Este texto foi escrito pelo mais importante teólogo luterano do século XX, Wolfhart Pannenberg. Nascido em Stettin, na Alemanha (atualmente Szczecin, Polônia), em outubro de 1928, teve uma impressionante experiência de conversão na adolescência. Estudou nas Universidades de Berlim, Göttingen, Basel e Heidelberg, e em seguida lecionou no seminário teológico confessante (Kirchlichen Hochschule) em Wuppertal (1958-1961) e na faculdade de teologia da Universidade de Mainz (1961-1968), mudando-se para a faculdade de teologia evangélica da Universidade de Munique em 1968, onde desenvolveu grande parte de sua carreira acadêmica, aposentando-se em 1994. Pannenberg é um escritor prolífico, e em dezembro de 2008 a Universidade de Munique listava 645 publicações acadêmicas de sua autoria. Sua principal obra, Teologia Sistemática, em três volumes, foi publicada em português em 2009, contendo uma das melhores defesas da ressurreição de Cristo como fato histórico. Outro de seus bons textos é um estudo sobre Como pensar o secularismo. Para aqueles que quiserem estudar um pouco mais sobre a elaboração teológica de Pannenberg, recomendamos a obra de Stanley J. Grenz e Ed. L. Miller, Teologias contemporâneas, p 145-162.
O amor pode ser pecaminoso? Toda a tradição da doutrina cristã ensina que existe tal coisa como a possibilidade de o amor se desfigurar. Os seres humanos são feitos para amar, como criaturas de Deus, que é amor. Contudo, essa designação divina é corrompida sempre que as pessoas se afastam de Deus e amam as outras coisas mais do que a Deus.
Jesus disse: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim” (Mt 10.37). O amor a Deus precisa ter precedência sobre o amor aos nossos pais, embora o amor aos pais seja recomendado no Quarto Mandamento.
A vontade de Deus deve ser o guia de nossa identidade e da escolha do que somos. O que isso implica para o comportamento sexual pode ser visto no ensino de Jesus sobre o divórcio. Para responder a pergunta dos fariseus sobre a admissibilidade do divórcio, Jesus se refere à criação dos seres humanos. Nessa passagem, Jesus vê Deus expressando seu propósito para as suas criaturas: a criação confirma que Deus fez os seres humanos como homem e mulher. Por isso, o homem deixa seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher, e os dois se tornam uma só carne.
Jesus conclui disso que a indissolubilidade da comunhão entre o esposo e a esposa é a vontade do Criador para os seres humanos. A comunhão indissolúvel do casamento é, portanto, o alvo de nossa criação como seres sexuais (Mc 10.2-9). Visto que esse princípio da Bíblia não está limitado a tempo, a palavra de Jesus é o fundamento e o critério para todo pronunciamento cristão sobre a sexualidade, não somente sobre o casamento de forma específica, mas sobre toda a nossa identidade como seres sexuais. De acordo com o ensino de Jesus, a sexualidade humana como homem e mulher é destinada à comunhão indissolúvel do casamento. Esse padrão dá essência à doutrina cristã a respeito de todo o âmbito do comportamento sexual.
Em geral, a perspectiva de Jesus corresponde à tradição judaica, embora sua ênfase sobre a indissolubilidade do casamento vá além da estipulação quanto ao divórcio na lei judaica (Dt 24.1). Os judeus compartilhavam da convicção de que homens e mulheres, em sua identidade sexual, foram criados para a comunhão do casamento. Isso também explica a avaliação do Antigo Testamento quanto aos comportamentos sexuais que se afastam dessa norma, incluindo fornicação, adultério e relações homossexuais.
As avaliações bíblicas da prática homossexual são inequívocas em sua rejeição, e todas as suas afirmações sobre esse assunto são concordantes, sem exceção. O Código de Santidade, em Levítico, afirma de forma incontroversa: “Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; é abominação” (Lv 18.22). Em Levítico 20, o comportamento homossexual é incluído entre os crimes que merecem a pena capital (Lv 20.13; é significativo o fato de que isso também se aplica ao adultério no versículo 13). Nesses assuntos, o judaísmo sempre se reconheceu distinto das outras nações.
A mesma distinção continuou a determinar a posição do Novo Testamento quanto à homossexualidade, em contraste com a cultura helênica que não via ofensa nas relações homossexuais. Em Romanos, Paulo inclui o comportamento homossexual entre as consequências de rejeitar a Deus (Rm 1.27). Em 1 Coríntios, a prática homossexual é categorizada ao lado de fornicação, adultério, idolatria, avareza, bebedeira, furto e roubo como um comportamento que impede a participação no reino de Deus (1 Co 6.9-10). Paulo afirma que por meio do batismo aquelas pessoas foram libertas de seu envolvimento em todas essas práticas (1 Co 6.11).
O Novo Testamento não contém uma única passagem que possa indicar uma avaliação mais positiva da atividade homossexual para contrabalançar essas afirmações de Paulo. Assim, todo o testemunho da Bíblia inclui a prática da homossexualidade, sem exceção, entre os comportamentos que expressam, de modo impressionante, o fato de que a humanidade se afastou de Deus. Esse resultado exegético coloca limites bem estreitos no ponto de vista sobre a homossexualidade para qualquer igreja que está sob a autoridade das Escrituras. E as afirmações bíblicas sobre esse assunto expressam a consequência negativa decorrente das perspectivas bíblicas positivas sobre o propósito da criação do homem e da mulher em sua sexualidade.
Essas passagens bíblicas que são negativas em relação ao comportamento homossexual não estão lidando apenas com opiniões secundárias que poderiam ser negligenciadas sem prejuízo da mensagem cristã como um todo. Além disso, as afirmações bíblicas sobre a homossexualidade não podem ser relativizadas como expressões de um ambiente cultural que hoje está ultrapassado. Desde o início, o testemunho bíblico se opôs deliberadamente às pretensões de seu ambiente cultural, em nome da fé no Deus de Israel, que na Criação designou o homem e a mulher para uma identidade específica.
Os defensores contemporâneos de uma mudança na opinião da igreja a respeito da homossexualidade argumentam constantemente que as afirmações bíblicas desconheciam a importante evidência antropológica moderna. Essa nova evidência, dizem eles, sugere que a homossexualidade tem de ser considerada um constituinte da identidade psicossomática de pessoas homossexuais, algo completamente anterior a qualquer expressão homossexual correspondente. (Por questão de clareza, é melhor falarmos aqui de inclinação homófila como algo distinto da prática homossexual.) Esse fenômeno ocorre não somente em pessoas que são homossexualmente ativas. Mas a inclinação não precisa ditar a prática. É característico dos seres humanos o fato de que nossos impulsos sexuais não estão confinados a determinada esfera de comportamento; eles permeiam nosso comportamento em todas as áreas da vida. É claro que isso inclui os relacionamentos com pessoas do mesmo sexo. Contudo, exatamente pelo fato de os estímulos eróticos estarem envolvidos em todos os aspectos do comportamento humano, somos confrontados com a tarefa de integrá-los a toda a nossa vida e conduta.
A existência de inclinações homófilas não leva automaticamente à prática homossexual. Pelo contrário, essas inclinações podem ser integradas numa vida em que elas sejam subordinadas ao relacionamento com o sexo oposto; e nesse relacionamento a atividade sexual não deve ser o centro todo-determinante da vida e da vocação humana. Como salientou corretamente o sociólogo Helmut Schelsky, uma das realizações primárias do casamento, como instituição, é o seu engajamento da sexualidade humana no cumprimento de tarefas e objetivos ulteriores.
Portanto, a realidade de inclinações homófilas não precisa ser negada e não deve ser condenada. Todavia, a questão é como lidar com essas inclinações no âmbito da tarefa humana de dirigirmos responsavelmente nosso comportamento. Esse é o verdadeiro problema; e, nesse ponto, temos de concordar com a conclusão de que a atividade homossexual é um afastamento da norma quanto ao comportamento sexual que foi dado ao homem e à mulher como criaturas de Deus. A igreja deve ter essa postura não somente no que diz respeito à atividade homossexual, mas também a qualquer atividade sexual que não expresse o alvo do casamento entre um homem e uma mulher, em especial, o adultério.
A igreja tem de conviver com o fato de que, nesta área da vida, como em outras, afastamentos da norma não são excepcionais, mas comuns e ocorrem em todo o mundo. A igreja tem de confrontar todos os que estão interessados em tolerância e entendimento, mas também deve exortá-los ao arrependimento. Ela não pode abandonar a distinção entre a norma e o comportamento que se afasta da norma.
Este é o limite para uma igreja cristã que se reconhece sujeita à autoridade das Escrituras. Aqueles que instam a igreja a mudar a norma de seu ensino sobre este assunto precisam saber que estão promovendo cisma. Se uma igreja se permitisse chegar ao ponto em que cessaria de tratar a atividade homossexual como um afastamento da norma bíblica e reconheceria uniões homossexuais como relacionamento pessoal amoroso entre parceiros equivalente ao casamento, essa igreja não estaria mais firmada no alicerce bíblico; antes, ela estaria contra o testemunho inequívoco das Escrituras. Uma igreja que tomasse esse passo deixaria de ser a igreja una, santa, católica e apostólica.
____________________________________________________
1Traduzido para o inglês por Markus Bockmuehl (e publicado originalmente como em Church Times, June 21, 1996, e em Christianity Today, November 11, 1996. Vol 40, Nº 13, p. 35), e para o português por F. Wellington Ferreira.
Fico admirado que um assunto tão s‚rio e importante quanto este, ningu‚m deixou aqui o seu coment rio.
Sabe o que ‚ isso? Medo de retaliação.
Nos acovardamos quando não nos posicionamos ao um assunto tão atual e polêmico quanto esse.
Parto do seguinte pensamento: De onde nós viemos? Da relação entre o meu pai com o meu pai? Ou da relação da minha mãe com a minha mãe? Não n‚? Nascemos da relação intima e amorosa de nossos pais, ou seja, de um homem e uma mulher.
Agora, por causa da opinião de alguns poucos, nos calamos quanto o assunto ‚ homossexualismo ou lesbianismo. Como eu posso acreditar que o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo ‚ certo, se eu tenho em casa o exemplo de que isso ‚ mentira.
Se os meus pais fossem homossexuais, onde estaria eu?
Se os pais das pessoas homossexuais fossem homossexuais, onde estariam os homossexuais?
Não faz sentido, ‚ preciso que aja um homem e uma mulher para que aconteça a vida, ao contr rio ser pura perversão humana.
Numa ‚poca onde a relatividade moral, est em crescente escala e a carência parâmetros morais. esse esclarecimento feito pelo autor, leva-nos a refletir sobre essa pr tica tão difundida em nossa sociedade e tida como normal e at‚ para vergonha nossa entre alguns cristãos. entendo que esse assunto ‚ delicado, mas não podemos fechar os olhos frente ao mesmo, mas acredito que precisamos também sairmos um pouco mais do campo das ideias e apresentarmos para essa pessoas o amor pr tico e salvador de Jesus. Os valores são importantes, mas a demonstração dos mesmos a solução desses dilemas, acredito que seja o nosso maior desafio.
Em se tratando deste assunto ‚ preciso mesmo que quem tem a visão correta se manifeste sempre, pois a pergunta que sempre faço as pessoas que defendem o casamento entre pessoas do mesmo sexo ‚: Se seus pais fossem homossexuais, como você poderia estar aqui hoje? Acredito que só isso deveria bastar para a condição lógica, mas temos um argumento superior ainda a este que est na Bíblia, mostrando clara e limpidamente que isso ‚ uma aberração conden vel, ‚ uma afronta a qualquer coisa que se possa chamar amor ou coisa que o valha.
A citação: Os defensores contemporâneos de uma mudança na opinião da igreja a respeito da homossexualidade argumentam constantemente que as afirmaçäes bíblicas desconheciam a importante evidência antropológica moderna…
Lembremos que o autor da Bíblia, Espírito Santo, ‚ o mesmo que participou do conselho divino para criação do homem. Deus não só conhece a antropolgia moderna, como ‚ o autor de toda a antropologia.
Um forte abraço,
parabéns ao autor desse artigo.
Em Jesus,
Edson Ronaldo Tressmann (Pastor Luterano)
http://sermoescristoparatodos.blogspot.com
Concordo plenamente com tudo que foi falado e dou graças ao meu Deus pela coragem deste escritor. Que o nosso Deus continue inspirando os seus servos.
É f cil para um heterossexual abordar a questão apenas pela ótica fria da letra, condenam pessoas e categorizam o relacionamento homoafetivo como uma perversão humana, mas como chamar de pervertido um indivíduo que vive conflitos existenciais profundos devido a sua condição? Ser que algu‚m, deliberadamente, escolheria ser gay mesmo sabendo de todas as implicaçäes sociais e religiosas? Não estou levantando uma bandeira, mas ‚ preciso refletir com amor sobre o assunto, pois essas pessoas conhecem bem a condenação, agora Igreja estaria pronta para oferecer alguma Redenção a estes pecadores, assim como nós? Ou o fato de ser heterossexual deixaria algu‚m em perfeição moral? Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra…
A homossexualidade ‚ um pecado como qualquer outro e, se eu não me engano, todos nós ainda somos pecadores. Quem diz que não tem pecado ‚ um mentiroso, certo? Então, pq podemos aceitar e ter como irmãos todos os tipos de pecadores menos os homossexuais? Que os irmão q leram este texto lembre-se q o trecho a seguir, vale pra todos os tipos de pecados, inclusive, os seus!!! – A igreja tem de conviver com o fato de que, nesta rea da vida, COMO EM OUTRAS, afastamentos da norma não são excepcionais, mas comuns e ocorrem em todo o mundo. A igreja tem de confrontar todos os que estão interessados em tolerância e entendimento, mas também deve exort -los ao arrependimento. Ela não pode abandonar a distinção entre a norma e o comportamento que se afasta da norma. AMÉM!!
Atentei que o autor admite que pode haver tendencia homofila no entanto não se pode da vazão a tal tendência. O que entendi é que tanto como o adultério, o roubo etc o desejo por um ser humano do mesmo sexo pode sim acontecer e não ser considerado aberração. Mas que não está no planejamento de Deus para a formação da família, devendo portanto a pessoa abster-se de tal pratica, colocando a vontade e o plano de Deus acima de qualquer situação .