A ingerência feminista e seus frutos na sociedade

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Uma avaliação dos discursos

Introdução

O mundo tem experimentado transmutações sucessivas. Se São Jerônimo (exegeta, séc. IV) vivo estivesse, suas palavras certamente teriam mais da exclamação latina de Cícero – “Ó Tempora! Ó Mores!” (Que tempos! E que costumes!) – do que qualquer outra assertiva. Das alterações que temos encarado, uma tem peso mor sobre todas as outras: a vicissitude feminina.

A permuta das eras é sinônimo de comutação da figura feminina. Como numa cadeia consequencial, o fato atinge as esferas mais relevantes da sociedade, dentre as quais salientaremos: a influência ideológica, a educação e sistemas de ensino, família, infância e biologia.

Assim como o feitio feminino foi significante para estabelecer o início da luta antissegregacionista (com Rosa Parks; 1913-2005), o seu ‘modus operandi’ tem forte pujança sobre o mundo.  

I – A agenda Marxista

O termo “Bela, recatada e do lar”, serviu como insight para demonstrar um movimento de ingerência bem mais articulado – e antigo, que tem por objetivo central o fim do modelo conservantista de mulher. Com a proposta de garantir liberdade feminina, o discurso feminista tem estabelecido critérios de educação, família, trabalho, justiça e vida. Esse manejo se estabeleceu lentamente, até chegar num status de vultoso controle. Ele veio como instrumento de substituição a sustentáculos tradicionais.

Numa análise pela constituição da civilização ocidental, o povo Hebreu tem seu reconhecido significado no processo legislativo dessa sociedade – uma vez que a ideia tradicional de lei como representação de vontade de um Ser superior, que transcende o povo para o qual ela orienta e faz suas determinações, é uma compreensão característica do Povo de Israel. Conforme preleciona Hannah Arendt:

“(…) as próprias leis sempre foram entendidas como sendo mandamentos, que foram feitos de acordo com a voz de Deus, que diz ao homem: “Não farás isto”. Tais mandamentos obviamente não poderiam ser obrigatórios sem uma superior sanção religiosa. Somente enquanto entendemos por lei uma ordem à qual se deve obediência sem levar em consideração consensos ou convenções mútuas, é porque a lei requer uma fonte transcendente de autoridade para sua validade, isto é, uma origem que está localizada além do poder humano.”1

A “fonte transcendente de autoridade”, bem explica a construção legislativa pela qual estamos falando. Um bom exemplo é a Declaração de Independência dos Estados Unidos, que transmite a ideia de que “todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes são vida, liberdade e busca da felicidade”, referendada sobre a convicção de estar sobre “proteção da divina Providência, [aonde] empenhamos mutuamente as nossas vidas, os nossos bens e a nossa honra sagrada.2 

Apesar da construção evidentemente cristã da sociedade ocidental, temos encontrado, com frequência, decisões empenhadas a trazer um novo entendimento comportamental, familiar, jurídico e político – todos num escopo atípico à proposta original. É daí que a figura do Marxismo Cultural entra na baila – uma vez que se trata de uma das principais responsáveis por essa onda de mudanças – o que Nelson Lehman vai detectar como messianismo revolucionário (a proposta marxista vem num molde permutativo):

“a moderna dessacralização do mundo tem apenas produzido substitutivas sacralizações de instituições profanas, assim como a maioria dos compromissos do ativismo revolucionário tendem a resultar numa idolatria do Estado.”3

A proposta é retirar qualquer resquício da tradição cristã, e substituí-la por um Estado ateu, que combate qualquer fenômeno religioso que não venha a estar de acordo com determinados interesses – é a fenomenologia religiosa aplicada a modernas experiências políticas, assemelhando-se ao Totalitarismo:

“A ideologia totalitária ocupa o lugar da religião”, afirma Waldemar Gurian referindo-se particularmente ao nazismo e ao comunismo. Descrevendo como as várias formas de totalitarismo nada mais são do que religiões secularizadas, Gurian as acusa de,  uma vez no poder, tentam “substituir Deus e as instituições religiosas, como a Igreja” (…)”4 

Isso é resultado da prática institucional marxista. No Capital, a perspectiva de Karl Marx disserta sobre como pôr fim no reflexo religioso no mundo – a parcimônia é criada, com base na ideia de que:

“A religião é o suspiro da criatura oprimida, a alma de um mundo sem coração, tal como é o espírito das condições sociais, de que o espírito está excluído. Ela é o opium do povo.”5

Na lógica de que a religião é similar a um entorpecente alucinógeno, Marx propõe uma solução:

“O reflexo religioso do mundo real só pode desaparecer, quando as condições práticas das atividades cotidianas do homem representem normalmente, relações racionais claras entre os homens e entre estes e a natureza. A estrutura (…) do processo da produção material, só pode desprender-se do seu véu nebuloso e místico, no dia em que for obra de homens livremente associados, submetida a seu controle consciente e planejado.”6

A partir daí, é possível compreender o motivo pelo qual a sociedade está num status de metamorfose intelectual. Trocam-se os regimentos sustentados pela compreensão cristã, por um eixo formado num ideal construído por homens livres e independentes. Antônio Gramsci deu vida à teoria de Marx, dissertando a respeito de uma Hegemonia Cultural do Cristianismo. Para combater essa superestrutura, suas propostas envolviam congeminações pontuais, envoltas na laicização da vida e dos costumes de um povo:

Nós somos parte do movimento da reforma moral e intelectual (…) cuja primeira premissa foi a de que o homem moderno pode e deve viver sem o apoio da religião (…) sem a religião revelada, a religião positivista a religião mitológica ou qualquer outro de seus ramos que se queira nomear.”7  

Há uma estreita relação entre essa conversão universal de pensamento e as reivindicações feministas. Tratando-se da figura feminina, há quem afirme ser tirania demais estabelecer que a mesma fosse criada com peculiaridades, e por isso, seria imprescindível a [dita] conscientização, com o propósito de garantir a liberdade de a mulher ser o que quiser ser – Na hipótese, tal liberdade, só foi possível graças ao movimento feminista e sua capacidade de questionar:

“As feministas têm que questionar, não apenas toda a cultura ocidental, mas a organização da própria cultura, e ainda, a própria organização da natureza.”8

A grande questão, é que a luta por acesso a direitos básicos no século XVII, como a educação formal, é tomada como uma luta exclusivamente feminista. Condições básicas, determinadas pela Biologia – matéria elementar – são substituídas por conceitos sociais e opiniões provenientes de reflexões meramente pessoais. Práticas consideradas como atípicas e reprováveis, estão a ser defendidas, e consideradas como normalidade.

Iniciaremos, comentando e comparando, aspectos concernentes a educação:

II. A publicização da educação – a luta pelo acesso ao ensino básico – para homens e mulheres: independente de sua classe social: uma herança feminista?

II.I – Martinho Lutero e Jean Comenius

Quando o assunto é luta em favor da democratização da educação, um nome de autêntica representatividade é: Martinho Lutero. O contexto de domínio da Cúria Romana, privilegiando apenas a si própria o acesso a direitos fundamentais, inclusive o da educação, já eram combatidos antes de 1518:

“Os papas, chefes supremos desse reino, reivindicavam para si plenos poderes em todos os assuntos. (…) Já há muito tempo antes de Lutero crescera na cristandade o descontentamento com o domínio e a exploração praticados pela Cúria. Na Alemanha, os dirigentes políticos colocaram as “queixas da nação Alemã” repetidas vezes na agenda de suas assembléias. Assim ainda aconteceu na assembléia de Ausburgo, no ano de 1518. A “reforma da Igreja na cúpula e nas bases” era reivindicação frequente. Portanto, as críticas que Lutero apresentava publicamente desde sua manifestação contra as indulgências (1517) em si não eram novidade. Mas até então a Cúria sempre conseguia defender seus privilégios” 9

Diante da política de privilégios, os direitos do povo eram diretamente afetados pelo desprezo, anseio à superioridade e desejo de permanência:

“Com suas maquinações romanas, comendas, adjutórios, reservas, gratiis expectativis (Promessas de cargos eclesiásticos ainda ocupados), meses papais, incorporações, uniões, pensões, pálios, regras de chancelaria (…) o papa se apodera de todas as fundações alemãs sem autorização e direito para isso. (…). Dessa forma ele priva os titulares de seu direito (…). ”10

A relação entre Igreja e governo era estreita, e o Catolicismo, religião oficial da Alemanha. Portanto, a existência de fundações privando e se apoderando de direitos, como o da administração de seus feudos (p. 301, Ibdem), era de responsabilidade do modus operandi da Igreja.

Pelo resultado dessa administração, Lutero recomenda:

“Estabeleça-se que nenhuma questão secular seja levada a Roma, mas que todas elas sejam deixadas ao poder secular, como eles mesmos determinam em seus direitos canônicos, porém não o cumprem. Pois a função do papa deve consistir em que ele, de todos o mais douto na Escritura e o mais santo não só de nome, mas de verdade, dirija as questões que dizem respeito à fé e à vida santa dos Cristãos (…).”11

Na linha da devida aplicabilidade dos direitos fundamentais inerentes a qualquer ser humano, Lutero elenca a negligência de oferecimento da educação, como algo semelhante ao pecado:

“Quando eu era moço, era corrente na escola o seguinte    o ditado: “Nonminus est negligere scholarem quam corrumpere virginem” –  “Negligenciar um estudante não  é um crime menor do que violentar uma virgem”. Isso foi dito para alertar os professores, pois naqueles tempos não se conhecia pecado maior do que violar uma moça. Meu bom Deus, que é violentar uma virgem ou uma mulher (que pode ser penitenciado como pecado reconhecidamen-te físico) em comparação com o pecado de deixar no abandono e violentar as nobres almas, visto que este não é tomado em consideração nem reconhecido e jamais penitenciado. Ai do mundo sempre e eternamente! Diariamente nascem crianças e se criam aí entre nós, e infelizmente não existe ninguém que se dedique à pobre juventude e a oriente; deixamos as coisas correr de qualquer jeito.”12

Lutero considerava o não oferecimento de educação como um prejuízo sociopolítico – bem expresso na declaração de que “O mundo precisa de homens e mulheres excelentes e aptos para manter seu estado secular exteriormente (…)” (Ibdem – p. 318)

O desejo de Martinho Lutero era que a educação fosse disponibilizada para todos, sem distinção, e com qualidade, nos moldes do Trivium (Gramática, Retórica e Dialética ou Lógica), bem como o Quadrivium (Aritmética, Geometria, Música e Astronomia), ensinados em Roma:

“Conforme o reformador, o exemplo de Roma deveria ser seguido na Alemanha. Os romanos educavam seus meninos de tal maneira que dentro de quinze, dezoito ou vinte anos dominavam perfeitamente o latim, o grego, e toda sorte de artes liberais.”13

A ideia de uma educação acessível ao homem e à mulher, somada com a qualidade, também foi defendida por Jan Amos Comenius: bispo protestante, que em sua Magna Didactica ensina:

“CAPÍTULO IX – TODA A JUVENTUDE DE AMBOS OS SEXOS DEVE SER ENVIADA ÀS ESCOLAS – As escolas devem ser asilos comuns da juventude. 1 – Que devem ser enviados às escolas não apenas os filhos dos ricos ou dos cidadãos principais, mas todos por igual, nobres e plebeus, ricos e pobres, rapazes e raparigas, em todas as cidades (…)”14 

Tanto homens como mulheres, devem ser alcançados pelo estudo, pelo bem da própria fé dominante da época:

“Com efeito, as mulheres são igualmente imagens de Deus, igualmente participantes da graça e do reino dos céus, igualmente dotadas de uma mente ágil e capaz de aprender a sabedoria (muitas vezes até mais que o nosso sexo), igualmente para elas está aberto o caminho dos ofícios elevados; uma vez que, freqüentemente, são chamadas pelo próprio Deus para o governo dos povos, para dar salutares conselhos a reis e a príncipes, para exercer a medicina e outras artes salutares ao gênero humano, para pronunciar profecias e exprobar sacerdotes e bispos.”15 

Ao longo das obras de ambos os reformadores supracitados, a luta em prol da universalização do ensino, é nítida. O ideal de igualdade é incentivado. Indiretamente, o respeito é salientado, e o reconhecimento de capacidade é elencado independente da sexualidade. Agora, vejamos como o sistema de educação é sugerido pelas feministas Simone de Beauvoir e Shulamith Firestone :

II.II – Simone de Beauvoir e Shulamith Firestone – sexualidade e família: considerados como mitos criados pela civilização ocidental

É possível verificar que as propostas de Simone de Beauvoir (1908 – 1986) giram em torno da sexualidade e crítica ao modelo conservador de educação. Conforme podemos constatar no livro O Segundo Sexo, e no ensaio ‘O Pensamento de Direita Hoje’ (Coletânea: Privilégios; 1955), a cabeça do feminismo dos anos 60 fez duras críticas ao modelo proveniente da tradição judaico cristã:

“O homem da direita despreza, como “primário”, o saber sistematizado, que se comunica metodicamente e pode-se abeberar nos livros; só lhe merece crédito a experiência vivida, que une singularmente um sujeito e um objeto que participam de uma mesma substância”16 

Apesar de o sistema proposto pelo denominado “homem da direita” ser constituído por um grupo de disciplinas relacionadas, ou seja, as artes liberais – línguas, oratória, literatura, história, filosofia, álgebra, cálculo, aritmética, equações, bem como outros ramos da matemática superior, belas artes, física, química e outras formas de medição de quantidades descontínuas, teoria do espaço e outras matérias17  – considera-se sua metodologia como um desprezo à comunicação metódica e aos livros.

Sua preocupação está no vilipêndio hipotético cometido contra a doutrina de Marx:

“O pensamento de direita se exprime em diversas e numerosas doutrinas que, segundo Beauvoir, não vacilam em lançar mão, de modo eclético, de argumentos de vários autores. Porém, os pensadores burgueses “[…] proíbem a seus adversários de utilizar os métodos de Marx se não aceitam em bloco todo o sistema deste” (Beauvoir, 1972, s.p.). O pensamento do teórico burguês representa, assim, um contrapensamento, pois “A primeira das suas preocupações é desembaraçar-se do marxismo” (Beauvoir, 1972, p. 13)” 18

A educação deveria valorizar o sistema “oprimido x opressor”, uma vez que é um método acessível e muito menos complexo para a compreensão do educando:

“Ao esquema ‘simplista’ de Marx, que opõe exploradores e explorados, se substitui um desenho tão complexo, que os opressores entre si diferem tanto quanto diferem dos oprimidos, a tal ponto que esta última distinção perde sua importância.”19

O que passar da lógica do pluralismo marxista (todos os discursos são válidos, contanto que salientem as ideias de Karl Marx), por mais que esteja patente a natureza de Pluralidade (existem vários discursos, mas nem todos são válidos), será acusado de caótico pluralismo.

Ela estende sua análise do problema, aprofundando sua linha de pesquisa na área sexual, culpando, primariamente, o tratamento dirigido aos órgãos sexuais dos meninos e meninas:

” (…) o fato é que tratam o pênis infantil com uma complacência singular. (…) fazem desse sexo, (…) um alter ego geralmente mais esperto, mais inteligente e mais hábil do que o indivíduo. Anatômicamente, o pênis presta-se muito bem a esse papel; separado do corpo, apresenta-se como um pequeno brinquedo natural, uma espécie de boneca.” 20

Tal indignação fica integralmente explícita, quando ela descreve sua percepção sobre a genitália feminina:

“A sorte da menina é muito diferente. Nem mães nem amas têm reverência e ternura por suas partes genitais; não chamam a atenção para esse órgão secreto de que só se vê o invólucro e não se deixa pegar (…)” 21

Com base em tais assertivas, conclui-se que Simone molda tais críticas pelas lentes da percepção lasciva. A frase de abertura: “Ninguém nasce mulher; torna-se mulher” (ibdem, p. 9), é voltada para sua concepção no que diz respeito a construção produzida pela sociedade na mente feminina. Suas observações ao louvado “Aggressive Eroticism” (Erotismo Agressivo) de Brigitte Bardot, corroboram sua visão pedagógica da sexualidade:

“A Síndrome de Lolita” de Beauvoir (seu ensaio pessoalmente favorito) oferece uma defesa evangélica da emancipação sexual das jovens. Elas foram amarradas em cadeias por muito tempo: Bardot é apresentada como o Harry Houdini   que as libertará da escravidão. Bardot é uma contra parte cinematográfica da própria Beauvoir, o Sócrates de St. Tropez, que foi falsamente condenado por corromper a juventude da França. Ela é uma “criança-mulher”, um “rapaz com ausência de erotismo” – capaz de recarregar o desejo queimado/fatigado: “ela retém a inocência perfeita inerente ao mito da infância”. Beauvoir postula Bardot como uma encarnação de “autenticidade” e “desejo” natural e puro, com sexualidade “agressiva”, sem qualquer hipocrisia. A autora do “Segundo Sexo” está empenhada em enfatizar a igualdade e a autonomia sexual, mas também insiste nos encantos da ‘Ninfa’, em que a imagem temível da esposa e da mãe, ainda não é visível.23 

 
As soluções que a intelectual propõe, também estão na linha carnal, que ficou conhecida como ‘pedofilia pedagógica feminina’- crianças e adolescentes, já estariam dispostos e preparados para iniciar a vida sexual. Tal estímulo, seria significante para desenvolver a intelectualidade e a ousadia, supostamente em falta na mulher. Sua teoria, coaduna com seus interesses pessoais, registrados em sua carreira:

“Deve-se dizer que o interesse de Beauvoir nesses assuntos não era puramente teórico (na verdade, é difícil conceber que os pensamentos de um filósofo sejam puramente teóricos). Como investigador diligente, sou obrigado a dizer que ela foi demitida de seu trabalho como professora em 1943 por “conduta que levou à corrupção de uma menor”. A menor em questão foi uma de suas alunas em um Liceu de Paris. Está bem estabelecido que ela e Jean Paul Sartre desenvolvessem um padrão, que eles chamavam de “trio”, no qual Beauvoir seduziria suas alunas e depois as passaria para Sartre (veja, por exemplo, em “Memórias de Uma Moça Mal Comportada”, de Bianca Lamblin,24 no qual ela se lembra de estar apaixonada por Beauvoir, mas envolvida romanticamente com Sartre, a quem divertidamente remete no caminho da consumação (do ato sexual), que “a camareira do hotel ficará realmente surpresa, porque ela me pegou tirando a virgindade de outras garotas apenas ontem”25 

A justificativa para que Beauvoir adotasse tal postura está na agenda feminista que concorda com o Freudismo, na ideia de que a criança tem receptivos sexuais proeminentes, que merecem ser atendidos:

“Freud viu a sexualidade como força vital principal; a forma como esta libido foi organizada na criança, determinou a psicologia do indivíduo (o que, além disso, criou a espécie histórica). Ele descobriu que, para se ajustar ao ser sexuado, deve sofrer um processo de repressão na infância, enquanto o indivíduo sofre essa repressão, alguns sofrem com menos sucesso do que outros, produzindo maiores escolhas ou desvios menores (neurosis)”26 

Tais “desejos sexuais infantis”, quando não atendidos, são reprimidos, e consequentemente geram desvios de comportamento, ao qual merecem ser curados, conforme a hipótese de Freud, assinalada por Shulamith Firestone, militante feminista, que escreveu “The Dialectic of Sex: The Case for Feminist Revolution” dedicado à Simone de Beauvoir (acompanhado da frase “Who endured” – “quem suportou”):

“Tanto o freudismo quanto o feminismo (…) significavam despertar: mas Freud era apenas um diagnosticador do que o feminismo pretende curar.”27

O que o feminismo e o freudismo pretendem curar? O ato de denominar o incesto como algo reprovável – assim, a repressão sexual não seria mais um problema na criação do infante:

“Então, para eliminar o tabu do incesto, teríamos que eliminar a família e a sexualidade como agora estão estruturadas. (…) Freud descreveu as penalidades psicológicas da repressão sexual causada pelo tabu do incesto (…)”28 

O dito tabu do incesto será efetivamente vencido, quando se “derrubar toda a moral para retornar ao status anterior.29   – que seria uma situação de homens e mulheres livres e desimpedidos, que geram crianças livres e desimpedidas, para desfrutarem de uma “sexualidade totalmente cumprida”, sem “as repressões devido ao tabu do incesto30 

Em suma, é possível estabelecer um comparativo entre as duas ideias de acessibilidade e direito à educação:

LUTERO E COMENIUS

SIMONE E SHULAMITH

Igualdade entre homem e mulher

Emancipação Feminina

Explorar a diversidade de habilidades

Desconsideração das habilidades concernentes ao tradicionalismo

Incentivo intelectual na infância

Incentivo ao empoderamento feminino (agressividade, autenticidade)

Educação clássica

Pluralismo Marxista

Valorização, cuidado e proteção, principalmente na infância.

Estímulo ao uso dos órgãos sexuais para moldar os comportamentos numa fôrma supostamente flexível e não opressora; Incesto. 

II.II.I – Efeitos práticos

O portal do MEC, ao falar sobre Orientação Sexual, segue na mesma essência Beauvioriana de educação. A sexualidade num aspecto elementar/biológico não basta:

“Muitas escolas atentas para a necessidade de trabalhar com essa sistemática em seus conteúdos formais, influem Aparelho Reprodutivo no currículo das Ciências Naturais. Geralmente o fazem por meio da discussão sobre a reprodução humana, com informações ou noções relativas à anatomia e fisiologia do corpo humano. Essa abordagem normalmente não abarca as ansiedades e curiosidades das crianças, pois enfoca apenas o corpo biológico (…)”31 

Assim como Simone acreditava que a educação sexual era significante para a formação intelectual e aprimoramento dos anseios, o MEC subscreve:

“A satisfação dessas curiosidades contribui para que o desejo de saber seja impulsionado ao longo da vida, enquanto a não satisfação gera ansiedade e tensão (…) que interferem no aprendizado dos conteúdos escolares.”32 

Ou seja, para o Ministério, faz-se necessário uma condução pedagógica que considere “a sexualidade nas suas dimensões biológica, psíquica e sociocultural” (ibdem, p. 81), levando em conta uma preocupação hipotética sobre o interesse de aprender dos discentes. Importante estabelecer as diferenças das dimensões sugeridas. Com isso, chegamos ao objetivo das propostas que regem o currículo:

BIOLÓGICA

PSÍQUICA

SOCIOCULTURAL

Anatomia e fisiologia do corpo humano. Aparelho reprodutor sexual. Doenças sexualmente transmissíveis.

Devido ao conceito Freudiano de Teoria da Sexualidade (Complexo de Édipo), a influência sexual estaria presente nos primeiros anos da criança, recaindo sobre os anos posteriores e refletindo na sua formação como o ‘ser no mundo’. Portanto, o assunto deveria ser tratado o quanto antes. “A psicanálise dá espaço às pulsões e aos desejos: o inconsciente, pois, fala e age.” 33A psicanálise é um instrumento de libertação.

Problematizar, levantar

questionamentos e ampliar o leque de conhecimentos e de opções para que o aluno, ele próprio,escolha seu caminho.

Nosso foco estará nas dimensões psíquicas e socioculturais. Tais categorias chegam como meio de libertação do intelecto. O objetivo é desvincular o desenvolvimento sexual psíquico do anatômico. Conforme sugerido, um independe do outro, se for estimulado – e tal estímulo, conforme a sugestão, é benéfico.

A estruturada dimensão sociocultural apresentada nas escolas gira em torno, exclusivamente, de tendências específicas e pontuais. Quando o conteúdo se concentra apenas em matéria elementar, estar-se-ia praticando uma operacionalização negativa do gênero.

Um bom exemplo está na questão dos banheiros e roupas. O aluno opta por qual banheiro/roupa quer usar, de acordo com a sua ideia de gênero. Tal ideia, provém de reivindicações recentes. No Brasil, podemos encontrá-las materializadas na Resolução nº 12 da Secretaria de Direitos Humanos:

“Deve ser garantido o uso de banheiros, vestiários e demais espaços segregados por gênero, quando houver, de acordo com a identidade de gênero de cada sujeito.”
“Caso haja distinções quanto ao uso de uniformes e demais elementos de indumentária, deve ser facultado o uso de vestimentas conforme a identidade de gênero de cada sujeito” 34

Tais apontamentos da Secretaria de Direitos Humanos refletem as duas dimensões: PSÍQUICA – Não fornecer os aparatos para determinados grupos sexuais, seria, um desrespeito às peculiaridades psíquicas de algumas pessoas e SOCIOCULTURAL  –  Tais políticas configuram o conteúdo de uma pauta que deve compor,     inquestionavelmente,  o currículo escolar, alcançando desde a Educação Infantil, até além do Ensino Superior.

A preferência pelo método do Construtivismo, que consiste na “libertação dos absolutos”, bem define a questão: a homossexualidade e a transexualidade nunca foram tão amparados pela lei, como hoje: isso representa a quebra de um absoluto: o privado, corroborado, com o apelo à lei e ao sistema nacional de ensino – instrumentos para manutenção do controle.

Segundo tais diretrizes, se a realidade consiste em grupos reivindicando amparo legal e voz, mesmo que num caráter arbitrário, a ética deverá ser regida por tais objeções, uma vez que a:

“questão ética deixou de ser vista de modo absoluto e com metas almejadas e conceitos previamente definidos. Com Marx, os valores referem-se sempre à realidade concreta vivenciada pelas pessoas.”35 

Recordamos à parte introdutória desse artigo, no qual falamos sobre inter-relação entre feminismo e a agenda Marxista: Henrique Nielsen – educador, construtivista, reafirma tal ideia, acima.

A relativização é um instrumento para aplicação prática de uma dimensão sociocultural tendenciosa. A realidade é posta em mesa, quando concerne a determinados interesses ideológicos.
 

“Experiências bem-sucedidas com Orientação Sexual em escolas que realizam esse trabalho apontam para alguns resultados importantes: aumento do rendimento escolar (devido ao alívio de tensão e preocupação com questões da sexualidade) e aumento da solidariedade e do respeito entre os alunos. Quanto às crianças menores, os professores relatam que informações corretas ajudam a diminuir a angústia e a agitação em sala de aula.”36 

Um novo conceito sobre a sexualidade é fruto da agenda feminista. As escusas estão nas bases e planos de educação que regem nossas escolas, atualmente.

É um cenário familiar à concepção socialdemocrata37 de bem estar social, que capacita à independência individual da criança e socializa os custos e obrigações da família. Essa ideia foi cunhada por Gøsta Esping-Andersen, sociólogo dinamarquês, que acredita em tal modelo como resultado de uma fusão entre liberalismo e socialismo: confie o poder de educar e instruir nas mãos do estado (socialismo), e deixe seu filho vulnerável a conceitos abertos sobre sexualidade (libertarianismo).

Tendo em vista que a pós-modernidade respira ares carregados de feminismo, confiar a educação de crianças ao ambiente escolar exige supervisão triplicada. Estamos nos deparando com um culto ao desligamento da família tradicional, somado com uma desqualificação de tudo o que regeu a instrução tradicional dos pequenos até aqui. A política feminista faz da escola um espaço para experimentos, determinando o que estará presente nos currículos escolares, e virando as costas para a opinião e desejos das famílias.

Já que a escola virou palco para os intentos do feminismo, uma de suas estratégias é estimular que as mulheres conciliem a maternidade com o um emprego externo – deixar os filhos na escola/creche, enquanto a mãe e o pai trabalham 12hrs por dia ou mais. Assim, a ideologia consegue formar um novo exército, e as mulheres tornam-se participantes diretas da concretização dos planos em questão.

Deixe seus filhos nas mãos do feminismo, que ele dá uma suposta liberdade para trabalhar. Ou, você pode não tê-los, e se dedicar inteiramente para ser uma profissional de sucesso. Vejamos os efeitos da segunda alternativa:

III- Feminismo, maternidade e a mulher escrava do mercado

III.I -Camile Paglia e Tammy Bruce

“O feminismo minimizou o desejo da mulher de ter uma família” – Tammy Bruce, ex-militante feminista, ao falar para Prager University 38, descreve a situação das universitárias: quando perguntadas sobre o que querem ser, listam várias carreiras, e a de esposa e mãe, não são mencionadas. Quando uma decide abdicar dos estudos em prol de constituir uma família, ou expressa o desejo de casar e ter filhos, prontamente são reprovadas.

Assim como Tammy, Camille Paglia (Professora da Universidade de Artes na Filadélfia, considerada a antifeminista das feministas), acredita que a ideia de desvirtuamento da função da mulher, veio com o advento dos movimentos feministas do final da década de 1960, que depreciaram a opção de ser mãe e mulher:

“Desde o fim da década de 1960, há uma depreciação de quem quer ser mãe e mulher. Para mim, feminismo é a luta por oportunidades iguais para as mulheres. Ou seja: remover qualquer barreira que atrapalhe o avanço na educação superior e no mercado de trabalho. O feminismo deveria encorajar escolhas e ser aberto a decisões individuais. As feministas estavam erradas ao exaltar a mulher profissional como mais importante que a mulher mãe e esposa. Uma geração inteira de profissionais americanas adiou a maternidade e, quando finalmente decidiu engravidar, não conseguiu encontrar parceiro ou teve problemas de fertilidade.” 39

A teoria é: a mulher opta pela maternidade por meios coercitivos. Contudo, o feminismo de 60, segue a linha de raciocínio apresentada por Simone de Beauvoir (sim, ela de novo), revelando que a aversão à maternidade, trata-se, de um medo mal compreendido, politicamente falando, por ser tão escolhida e bem vista:

“Não, nós não acreditamos que qualquer mulher deve ter essa escolha. Nenhuma mulher deve ser autorizada a ficar em casa para criar seus filhos. A sociedade deve ser totalmente diferente. As mulheres não devem ter essa escolha, precisamente porque se existe tal escolha, muitas mulheres farão isso. É uma maneira de forçar as mulheres em determinada direção.”40 

O louvor à maternidade é típico de um espectro político e social contrário ao modelo defendido por Beauvoir. Exatamente por essas questões, a proposta é clara:

“Em minha opinião, enquanto a família e o mito da família, e o mito da maternidade e do instinto maternal não forem destruídos, a mulher continuará a ser oprimida.”41 

Tais assertivas são seguidas e pregadas com vigor. A propositura supervaloriza a mulher que opta por crescer no mercado de trabalho, e a induz a ocupar espaço forte como CEO’s42  de empresas, coordenação, intelectualismo e tudo que envolva liderança – isso é o “empoderamento” feminista.

Em consequência, a mulher que antes desejava ardentemente ser mãe, agora deseja ardentemente ser uma profissional de sucesso no ambiente corporativo. A persuasão corporativista, na linha Camille, trouxe sérias consequências:

“As feministas estavam erradas ao exaltar a mulher profissional como mais importante que a mulher mãe e esposa. Uma geração inteira de profissionais americanas adiou a maternidade e, quando finalmente decidiu engravidar, não conseguiu encontrar parceiro ou teve problemas de fertilidade.” 43

Diante da preocupação de escolher entre a maternidade e a vida profissional, o feminismo propõe que a mulher poderá ser mãe a hora em que quiser – numa tentativa de aumentar a adesão ao mercado de trabalho, sem ofender o desejo presente nas mulheres, que permanece, mesmo diante de forte ilação contrária.

Há um reducionismo, equiparando conceitos de medicina legal com ideologias sociais. Sem falar, que a assertiva “ser mãe na hora em que quiser” não casa bem com as determinações médicas a respeito de fertilidade e idade ideal para gestação:

“Muito antes da menopausa, a fertilidade feminina despenca. “A chance percentual de ter um bebê por ciclo, quando uma mulher tem 45 anos de idade, é de cerca de 1% ao mês”, diz Valerie Baker, professora associada de obstetrícia e ginecologia da Stanford School of Medicine.” 44

O resultado da negligência quanto à propositura da ciência médica, gerou um resultado preocupante – e acabamos por não ouvir o que as mais velhas nos avisaram:

“As feministas asseguraram às mulheres que haveria tempo suficiente para elas terem filhos mais tarde, com 40 anos ou 50 anos, depois de alcançarem o sucesso profissional. Quanta ignorância científica! Há muito tempo sabemos que os riscos para a mãe e para a criança são maiores quando se tem mais de 35 anos. Segundo a perspectiva médica, a mulher é mais fértil e tem mais facilidade para criar os filhos quando está na casa dos 20 anos. Tornar-se mãe ou pai nessa idade é bastante diferente de aos 40 anos. Meus pais me tiveram quando estavam com 21 anos, enquanto meu pai ainda estava na faculdade. Eles eram mais espontâneos e divertidos do que 15 anos depois, quando meu pai se tornou professor e tinha uma rotina pesada de tarefas a cumprir.”45

Apesar do caráter fundamental da natureza científica da maternidade, o feminismo prega seu adiamento, e numa matriz recolocada, promove fins atípicos ao corpo da mulher, que sejam diversos a qualquer ideia sustentada por sociedades tradicionais:

“Mulheres que lutaram contra a objetificação da mulher, se tornaram mais objetificadas do que nunca. Você as vê em toda parte. Em vídeos musicais, em outdoors, na cultura devassa do campus. (…) Como isso aconteceu? Porque o feminismo começou a advogar que as mulheres deveriam se comportar como homens. O que quer que eles fizessem por qualquer meio é o que as mulheres deveriam fazer.”46

O resultado de tal substituição gera uma miscelânea social, que influencia diretamente o porvindouro das sociedades pelo mundo. A criação e procriação das futuras gerações são atingidas diretamente por tal ideologia, seja pela opção de não praticar, seja por praticá-la de forma desleixada.

Entretanto, é preciso uma visão atenta para o plano estratégico das feministas. Vimos que há uma luta para desestimular a maternidade. Mas, há também uma frente de guerra para estimular a maternidade das mulheres frágeis intelectualmente, “jogadas para cá e para lá por todo vento de doutrina e pela malícia de certas pessoas que induzem os incautos ao erro” 47

III- Conclusão: crianças feministas: o exército para estabelecer a nova ordem mundial

Temos ouvido muito sobre o plano feminista de estabelecer algo chamado “igualdade de gênero”. A definição foi cunhada segundo as conclusões de determinados grupos sociais, mais especificamente, mulheres e minorias no que concerne à opção sexual. Trata-se de uma [suposta] necessidade de igualar os papéis entre homens e mulheres, para derrubar as diferenças estabelecidas por uma sociedade heteropatriarcal.

A pós-modernidade traz consigo um culto ao relativismo, em que não existe verdade absoluta, muito menos, definições precisas – tudo depende da visão de cada grupo social. Epistemologicamente, o que é verdade para uns pode não ser verdade para outros.

Contudo, se um grupo, como o de defesa do feminismo, determinar que X é um problema, todos serão obrigados a concordar que X realmente é um problema.

Apesar da tentativa de impor um totalitarismo (verdade relativa para outros, verdade absoluta para os meus interesses), a população brasileira está refletindo e se posicionando quanto a temas relevantes da esfera social e política, o que a faz ser identificado como predominantemente conservadora. Em 2016, a Pesquisa Ibope, detectou que “54% dos brasileiros atingiu um alto grau de conservadorismo”, ressaltando que 78% dos brasileiros são contra o aborto.48 

Tendo em vista a aderência nacional para um modelo que não se encaixa com os interesses do feminismo, moldou-se o plano perfeito, para doutrinar novos membros: usar os filhos, dos pais desfavorecidos financeiramente e intelectualmente.

Programas como o Bolsa Família, que leva em conta o número de crianças na família para estabelecer o valor a ser concedido, e a supervalorização das creches, são ferramentas utilizadas para ludibriar os pais, com o discurso de que poderão pôr filhos no mundo, e confiá-los aos cuidados do estados – é exatamente com essa falácia, que os adultos procriam, sem ter consciência de que estão doando integrantes para um perigoso alistamento. Qual seria a reação de uma mãe ou pai, ao ouvir:

“A creche é um continente, um universo que promove uma construção da rede de cuidados sobre toda a família. Tem a função de educar, conduzir ao exterior, otimizar a criança para que ela possa desenvolver seu próprio ponto de vista. Tem que permitir a narrativa corporal, a subjetivação da criança, que é o seu desenvolvimento cognitivo, por via corporal e da fala.”49 

Acalentador! Saber que terei onde deixar meus filhos, para ir trabalhar – já que com as poucas condições da família, a mãe também é obrigada a ir labutar, mesmo contra a sua vontade.

Assim, as creches e escolas serão um ambiente propício para os intentos feministas, na tentativa de estabelecer a igualdade de gênero como uma normalidade. E entregamos nossas crianças, adolescentes e jovens, aos cuidados de profissionais preparados a ensiná-los o que lhes convém, concretizando os planos dos grupos dominantes de esquerda.

Podemos ver um exemplo, na base curricular proposta pelo ONU Mulheres50 em 2016, para o ensino médio:

Todas as matérias ensinadas no currículo escolar devem estar voltadas para uma [suposta] problemática de gênero.


 

Cada competência é transformada num ambiente fértil para educar visando aumentar o número de praticantes e defensores de algumas práticas não aceitas por grande parte das famílias brasileiras.

III. II – Feminismo e a novo gênero andrógino – homossexualidade como regra  – o alerta de Peter Jones

Até aqui, detectamos uma estreita ligação entre passado e presente na defesa das ideias do campo feminista, bem como sua relação com políticas de promoção de libertinagem entre os homens e as mulheres, tornando-os livres e independentes para decidir sobre suas vidas. Mas isso não é tudo.

Peter Jones52  faz uma análise minuciosa ao detectar a relação estabelecida entre feminismo e a religiosidade pagã – bem localizada no gnosticismo. Trata-se de um esforço para combater diretamente a ideia característica da Cristandade: de que só existe homem e mulher, e o que o método natural, adequado e saudável no contexto de sexualidade e procriação, seja a heterossexualidade.

“Pensadoras feministas recentemente descobriram o caráter revolucionário do gnosticismo quando aplicado ao gênero e à civilização patriarcal. Uma delas diz, “o gnosticismo está se tornando uma poderosa influência na pesquisa feminista na queda do masculino divino”. Uma visão igualitária, não patriarcal, constitui a agenda da teologia moderna, da sociologia e da política global no Ocidente.”53 

O feminismo vai muito além de uma filosofia – é uma religião que deseja dominar o mundo e substituir Deus, bem como qualquer conceito tradicional deixado até aqui. Inclusive, há uma deusa que foi criada, ou melhor, aproveitada, do gnosticismo antigo, para representar a causa feminista – chama-se Sofia:

“Há uma lado negativo e um positivo na função de Sofia, de acordo com a teoria gnóstica. Negativamente, a sua revelação “desconstrói” o Criador dos Céus e da terra e todas as suas obras, assim limpando o caminho para sua função positiva, a de revelar a verdade, o desconhecido Deus que ela emana. Essas duas funções devem ser vistas para que seja visto quão extremo é o ataque gnóstico “cristão” contra a ortodoxia.”54 

O feminismo alega ter uma pré-disposição natural e firme para abraçar qualquer mulher de qualquer ideologia – uma semelhança entra a deusa pagã do gnosticismo:

“Pois a primeira e a última eu sou.
Eu sou a adorada e a desprezada.
Eu sou a prostituta e a venerável.
Eu sou a esposa e a virgem.
Eu sou a mãe e a filha (…).
Eu não tenho vergonha; Sou envergonhada (…)
Eu, Eu mesma sou sem pecado e a raiz do pecado tem origem em mim (…)
Sou eu quem é chamada verdade e ilegalidade (…)” 55

Como não é possível expurgar a religião da sociedade, a alternativa encontrada foi criar uma nova – atendendo os interesses mais promíscuos e reprováveis que alguém possa imaginar, e fazer convencer o mundo inteiro, sobre tais resoluções. O feminismo, não buscar apenas algumas adeptas, ele quer inundar o planeta, desconstruindo as noções básicas, quer sejam elementares, quer sejam morais, quer sejam socialmente aprovados. A arma principal para atingir essas metas, é a sexualidade, que tratamos acima. Para corroborar, as descrições de Virginia Mollenkott, salientam tal realidade:

“a heterossexualidade obrigatória é a espinha dorsal que mantém o patriarcado em pé”. A homossexualidade quebrará essa “espinha”. “Se a sociedade mover-se para fora do patriarcado e for para a parceria” nós aprenderemos que as questões lésbicas, bissexuais e gays não são somente assuntos restritos ao quarto de dormir, de praticar qualquer coisa que excita alguém”. São assuntos “empurrados para dentro da superestrutura do sistema heteropatriarcal”.56 

Para alcançar o ideal de criar uma nova população mundial, que venere a deusa pagã Sofia, o feminismo traz um novo protótipo do ser humano universal: o monista, andrógino – aquele que, via de regra, terá interesse por ambos os sexos, não se limitando pela heterossexualidade – o monismo é a “união com o todo”:57

“A desconstrução radical favorece a confusão de gênero do neopaganismo em um ideal andrógino. Para ter sucesso, o programa deve erradicar os últimos vestígios do Cristianismo da sociedade ocidental. O patriarcado e a heterossexualidade normativa devem acabar. O amplo programa liberal por trás dessas mudanças sociais aponta para uma religião totalmente inclusiva.”58 

A interligação existente entre emancipação feminina, ideologia de gênero e aversão ao Cristianismo, é patente, e bem mais cristalina quando associada com o plano de reorganização mundial – curvando o mundo para uma religião de uma única deusa, que tem seu interesse na destruição do Deus do Cristianismo, através de uma teoria que “sustenta que não existe diferença essencial entre os sexos (…); que não há base para diferenças de papéis, excluindo o condicionamento social para uma sexualidade diferenciada dentro da sociedade; e que tal diferenciação deve, portanto, ser eliminada.”

IV- Considerações finais

O mapa para chegar ao tesouro do intelecto está traçado, e uma de suas metas é destruir o Cristianismo. Tendo em vista que tal ideologia, gerada em ideias para criação de um novo humano espiritual, tem por objetivo a desconstrução, faz-se necessário um plano de ataque, uma vez que sua extensão de dominação tem pontos de contato com o marxismo, antissemitismo, com movimentos pró-dominação homossexual, com o totalitarismo, e com qualquer classe que venha a desempenhar um papel contrário aos ideais da sociedade cristã.

O feminismo trabalha numa espécie de ciclo com etapas preventivas (Vida) e exterminativas (Crianças e Família) – na impossibilidade de aplicar uma etapa, aplica-se a outra, ou todas em conjunto:
 

Bem antes dos anos 2000, fomos alertados de que “Em nossos dias, a confusão reina. Uma nova sexualidade estranha a tudo que a igreja conhece, está se pressionando contra a religião cristã” (JONES, Peter – p. 230). Talvez nossa falta de supervisão, nos deixou suscetíveis à agenda feminista – presente nos meios de educação, nos meios de reprodução, nos meios comportamentais, e ocupando as Igrejas.

Quando despertaremos do sono profundo? O secularismo vai inundar a Cristandade num nível acima dos nossos tetos? Deixaremos que as discípulas de Mary Daly entrem nas salas de aula de nossas crianças, e digam “O que é toda esta porcaria bíblica?”60  Nossa preocupação com a manutenção das tradições nos templos, está ultrapassando a preocupação [que deveria ser] primária com as nossas casas – e enquanto isso, o feminismo está em busca dos corações infantis, para plantar a semente do neopaganismo.

Referências bibliográficas

•    LEHMAN DA SILVA, Nelson: A RELIGIÃO CIVIL DO ESTADO MODERNO – 2ª edição – Vide Editorial – 2016
•    DE CARVALHO, Olavo: O FUTURO DO PENSAMENTO BRASILEIRO – 4ª edição – Vide Editorial – 2016
•    ARENDT, Hannah: ON REVOLUTION – Viking Press, 1963
•    MARX, Karl e ENGELS, Friedrich: CRÍTICA A FILOSOFIA DO DIREITO DE HEGEL; 1844
•    MARX, Karl: O CAPITAL: Crítica da Economia Política; 6ª edição; Rio de Janeiro – 1980
•    JOLL, James: AS IDEIAS DE GRAMSCI; Cultrix; 1977
•    BEAUVOIR, Simone: O SEGUNDO SEXO – 2º edição – 1967
•    COMENIUS, Jean Amos: MAGNA DIDACTICA
•    LUTERO, Martinho: OBRAS SELECIONADAS – vols. 2 (1989) e 5 (1995) – Editoras Sinodal e Concórdia.
•    WOLLSTONECRAFT, Mary: UMA REINVINDICAÇÃO PELOS DIRETOS DA MULHER – Boston: Peter Edes: 1792
•    SATURDAY REVIEW: SEXO, SOCIEDADE E O DILEMA FEMININO – UM DIÁLOGO ENTRE SIMONE DE BEAUVOIR E BETTY FRIEDAM
•    FIRESTONE, SHULAMITH – The Dialectic of Sex: The case for feminist revolution  (PaperBack) – 1970

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