Jesus é mais precioso que nossa conta bancária

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A mais forte advertência de Paulo a respeito dos perigos do dinheiro

Em 1Timóteo 6.5-10, Paulo começa com uma descrição de pessoas bastante parecidas com aquelas que vimos em Romanos 1, mas agora a questão em foco é o anseio desordenado por dinheiro, e não por sexo. Ele fala de pessoas

… de mente pervertida e privadas da verdade, que imaginam que a piedade é fonte de lucro. Mas a piedade com contentamento é grande lucro, pois nada trouxemos para o mundo e nada podemos levar do mundo. Mas, se tivermos alimento e roupa, com isso estaremos contentes. Aqueles, contudo, que desejam ser ricos caem em tentação, em armadilha e em muitos desejos insensatos e nocivos que lançam as pessoas em ruína e destruição. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males. É por meio dessa cobiça que alguns se desviaram da fé e se traspassaram com muitas dores.

Fica evidente que o dinheiro é perigoso. Sei que não é o dinheiro em si que destrói a alma. É a cobiça. O desejo. Como disse George Macdonald, ministro escocês do século 19:

Não é apenas o homem rico que está debaixo do domínio das coisas; também são escravos aqueles que, sem ter dinheiro, são infelizes por causa da falta dele.[1]

Não obstante, Jesus disse: “… só com dificuldade um rico entrará no reino dos céus” (Mt 19.23). Ele não disse apenas que é difícil para qualquer pessoa que ama o dinheiro entrar no céu, mas que é difícil para qualquer pessoa rica. Afirmou, com efeito, que o dinheiro em si é perigoso — não mau, apenas perigoso — em razão do modo rápido e fácil pelo qual podemos ser enganados por ele. Jesus diz: “… o engano das riquezas sufoca a palavra…” (Mt 13.22). O dinheiro é perigoso porque tem grande poder de enganar. É um exímio mentiroso.

Lidar com dinheiro é como lidar com um fio carregado de energia que pode eletrocutá-lo. Essa é a essência das palavras de Paulo a Timóteo: “Aqueles, contudo, que desejam ser ricos caem em tentação, em armadilha e em muitos desejos insensatos e nocivos que lançam as pessoas em ruína e destruição. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males. É por meio dessa cobiça que alguns se desviaram da fé e se traspassaram com muitas dores” (1Tm 6.9,10). Esse é um modo extremamente forte de se expressar: “… tentação, […] armadilha, […] muitos desejos insensatos e nocivos que lançam as pessoas em ruína e destruição […] se traspassaram com muitas dores”. Certamente é intenção de Paulo que sejamos tomados de profunda cautela.

A piedade com contentamento é grande lucro

Considerando a advertência de Jesus de que as riquezas tornam difícil às pessoas entrarem no céu e a advertência de Paulo de que aqueles que desejam ser ricos são lançados em ruína e destruição, parece-me estranho que tantos cristãos ainda busquem riqueza. É como se não acreditassem nele, ou imaginassem que são a exceção à regra, ou simplesmente não considerassem que a palavra de Deus quer dizer aquilo que afirma.

Contudo, Paulo quer dizer exatamente o que ele afirma: desejar ser rico leva à morte. E não apenas isso. A chave para entender esse texto se encontra em 1Timóteo 6.6: “… a piedade com contentamento é grande lucro”. Qual é a proteção contra esses efeitos mortais do dinheiro? Resposta: um coração contente em Deus. Você está profundamente satisfeito em Deus, a ponto de essa satisfação, esse contentamento, não desabar quando Deus determina que você tenha muito ou pouco? Ter pouco pode destruir o contentamento em Deus ao fazer com que sintamos que ele é mesquinho, indiferente ou mesmo impotente. E ter muito pode destruir nosso contentamento em Deus ao fazer-nos imaginar que Deus é supérfluo ou secundário em sua condição de ajudador e tesouro.

Não é algo de pouca importância aprender ao longo da vida a não perder nosso contentamento em Deus. É para isso que a vida existe, para que mostremos que Deus é absolutamente glorioso. E essa realidade é manifestada, em parte, em como ele é gloriosamente suficiente para nos dar contentamento nele nos melhores e nos piores momentos. Paulo aprendeu o segredo de viver dessa forma:

… aprendi a estar contente em qualquer situação. Sei estar humilhado e sei ter abundância. Em toda e qualquer circunstância, aprendi o segredo de encarar fartura e fome, abundância e necessidade. Posso todas as coisas naquele que me fortalece (Fp 4.11-13).

Paulo aprendeu a “estar contente”. Esse é o segredo para o uso correto do dinheiro em 1Timóteo 6.5-10. Paulo disse que aprendeu o segredo desse contentamento. “… Aprendi o segredo de encarar fartura e fome, abundância e necessidade” (Fp 4.12). Qual era o segredo? Creio que ele o revela no capítulo anterior de Filipenses: “… considero tudo como perda por causa do valor insuperável de conhecer Cristo Jesus, meu Senhor…” (Fp 3.8).

Em outras palavras, usando termos modernos, quando o mercado de ações está em alta ou quando Paulo recebe um bônus, ele diz: “Considero Jesus mais precioso, valioso e suficiente que minha riqueza cada vez maior”. E quando o mercado de ações está em baixa ou há um corte em seu salário, ele diz: “Considero Jesus mais precioso, valioso e suficiente que tudo o que perdi”. A glória, a beleza, o valor e a preciosidade de Cristo são o segredo do contentamento que impede o dinheiro de controlá-lo.

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[1] C. S. Lewis, org., George Macdonald: An anthology (London: G. Bless, 1946), p. 45.

Trecho extraído e adaptado da obra “Vivendo na luz: dinheiro, sexo e poder“, de John Piper, publicada por Vida Nova: São Paulo, 2019, pp. 52-55. Traduzido por Susana Klassen. Publicado no site Teologia Brasileira com permissão.

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