O pensamento social calvinista

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Ética individual e responsabilidade social

1- Introdução
O objetivo deste artigo é apresentar a leitura que André Biéler faz sobre a Ética Individual e a Responsabilidade Social Calvinista em sua obra “A força oculta dos protestantes”. Pois, tal obra visa apresentar a Reforma Protestante como uma das principais insurgidoras da Democracia no mundo ocidental. Como tal, a autor teve que primeiramente reconstruir a noção de coletividade e liberdade individual na Reforma Protestante. Ideologias posteriores à Reforma, ironicamente por ela beneficiadas, tenderam acusa-la pela realidade da miséria e pobreza no período de transição medievo-renascentista.1

Assim, determinar os aspectos precípuos da Teologia Reformada servirá para mostrar que a Reforma não foi um movimento individualista, capitalista2  e alienador. Biéler, implicita na obra que o calvinismo soube lidar, ao menos enquanto incipiente, sem grandes dificuldades com a transição Ética Pessoal para Responsabilidade Social,3 tão somente baseado na cosmovisão cristã, tendo as Escrituras Sagradas como norma fundante da sociedade.

Então, não se trata de puro esforço humano ou de uniões ideológicas. O autor deixa conclusivo na obra que esforço humano resulta lógico aos crentes, enquanto que, ao homem dependente tão somente daquela graça comum, tão importante para a manutenção da ordem na sociedade, o esforço é exigido em vão. A ética só fará resultado ao próximo se partir de um coração convertido a Deus, no mundo onde o seu Filho é rei e servi-lo é gratidão por reconhecimento.4  Caso contrário, se terá ou uma ética egoísta e ensimesmada ou ativismo sem efeito prático e transformador. Tal esforço ético individual, sem Deus como o eixo central da relação eu-tu, eu-ele, será fraco frente o coração na regenerado, cheio de ídolos, onde o seu eu é o mais cultuado. Mas,

Os cristãos que se propõem conformar sua inteira vida às exigências e aos compromissos do Evangelho, deverão, portanto, esforçar-se por discernir os efeitos a longa distancia de sua conduta no interior desses mecanismos anônimos. À ética individual, à qual são de hábitos sensíveis, deve agregar-se uma ética social, que exige reflexão sempre atenta para a complexidade dos mecanismos, que determinam clandestinamente a sorte dos indivíduos e, muito particularmente, a das categorias sociais desfavorecidas […]. A passagem da ética individual para a ética social exige, portanto, uma atitude consciente de natureza política. E a ética social concerne, sobretudo, à política econômica tanto local quanto mundial.5


André Biéler afirma que a Reforma Protestante teve o seu princípio autonomamente religioso e que tem,como ponto de vista social, uma força espiritual revolucionária.6 É neste aspecto que a Reforma leva vantagem sobre qualquer ética cujo desdobramento volte-se exclusivamente à assistência social ou outro. Ela penetra todas as áreas do indivíduo e da sociedade.7

Portanto, como aspecto espiritual, a Reforma tem uma ética que aponta intra e extra-indivíduo. Tal apontamento ganha dimensões que recusa ao indivíduo polarizar entre egoísmo e altruísmo. Portanto, é uma ética que coíbe um direcionamento absoluto seja intra ou extra-indivíduo. Antes, afirma que somente uma volta a Deus é que se redireciona corretamente a si mesmo e ao próximo. Esquecer, pois, a questão sócio-econômica, política, social não deixa de ser um pecado contra o shalom divino. É por isto que Biéler pode afirmar que a ética cristã democratiza a economia.

O problema é que o cristianismo reformado foi assimilado em sua forma secularizada e influenciado pela evolução histórica das sociedades modernas. Mais do que Lutero e os pré-reformadores, a efervescente Renascença não era um hiato aos pontos da doutrina dos reformadores. Renascença e Reforma correspondiam

[…] ambas ao mesmo anseio. São dois movimentos complementares difícil de dizer qual engendrou o outro. […] A Reforma e a renovação das artes e das ideias são solidárias, ou antes, são dois aspectos contemporâneos de um mesmo renascimento. […] a maioria dos humanistas e reformadores cogitavam, antes de divergirem sobre certos pontos, de uma renovação global do humanismo baseado num retorno às fontes de toda a cultura humana e cristã.9


2-  O Calvinismo e sua ética operaram transformações sociais
Segundo André Biéler, a Reforma propunha um humanismo teocêntrico, ou melhor, Cristocêntrico, mas a teo-antropologia reformada fora enfraquecida e a antropologia deísta e ateia deixou um vazio religioso profundo no homem. Este vazio foi preenchido rapidamente pelas ideologias substitutivas.10

Ora, o humanismo cristão (cristocêntrico), pregado pela Reforma, redirecionava o homem por duplo viés: direção a Deus e a si mesmo. Assim, os conhecimentos são correlatos, não formando uma dicotomia, mas uma unidade que expressa a identidade da revelação. Nessa linha de pensamento, o homem jamais conhecerá a Deus sem se conhecer a si mesmo e vice-versa.11 Na verdade, conhecer-se é conhecer a Deus. Há um vínculo estreito entre esses dois pressupostos. É esse conhecimento mútuo quem sustentará a essência da liberdade humana.12 

Desde a criação, tal liberdade é responsável, firmada numa relação de amor, a partir da aliança estabelecida por Deus, pois o sujeito só é formado a partir da liberdade e da responsabilidade. Não se trata somente de uma visão antropológica, mas de uma epistemologia incipiente. Voltar-se para Deus é encontrar-se e encontrar-se é encontrar a Deus.

Assim,

Esse humanismo cristocêntrico, essa nova imagem do homem, redescoberta pelo cristianismo reformado, permitia a cada indivíduo compreender que sua natureza atual era uma natureza degradada e que devia ser restaurada. Mas essa nova concepção permitia-lhe descobrir que ele trazia em si, como toda a pessoa, os traços maravilhosos de sua identidade primeira. Cada indivíduo podia, portanto, conhecer-se a si mesmo e redescobrir que toda a criação era também convidada para sua renovação. Vê-se tudo o que, de um lado, a Renascença podia subministrar à Reforma pelo alargamento dos novos conhecimentos em todas as direções do saber racional, e tudo o que, do outro lado, a Reforma podia oferecer aos humanistas, lembrando-lhes que o homem só se conhece verdadeiramente quando faz em Cristo a descoberta de sua humanidade primitiva, hoje desnaturada.13


Fundamentado pelos novos princípios da noção antropológica e reaplicada ao período médio- renascentista (heranças reformadas), o humanismo procura seguir sem Deus. Biéler chama de “deplorável divórcio” a distância que certos humanistas haviam assumido em relação à pesquisa teológica renovada. Sob influência de Roma, esses humanistas (renascentistas) se voltam à civilização pagã antiga, todavia, sem as lentes de uma cosmovisão dirigida pelas Escrituras. Sem essas lentes, o mundo assume dimensões multifacetadas e idolátricas e substituirá a realidade caótica e desnaturada, que aguarda a redenção pelos filhos de Deus “até a completa separação do Cristianismo, para incluir na ilusão de um conhecimento do homem por ele mesmo, recurvado sobre si mesmo e indiferente à Revelação cristã.”14

O que segue, a partir de então, são simulacros da fé cristã, cuja estrutura se diz reformada, mas o conteúdo é o de um humanismo secularizado. Antes da Reforma, segundo o autor, qualquer força emancipadora de liberdade/Estado/Sociedade era impossível. No período medieval, quando muito, encontravam-se pequenas províncias com uma democracia (vigiada pelo monarca)- fraco modelo à democracia ocidental; “a democracia não consegue instalar-se nem permanecer lá, onde as premissas religiosas ou filosóficas profundas das populações são estranhas aos princípios evangélicos, iluminados pelo Cristianismo reformado” (Biéler, p.50).

Como se observa, o caráter constitutivo da Reforma prezou pela liberdade. E esta lhe custou caro. Mas é sob a égide desta liberdade que se abrigam as acusações de que a Reforma tenha sido a principal responsável pelo surgimento do capitalismo gerador da desigualdade, pobreza e miséria entre os homens. Seria isto verdade?

Ora, a proposta da Reforma, sobretudo calvinista, trata não apenas uma volta às Escrituras, mas uma volta abrangente a toda a ressignificação do ser homem. Deste modo, não se tratou apenas de revolução eclesiástica, mas sim, de uma mudança de quadro de referência- nova hermenêutica. O “eixo hermenêutico” desloca-se da tradição da Igreja para a compreensão pessoal da Palavra.

Há aqui uma mudança de critério de verdade que determina toda a diferença. Mas o ponto de partida, contudo, não foi o homem, mas sola scripturae (Infelizmente, pouco depois de Calvino a sola scripturae tornou-se sinônimo de subjetividade). Pode-se considerar, então, plausível a crítica de Richard Popkin à Reforma: a hermenêutica reformada deu liberdade a todas as esferas de criatividades humanas. Popkin entende um retorno ao ceticismo no período da Reforma Protestante mediante uma conceituação ‘moderada’ entre o ceticismo acadêmico pirrônico.

Segundo Popkin, o período de 1500-1675 não é o único período de influência cética sobre o pensamento moderno,

antes e depois deste intervalo podem encontrar-se influências importantes de antigos pensadores céticos. Porém, eu afirmo que o ceticismo desempenha um papel especial e diferente no período que vai desde a Reforma até a formulação da filosofia cartesiana. Um papel especial e diferente, devido a qual as crises intelectuais produzidas pela Reforma coincidiram no tempo com o redescobrimento e reaplicações de manuscrito de Sexto […].15

Para o historiador, céticos e crentes não são considerações opostas, pois céticos e crentes duvidam dos méritos racionais, ou evidencias das justificações dadas pela crença. Aliás, um cético pode considerar a possibilidade de várias crenças. O paradoxo é que, o crente16  é cético quando duvida da eficácia da razão acerca de uma proposição necessária.

A leitura que Popkin faz da filosofia reformada serve-nos de adendo aos argumentos de André Biéler. Este defende que a democracia resultante da Reforma é resultado da liberdade encontrada no fundamento bíblico- teológico. O homem ganha ressignificação a partir da leitura antropológica de Calvino.17 Segundo o autor,

A reforma não foi, nem pretendeu ser em primeiro lugar uma reforma da sociedade apenas; nem mesmo unicamente uma renovação moral, a base indispensável sobre a qual se constroem relações humanas. Procurando restaurar um Cristianismo fiel a sua origem, ela pretende reproporcionar ao mundo o conhecimento do ser humano, tal qual ele é em sua complexidade, e, sobretudo indicar a cada indivíduo as possibilidades de sua restauração, na perspectiva de uma vida política co-participante e de relações econômicas equitativas. Propunha-se dignificar os fundamentos originais da vida espiritual, donde derivam os valores morais e cívicos imprescindíveis à boa marcha das sociedades.18

Consequentemente, era impossível que os fundamentos da Reforma, juntamente com a liberdade herdada, também não evocassem a libertinagem obliteradora da democracia. Calvino nunca considerou a democracia como inerente à natureza humana; todavia, nunca a considerou também como um bem coletivo, mas sempre como mantida por viés individual,19 pois a obediência à Autoridade constituída por Deus é um dever não só cívico, mas também religioso.

Portanto, a ética calvinista segue por duas vias: a via particular e a via social. Ambas não são hiatizadas. Deixando uma, a outra não existirá. Doutro modo: a ética individual imbrica em ética social. Aliás, a vocação cristã, proposta por Lutero e estendida por Calvino, propõe o fim desta hiatização: privado/público, sagrado/profano20 (o fim desta hiatização fornece a distinção Igreja/Estado).

É possível verificar a imbricação da dupla via da ética de João Calvino em André Biéler, quando este fundamenta tanto a Democracia Ocidental, como quando aponta os fundamentos de um desenvolvimento justo; ambos heranças positivas do calvinismo (Biéler,pp.113ss). A leitura atenta à obra encontrará a defesa das vias elencadas e sistematizadas, demonstrando que a Reforma priorizava uma transição fatual e inerente da vida privada para a vida social.21

Ora, Calvino estabelece seu conceito de ética tendo por base as Sagradas Escrituras (AT e NT) e na tradição cristã (Agostinho). Esta ética calvinista assevera Deus como sendo o único soberano sobre todo Universo e toda criação, bem como o homem criado à imagem e semelhança de Deus. Pode-se encarar esta Imagem e Semelhança em o homem refletir as qualidades éticas e morais de Deus, dentre as quais podemos elencar o amor, a justiça, a santidade, entre outras.

O relacionamento do homem com Deus, defende Calvino, é resultado do amor de Deus pelo homem, que se encontra em Jesus e do amor deste por Deus, a si mesmo e ao seu próximo. O amor a si mesmo pode ser representado através da autopreservação e dos cuidados pessoais. Em contrapartida, o amor ao próximo deve ser exercitado através do trabalho visando o bem-comum. E somente a partir deste relacionamento de autocorrespondência e/ou autorreflexão que se pode entender a ética do reformador.

Portanto, a Ética de João Calvino, como André Bielér a apresenta pode ser elencada como se segue:

3- A ética reformada:

Moral e ética ou ética moral? Como visto anteriormente, a reforma não dicotomiza estas duas. Todavia, a ética reformada possui três funções: (a) função espiritual; (b) função moral; (c) função política.22 Verifica-se, então, que Calvino não prescindia uma função em detrimento de outra. Moral e ética eram uma única coisa. Biéler considera que, se para Calvino, “a Reforma religiosa era preâmbulo à transformação da sociedade, inexistia, porém, Reforma religiosa fundamentada sobre a Palavra de Deus que não envolvesse transformações em toda a vida política, econômica, e social da cidade.”23  Eis aqui, aquilo que Biéler diz ser necessário para que se veja a ética calvinista com bons olhos; isto é, uma ética coletiva renovada pela ética cristã.24

4- A vocação cristã, sacerdócio universal e a autoridade das escrituras: bases da liberdade cristã e da origem da democracia econômica:
André Biéler aponta que “a vocação individual, a teologia do sacerdócio universal dos crentes” e a “Autoridade única das Escrituras” foram as prioridades da Reforma. Estes ensejam aquilo que poderia ser contraditório à ética, todavia, paradoxalmente, é uma das características do êxito da ética de Calvino. 

O paradoxo consiste no fato de que, ao se considerar o valor intrínseco do homem vocacionado por Deus, o tal deve estimar o seu próximo com igual ou maior valor recebido por Deus. A noção esposada por Calvino sobre a vocação é complexa, pois não se restringe intrinsecamente ao chamado clerical, mas pode ser conhecida como vocação secular.

Diferente da Idade Média, a Ética Reformada transtornou a concepção humana. Para Calvino, O homem cristão reformado deverá atuar em sua vida profissional tendo a Glória de Deus por fundamento. Observar toda a existência enquanto criação de Deus, incluindo o homem e sua construção sócio-cultural, a fim de que tudo lhe seja por local de cumprimento dos desígnios de Deus. De tal forma que uma secularização do sagrado ou mundanização da perspectiva religiosa do homem, sendo seu trabalho profissional o elemento de ligação, faz-se real e autorizada a partir deste conhecimento do que Deus está realizando no mundo. Pois tal compreensão orienta o homem a assumir diante do Criador as responsabilidades do projeto de restauração integral da sociedade.

Eis, assim, fundamentos de uma ética cristã calvinista que será formalizada ao cristão a tantas quantas forem as áreas das relações humanas que vivencia. A norma cristã ou dever religioso em Cristo que se assevera ao cristão calvinista, diante do mundo integral que nos cerca, será a resposta necessária em temor a Deus segundo os aspectos acima postulados.

A proclamação de que um chamamento individual é endereçado por Deus a cada indivíduo, qualquer que seja ele, e sem a intermediação necessária de uma hierarquia clerical, o que faz de cada indivíduo uma pessoa única e inteiramente responsável por si própria. Essa responsabilidade primeira dos indivíduos deve exercer-se em todos os domínios.25

Não se trata, como se pode pensar, de uma vocação individual cuja responsabilidade pessoal evoca uma liberdade de si para si mesmo.26 Tal liberdade se realiza diante de Deus e seu julgamento. Portanto, essa vocação individual se estrutura na comunhão do crente com Deus, e deste modo,

Em virtude desta comunhão com Deus, a responsabilidades de cada indivíduo é o fundamento de uma liberdade particular, que não é uma liberdade incondicional, mas uma liberdade submissa. Trata-se de uma liberdade comedida e controlada, aquela que decorre da emancipação pessoal e da nova vida recebida na comunhão e no perdão de Cristo.27

Embora se tenha o termo vocação com significação direta à ideia do trabalho (beruf), suas dimensões evadem-no. O trabalho é o meio pelo qual o homem cumpre a sua vocação.28 Isto possibilita a Biéler ligar imediatamente o chamamento divino ao sacerdócio universal dos crentes. Pois, conforme visto, a noção do trabalho na ética de Calvino é melhor vista como o reflexo da ação de Deus contínua na criação, cuja expressão é a ação do crente na transformação da criação.29

Observa-se que para André Biéler a relação entre a vocação particular e a vocação universal torna inseparável a sua consequência; ou seja, a responsabilidade inalienável.

Pois,

Esta vocação, que Deus dirige a cada indivíduo, para restituir-lhe sua natureza original e para conferir sentido a sua existência presente, suscita nele, se a reconhece e aceita, uma vida nova, vida que deve recriar-se diariamente em comunhão com Cristo. […] Ora, o Evangelho diz que esta vocação é universal. Dirige-se a cada ser humano sem exceção. Fundamenta sua dignidade perante Deus, mas dela decorre também sua responsabilidade inalienável, quer perante ele próprio quer perante os homens, no que tange à sua fé tanto quanto à sua conduta. Dessa vocação essencial provém igual dignidade intrínseca de cada indivíduo na sociedade, fundamento da solidariedade.30

Calvino diz que, “Se seguirmos fielmente nosso chamamento divino, receberemos o consolo de saber que não há trabalho insignificante ou nojento que não seja verdadeiramente respeitado e importante ante os olhos de Deus”.31 O amor ao próximo faz com que o nosso honesto trabalho não se limite a satisfazer as nossas necessidades, mas, também, a ajudar aos nossos irmãos: “O amor nos leva a fazer muito mais. Ninguém pode viver exclusivamente para si mesmo e negligenciar o próximo. Antes, todos nós temos de devotar-nos à ação de suprir as necessidades do próximo”.32

E, aqui Biéler diferencia o liberalismo moderno (capitalismo?) daquele liberalismo econômico ensinado pelo calvinismo.33 Considera que o modo econômico que Calvino procurou implantar (ao menos incipientemente) pode ser chamado de “o verdadeiro liberalismo, o liberalismo social, o que reivindica ao mesmo tempo a responsabilidade de cada indivíduo e a solidariedade de todos […]. Trata-se de humanismo espiritual, de personalismo social e federalista, cujas raízes mergulham em tradição cristã muito antiga.”34

O novo capitalismo não mais remunera segundo seus méritos os indivíduos, que oferecem seus serviços ao longo da cadeia de produção ou distribuição. Não os conhece. Fixa os salários unicamente em função da massa de trabalhadores disponíveis, sem levar em conta suas qualificações morais, pessoais, nem suas necessidades vitais. Os salários são fixados, em primeiro lugar, pela lei da oferta e da procura no mercado e não mais em função da qualidade do trabalhador, pelo menos no que diz respeito à massa crescente de proprietários.35

Com base nesse pensamento, a ética individual se tornará cada vez menos importante e tudo se baseará no anonimato; dessa maneira, o indivíduo crê poder realizar seu trabalho de modo autônomo, da maneira como bem lhe entenda, sem considerar o bem ao próximo (BIÉLER, 1999). Todavia, não é esta a realidade da ética reformada.

A conclusão óbvia decorrente é que a vocação e a responsabilidade individuais, que o Evangelho confere a cada indivíduo levam-no ao exercício do sacerdócio universal na Igreja.Como tal, esta doutrina proporciona ao homem a sua liberdade, bem como, o seu livre acesso a Deus. Porém, impõe sobre si mesmo a submissão a Deus em serviço ao próximo.36

Quanto ao sacerdócio universal dos crentes, André Biéler o entende como estando na base da “concepção democrática da Igreja, primeiro e, da cidade, depois, quando os protestantes terão dele apreendido todo o significado religioso político”.37 A doutrina sublevou positivamente o sacerdote leigo, o homem comum a responder não só por sua vida espiritual, como também, a da Igreja externando-a na comunhão cristã e na solidariedade exigidas como frutos diaconais.

Lopes, em seu ensaio, resultante das leituras da obra “O Pensamento Econômico e Social de João Calvino”, explica que,

É na Igreja que a ordem primitiva da sociedade, tal qual Deus a havia estabelecido, tende a ser restaurada. […] É na Igreja, […] que as relações sociais de trabalho sofrem profundas alterações […]. Na Igreja, […] Jesus Cristo estabelece entre os cristãos a justa redistribuição dos bens destinados a todos. Isso se dava através da atividade diaconal. […]. Quando Calvino falava em restauração social, ele tinha em mente uma sociedade civil governada por cristãos reformados que aplicassem os princípios bíblicos às questões sociais, políticas e econômicas, ou seja, um Estado que fosse orientado pela Igreja no exercício de suas funções. O órgão encarregado do ministério social da Igreja, diz Calvino, é o diaconato.38

Ora, a doutrina do sacerdócio universal rompe com o sistema medieval hierárquico Igreja/Estado, bem como revoluciona a antiga visão do catolicismo romano, onde o povo tinha papel passivo quer no espectro do sagrado quer no político-social. A antiga hierarquia vertical de cima para baixo é agora invertida (Biéler,p. 58).

Contrariamente, a responsabilidade individual conferida diretamente a cada crente faz dele o delegado da autoridade divina, quer no reconhecimento dos ministérios que o Cristo suscita no interior da Igreja, quer, por analogia, nas diversas funções da sociedade temporal. Trata-se de um princípio fundamental na construção da vida comum, espiritual, depois temporal. Aqui, a autoridade, que procede de Deus, é comunicada diretamente ao povo crente e, em seguida, por ele delegada, de baixo para cima, às autoridades humanas, eclesiásticas, depois políticas, na medida da vocação que lhes é reconhecida.39

Sobre a Autoridade das Escrituras, esta, não menos paradoxal, impunha sobre o crente a sua responsabilidade tanto individual quanto social. Pois, se tratando das Escrituras, “se cada crente é o interprete único responsável perante Deus, […] essa doutrina devia ter consequências culturais consideráveis. ”40

Biéler consegue ver na autoridade das Escrituras este aspecto duplamente ético-social: primeiramente, é necessário aos fiéis o estudo pessoal das Escrituras a fim de entendê-la, depois, consequentemente, para o seu entendimento, o crente necessitará de instrução popular. Assim,

A responsabilidade por seu próprio desenvolvimento espiritual, moral, intelectual e até físico, cabe, pois, em primeiro lugar a cada fiel, mas também a cada comunidade encarregada de prover a educação cultural de cada indivíduo. Ela acarreta o florescimento da pessoa, que logo percute na vida política e econômica. Esse é o ponto de partida obrigatório para que desabroche e funcione uma civilização democrática completa.41

O autor infere que, para Calvino, pouca força o Estado na esfera individual quando está sob a Soberania de Deus. Sob a Soberania divina, a responsabilidade pessoal implicará inerentemente na responsabilidade coletiva, fruto da vocação divina, aceita pelo crente mediante a leitura das Escrituras.42 A autoridade das Escrituras sobre os crentes é fonte libertadora, bem como, impulsionadora de ação social.43

Ao descentralizar Igreja e Estado da influência e poder de um único indivíduo, o crente sente-se também vocacionado a trabalhar e transformar o mundo. É por isso que André Biéller conclui que a democracia tem origem na base da Teologia Reformada, ou melhor, na Ética Reformada.

Isso significa […] que ética decorre da fé e não poderia reduzir-se a uma lei moral autoritária (Lutero) e que não poderia existir fé cristã viva sem engajamento ético concreto, de natureza política, econômica e social no mundo (Calvino). […] Calvino sublinha e desenvolve as consequências dessa renovação para a permanência de uma vida harmoniosa dos indivíduos e das sociedades.44

Ora a Reforma não se tratou de uma inovação, recomeço ou arremate da Igreja no mundo. Antes, elucidou como a ética individual está indissoluvelmente enraizada na responsabilidade coletiva. Todavia, não como um existencialismo kierkegaardiano, mas como descoberta deontológica com significado verdadeiro somente em Deus Pai e Cristo Jesus.

Conforme Biéler, enquanto orientação divina ao homem, esta sua vocação, fundamentada nas obras da Criação e do Governo de Deus sobre o mundo, define-se o trabalho em Calvino, enquanto continuidade da ação providencial de Deus a fim de que a existência humana na Terra ocorra a bom contento.45 “A ação providencial não suprime, ao contrário, fundamenta a livre ação do homem. Agir livremente é executar o que o próprio Deus faz; à parte desta ação, todo trabalho do homem nada é senão agitação febril e atividade inútil.”46

Portanto, o trabalho na ética calvinista não prioriza o acumulo de bens, tampouco é a prova da eleição para salvação do homem nesta terra. O eleito trabalha, certamente, mas não para comprovação de salvação; antes, porque se descobre digno dentre a criação de Deus e tem Dele a ordem de restaurar a obra da criação.

Um dos princípios que norteavam a teologia social de Calvino era que, diz Lopes, “o Cristo vivo e exaltado é Senhor de todo o universo. […] Portanto, a obra de restauração realizada por Cristo não se limita apenas à nova vida dada ao indivíduo, mas abrange a restauração de todo o universo- o que inclui a ordem social e econômica. ” 47 Verifica-se, então, que o trabalho na Ética Calvinista é diferente de Capital. Logo, a mudança paradigmática do socialismo de Calvino para o moderno capitalismo exige distinção entre trabalho e comércio do acúmulo de capital, do qual o reformador é acusado de criar. A vocação universal que dignifica o homem lhe exige, por sua vez, a responsabilidade inalienável.

E uma vez mais, a solidariedade se sustenta sobre este paradoxo: a dignidade individual reconhecida no outro. E, sobre esta estrutura dificilmente se mantém o equilíbrio (Biéler, pp.117, 120). Historicamente, o desequilíbrio se deveu a “um tipo absolutamente novo de relações sociais e econômicas”, são as relações a longas dimensões, explica Biéler.

 Ao estabelecer relações ultramar, os agentes econômicos não mantinham mais relacionamento direto uns com os outros. Isto comprometeu a valorização moral individual, pois, a ausência de contato imediato ao negócio não interrompe os lucros obtidos pelo produto. Assim, “desenvolver-se-ão, destarte, mecanismos econômicos sobre os agirá menos a Ética individual e cada vez mais as decisões tomadas por representantes dos poderes financeiros anônimos. ” (Biéler, pp. 120-121).

O terceiro e quarto capítulos da obra é de particular consideração, pois procura compreender como nas suas origens o protestantismo influenciou a sociedade economicamente. É precisamente aqui que se busca a passagem da Ética Individual para a Ética social. A doutrina da vocação ganha força, define o significado do trabalho e pontua o paradoxo indivíduo-sociedade, além de explicitar o imperativo por uma democracia possível somente com a ética cristã.

Biéler não admite que o capitalismo moderno tenha se originado com a Reforma protestante. Mesmo porque, a Reforma calvinista também se encontrava na origem do desenvolvimento industrial. Calvino, todavia, sagra a esta época porque a religião evade a todas as esferas das relações humanas. Mas, acima disto, a doutrina calvinista se superou em teologia e qualidade espiritual (Biéler, p.116). Portanto, é necessário distinguir o desenvolvimento econômico ocidental e as democracias como frutos da Reforma da origem do capitalismo liberal. Antes, porém, é preciso retornar ao sentido primeiro do trabalho, uma vez desnaturado pelo pecado, conforme Calvino.

Biblicamente, a dignidade do trabalho está na comunhão do homem com Deus. E, “paradoxalmente, para isso alcançar, o homem deve parar momentaneamente de trabalhar, a fim de readquirir nova comunhão com Deus” (Biéler, p.125). O trabalho não é um fim em si mesmo! E isto é inovador para a sociedade na qual Calvino estava inserido. A vocação universal obriga o indivíduo fazer do próprio descanso uma extensão de seu labor. Obviamente, então, ócio, desemprego e lucros abusivos são realidades desnaturadas do homem- já que o trabalho, segundo a ética calvinista, é a obra pela qual o homem se realiza na obediência a vocação recebida de Deus.

Assim, acusar a ética calvinista de infundir uma ideia de trabalho focada somente no indivíduo é injusto. Pois,

Se a liberdade é indispensável ao exercício da vocação para o trabalho, que Deus dirige a todas a pessoa humana, essa liberdade não pode ser considerada isoladamente, independentemente da busca de justa solidariedade entre os parceiros sociais, todos atores da economia. ”48

Ademais, a vocação particular imbrica na interdependência do trabalho alheio. A afirmação se liga à reabilitação que o calvinismo deu ao comércio.49 Pois, cada indivíduo tem a necessidade de usufruir das outras atividades humanas. Assim,

Certa divisão do trabalho está, portanto, em conformidade com os desígnios de Deus. Ela manifesta a interdependência de suas criaturas e acentua a utilidade dos vínculos que a atividade econômica tece na humanidade. […] expressa a solidariedade que liga os homens entre si. E tal solidariedade implica troca permanente entre indivíduos, reciprocidade de serviço. O comércio, por consequência é o corolário da vocação individual para um trabalho particular. As trocas são, por conseguinte indispensáveis para que se realize a ordem social harmoniosa que Deus quer ver reinar entre os homens. Nenhum deles pode bastar-se (Biéler, p.130,131).


5- Igreja, estado e indivíduo: soberanias de esferas diferentes, porém, igualmente inclinadas ante a soberania de Deus.

Para Calvino, Igreja, Estado e indivíduo tem esferas diferentes de atuação-porém, interdependentes. Noutros termos, pode-se chamar de submissão respeitosa, uma vez que as três esferas de poder estão sob a Soberania de Deus e sob a Lei das Escrituras. Tal submissão às Escrituras no indivíduo constrói um caráter de autoridade para si e para com as relações sociais imediatas ao mesmo tempo em que o obriga a submeter-se à soberania da Igreja (embora o indivíduo não tenha representatividade esmaecida como pertencente a esta, uma vez que o sacerdócio universal o dignifica). Ele também se submete à soberania do Estado, pois, este é constituído por Deus. Neste ponto, indivíduo e Igreja se submetem à autoridade política, pois isto é tanto um dever cívico quanto religioso.

A questão pode parecer antagônico, uma vez que, tanto mais as esferas parecem se bastarem, mais dependem simultaneamente das outras para adquirirem autoridade. Ora, que a submissão relacional entre as três esferas é tênue é fato.50 Mas, o que a mantém em funcionamento? Calvino apelava veementemente à consciência cristã do indivíduo. “Essa insistência prende-se ao fato de que a propensão à contestação revolucionária, sem motivo moral imperativo, constitui ameaça permanente à democracia.”51 Seria este apelo destinado apenas aos crentes, então?

A democracia instaura um poder que avança de baixo para cima: o sujeito se faz cidadão e faz o poder. A reforma dirá que os homens, em todos os níveis, podem governar-se porque a luz divina é concedida a todos. Para o não-cristão, a democracia é apenas o melhor sistema de governo. Para o cristão, ela é, ademais, a oportunidade que lhe é oferecida para participar no governo dos homens desejado por Deus. Ela estimula-o a uma cidadania ativa.52

É sempre importante lembrar que, segundo Biéler, a democracia se dá por viés individual. Porém, tal indivíduo é subsumido pelo grupo ao qual pertence. Pois, “quem fala de democracia, não se refere necessariamente à pessoa humana, a toda pessoa humana” (Biéler, p.65). E é na Igreja onde indivíduo ou sociedade ganhavam voz e é voz. A Igreja como “sentinela da democracia” está

incumbida de exortar e criticar, se necessário, sobretudo mediante o ministério dos pregadores, a conduta dos cidadãos tanto quanto dos magistrado. Fazia-se necessário que o Estado, instituição profana, laica, mas cuja vocação divina fosse mantido saudável, quer pela prece de intercessão proferida pelos fiéis à favor das autoridades, que mediante a Palavra de Deus anunciada ao povo e aos dirigentes. Cumpria que o Estado fosse preservação, principalmente, de todas as tentativas de sagração do poder, mais ou menos conscientes e incessantemente renovadas.53

Deste modo, a Reforma credita ao indivíduo a justiça social e ao Estado a sua ordem (p.175).  E há, por sua vez,três deveres das autoridades nas coisas espirituais: o dever para com Deus; o dever para com a igreja, dever para com indivíduo(Biéler, pp53, 56).

Biéler aponta a historicidade da transformação econômica social, cuja base de sustentação e inovação fora a Ética social reformada. Todavia, esposa o fato de que a estrutural social reformada posteriormente serviu como direção oposta para ideologias tendenciosas. Contudo, a matiz reformada continuou a apontar a fonte de toda a ética-sócio-econômica da humanidade: a crença. Pois, foi, também, à religião que esses autores tomaram emprestado o caráter messiânico de sua ideologia.54 Exemplo disto é o marxismo. Este se tornou uma esperança, de tipo místico. Para os trabalhadores a esperança marxista “desempenhou o papel que exerciam as crenças profanas precedentes da burguesia triunfante secularizada. Não foi por acaso, portanto, que o marxismo se tornou também uma “religião secular. ”55

Mas, aqui vale recordar que “razão e consciência não poderiam bastar-se a si próprias e garantir o verdadeiro humanismo. Necessitam ser esclarecidas pela Palavra de Deus, a única capaz de libertá-las de sua auto-exaltação quase religiosa, que as priva de sua vocação original de serviço” (Biéler, p.148). É por isto que a Igreja sempre lutou para reaver a Ética às suas origens. A ideologia do liberalismo econômico ao adquirir aspectos religiosos, sofismados pela ideia de intelectualidade secular, substitui a Ética Cristã pelo autoritarismo; isto é, a ética libertária. Acende-se à liberdade sem ética global. A liberdade, por sua vez, sem ligar-se à ética absoluta, transforma-se em liberdade selvagem.56

Ora,

A liberdade econômica sem contrapeso ético, sem corretivo social, é, portanto, também a liberdade conferida ao mais forte para aniquilar o mais fraco, e a liberdade outorgada ao mais rico para explorar o mais pobre. É a liberdade de uns que mata a liberdade de outros: a ética libertária engendra finalmente a liberdade liberticida. Essa é a tendência da ética do capitalismo sem freio. É essa ética que se tornará rapidamente a ética dominante da sociedade industrial.57

Urge que, democratizar a economia é o imperativo da Ética Cristã. E a questão é bem simples: o equilíbrio entre ética individual e sociedade não pode ser mantido em coletividade. É necessário que se parta do indivíduo para a sociedade e não o contrário. Este paradoxo só se sustenta pela fé evangélica, onde o homem, sozinho, assume a responsabilidade pela sociedade. Ora, é a vocação pessoal que supera o paradoxo sujeito-sociedade. Noutro termo, a vocação pessoal é a base para a democratização da economia, pois garante ao indivíduo a sua dignidade perante si mesmo, o outro e Deus.

Na sua origem, o liberalismo insistira sobre essa responsabilidade de cada indivíduo no seu trabalho, exigindo certa liberdade, mas uma liberdade controlada e equilibrada pela justiça, não uma liberdade selvagem abandonada a si própria. Mas, pouco a pouco, o sistema capitalista transferiu a maior parte dessa responsabilidade unicamente para o capital.58


6- A igreja das nações, graça comum e discernimento cristão para o mundo hoje:

A que parece, a Ética de João Calvino, no fim é a ética da consciência. Mas que consciência? A ética calvinista ensina que todos os homens estão, pelo menos, fundamentos numa mesma base comum: imago Dei. Esta serve suficientemente como padrão para juízo comum. Porém, esmaecida pelo pecado, rouba-nos a pureza do juízo e exalta uma verdade sempre egocêntrica.59

Além do mais, ao homem comum, esta graça não junge natureza e graça, mas precisará sempre reduzir a realidade aos campos da ética e da moral, como se estas fossem distintas. Não é deste modo que as ideologias se tornam absolutas?60 E não é, também, devido a isto que ética pessoal e responsabilidade social parecem-nos tão excludentes e que, contrariamente, todo trabalho só pode ser produtor de lucros?61

Todavia, segundo Biéler, a igreja não pode ser seduzida pelo liberalismo moderno ao ponto de também reduzir indivíduo e sociedade a uma única esfera; isto é, à responsabilidade do Estado. Embora se tenha dito que o Cristianismo reside numa única realidade irredutível- a glória de Deus, isto não implica que o Estado seja a representação do indivíduo em sua relação com a sociedade. Não. O Estado não serve de ligação entre indivíduo e sociedade; ou seja, eu-tu. Biéler aponta que não cabe ao Estado ou Igreja litigiarem a esfera do Indivíduo. Aliás, Calvino foi mal interpretado neste ponto, chegando a ser mesmo acusado de incitar revolta à autoridade monárquica. Seja como for, é papel da Igreja, como sentinela das nações, observar os extravios naturais existentes na relação entre Ética Particular e a Social, sendo ela mesma aquela que vive sem fazer distinção entre ambas.

Biéler nos lembra de que o imperativo missionário e profético da Igreja (Mt.28:18-20) alude uma vocação que não se concretiza por si mesma. A Igreja facilmente se deixou influenciar pela dicotomização sagrado/profano, teoria/prática. Elementos nos quais o mundo não consegue jungir por ser a sua união possível somente pela fé cristã (Biéler, pp. 230,232).

Jesus nunca fez diferença entre conhecer a verdade e praticar a vontade de Deus,nuca procurou fazer um resumo sistemático da verdade divina, nem mesmo acreditou que o mal fosse um problema em si, resolvido mediante a união do indivíduo a uma instituição ou ao Estado62 (Biéler, p. 230).Consequentemente, cabe à Igreja aceitar ao apelo simples, mas poderoso, de se viver o evangelho como ele mesmo é: integral.

Assim, todo homem […] não têm outra identidade última, hoje, senão sua vocação para viver uma vida nova, com uma ética nova, em comunhão espiritual com Cristo. Do mesmo modo, toda a sociedade, seja qual for, não tem outra finalidade última senão sua vocação para refletir, nasua ética social e suas instituições, essa sociedade nova e perfeita que Jesus chama de Reino […].63
    

Conclusão
Mas, por que a Ética Individual de Calvino implica em Ética Social? Tendo como base as Escrituras e o caráter de Cristo como modelos, o crente se torna mais exigente consigo que para o corpo social. A Ética Social de Calvino nunca considerou a graça comum suficiente, senão, dirigida pelas Escrituras. Daí o crente não espera que o mundo aceite facilmente a fé cristã, nem mesmo, o cristão deve esperar uma ética do homem como sendo sempre boa. Cabe ao crente redirecionar a ética oriunda da graça comum à sua múltipla aplicação nas diversas esferas, conforme a vontade de Deus.

Enfim, transporta para o plano político, essa vontade divina deve ser traduzida pelos cristãos em projetos de sociedade, que possam ser compreendidos e aceitos pelo maior número de pessoas possível. Trata-se de nível ético inferior que, para uso de toda sociedade profana, não é aquela que os cristãos adotam para si mesmos, em razão de sua fé […].o cristão será muito mais exigente moralmente consigo, do que poderá ser para com a sociedade no seu conjunto.64

Assim, fica claro que a própria história do protestantismo coloca sobre ele ainda mais responsabilidade no proclamar da Palavra de Deus com vistas às transformações da sociedade. É a própria proclamação da Palavra que evita que os crentes se esqueçam de sua missão essencial e voltem-se unicamente para si mesmos.

Portanto, de modo simples, mas não menos constrangedor, Biéler lembra que a essência crítica da ética cristã provém de sua própria identidade; isto é, deriva-se diretamente do próprio Jesus Cristo: “Não se deve esquecer que a crítica positiva, mas firme, das autoridades religiosas, políticas, econômicas e sociais constituídas foi sempre serviço que os cristãos conscienciosos acreditaram dever prestar à sociedade, para sua salvaguarda, a exemplo de Cristo.”65
 
Poder-se-ia esperar, então, de um cristão uma Ética Pessoal que não se manifestasse em social? Poder-se-ia esperar do mundo uma crítica pior?

Bibliografia

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______________________________
1Max Webber, em sua obra “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, criticou duramente o protestantismo de sua época, afirmando que o capitalismo (liberalismo econômico moderno) teve nos fundamentos da Reforma (a partir da interpretação do termo beruf noção de trabalho, de Lutero) a sua origem.
2MATOS, A. S. Calvinismo e Capitalismo: qual é a relação mesmo? Disponível em: www.mackenzie.br/7076.html. Acesso em: 26/12/2014: “Até mesmo um crítico contundente da tese de Weber como André Biéler admite: “Calvino e o calvinismo de origem contribuíram, certamente, para tornar muito mais fáceis, no seio das populações reformadas, o desenvolvimento da vida econômica e o surto do capitalismo nascente” (O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 661). […] existe uma relação entre o calvinismo e o capitalismo, mas não necessariamente uma relação de causa e efeito. Provavelmente, mesmo sem o calvinismo teria surgido alguma forma de capitalismo. Se é verdade que a teologia e a ética reformadas se adequavam às novas realidades econômicas e as estimularam, todavia, o tipo de calvinismo que mais contribuiu para fortalecer o capitalismo foi um calvinismo secularizado, que havia perdido de vista os seus princípios básicos. Entre esses princípios está a noção de que Deus é o Senhor de toda a vida, inclusive da atividade econômica, e, portanto, esta atividade deve refletir uma ética baseada na justiça, compaixão e solidariedade social.”
3BIÉLER, A. A força oculta dos protestantes. São Paulo: Cultura Cristã. 1999, p.122.
4Idem: “Renovado, transformado por uma vida nova, tal é o primeiro efeito da proclamação do Evangelho, base de uma Reforma na qual o autor descobrirá, no seu primeiro capítulo, “as raízes da democracia”, sublinhando que “o regime democrático não é gerador por si mesmo dos valores que o fazem viver”, que ele estará incessantemente ameaçado por todas as formas de perversão social prestes a se manifestarem, e que, “só conseguirá sobreviver até o fim como produto de uma ética que deve ser permanentemente renovada por uma fé, a única capaz de transformar e reconstruir a vida individual e coletiva.”Esses valores, por certo, não são naturais ao homem atualmente desnaturado. São o fruto de transformação prévia deste quando aceita ser interpelado pelo Evangelho.”
5BIÉLER, A. A força oculta dos protestantes. São Paulo: Cultura Cristã. 1999. Pp.121-122: “Ver-se-á, muitas vezes, os crentes não compreenderem a importância e a dimensão dessa exigência, nem dimensionaram o alcance de tal modificação. Refugiaram-se me demasiada facilidade numa piedade e numa moral estritamente individuais, sem se preocuparem com as estruturas da sociedade, que se tornaram cada vez mais opressivas para a grande maioria das pessoas. É essa carência que, em parte, motivou a desafeição crescente do mundo operário para com as igrejas e sua crescente aposta nas ideologias e na ação revolucionária. Essa irresponsabilidade política e sócio-econômica de tantos crentes acentuou-se com a boa fé com que se dedicam, às vezes, à realização de obras de caridade frequentemente notáveis, capazes de suavizar um pouco os efeitos da miséria, mas totalmente ineficazes para corrigir-lhe as causas”.
6MONDIN, B. Curso de Filosofia: Os filósofos do Ocidente. São Paulo: Paulus. 1981, pp.30,31. V.2: “A Reforma protestante foi um acontecimento essencialmente religioso, mas causou ao mesmo tempo profundas transformações políticas, sociais econômicas e culturais. Também no desenvolvimento da filosofia a sua influência foi decisiva, especialmente na filosofia alemã, mas também na francesa, […] em uma palavra, em toda a filosofia moderna. […] As causas são de origem religiosa, política, social e ideológica. […] Graças à convergência dessas várias instâncias, a Reforma iniciou-se como movimento religioso, mas logo se transformou numa grande revolução política, social, econômica e cultural. 7BIÉLER, A. O Pensamento Econômico e Social de Calvino. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana. 1990,p. 66. 8_________.  A força oculta dos protestantes. São Paulo: Cultura Cristã. 1999, p.24.
9BIÉLER, A. A força oculta dos protestantes. São Paulo: Cultura Cristã. 1999, p. 45.
10Idem, p.145.
11OLIVEIRA, F. A. Apontamentos introdutórios sobre a epistemologia religiosa de João Calvino nas Institutas da religião cristã. IN Calvino e a influência de seu pensamento. São Paulo: Mackenzie, 2012, pp.157-195.
12KUYPER, A. Calvinismo. São Paulo: Cultura Cristã. 2003, p.86.
13BIÉLER, A. A força oculta dos protestantes. São Paulo: Cultura cristã, pp.46-47.
14Idem.
15POPKIN, Richard. La história Del esceticismo desde Erasmo hasta Spinoza. Fondo de Cultura Económica, México, 1983, p.15
16Idem. p.19.
17Para André Biéler, “Lutero abriu o caminho, Calvino alargou-o.” BIÉLER, A. A força oculta dos protestantes. São Paulo: Cultura cristã, p.55.
18Idem. p.50.
19Ibidem, pp.65,66.
20Ibidem, pp. 221-234;
JÚNIOR,I.S.Huppel: A ética protestante no pensamento de João Calvino. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select, acesso em 24/12/2014: “Esta atitude afirmativa para com o homem e seu mundo realiza-se através de um olhar cristão reformado que percebe o ser humano positivamente, a partir de dois momentos: quando criado pôr Deus, e assim bom, como toda a criação no início; e quando transformado por Deus, e assim renovado através de Cristo para viver novamente com o Criador – aqui, o cerne da proposta religiosa de salvação no cristianismo. O estado “comum” de todo homem natural que é o afastamento e a autossuficiência perante Deus, distinto se faz, portanto, destes dois momentos: o tempo da origem do ser humano, em que fomos criados por Deus e bom éramos e, o tempo em que convertemo-nos ao Evangelho de Cristo, e bons podemos nos tornar pelo relacionamento com Deus que este nos traz. O conhecimento destes dois momentos permitirá à religiosidade reformada, especialmente a calvinista, a perspectiva de que o homem e seu mundo errantes não devem ser renegados através do afastamento, mas sim, reconquistados para o propósito inicial do Criador. Pois um mundo e seres humanos originalmente criados por Deus não devem ser abandonados em seu estado de imperfeição e rebeldia, mas sim, observados à luz de sua origem e visualizados na esperança do dia em que tudo irá retornar a existir somente segundo o bom propósito de Deus – uma proposta do evangelho que somente se cumpre no fim dos tempos, mas que já começou, e a religião cristã deve apregoar agora e viver desde hoje os primeiros passos deste ideal último de Deus à criação e existência humana. São as razões, pelas quais, segundo Knudsen, em Calvino e sua influência no mundo ocidental, “o Calvinismo teve em mira não a reforma na doutrina, na vida individual e na vida da igreja, mas também a transformação de toda a cultura, em nome de Cristo.”
21MOLTMAN, J. La ética del Calvinismo: em el experimento  esperanza. Samamanca: Sígueme. 1977, p. 100: Moltman resume a ética calvinista em três aspectos básicos: a vida pessoal, a ética econômica e a vida política.
22BIÉLER, A. A força oculta dos protestantes. São Paulo: Cultura cristã, p.75: “Função espiritual: A lei divina deve ajudar cada indivíduo a descobrir que, sendo sua presente natureza desnaturada com referência a sua identidade primeira, ele está muito longe de conduzir-se naturalmente na conformidade da vontade de Deus. Ele deve, por conseguinte, arrepender-se, […] converter-se para beneficiar-se da vida nova para a qual Cristo o convida […]; função moral: A Lei divina relembra incessantemente ao crente convertido, sempre propenso a esquecê-la, essa vontade de Deus que ele é convidado a amar. […] Ele se torna obediente por reconhecimento e não mais por obrigação; função política: Graças à lei de Deus, todos os cidadãos e magistrados sabem segundo quais critérios morais podem e devem elaborar as leis e conformar sua conduta na sociedade para obter ordem social, econômica e política viável e duradoura. ”
23BIÉLER, A. A força oculta dos protestantes. São Paulo: Cultura cristã, pp. 73,74.
24Idem, p.224.
25BIÉLER, A. A força oculta dos protestantes. São Paulo: Cultura cristã. p. 51.
26Ibidem, p.53: Para Biéler não existe democracia sem individualismo.
27BIÉLER, A. A força oculta dos protestantes. São Paulo: Cultura cristã, p.51.
28COSTA, Herminsten M. P. Raízes da Teologia Contemporânea. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. Portanto, é mister compreender a revolucionária perspectiva temática iniciada na Reforma acerca do valor do trabalho ao cristão, pois até então, era percebido somente enquanto “eticamente neutro.”
29BIÉLER, A. A força oculta dos protestantes. São Paulo: Cultura cristã,pp.124-137.
30Idem, p. 117.
31CALVINO, J.A Verdadeira Vida Cristã, São Paulo: Fonte Editorial. 2008, p.84.
32CALVINO, J. Efésio.  São Paulo: Parácletos, 1998, p. 146.
33KOYZIS, David T. Visões e ilusões: uma análise crítica cristã das ideologias contemporâneas. São Paulo: Vida Nova. 2014, pp.155,156: “[…] uma das principais características do liberalismo é a sua visão do Estado, assim como de outras comunidades, como produto de um contrato entre indivíduo e soberanos. No liberalismo primitivo, isso ainda não implicava a democracia no sentido pleno; mas não se pode negar que esse princípio serviu de base para a expansão dos direitos participativos no corpo político. […] O liberalismo pressupõe que o usufruto da perfeita liberdade, sem quaisquer imposições externas à vontade individual, é de alguma forma a condição mais “natural” do ser humano, mesmo que não seja particularmente vantajosa para o desenvolvimento da cooperação social. Todo vínculo social e político é visto como artificial e relativamente arbitrário. ”
34BIÉLER, A. A força oculta dos protestantes. São Paulo: Cultura cristã, pp.227, 223.
35Idem, p121.
36MATOS,A.S. Resgatando aspectos essenciais da fé reformada. Disponível em: www.mackenzie.br/7069.html. Acesso em: 26/12/2014. A doutrina reformada resulta inevitavelmente em uma ética individual e social de contornos bem definidos. Porque Jesus Cristo é o Senhor, todas as áreas da vida devem refletir o seu senhorio e a sua vontade. Em conexão com a sua ética, os reformados também têm uma visão missionária própria, que visa não somente anunciar as boas novas, mas fazer discípulos e reformar a sociedade, como aconteceu em Genebra e entre os puritanos.
37BIÉLER, A. A força oculta dos protestantes. São Paulo: Cultura Cristã. 1999, p.52.
38LOPES, A.N. Calvino e a responsabilidade social da Igreja. São Paulo: PES. s/d, pp.9,10,17.
39BIÉLER, A. A força oculta dos protestantes. São Paulo: Cultura Cristã. 1999, p.52.
40Idem.p.53.
41BIÉLER, A. A força oculta dos protestantes. São Paulo: Cultura Cristã. 1999, p. 53.
42Idem, p.54.
43KOYZIS, David T. Visões e ilusões políticas: uma análise crítica cristã das ideologias contemporâneas. São Paulo: Vida Nova, 2014, pp.270,271: “Os reformadores […] concebiam que a autoridade do magistrado civil encontrava-se diretamente sob a soberania de Deus. Com uma ênfase renovada no sacerdócio não hierárquico de todos os crentes, essa tese traduziu-se numa concepção mais republicana, em que a responsabilidade das autoridades políticas perante Deus seria controlada pelo povo de Deus como um todo, e não mediante uma intervenção clerical enquanto tal. […] O problema político deve ser tratado de forma política e a resposta deve vir do próprio corpo político, que se situa direta e imediatamente sob soberania de Deus. ”
44BIÉLER, A. A força oculta dos protestantes. São Paulo: Cultura Cristã. 1999, p. 56.
45BIÉLER, A. O Pensamento Econômico e Social de Calvino. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana. 1990, p. 513.
46Idem, p.514.
47LOPES, A.N. Calvino e a responsabilidade social da igreja. São Paulo: PES. s/d. p.9.
48BIÉLER, A. A força oculta dos protestantes. São Paulo: Cultura Cristã. 1999, p.62.
49Idem, p. 23: O autor reconhece a “legitimidade do comércio, das trocas e da divisão do trabalho, mas apelando para o controle dos preços nas situações de penúria e de monopólio e para a repulsa aos abusos do poder do dinheiro, à hegemonia do capitalismo sobre o trabalho e à supremacia da economia. Mas o cristão sabe muito bem que o essencial não está nessa conversa. E o autor evita subverter a ordem dos valores e inverter as causas e as consequências: seu pensamento vai além do princípio dialético […].”
50DOOYEWEERD, H. Estado e Soberania: ensaios sobre cristianismo e política. São Paulo: Vida Nova. 2014, pp.15-23.
51BIÉLER, A. A força oculta dos protestantes. São Paulo: Cultura Cristã. 1999, p.127.
52Idem,p.63
53Ibidem,  A força oculta dos protestantes. São Paulo: Cultura Cristã. 1999, p. 67.
54Idem, p.158.
55Ibidem, p.157.
56Ibidem, p.148.
57BIÉLER, A. A força oculta dos protestantes. São Paulo: Cultura Cristã. 1999, p.149.
58Idem, p.215.
59
Ibidem, p. 15: “[…] feito à imagem e semelhança de Deus, o indivíduo humano e a sociedade humana detêm a aptidão natural para adquirir certos conhecimentos de Deus e a respeito do Bem e dos preceitos morais. ”
60DOOYEWEERD, H. Estado e Soberania: ensaios sobre cristianismo e política. São Paulo: Vida Nova. 2014, pp.24,25.
61BIÉLER, A. A força oculta dos protestantes. São Paulo: Cultura Cristã. 1999, p.222: “Importa, portanto, harmonizar direitos e responsabilidades desses dois fatores de produção, o capital e o trabalho. ”
62Para maiores detalhes e críticas às teologias que miram apenas um aspecto da missão da Igreja, ver SHEDD, R. Justiça social e a interpretação da Bíblia, São Paulo: Vida Nova. 2013, pp.51-74.
63BIÉLER, A. A força oculta dos protestantes. São Paulo: Cultura Cristã. 1999, p.230.
64BIÉLER, A. A força oculta dos protestantes. São Paulo: Cultura Cristã. 1999, p.233.
65Idem,p.144.

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