Tem diferença? Tem, sim, senhor!

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É comum, hoje em dia, falar em louvor e adoração como se fossem a mesma coisa. Veja-se o caso de músicas que cantamos. Nas letras de algumas ambas as idéias aparecem lado a lado. Isso leva alguns a concluírem que louvor e adoração seriam palavras sinônimas, isto é, seriam duas maneiras de dizer a mesma verdade. Bem, pelo menos é assim que pensam.
Mas tem diferença entre louvor e adoração? Tem, sim, senhor! Tem, sim, senhora! Louvar, conforme já pudemos examinar em outra oportunidade, é falar bem de alguém. Louvor cristão é, portanto, elogiar a Deus. Por outro lado, adorar é algo muito diferente.

No Antigo Testamento o verbo “adorar” originariamente significava prostrar-se, ou seja, curvar-se até o chão. Faz lembrar aquele gesto dos muçulmanos quando, na hora de suas orações, ajoelham-se e, então, curvam-se até encostarem o rosto no chão. Mas por que alguém faria tal gesto? Bem, era comum curvar-se quando se estava diante de um hóspede ou de uma pessoa mais importante e especialmente diante de Deus (por exemplo: Gênesis 18.2, 2 Samuel 14.4). Com isso, demonstrava-se honra e reverência.

Mais adiante perdeu-se o sentido literal de curvar-se e ficou o figurado, permanecendo essa idéia de respeito e reverência. É assim que, várias vezes na Bíblia, o verbo adorar, que inicialmente tinha a idéia de prostrar-se, é usado lado a lado com verbos que indicam o movimento de curvar-se (por exemplo: 2 Crônicas 29.30, Apocalipse 5.14). Pois bem, é essa atitude interior que nos interessa examinar mais detalhadamente agora.

Sem pretender esgotar o assunto, podemos observar que adoração está ligada a pelo menos três outras idéias: sacrifício, gratidão e fé. Analisemos, então, cada uma dessas associações.

Adoração e sacrifício. Conta o livro de Gênesis que Abraão, quando levava seu filho Isaque para ser sacrificado, em certo momento falou aos servos que os acompanhavam: “Fiquem aqui com o jumento enquanto eu e o rapaz vamos até lá. Depois de adorarmos, voltaremos” (22.5). Podia ter dito “depois de sacrificarmos”, mas disse “depois de adorarmos”. Podia ter se referido ao ato exterior de sacrificar; mas preferiu indicar a atitude interior de demonstrar reverência e respeito por Deus. É isso que Paulo quis dizer quando falou aos cristãos de Roma: “Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional [ou adoração] de vocês” (Romanos 12.1). Coração que adora é coração que se entrega, é coração que doa de si mesmo. Adorar é entregar a filha a Deus a fim de que ela se torne uma missionária em campo distante. Adorar é ofertar com liberalidade para a obra de Deus. É também dar a uma pessoa necessitada como se estivesse dando para Deus (Mateus 25.37-40).

Adoração e gratidão. Ainda em Gênesis, lemos a história do servo de Abraão que foi a um lugar distante buscar uma esposa para Isaque, o filho de seu senhor (24.4, 10). Durante a viagem o servo orou, pedindo orientação divina (24.12-14). Ao ver respondida sua oração (24.15-20), ele “curvou-se em adoração ao Senhor” (24.26) e disse “Bendito seja o Senhor, que me conduziu na jornada” (26.27). Percebe-se claramente um elemento de gratidão. O que vemos nessa passagem é alguém que reconhece a direção de Deus em sua vida e, por isso, agradece, isto é, adora. Coração que adora é coração que agradece. Adorar é lembrar de agradecer a Deus aquilo que pedimos e recebemos e também aquilo que recebemos sem nem mesmo termos pedido. É agradecer coisas tanto grandes quanto pequenas: a gripe que foi embora, o salário recebido, a promoção no emprego, a reconciliação com alguém que virou as costas.

Adoração e fé. Adoração pressupõe fé. Isso fica patente num dos encontros entre Jesus ressuscitado e seus discípulos: “quando o viram, adoraram; mas alguns duvidaram” (Mateus 28.17). Isso nos ensina que a dúvida é um obstáculo à adoração. A fé é parte integrante da adoração. Sem fé não acontece adoração. Coração que adora é coração que confia em Deus. Adorar é reconhecer que Deus continua no controle mesmo quando se perde o emprego, quando chega a doença, quando se enfrenta uma crise familiar, quando Deus responde “não” à oração. Agir assim requer fé.

Em resumo, tem muita diferença entre adoração e louvor. Louvar é falar bem de Deus, seja em uma oração, seja em um hino, seja em uma conversa com o colega de trabalho. Louvor tem a ver com o que eu digo. Já adoração é algo lá dentro de mim. É uma atitude que tenho diante de Deus. Quando adoro, reconheço a minha pequenez e dependência de Deus, coloco-me no meu devido lugar: sou criatura, e Deus é o criador. Quando adoro, entrego a Deus o que sou e o que tenho, agradeço cada demonstração das bênçãos divinas, reconheço que ele está no controle de tudo. Adorar é deixar que na minha vida Deus seja verdadeiramente Deus. É mostrar com minhas ações e palavras que Deus é o Senhor de todo o meu viver.

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