãos, se levante um profeta semelhante a mim; a ele vocês devem ouvir”. Nesta passagem, Moisés, ao explicar a lei dada por Deus ao povo, faz um apontamento messiânico que especifica o papel deste como o profeta, ou seja, aquele que proclamará a vontade de Deus ao povo. Porém, mais uma vez, a agência trinitária[2] está envolvida, quando lemos que será o próprio Senhor quem levantará esse profeta no meio da nação de Israel.
A instrumentalidade do enviado de Deus para salvação do povo é clara nesse texto, principalmente, como é nossa proposta, quando a vemos à luz do princípio que cunharemos neste artigo como “trinocentricidade”[3]; a ação descrita no texto aponta para uma operação conjunta do Senhor e do Messias.
Outro texto que alude a essa mesma perspectiva é o texto de Isaías 52.13-15-53. O profeta Isaías é amplamente conhecido como “profeta messiânico”, isso porque suas profecias, quando comparadas a de outros profetas, são mais abrangentes e específicas a respeito dessa figura histórica que é concretizada em Cristo Jesus. Após uma sequência de profecias que juram a destruição do povo de Israel devido seu pecado contra Deus, Isaías começa a mudar o tom de sua mensagem, incluindo mais claramente a essa altura de seus escritos, um renovo, restauração ou mesmo salvação para Israel. Para tal, o agente dessa ação, o Senhor, destaca outro personagem que é por sua vez o seu agente nessa ação, o qual é chamado de “o servo sofredor”, devido a descrição de profunda dor e sofrimento que lhe serão causados para que por meio da expiação com sua vida, o povo retorne aos braços de Deus e goze de relacionamento eterno com ele. A agência trinitária no texto é revelada através de expressões tais como:
“Eis que o meu Servo procederá com prudência;
será exaltado e elevado, e será mui sublime. […] Porque verão aquilo que não lhes foi anunciado, e entenderão aquilo que não tinham ouvido” (Is. 52.13;15 NAA). |
“O meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento justificará a muitos” (Is. 53.11 NAA). |
Em ambos os textos, temos claramente a ação conjunta de dois personagens funcionando para a execução de um mesmo objetivo: a redenção do povo; o primeiro mostra-se como aquele que envia, que proporciona o ingresso do Messias na ação, o segundo, o próprio Messias, executa o desejo de seu “enviador”.
Temos percebido essa trinocentricidade do plano redentor em passagens de caráter literário profético, porém, outras porções e tipos textuais bíblicos se valem da mesma estrutura para apresentar a obra redentora, como por exemplo, o salmo 2.
Como aborda Robertson, “o salmo segundo apresenta o Filho apontado por Deus como aquele que vai de maneira definitiva estender o reinado messiânico até os confins da terra”.[4] Isto posto, podemos compreender que a figura davídica no salmo, é uma prefiguração ou tipologia do próprio Filho de Deus, Cristo, que desempenhará o papel de reinar sobre o seu povo e sobre todos os povos da terra. O pano de fundo de todo o primeiro livro dos salmos é a rebelião dos povos e dos inimigos de Deus que não desejam que seu reino seja estabelecido pelo Messias, como nos mostra a própria apresentação dos primeiros versos do salmo 2: “Por que se enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o Senhor e contra o seu Ungido […]” (v. 1,2). No mesmo salmo, a relação entre o Senhor e a figura messiânica que é claramente chamada de “filho” (v. 7: “Tu és meu Filho”) emerge com o fim de que através do estabelecimento do reinado do Filho, o próprio Deus reine sobre Israel. Temos então a fusão dos tronos davídico com o de Deus, fusão essa que proporcionará o reinado de Deus sobre seu povo, o que é a expressão clara da ação redentora do Senhor. O próprio conceito de “fusão dos tronos” nesse aspecto, deve ser considerado um desdobramento da ação trinitária no plano salvador, de maneira a expor, como já dito, o reino de Deus em seu Filho, o Messias. O princípio de salvação por meio de um reino alude ao compromisso pactual estabelecido por Deus de ser para sempre o seu Deus, e Israel, o seu povo.[5]
Dessa forma, a centralidade messiânica no Antigo Testamento está alicerçada na obra trinitária de Deus em salvar seu povo. Pai, Filho e Espírito (aquele através de quem o Filho age) estão unidos no plano redentor. Tal estrutura determina a ótica de observação de todo processo redentor no AT; por mais que no Filho repouse a responsabilidade de no tempo e espaço executar a vontade do Pai, Pai e Espírito também devem ser igualmente considerados na ação. Um equilíbrio perfeito emerge aqui, que abrange todas as pessoas da Santíssima Trindade.
Trinocentricidade no Novo Testamento
Quando chegamos ao Novo Testamento, naturalmente todas as ideias que porventura estavam obscurecidas pelo véu do tempo que aguardava a chegada de sua plenitude se desvelam, e vemos com mais clareza a trinocentricidade do plano redentor.
O próprio Senhor Jesus Cristo aponta que a operação de seu ministério tem como centro nevrálgico a obediência ao Pai: “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jo 6.38). Essa postura de Cristo se repetirá várias vezes durante os evangelhos, demonstrando que a operação de sua tarefa não está sendo executada de forma alguma a parte do Pai ou do Espírito, muito embora, seja nele que o aspecto objetivo da salvação esteja sendo executado, e por aspecto objetivo, entendemos, como já mencionamos, a própria encarnação da Segunda Pessoa da Trindade no tempo e no espaço, pois era necessário que assim fosse, numa que, se no tempo e espaço o pecado veio ao mundo, também nessas condições ele deveria ser expiado (Rm 5.12-21).
Seguindo o modelo apresentado por Cristo, os próprios apóstolos do Senhor enfatizam essa ação trinitária do plano redentor, ao apresentar a mensagem do evangelho. Por exemplo, o apóstolo Pedro em seu primeiro discurso após o pentecostes (momento em que o Espírito Santo vem sobre a igreja, a fim de cumprir a promessa do Filho (Jo 14.16,17)), usa a estrutura trinocêntrica, conforme vemos em Atos 2:
“Israelitas, escutem o que vou dizer: Jesus, o Nazareno, homem aprovado por Deus diante de vocês com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou entre vocês por meio dele, como vocês mesmos sabem, a este, conforme o plano determinado e a presciência de Deus, vocês mataram, crucificando-o por meio de homens maus. Porém Deus o ressuscitou, livrando-o da agonia da morte […]. Portanto, toda a casa de Israel esteja absolutamente certa de que a este Jesus, que vocês crucificaram, Deus o fez Senhor e Cristo” (v. 22-24, 36).
Para testemunhar àquela multidão o evangelho do Reino de Deus, Pedro se valeu da ênfase na Trindade, pois como temos visto, não pode haver dissociação entre as Pessoas da Trindade na operação da obra redentora sem que haja desvio da verdade bíblica. Uma coisa está diretamente ligada à outra: o anúncio do evangelho precisa revelar e explicitar a ação trinitária na salvação do cosmo.
O mesmo modelo é empregado pelo apóstolo Paulo, quando explica aos Efésios de maneira clara esse arquétipo sobre o qual está alicerçado o edifício da salvação. De maneira mais didática, ele destaca tanto a unidade da Trindade no processo como um todo, como cada papel pontual que as Pessoas da Trindade desempenham:
Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo. Antes da fundação do mundo, Deus nos escolheu, nele, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele. Em amor nos predestinou para ele […]. Nele (no Amado, i.e. Jesus Cristo) temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados […]. […] Tendo nele também crido, receberam o selo do Espírito Santo da promessa. O Espírito é o penhor da nossa herança, até o resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória. (Efésios 1. 3,4,5;7;13,14).
Temos nesse texto, claramente a obra trinitária da salvação, economicamente definida. Qual seja:
A ênfase do apóstolo é atribuir a obra salvífica a todas as Pessoas da Trindade, sem que seja ressaltada uma em detrimento de outra.
Síntese “trinocêntrica” AT-NT à vida cristã
Segue-se naturalmente com essa análise, que todo arcabouço relacional está ancorado nessa estrutura-chave que percorre toda a história, conforme registrada na Escritura Sagrada: o Pai opera a salvação do cosmo no Filho, que por sua vez age sob o ministério do Espírito Santo. À lume dessas informações, nosso próximo passo é aplicar essa perspectiva à vida cristã tendo em vista a base escriturística desenvolvida até aqui.
Já destacamos repetidas vezes que o edifício da salvação tem por base o que chamamos de “agência trinitária”, ou seja, a obra da redenção foi orquestrada e operada pela Trindade. Sabemos também que não fomos salvos em parte, ou que há alguma seção de nossa vida que não esteja sob a jurisdição do Deus Triuno que nos resgatou da morte do pecado para a vida que usufruímos nEle. Dessa maneira, não há como pensar na vida cristã de maneira a desconsiderar esse ponto: toda nossa vida também é trinocêntrica, isto é, nossa existência gira em torno do Pai, Filho e Espírito Santo, o único Deus vivo e verdadeiro.
Tendo ressaltado isso, notemos que costumeiramente no cenário evangelical brasileiro, é possível observar uma tendência a destacar Cristo Jesus em seus momentos devocionais ou de culto. Quando nas orações ouvimos repetidamente, ao final, as expressões: “no nome de Cristo é que oramos, amém!”; ou “em nome de Jesus, amém!”. Os cânticos, nomeiam explicitamente a Segunda Pessoa da Trindade, e apenas aludem rapidamente ao Pai e ao Espírito em suas letras.
Notemos por exemplo o direcionamento que recebemos da Confissão de Fé de Westminster, quando trata do culto religioso:
O culto religioso deve ser prestado a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo – e só a ele; não deve ser prestado nem aos anjos, nem aos santos, nem a qualquer outra criatura; nem, depois da queda, deve ser prestado a Deus pela mediação de qualquer outro senão Cristo.[6]
Claramente há uma distinção sendo didaticamente feita pela Confissão quando elabora que o culto deve ser prestado pela mediação de Cristo Jesus, pois é por ele que temos acesso a Deus (Hb 4.14-16). Porém, em termos de veneração ou adoração, é à Trindade que o culto deve ser direcionado. É válido ressaltar que ao abordamos e enfatizarmos esse aspecto trinitário do culto, não estamos aqui criando algum tipo de tensão entre as pessoas da divindade, como se reivindicássemos algum tipo de sobreposição de uma sobre a outra, ou como denunciássemos o desprezo de uma em detrimento de outra nos cultos realizados pelos cristãos. Nossa proposta, como já deve ter ficado claro com este ensaio, é resgatar a ênfase trinitária não somente do culto, mas da vida cristã como um todo, pois não podemos ser pegos pelo nosso zelo, por exemplo, na cristocentricidade, e com isso negligenciarmos todo o embasamento teológico que nos foi revelado pelo Deus Triuno em sua Palavra. O “cristomonismo” pode ser um erro muito sutil e presente em muitas igrejas. Como exemplifica Matthew Holst:
A princípio é muito mais fácil para alguns de nós, a despeito do que poderíamos imaginar, aderirmos sutilmente um cristomonismo. Quando a Lei é pregada em nossas igrejas (conforme ela deve ser pregada) e a única aplicação é “você não pode guardá-la, mas Jesus pôde”, provavelmente você está ouvindo uma pregação cristomônica. Se você quase exclusivamente ouve que, como cristão, suas obras não são aceitáveis a Deus e elas não o agradam, provavelmente você está ouvindo uma pregação cristomônica. Se você escuta pouco ou nada do amor do Pai ao salvar os pecadores, provavelmente você está ouvindo uma pregação cristomônica. Se você raramente ouve uma aplicação na pregação, provavelmente você está ouvindo uma pregação cristomônica. É muito fácil cair no cristomonismo. Quanto a isso você pode objetar: “O que há de errado com essas mensagens?”. A resposta simples é que elas não estão retratando fielmente todo o conselho de Deus ou, em outras palavras, elas não resumem a totalidade da mensagem de “Jesus Cristo e ele crucificado”.[7]
Ignorar a trinocentricidade da adoração ou da vida cristã como um todo, é ignorar a centralidade da estrutura trinitária da própria Palavra de Deus como revelação especial do Deus Triuno ao seus filhos para orientação em como servi-lo. Desde os primeiros textos do Antigo Testamento, como vimos, fica claro que o processo através do qual fomos salvos foi a obra trinitária executada pelo Pai, Filho e Espírito Santo em nos resgatar de maneira magistral através de um plano que compreendeu a administração perfeita do decreto salvífico pela obra de cada Pessoa da Trindade, e que essa ação econômica das Pessoas, não as separa (como nunca o poderia ser), mas revela sua harmonia e ação conjunta.
Tal é a indivisibilidade do Deus Triuno, que não podemos conceber a salvação enfatizando uma delas sem laborar em gravíssimo erro. Nossa vida, nossas obras, nosso pensamento e palavras devem refletir uma vida que entende (por fé) a revelação do único Deus vivo e verdadeiro que subsiste em três pessoas. Outro documento confessional reformado, aponta para como essa verdade está revelada nas Escrituras, nos seguintes termos:
Tudo isso sabemos tanto pelo testemunho das Sagradas Escrituras, quanto pelas obras de cada uma das três pessoas, e, especialmente, por aquelas obras que percebemos em nós mesmos. Os testemunhos da Escritura que nos ensinam a crer na Trindade Santa estão registrados em muitos lugares no Antigo Testamento […] [e] aquilo que no Antigo Testamento parece um tanto obscuro, no Novo Testamento fica totalmente claro.[8]
Quando nos referimos, por exemplo, à pregação como “cristocêntrica” dizemos com isso que a mensagem salvadora de alguma forma[9] (subordinada ao texto) deve estar presente – o homem que perdido em seus pecados estava condenado, é resgatado pela ação graciosa do Senhor –, mas isso não pode ser um pretexto para que enfatizemos uma Pessoa da Divindade em relação às outras, como se apenas pelo fato de mencionar ou focalizar Cristo estamos sendo cristocêntricos, nesse caso, estamos incorrendo despercebidamente em “cristomonismo”. Um louvor que apenas louva a Cristo pela sua morte na cruz, pode ser visto como cristomônico se não alude que o ato foi também idealizado e projetado pelo Pai e pelo Espírito Santo. A oração que é direcionada apenas ao Filho, também desliza no mesmo erro. Esta bendita complexidade nos leva a observar o princípio da adoração trinitária. O culto, por exemplo, é o lugar onde mais podemos e devemos perceber a Trindade, quando adoramos Pai, Filho e Espírito Santo por termos sido eleitos antes da fundação do mundo pelo Pai para ser povo de Deus; em razão disso, termos sido justificados e expiados pelo Filho que veio em nosso resgate, lavando-nos com seu puríssimo sangue para nos apresentar a Deus em perfeito estado; e termos sido alvos da ação do Espírito Santo que aplicou a obra do Filho em nós, e nos purifica todos os dias, nos conformando a imagem do Filho de Deus, dando-nos o poder de andar como ele andou, em novidade de vida e no temor do Senhor, por meio de quem também oramos. Tal é a configuração litúrgica que devemos seguir, e esse deve ser nosso sentimento e pensamento quando estamos na presença de Deus no culto público, adoramos ao Pai, Filho e Espírito Santo, através da própria obra do Pai, Filho e Espírito Santo.
Considerações finais
À luz da Escritura, o que vemos é o progresso da revelação do Deus Triuno na história como uma seta que aponta para a própria Trindade. A relação do Pai, Filho e Espírito Santo, demonstra como estamos inseridos no seu plano divino de glorificação do seu santo nome num povo que foi eleito, remido e purificado para participar dessa imensa celebração: O Pai que elege um povo para a glória do Filho; O Filho que se sacrifica a fim de redimir um povo para a glória do Pai; e o Espírito Santo, fruto do amor infinito do Pai e do Filho, prepara esse mesmo povo para encontrar-se com esse Deus Triuno.
Nossa vida deve ser o reflexo da compreensão dessa verdade única, e toda ela deve ser trinocêntrica, pois assim fomos criados, assim fomos redimidos, dessa forma estamos sendo santificados, para que no dia final sejamos assim glorificados e possamos adorar perfeitamente o Pai, o Filho e o Espírito Santo, para sempre. Amém.
Cristo triunfa!
Referências bibliográficas
As Três Formas de Unidade: A Confissão de Fé Belga, O Catecismo de Heidelberg e Os Cânones de Dort – Recife, CLIRE, 2017.
HOLST, Matthew – Cristocêntrico ou Cristomônico – Tu Porém. Disponível em < https://tuporem.org.br/cristocentrico-ou-cristomonico/>.
KAISER JR., Walter C. – Pregando e ensinando a partir do Antigo Testamento: um guia para a igreja – Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2009.
Robertson, O. Palmer. The Flow of the Psalms: Discovering Their Structure and Theology (Locais do Kindle 1347-1348). P&R Publishing. Edição do Kindle.
ROBERTSON, Palmer O. – O Cristo dos Pactos – São Paulo: Cultura Cristã, 2011., p. 45
Confissão de Fé de Westminster – 17ª ed. – São Paulo: Cultura Cristã, 2008.
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[1] KAISER JR., WALTER C. – Pregando e ensinando a partir do Antigo Testamento: um guia para a igreja – Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2009, p. 27.
[2] A iniciativa das três pessoas da Trindade na ação.
[3] O termo é aqui empregado e cunhado afim de que conceituar a ação Trinitária (Pai, Filho e Espírito Santo) no processo redentor. Não contradizemos ou descartamos a doutrina da economia da Trindade, onde cada pessoa, segundo decreto da própria Trindade, executa um função no processo salvífico. O que fazemos é enfatizar a informação de que, embora haja execução por parte de alguma das pessoas da Trindade em determina obra de maneira específica, no âmbito geral, o plano salvífico é um projeto que deve ser atribuído à Trindade.
[4] ROBERTSON, O. Palmer. The Flow of the Psalms: Discovering Their Structure and Theology (Locais do Kindle 1347-1348). P&R Publishing. Edição do Kindle. Tradução nossa.
[5] “Ao longo do registro bíblico da administração da aliança feita por Deus, uma frase única se repete como sumário da relação pactual: “Eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo”. A constante repetição dessa frase, ou de sua equivalente, indica a unidade da aliança de Deus. Essa frase pode ser considerada como o “princípio Emanuel” da aliança. O coração da aliança é a declaração de que “Deus está conosco. (ROBERTSON, Palmer O. – O Cristo dos Pactos – São Paulo: Cultura Cristã, 2011., p. 45)”.
[6] Confissão de Fé de Westminster – 17ª ed. – São Paulo: Cultura Cristã, 2008, p. 169.
[7] HOLST, Matthew – Cristocêntrico ou Cristomônico – Tuporém. Disponível em < https://tuporem.org.br/cristocentrico-ou-cristomonico/>. Acesso em 03 de Julho de 2020.
[8] As Três Formas de Unidade: A Confissão de Fé Belga, O Catecismo de Heidelberg e Os Cânones de Dort – Recife, CLIRE, 2017, p. 22.
[9] Apresentar a salvação em Cristo pode envolver diversos aspectos de sua obra, como por exemplo, à luz dos sacrifícios do AT, podemos enfatizar que apontavam para como através Cristo nossa redenção seria executada. Ou em passagens narrativas, podemos analisar a cristologia à luz da tipologia dos personagens, que em variados aspectos podem aludir à Cristo. Apontar para Cristo não significa sempre que a Pessoa de Cristo deve aparecer, mas a depender do texto, sua obra, ou os resultados da salvação executada pelo Pai, Filho e Espírito Santo, são pontos que centralizam a salvação como tema basilar da revelação.
Excelente estudo entre as pessoas da trindade, enfatizando a importância de cada uma delas, sem tirar a importância de Cristo,.como centro de todas as coisas criadas por Deus.