25 de setembro de 2012
Quando recebi o convite para trazer esta mensagem, fui motivado a pensar sobre o impulso que incentivou missionários em Portugal a criar uma editora chamada Edições Vida Nova há mais de 50 anos. Depois de alguma reflexão conclui que a motivação máxima foi amor à Palavra de Deus.
Amor à Palavra de Deus reflete o amor pelo Autor. Timothy Keller cita Elisabeth Elliot, colega da faculdade e viúva de Jim Elliot, um colega de Wheaton: “Deus é Deus e, uma vez que ele é Deus, é digno da minha adoração e do meu serviço. Não encontrarei descanso em outro lugar que não seja a vontade dele, e essa vontade necessariamente está de forma infinita, incomensurável e inexprimível, além da minha compreensão acerca de quais sãos os planos dele” (Through Gates of Splendor, Wheaton Tyndale, 1981, p. 267). Tendo certeza de que a Bíblia é inspirada por Deus (2Tm 3.16), não podemos deixar de crer que, por meio dela, Deus fala. Ele revela Sua pessoa, revela Sua vontade e Seus planos para o mundo e para a Igreja. Na Bíblia encontramos as mais importantes informações que o homem não descobrirá em qualquer outra fonte, mesmo que desvende todos os segredos sobre nossas vidas particulares.
Enquanto a ciência pode nos instruir sobre muitos detalhes da criação, ela não pode nos informar sobre a origem do universo, nem sobre o seu fim. A ciência pode pesquisar muitos detalhes sobre o corpo humano, mas não pode dizer por que existe um ser humano, nem por que ele se inclina para o mal. A ciência não pode desvendar o segredo da origem do amor, do ódio, da alegria, da tristeza, e muitos outros mistérios que afetam nossas vidas. Onde acharemos a verdade sobre a vida após a morte? A Palavra de Deus desvenda verdades e explica realidades que os professores descrentes não podem descobrir fora da Bíblia.
O salmista se alegra na lei do Senhor. “Nessa lei medita dia e noite”. O resultado desse amor pela Palavra faz com que ele seja como uma árvore que produz fruto gostoso. Tudo o que ele faz prospera (Sl 1.2,3).
Jesus ensinou que o estudo da Palavra revelaria quem Ele é e daria acesso à vida eterna (João 5.39). Afirmou categoricamente a confiabilidade das Escrituras (João 10.39). Sua morte e ressurreição ocorreram em cumprimento das profecias dos profetas (Lc 24.45-47). Baseado nas Escrituras, declarou que em Seu nome “será pregado o arrependimento para perdão de pecados a todas as nações”. Nas páginas das Sagradas Letras descobrimos todas as verdades necessárias para fundamentar a fé que salva.
A mensagem que convenceu três mil judeus a se render a Jesus como Senhor no dia de Pentecoste foi uma exposição de Joel 2.28-32; Sl 16.8-11 e Sl 110.1. O poder do Espírito Santo em conjunto com a mensagem foi tal que os corações foram traspassados. Rogaram aos apóstolos que explicassem como poderiam ser salvos. Nenhuma outra fonte segura temos para nos orientar quanto ao pecado, a justiça e o juízo.
O modo em que Pedro, João, Paulo e todos os autores do Novo Testamento citam as Escrituras demonstra o grande amor que tinham pela Palavra. Se alguém ama a Palavra, odiará o pecado, amará Jesus e buscará os perdidos!
Edições Vida Nova existe porque aqueles que amam a Palavra desejavam montar e manter uma editora para o mundo de fala portuguesa que teria um propósito central: glorificar a Deus por intermédio de literatura que reconhece e se fundamenta na inspiração divina das Escrituras.
A ocasião particular que deu origem a esta editora foi a visita de um colega a casa de um pastor, no ano de 1955. O missionário Arthur Brown perguntou a esse mestre da Palavra onde estava sua biblioteca. O pastor mostrou uma prateleira com mais ou menos cinco livros. O missionário, admirado, perguntou como ele preparava seus sermões. O pastor respondeu que era por meio desses livros que existiam para auxiliar pastores no preparo de seus sermões. Foi essa a faísca que acendeu a fogueira das Edições Vida Nova.
Algumas premissas e implicações
1. Os livros publicados por Edições Vida Nova sustentariam e defenderiam obrigatoriamente uma teologia evangélica conservadora, isto é, obras que honram as Escrituras como a Palavra de Deus. Evitaria a publicação ou promulgação de toda e qualquer afirmação ou livro que promove descrédito à veracidade das Escrituras. Um diretor de seminário em Niterói me disse: “Eu não preciso verificar a posição de qualquer livro da Vida Nova. Eu sei que apresentará uma posição que mantém a autoridade das Escrituras”.
2. Os livros publicados pela editora deveriam ter aceitação em todo o meio evangélico que crê na inspiração plenária e verbal das Escrituras. Vida Nova teria como sua missão a mais abrangente gama de leitores que buscam um conhecimento mais amplo e mais profundo da verdade revelada na Bíblia. Não se limitariam a servir apenas às igrejas batistas, mesmo sendo a Missão Batista Conservadora persuadida da veracidade das doutrinas geralmente identificadas como batistas. Os diretores acreditariam que o Corpo Universal de Cristo não se limita a uma denominação apenas, mas que inclui membros que têm doutrinas e práticas distintas. Reconheceria que esse Corpo é universal, que Jesus Cristo é o único caminho e que a Bíblia é nossa última autoridade em relação a doutrina e prática.
3. Os livros publicados por Edições Vida Nova deveriam apresentar uma teologia identificada como historicamente ortodoxa. Os dirigentes da editora não foram os primeiros a descobrir a ortodoxia, mas se sentem obrigados a defendê-la e divulgá-la. As melhores obras de teologia sistemática e ética cristã deveriam ser encontradas nos catálogos das Edições Vida Nova.
4. Deveria se aprimorar no fornecimento de livros que edifiquem os leitores, como comentários, dicionários e enciclopédias, que comunicam informações que desvendem os segredos dos textos originais. Particularmente, portanto, o ministério de Edições Vida Nova seria direcionado em favor de pastores e mestres da Palavra, seminaristas e estudiosos que desejam saber como os mais destacados mestres da Palavra a entenderam.
5. Deveria produzir livros que lidam com exegese e hermenêutica, obras que ensinam o caminho mais seguro para afirmar: “Assim diz o Senhor!”. A exegese deveria fornecer a mais segura compreensão do texto a nosso alcance. A hermenêutica chamada histórico-gramatical deve ajudar leitores a discernir a vontade de Deus para nossa cultura e época.
6. Deveria publicar livros que ajudam a entender a importância da crítica do texto das Escrituras, uma vez que não foram preservados os manuscritos originais dos autores bíblicos até nossos dias. Quando se trata da tradução e publicação da Bíblia em português, que a avaliação dos manuscritos seja equilibrada de maneira que os leitores possam confiar que não haja uma tradução tendenciosa. A tradução deveria representar da forma mais segura os conceitos e ideias nos manuscritos mais bem conceituados e que se aproximam mais do que os autores bíblicos realmente escreveram. Uma autoridade na matéria de manuscritos me disse que divergências entre manuscritos não colocam em dúvida qualquer doutrina central da Bíblia. Também afirmou que leituras realmente questionáveis não encheriam mais do que meia página do Novo Testamento grego de Nestle-Aland.
7. Deveria fornecer obras que revelam a cultura, a geografia, a política e os costumes dos destinatários originais. Sendo que Deus decidiu inspirar autores, profetas e apóstolos que viviam num contexto histórico e cultural distinto do nosso, um conhecimento acurado dos povos que viviam nas terras em que os autores humanos da Bíblia ministravam e trabalhavam se torna mais necessário. Edições Vida Nova deveria ser a editora que busca uma compreensão da vontade de Deus revelada em manuscritos produzidos em tempos muito distintos da cultura brasileira do século 21. Deveria dar a melhor orientação possível a leitores contemporâneos enfrentando desafios tão diversos.
8. Edições Vida Nova deveria ter uma reputação de fornecer uma literatura da mais alta qualidade literária. Deve publicar textos com redação excelente e ter editores que evitam erros nas obras editadas na língua de Luis de Camões. O estilo dos livros publicados por Edições Vida Nova deveria ser agradável, compreensível e de fácil acesso.
9. Deveria produzir livros que promoveriam a evangelização do Brasil e das nações. Uma vez que a Bíblia prevê a evangelização de todos os povos, línguas e nações, a visão missionária da editora não deveria ser omissa em seu acervo.
10. Deveria ser uma editora que se aprimoraria na produção de livros que promoveriam o treinamento de bons líderes, pastores íntegros e cristãos comprometidos. Tudo que a editora produziria e distribuiria deve ter um forte compromisso com a promoção da santidade pessoal dos leitores. Material para discipular e mentorear novos cristãos deveria ter seu lugar destacado.
11. Deveria cumprir uma missão adicional: a defesa da fé contra seus detratores e inimigos. Vivemos numa época em que os valores cristãos evangélicos históricos estão sendo combatidos e desprezados. Os livros produzidos por Edições Vida Nova deveriam criar muros de defesa contra toda espécie de falsidade, contra o hedonismo desenfreado e contra tudo que se opõe à pureza da Palavra de Deus. Deveria ser uma fortaleza na defesa da verdade contra qualquer incursão do pós-moderna.
12. Para alunos que somente ouviram dos seus professores que o homem é descendente de animais num longo processo evolutivo, Edições Vida Nova deveria fornecer o que há de mais excelente em respostas bíblicas bem informadas. A confiabilidade do relato bíblico da criação deveria encontrar excelente sustento nos livros da Vida Nova.
13. Edições Vida Nova não deveria omitir de produzir as mais acuradas fontes de história da Igreja desde seu início. Os motivos e conteúdo das premissas dos reformadores não deveriam ser esquecidos. Martinho Lutero entendeu que a Igreja precisa estar sujeita a uma contínua reforma.
14. Deveria manter uma visão clara de sua missão em prol dos jovens e crianças que formarão a igreja nos anos vindouros, até o Senhor voltar. Deveria fornecer material que oriente os pais na tarefa de criar filhos “segundo a instrução e o conselho do Senhor”. Sendo que a última ordem que Jesus deu aos seus discípulos foi para discipular as nações, seria um grave erro pensar apenas no Brasil e não abranger todo o mundo de fala portuguesa.
15. Deveria ser uma editora que se distingue nitidamente das editoras que se aprimoram na produção de livros de autoajuda, obras que promovem negociação com Deus, teologia centrada no homem e não na revelação do Deus da Bíblia, o infinito, onipotente, onisciente, onipresente Ser que criou e reina sobre tudo.
16. Edições Vida Nova deveria ser uma organização que não se mantém na dependência de fundos vindos de fora do país. Deveria sempre pagar seus compromissos em dia, evitando endividamento. Deveria zelar para obter e manter uma reputação de integridade absoluta. Deveria criar e manter um ambiente de trabalho agradável que honra a Deus, valorizando seus colaboradores como homens e mulheres criados à imagem de Deus.
17. Enfim, deveria ser uma editora que cumpre sua missão em concordância com as Sagradas Letras e sua utilidade segundo 2Tm 3.16,17:
a. Fornecer o que há de melhor no ensino da verdade segundo a Bíblia.
b. Deveria produzir material que avisa os incautos e os ignorantes do fim do caminho que estão trilhando, dos dois destinos que o juízo divino garante, bem como do amor de Deus que nos dá a possibilidade de receber a vida eterna.
c. Deveria corrigir pecadores e mostrar-lhes o caminho de volta para a casa do Pai.
d. Deveria instruir na justiça e combater ferozmente a carnalidade e práticas perversos que não condizem com a vida dum verdadeiro filho de Deus.
e. Treinaria os leitores na lei de Cristo para que sejam aptos e plenamente preparados para toda boa obra.
Conclusão
Acredito que Edições Vida Nova tem cumprido sua missão dentro das possibilidades humanas de seus líderes e funcionários. Acredito que Deus tem sido honrado com a literatura que tem chegado às mãos de milhares de servos do Senhor, que têm apoiado a Vida Nova com a aquisição dos seus livros.
Roguemos a Deus que se nosso Senhor Jesus Cristo não voltar na primeira metade deste século, Edições Vida Nova continue tão firme em sua defesa dos princípios, valores e ideais evangélicos nos próximos 50 anos como tem demonstrado desde o seu estabelecimento no Brasil em 1962.
A Deus toda a gloria!